terça-feira, dezembro 27, 2005

Férias

Amanhã vou pra roça. Fico 1 semana sem internet, sem telefone, sem jornal, sem tv! Ainda não sei se isso é bom ou ruim...

Arrivederci!

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Sobre crianças e pássaros histéricos

Às vezes me pergunto que tipo de pai eu seria...
No prédio da frente há um playground comunitário. Coisa que, por mais que eu reclame da falta de espaços comuns no meu prédio (pelo menos um salãozinho...), dou graças de não ter aqui. Até me diverti quando levei minha afilhada para brincar no escorregador, mas ficar apenas ouvindo de longe, diariamente, os gritos, os berros e o inevitável choro, me dá angústia.
E os gritos... ah os gritos... Não estou exagerando ao dizer que tem horas que não sei quando é uma criança feliz, quando é uma criança em pânico ou quando é um gato. Na verdade gata. Tem umas duas gatas que ficam na rua perto de casa. À noite, ou de madrugada, quando elas estão no cio, começa a sem-vergonhice e o suplício. E eu acordo assustado pensando que estão cometendo um infanticídio em algum lugar. E já aconteceu o contrário também. Eu achar que algum cachorro abocanhou um gato (estou ficando com trauma disso), mas é uma criança esvaziando todo o ar do pulmão com algum urro grutural, tão alto que chega ao Valhala...
Por um tempo achei que uma nova criança (porque ESSE som definitivamente não é de uma gata), tinha se mudado para perto de casa. Era um grito muito mais sofrido, alto, e rítmico. E é ouvido, normalmente, no final da tarde, quando de fato as crianças estão no tal playground. Mas esse sim parece o som de alguém sendo torturado.
Foi só outro dia que descobri que este mogli do Cambuí na verdade é uma cacatua. Ou um papagaio, sei lá. Isso explicou a coisa, mas fiquei pensando no tipo de pessoa que tem uma cacatua no apartamento... será a mesma que colocou um papai noel de 2 metros na varanda? O casal neuras (os que vivem se estapeando)? A que tem todas as luzes vermelhas, parecendo um bordel?
Pensei também na minha incapacidade de distinguir precisamente alguns sons, agrupando todos eles numa categoria "martírios sonoros"... será algo idiossincrático?

sábado, dezembro 24, 2005

ho ho ho

Pois é, hoje fui no shopping (aquele que dizem que é o maior da América Latina, como se isso fosse boa propaganda). Pior que nem precisava comprar nada! Antecipando o inferno que seria uma ida para lá nessa época, fiz minhas parcas compras ainda no começo do mês. Mas meu pai precisava comprar algumas coisas ainda. Então fui com ele e meu irmão, para aproveitarmos e pegar um cinema também.
Fomos ver King Kong! Que eu gostei, mas gostaria mais se tivesse metade do tempo que tem e com o corte de umas cenas nada a ver. Que filme comprido! O Peter Jackson não pode fazer filme com menos de 3 horas? Mas tem algumas coisas muito boas no filme. E mesmo o shopping estando caótico, o cinema estava vaziozinho, vaziozinho.
Mas no final nem foi tão ruim. Ainda ganhei um capuccino da Kopenhagen, que eu adoro!! E pra quem enfrentou o Atacadão no sábado passado, até que foi fácil! Eu havia encontrado a Paula logo ao voltar do Atacadão naquele dia. Ela me perguntou se foi muito ruim e respondi dizendo que havia encontrado seus conhecidos, Virgílio e Dante, e eles mandavam oi! Sem brincadeira, aquilo sim é que é prova de resistência!! Que São Silvestre que nada! Tente manobrar aquele trole-carrrinho-gigante abarrotado de coisas naqueles corredores e depois enfrentar uma fila mais demorada que o tempo que se leva para pegar todos os produtos...
Enfim, no shopping ganhei meu primeiro presente de Natal!! Deliciosas trufas que a cunhada do André faz!!
E chegando em casa, surpresa! Recebi um mail da ML Pratt, me dando um novo presente! Um texto inédito do Stanley escrito por ela!! Claro que fiquei feliz, mas por outro lado... será que isso vai me fazer mudar de projeto de novo?! Eu me conheço...
O Natal está sendo ok por enquanto... dentro em breve enfrentarei um pernil de 8 quilos e uma combinação complexa de comidas natalinas com sushis e sashimis!
Ho ho ho pra isso!

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Vai chegando o Natal... e a melancolia

Estou solteiro nesse Natal, então resolvi passar uma temporada na casa da minha mãe. Depois de dormir hoje tanto quanto um gato, resolvi tirar um pouco do pó das juntas e músculos e fui jogar basquete. Enquanto caminhava em direção às quadras, fui ficando nostálgico. Lembrei que, há bem uns 12 anos, fazia o mesmo caminho praticamente todo dia com meu primo, para jogar. Ele me ligava, ou então ligava eu, sempre logo depois do almoço. Aí ele passava em casa, eu calçava o tênis, pegava a bola e saíamos.
Logo no final da minha rua, havia uma flamboyant com um galho bem horizontal, que, com um pulo, era alcançado. Tínhamos sempre que nos pendurar no dito galho, felizes, balançando. Era meio um ritual. E já que não conseguíamos enterrar no jogo, pelo menos alí nos sentíamos um pouco Shaquille O'Neal.
No caminho falávamos de tudo. Nunca faltava assunto. Aí chegávamos nas quadras e ficávamos a tarde inteira jogando, conversando "assuntos de homem" com o pessoal que, como nós, iam lá todos os dias. De vez em quando combinávamos com vários amigos de comer cachorro quente na Tia Maria, ou então beber cerveja no Pier 4, ou jogar boliche em algum lugar. Aqueles eram bons tempos.
Nas quadras encontrei dois amigos que fazem parte das figuras daquela época. Um deles está bem, cheio de coisas boas acontecendo na sua vida. O outro continua alegre como sempre foi, mas acabou se ferrando muito no último ano. Tudo porque ele teve coragem de peitar a filha do chefe. É, por um lado eu respeito muito isso. Não leva desaforo pra casa, mesmo à custa do futuro profissional. Não é qualquer um que faz isso. O tal chefe acabou com as perspectivas dele na Unicamp e nas principais universidades paulistas. E não é exagero não, acabou mesmo - pelo menos para o que ele queria fazer. Me dá uma pena...
Sinto falta de tudo aquilo. Até dos machucados e torcidas de tornozelo (foram tantas...) Fico com uma sensação de que algumas coisas... nunca mais. O que é óbvio para qualquer um, mas na verdade eu nunca tinha parado de fato para avaliar essas coisas, que viraram quase um filme super 8 na minha cabeça. As mesmas cores, o mesmo jeito de velho e de bonito. Meio onírico. Claro que tenho outras coisas maravilhosas acontecendo comigo, mas meu lado egoísta, como já disse Freddie Mercury, teima em querer tudo.
Enquanto eu caminhava sozinho para jogar, e depois voltando, agora há pouco, pensei em tudo isso. Me lembra aquele tipo de filme que termina com uns textinhos para cada personagem: fulano virou empresário, ciclana senadora, beltrano foi morar no Tibet...
Meu primo entrou na marinha, depois engordou muito, foi para São Paulo e a última vez que o vi foi no enterro da minha tia, há anos já. Quase todos meus amigos daquela época se casaram e foram morar em outros lugares. Muitos com filhos. A maioria deles não vejo mais do que uma vez por ano, se tanto. Eu fui fazer outras coisas também, mas quando volto para estes espaços de memória e de passado, geralmente fico com a impressão de que só eu faço isso. Com a impressão de que sobrei.
Ah... cortaram a flamboyant.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Cartas periféricas - 2

Culiacán, 14 de agosto de 1970.

Querido Alfred,


Recebi hoje sua carta do dia 29. Fico contente que tudo esteja bem com todos. Aprecio muito você ter compreendido meu desabafo. Na verdade sabia que você compreenderia, creio que foi por isso que consegui escrever tudo aquilo.

O que você disse sobre aboriginação me fez pensar muito. Se por um lado sou tentado a concordar que nossas cidades estão cada vez menos anglocêntricas e a celticidade* parece dar lugar para essas vozes policiadas a que você se referiu, por outro lado eu temo se não pensamos assim simplesmente porque desejamos. Espero que você tenha razão, contudo. Espero que toda essa hegomonia seja remoldada por estes desejos. Mas estou pessimista. Mesmo aqui, no porão dos Estados Unidos. Mas se você estiver certo, minha busca pelo verdadeiro México parece mais e mais quixotesca.

Já faz um mês que aluguei um pequeno apartamento em Altata, quase no mar, alguns quilômetros distante de Culiacán propriamente dita. Por enquanto possuo apenas um armário com roupas, uma mesa e duas cadeiras. Ainda não comprei uma geladeira já que tenho um bar logo ao final da rua. Fico adiando providenciar as coisas mais básicas.

Tudo aqui é lindo, sem a agitação da cidade e as tentações mais destrutivas de antes. Mas estou começando a me entediar. Essa maldição do insólito demora para passar e começo a me preocupar, achando que não me encaixarei em lugar nenhum. Nem em mim mesmo.

Agradeço se você puder pagar a senhora Stevenson. Me esqueci completamente. Você pode descontar da minha conta bancária, como de costume.

Peço que escreva para este endereço, já que fica muito dispendioso voltar para o hotel pegar correspondências. Espero ansioso por sua visita.

Seu,

Gary


* celtness

terça-feira, dezembro 20, 2005

Cartas periféricas

Culiacán, junho de 1970.

Querido Alfred,


Completei meu primeiro aniversário mexicano na capital náhuatl ontem. Não tive forças para sair com Enrique, Miriam e Cristóbal como pensei que faria. Eles se tornaram amigos queridos, mas não queria chateá-los com meu estado de espírito negro. Passei o dia todo em companhia de uma moça chamada Rosa, cuja incrível capacidade de processar cerveza a fez uma companhia mais que apropriada para o meu humor. Tão pequena e tão nova, mas com o fígado resistente como o de um caminhoneiro! Juro que se não estivesse diariamente me esforçando para enriquecer os bares daqui não teria sido capaz de voltar com Rosa para o hotel. Jeff adoraria beber com ela, tenho certeza. Ele sempre reclamou que estava apenas se aquecendo quando todos nós já não nos agüentávamos em pé.

Mas já sei o que dirá. Tenho que me cuidar mais. É verdade, mas tenho a impressão de que enquanto ficar neste hotel não poderei evitar estas crises de melancolia e depressão. Tenho esta urgência de me misturar aos nativos cada vez maior.

Evito voltar para o hotel durante as horas do dia. Lá encontro apenas as mesmas famílias americanas fantasiadas com roupas de safári. Ou os obesos solitários, de óculos azuis-escuros, rosados de sol, em busca de una chicana para trepar. Alguns sequer tiram suas alianças. Comecei a frequentar os buracos locais, que não têm turistas em busca de aventuras seguras e a bebida é quatro vezes mais barata. Mas comecei a perceber que estes lugares também fervilham de estrangeiros. Mas são os perdedores, os criminosos, os que desceram tanto que sequer lembram de onde vieram e não têm idéia para onde vão, além da certeza que beberão mais uma garrafa daquele whisky de cinco dólares.

Me deprime que encontre apenas pessoas que voltarão abarrotados com colares de contas comprados na frente do aeroporto como se fossem provas de seu encontro com o exótico, fotografias de seus passeios de iate e histórias inventadas de como tudo é quente e diferente. Ou então aqueles que só vieram para esta terra porque mais nada funcionou em casa. Você sabe do que estou falando. Nosso país foi uma grande cadeia inglesa. Aí, como aqui, imaginam-se grandes expedições por um mundo passado, perigoso, verde. As águas que banham Sidney são do mesmo Oceano que cheiro enquanto escrevo estas linhas, com Rosa dormindo ao meu lado. Penso que não estou tão longe de casa.

Mas não consigo deixar de ter esperança de encontrar o México verdadeiro atrás de uma esquina, no fundo de um callejón estreito, ou escondido atrás das sombras dos hotéis e cassinos. Só que estou aqui há tempo suficiente para desconfiar que a minha idéia de México está se esvaindo junto com a bebida do copo à minha frente, em um bar caindo aos pedaços.

E por que há tantos de mim vagando cambaleantes em lugares assim? Voando bêbados e suados em volta da luz fraca do bar, envoltos em fumaça de cigarro barato, hipnotizados tal qual mariposas pela esperança mortiça de alguma luminosidade na vida. E tal qual mariposas, eventualmente morremos, teimosos, depois de tanto dar cabeçada na lâmpada, queimados quando a luz esquenta o suficiente. Rodopiamos em queda certa e breve, fritados sem nem ter tido chance de enxergar alguma compreensão de que aquela luz, enfim, não é o sol, nem a lua – mas a propriedade de alguma outra pessoa, que é sovina e indiferente a ponto de comprar a lâmpada mais barata do mercado para receber os insetos que voltarão sempre e sempre, alimentados com a promessa de que a verdade – seja qual for – está escondida debaixo de todo esse circo. E então varridos no final da noite, por uma mulher sem os dentes da frente, entediada, morrendo de vontade de terminar logo seu trabalho ingrato e mal-pago e dormir, junto com os restos de copos quebrados, bitucas de cigarro e toda a imundice do mundo.

Pois a verdade é que há tantos de mim por aqui porque somos vítimas de uma fórmula simples e perene. Procuramos todos pela luz alheia, quando deveríamos olhar para os olhos daquele que nos contempla, incrédulo com a miséria que encontra toda manhã, quando escovamos os dentes. M = T x D2. Isso é o que aprendi. A condição de mariposa é resultado do tempo em que sua desilusão é alimentada por ela mesma. Este sou eu, Gary Bunda-Mole, que sequer tem forças para acreditar na verdade lapidada com muito álcool, e admitir que seja lá que elixir de vida que procurava do outro lado do mundo, este não estará aqui e nem em lugar algum, porque a constatação, Alfred, é a pior das maldições.

Enfim, desculpe pelo desabafo. Talvez esteja assim porque vejo muita pouca diferença com o feito no último ano. Tive que acreditar que ao viajar para uma nova vida colocaria em prática o desejo de mudança. Se estivesse fazendo algo de concreto talvez descobrisse uma maneira de mudar. Isso passará.

Diga para Geórgia que apreciei muito os cigarros. Estou procurando uma casa. Assim que souber ao certo escreverei informando o endereço. Mas continuarei a receber suas cartas no hotel por enquanto. Lembranças a todos.

Quanto puder, faça-me uma visita. Não sei se você gostará daqui, mas eu apreciaria muito.

Seu,

Gary


PS- Rosa acordou e manda um beijo. Falei tanto de você a ela que vocês já são íntimos.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Sinistro

Quem acredita em teorias da conspiração? Isso me parece história de invasão de corpos ou puro grande irmão mesmo...
Desculpem a desconfiança, deve ser coisa de criação. Há gerações minha família aprendeu, levando na cabeça, que quase nada nesse mundo é de graça...

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Recesso

Terminado o trabalho perseverante, agora só resta o trabalho final de curso. Aliás, fiquei um pouco chateado com coisas que soube da última reunião de departamento, sobre a matéria deste trabalho. O que reforça minha crença de que meu futuro não será docente... Não pela docência em si, mas o que vem junto com o pacote. Quer dizer, hoje mesmo estava pensando como deve ser bom chegar no final do semestre e ver que seu aluno aprendeu. Algo, alguma coisa, qualquer coisa. Deve ser um sentimento quase paternal. Mas o resto... reunião de departamento, produção... isso eu passo.
Bom, vou entrar em recesso virtual por um tempo. Pelo menos desacelerar um pouco.
Então tirarei umas férias daqui também, já que nesse final de ano não terei muito internet. Só eventualmente. O que talvez seja bom... (ou não)
Mas o que acontecia um pouco ultimamente era começar a escrever antes de ter o que escrever. Por um lado isso é até interessante. Meio como um periodista que têm que fazer sua coluna, então senta na frente da escrivaninha e escreve. Algo, alguma coisa, qualquer coisa. Mas não é bom abusar, senão escrever deixa de ser tanto um prazer. Não que vire obrigação. Acho que esse blog nunca virará obrigação (Deus me livre). Mas talvez perdesse um pouco da espontaneidade.
Enfim, até quando der.

terça-feira, dezembro 13, 2005

Millestone

Ontem foi um dia burocrático. Fui no poupa-tempo com a minha mãe tentar resolver problemas de multas. Foi chato e não sei se deu certo.
Antes disso fui na PF pegar meu passaporte novo. 100 reais, 3 idas no lugar e 15 dias de espera depois... fui pegar o dito cujo: "Antes de assinar confira se está tudo certo". "Ok. Hum... o nome da minha mãe está todo junto".
Mal havia dito isso, já me arrependi um pouco. Ah, bem que podia ficar assim mesmo, não tem problema, errinho bobo, quero ir embora, vai demorar muito. Por outro lado, podia ser dessas coisas que depois dão problema e são um saco pra resolver. Ok, espero.
Achei que fosse ficar o resto da tarde lá.
Estava certo? Não. Passaporte novo em folha, corrigido, em 3 minutos (literalmente)!
Claro que alguma coisa que fique pronta em 3 minutos levanta algumas dúvidas. Paguei uma grana nisso, pediram 15 dias, então achei que deveria ser difícil fazer. Alguma tecnologia que evite falsificação, ou algo assim. "Vale a pena", as pessoas devem pensar.
Em 3 minutos eu espero um big mac! E mal feito.
Fiquei olhando pra aquele documento meio decepcionado. E a foto, para variar, horrível. E vou ter que aturá-la mais 10 anos.

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Com alguma esperança, termino um dos trabalhos hoje!!

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Cris Cris! Cerveja!

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Leitores: este é o post de número 100! Já?

Heróis e vilões

Hoje me peguei pensando nos meus ídolos de infância.
Há alguma coisa de esquisito em grande parte deles estar morta. Ou então terem se ferrado de alguma forma.
Bom, deixando a psicanálise, meu pai e minha mãe de fora, o primeiro ídolo de que eu me lembro de ter tido foi o Raul (Seixas) - pelo menos na música. Amava pluct plact zum, claro. Mas um monte de outras também. Até hoje canto emocionado quando ouço Cowboy fora da lei...
Beatles não conta muito. Sempre adorei, mas foi por influência do meu pai. Com o Raul sentia que a descoberta tinha sido minha, por meus próprios meios. Era mais meu.
Depois veio uma época em que eu adorava música, mas não tinha grandes heróis. Talvez um pouco o que todo mundo gostava, Renato Russo. Mas eu não me identificava muito com ele. Com as letras, sim, adorava. Mas aí também tinha Titãs, quando eles ainda prestavam.
Então começou a tocar Depeche Mode, Smiths e The Cure nas festinhas. The Cure era a favorita. E o Bob Smith virou um ídolo, com certeza. Por muito tempo tentava usar o cabelo espetado, mas como precisava usar muito gel pra isso - e odiava gel - acabei por deixar o cabelo crescer. É que também havia chegado a época de um rockinho tipo U2. Por um tempo achei que o Bono Vox era meu ídolo. Mas pensando agora, sei não...
Depois de uma época house, techno e afins, descobri Happy Mondays e todo o rock-dance inglês. Estava na Inglaterra no auge do Soup Dragons, EMF, Pet Shop Boys e New Order, e não pude deixar de curtir muito tudo aquilo. Por um tempo passei a raspar o cabelo dos lados e atrás, escondendo dentro do boné como se fosse careca - inspirado no James Atkin.
Simultâneamente ouvia também os ingleses mais malvados. Ouvia Sex Pistols sim, mas o que amava mesmo era Clash. Conheci Ramones via punk inglês. Os dois Joe foram grandes heróis. Minha vitrola ficou cansada de ouvir Queen por esses tempos. Ainda lembro onde estava e o que fazia quando o Mercury morreu.
Depois veio a fase metal. Quer dizer, metal e metal poser / hard rock. Ouvia Metallica, mas também Guns 'n Roses. Fui no show das duas, no começo da década de 90. Naquela época havia uma treta entre os fãs do Metallica e do Iron. Então não gostava de Iron - coisa que se inverteu completamente alguns anos depois...
Descobri o Deep Purple e Black Sabbath, atrasado. O Ian Gillan foi quase um ídolo, só não foi porque orbitavam os outros juntos com ele. Lord e Glenn Hughes, mas não Blackmore e Coverdale. Era um conjunto realmente, que se estendia ao Sabbath (ainda que hoje só goste mesmo da primeira fase).
Nisso tudo não tinha muitas heroínas na música. Exceção para a Joan Jett e a Siouxie. Quando descobri Nick Cave, também me apaixonei pela PJ, mas isso veio depois. Mas nunca quis emular uma delas - felizmente, acho.
Tenho a impressão que o último ídolo (não cara que respeito, mas ídolo mesmo) deve ter sido o Cobain. Nirvana foi a última coisa realmente incrível que ouvi. Na época do suicídio eu estava "brigado" com o Nirvana, em parte por conta da aproximação com o Hole e a Love. Achava que eles estavam decaindo. De qualquer maneira, doeu muito quando fiquei sabendo. E doeu mais ainda porque me senti um traidor, abandonado o cara.
Quando o Joey Ramone morreu, senti um vazio enorme. Chorei. Quando o Joe Strummer passou desta pra melhor, logo depois, começou a cair a ficha. Achei que a vida era realmente cruel. Meio como aquela música "only the good die young", sabe?
Com alguns acréscimos ou variantes (suicídio, assassinato, acidente, câncer, aids), vi que outro ídolo - também falecido cedo - tinha razão:

"Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos - tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
E aquele garoto que ia mudar o mundo
Frequenta agora as festas do Grand Monde

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder

Ideologia
Eu quero uma pra viver

O meu prazer agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
Agora assiste a tudo em cima do muro

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder"

E não morrem. São os mesmos, desde que eu me conheço por gente.

Tour gastronomique

Essa semana não foi só de trabalho, afinal de contas. Hoje eu percebi como comi bem em quase todos esses últimos dias!
Não fui daquela criança que ganhou presentes em dobro quando meus pais se separaram. A separação deles acabou acontecendo muito tarde. Em compensação, as experiências gastronômicas melhoraram muito e acontecem com muito mais frequência. Principalmente com meu pai, que foi para um apartamento pelado (e que deve continuar assim por muito tempo) e deve ter vergonha de que eu vá lá encontrar apenas uma geladeira com água e cerveja, um fogão limpinho e a namorada nova. Ele acaba sempre me levando para algum restaurante bacana. Nossos encontros sociais se dão, quase em sua totalidade, sentados à mesa, com pratos na nossa frente. Sem exagerar muito, acho que poderia arrumar um bico desses de fazer crítica de restaurante. Não que meu paladar seja muito apurado, mas eu já sei que lugar me agrada ou não - em matéria de comida, sim, mas de muito mais coisas também. Já não aturo muito ser mal atendido, por exemplo.
Com a minha mãe não tem tanto disso de sair, ela prefere fazer suas comidinhas maravilhosas e reunir os filhos e noras na casa dela. Tudo bem por mim - adoro a comida dela. Mas de vez em quando saímos juntos para comer também.
Essa semana, por exemplo, fomos na terça no Daitan. Atenção amantes de boa comida japonesa! É muito bom! Já havíamos ido (eu e Dani - continuo não falando na terceira pessoa) com o Bertrand, a Nashieli e a Sofia. Dessa vez fomos em família, à noite, quando não tem rodízio (atenção: o rodízio é bom! Não é só sushi de pepino não! Tem bastante variedade, e vem sempre atum, salmão... os peixinhos bacanas), mas o à la carte é delicioso também.
Quarta-feira: interregno labutar.
Quinta fomos com meu pai em uma churrascaria perto de casa que sempre me chamava a atenção quando passava na frente. Chama-se Red Angus. Especializada em carne... bom, de red angus, aquele boizão marrom-avermelhado. Simplesmente maravilhoso! E atenção: eles têm um petit gateau de limão!!! Muito melhor que o de chocolate, que já é muito bom. Pedi um filet de ancho (corte argentino) que quase não precisava de faca para cortar, de tão macio! Quem tem grana pra gastar pode pedir uma espécie de rodízio pessoal. Todas as partes do bicho vão sendo servidas em sequência. Festim diabólico literalmente.
Sexta: novo interregno para alcalose pós-prandial, porque ninguém é de ferro.
Sábado: tem uma pizzaria perto de casa muito gostosa. Eles têm uma pizza de rúcula que é o que há! E eu nunca gostei de rúcula... Fomos lá com meu pai.
Domingo: voltamos no Red Angus com meu pai, porque é muito bom! E nem tive coragem de pedir outra carne. Fui no filet de ancho de novo. E mais um petit gateau cítrico, porque... enfim, para que arriscar? Já sei o que funciona...
E hoje: Friday's. Ah, esses americanos roubaram metade do México dos mexicanos. Exploram sua força de trabalho. E roubam sua culinária também. Mas como é bom... não dá vontade de parar de comer.
Acho que só assim mesmo pra aguentar 10 horas de trabalho diário no computador.
Ah, e devo dizer: estamos aprendendo a cozinhar...

sábado, dezembro 10, 2005

Pequena estafa

Acho que nem no período crítico, no final da redação da minha dissertação, eu fiquei tanto tempo na frente dessa tela.
Naquela época não tinha blog. Agora estou com os pulsos doloridos da digitação e ainda arrumo coragem para fazer mais uma coisa no computador.
Outro dia estava conversando sobre isso com a minha orientadora, que me disse que também está ficando dependente da rede. Progressivamente. Como muitos conhecidos, constatei. Todos com sintomas muito parecidos.
Eu acho que meu vício com computador superou de longe quaisquer outros vícios que eu tive ou tenha: cigarro, auto-comiseração, chocolate... Quando dá algum probleminha com ele, fico estressado. Já procuro algum técnico. Outro dia, por exemplo, queimou a fonte. Pânico. Achei que era algo pior. Levei na loja, já que estava na garantia ainda. E a angústia de esperar na salinha de recepção? Me sentia como um pai, aguardando o diagnóstico sobre a doença do filho.
O interessante é que ainda me sinto cuspindo no prato, já que adoro esse meu vício. É que, às vezes, surge o pequeno grilo falante, de dedo em riste, com algumas reclamações e protestos. Mas eles são débeis e fracos. O bichinho logo vai hibernar em algum canto.
Por outro lado, devo fazer um período de desitoxicação em breve. Primeiro o Ano Novo. Na roça. Num lugar em que não tem nem telefone - quanto mais internet. Tem, felizmente, muita cerveja - e muito, mas muito barata. E depois tem a viagem de férias, quando tentarei não navegar muito.
Na verdade, acho que o que está pesando mesmo são os trabalhos. Também fiquei triste ao saber que uns amigos, quando pensaram que tinham superado um problemão e que tudo finalmente parecia dar certo (filho e emprego na Alemanha), tiveram o tapete cruelmente puxado pelo destino. Mas ainda tenho esperança que tudo se resolva para eles.
Bom, essa semana, quando terminar um dos trabalhos, devo relaxar um pouco. Tem o aniversário de uma amiga querida. Também já combinei de sair com minha leitora (e escritora) preferida, que me faz ter vontade de escrever aqui, e de quem estou morrendo de saudades. E vinda de terras próximas - só que dos gângsters - chega a Paulinha. Combinei um cinema com outros amigos, para assistir qualquer coisa, até filme da Xuxa. E quero jogar um pouco de basquete, coisa que não faço há semanas.
Só tenho que me matar esse final de semana para terminar tudo.
Coisa que venho dizendo, percebo, há tempos - desde o final da graduação diga-se de passagem. Devo ter, enfim, algum parentesco com um conhecido passarinho mágico... sempre fico esgotado e tenho que arrumar força pra renascer de novo na semana seguinte.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Laissez faire, laissez passer... laissez tromper


Tudo bem, caiu o muro. A URSS não deu certo. Entre Gulag e maracutaias escusas em tudo em quanto é lugar, o modelo socialista de economia não funcionou. De tanto construir bomba, faltou sabão (ainda não sei direito o que pensar da China. Às vezes acho que é tudo propaganda. Como a bolsa: "aquela empresa tem boas ações" - assim, ela terá, porque compraremos as ações, convencidos de que a premissa é verdadeira. Um bilhão e meio de neguinho deve produzir pra caramba realmente. Mas como funciona a distribuição do bolo?). Ficamos, infelizmente talvez, só com o mercado capitalista. Agora, a única coisa que deveria funcionar nessa joça... não funciona!

Fiquei nervoso esses dias. A conta do telefone, de novo (detalhe que é a única conta que dá problema, o que me faz pensar que a culpa pode não ser do correio), não veio. Segunda via? Sim, porque não?! Adoramos (eu e a Dani - não falo na terceira pessoa) pagar a taxa de segunda via e enriquecer mais ainda uns espanhóis por aí. A conta finalmente chegou hoje, mas... depois do vencimento. Claro, não foi por isso que pedimos segunda via? Mas, "evidentemente", a Telefonica não tem como saber se não chegou mesmo depois do vencimento e se nós dizemos a verdade, então mantêm a mesma data. Agora, eu poderia retrucar com "como vou saber se vocês mandaram, pra começo de conversa?" Não é a mesma lógica? Porque cargas d'água eu pagaria uma taxa se já tivesse recebido a conta? Resumo da ópera: pagar a segunda via E a multa. Já deve ser a terceira vez que isso acontece. Essa merece procom... depois do feriado, claro(?!?).

O raciocínio levaria a crer que o problema é a falta de concorrência. Meu pai, por exemplo, já desistiu da linha fixa. Ficou só com o celular. O único argumento que eu levanto é o do câncer, mas ele diz que já está ficando velho e que não vai dar tempo de dar zica...

Agora, com internet não falta concorrência. O mercado deveria naturalmente privilegiar os bons prestadores de serviço, não? Engano. Aqui também vira e mexe dá tilt na internet. Só que eu não quero desculpas, não quero saber se houve um congestionamento virtual que atrapalhou tudo. Por 75 paus por mês eu quero que funcione a qualquer hora do dia e do ano! Agora tem horas que funciona, horas que não. E algumas páginas, como o meu blog quando publicado, não aparecem. Eu me sinto enganado. E com a estranha sensação de que a culpa é minha, de alguma maneira obscura e maligna.

Sabe o que eu acho? Que nos acostumamos com serviço porcaria e não reclamamos como deveríamos. Se estamos caminhando para a falência completa do seguro estatal e temos que pagar uma nota preta por tudo, eu quero que pelo menos funcione como nas propagandas! Só que, ao que parece, as utopias devem ter morrido com o comunismo. Afinal, quem já teve servido um sanduíche igual ao da foto?

sábado, dezembro 03, 2005

Il Cine italiano non è guasto

É muito bom quando você assiste um filme sem qualquer pretensão e ele te surpreende, não? Hoje peguei, no comecinho, um do Donald Sutherland, ator que eu sempre gostei. Não sou exatamente da época do MASH, aquele ótimo do Altman, mas adorava quando passava na tv. O Sutherland era meu personagem preferido. Tinha uma cara de tarado, misturado com uma feição de quem é inteligentíssimo e não pára de pensar um segundo sequer, sempre com o cérebro a toda - o que produzia uma impressão maravilhosa! (Com a idade isso se diluiu um pouco. Agora ele consegue passar a imagem de um senhor respeitável, com aquela barba alva, sempre retíssimo em toda sua altura, e os olhos azulzíssimos que iluminam o rosto. Mas se você olhar bem, principalmente quando ele sorri...)

O filme se chama Piazza delle Cinque Lune, exemplo de que a Cinecittà ainda faz filme bom. O diretor, que não conhecia, chama-se Renzo Martinelli. As tomadas e a fotografia... lindas! A história é interessante também: Um dos terroristas (presumidamente da Brigada Rossa) do sequestro e assassinato, no final da década de 1970, do então Primeiro Ministro italiano, Aldo Moro, está com câncer e resolve contar através de enigmas e pistas obscuras a verdade do caso a um juiz aposentado, interpretado pelo Sutherland.

O crime estaria ligado à tentativa de Moro em aproximar os membros do partido comunista e os do partido conservador católico italianos - coisa que traía o equilíbrio tenso e dicotômico criado em Ialta no final da guerra, e impensável tanto para americanos como para soviéticos. Durante o cativeiro, ele teria escrito um dossiê com segredos com os podres dos governos ocidentais que compunham a OTAN durante a guerra fria. A investigação leva à indicios da participação do Serviço Secreto italiano, do Ministério do Interior e, claro, da CIA e da KGB.

Aí vira um triller que se perde às vezes, mas que me fez lembrar do livro O Santo Grau e o Cálice Sagrado, aquele dos historiadores que teriam recebido pistas na Biblioteca Nacional em Paris sobre o segredo da linhagem merovíngia de Jesus e começam uma busca tipo Fio de Ariadne.

Trata-se, no fundo, dessa mistura de lhe ser oferecido o topo do iceberg da Verdade, mas também a perseguição dos que guardam o segredo. Como é também o caso do ótimo começo do Operação Cavalo de Tróia, do Benitez. Você acaba se perguntando: "mas será que é apenas ficção mesmo? Esta não seria a melhor maneira de contar um segredo? Ou seja, dizer a verdade em forma de romance?" Entretanto, ao mesmo tempo em que você sempre avança, o segredo sempre acaba fugindo de você. Também não é possível deixar de ficar desconfiado se você não está sendo manipulado na análise das pistas que lhe são dadas.

Descobri que o diretor entrevistou, durante as filmagens, um ex-integrante da Brigada Vermelha, a viúva de Moro, uma filha, e diversas outras pessoas ligadas ao caso - o que dá um toque especial à aura em torno da história e do filme.

Agora, sabe o que me deixou com a orelha em pé? A teoria da conspiração aponta para o envolvimento de uma Loja maçônica na coordenação do crime! Diversos elementos simbólicos maçônicos são descobertos na investigação, reforçando a tese. Na verdade, desde o livro de Baigent, Leigh e Lincoln, passando por trocentos livrinhos de romance histórico e chegando ao pop Dan Brown, a Maçonaria entra no rolo, fornecendo o elemento do segredo e do mistério, guardados por uma sociedade de iniciados - um conhecimento que, na imaginação popular, é bem concreto, e também implica em perigo e poder.

Enfim, o filme é bem interessante. Pelo menos para uma tarde preguiçosa, sentado na frente da tv. E o Sutherland é ótimo. Há também uma coisa do filme que lembra a época de ouro do cinema italiano. A cadência do realismo, mas misturada com um pouco mais de ação do cinema moderno. Diálogos desconcertantes, mas cheios de significado. E a dublagem dos atores - algo que o Fellini adorava fazer. Aliás, não é a primeira experiência do Donald Sutherland com o cinema italiano. Ele já havia feito o Casanova do Fellini. Não é um dos meus favoritos do Fellini, mas, enfim, é dele... Quer dizer, esse filme de hoje não chega aos pés dos antigos do Cinecittà, mas foi legal saber que eles não viraram um templo da Universal ou algo assim, e continuam a fazer cinema.

Agora, o filme do Sutherland que eu mais gostei (talvez depois de MASH), foi Os 12 Condenados. Esse eu amo! Dirty Dozen conseguiu reunir alguns dos atores mais legais da safra mais antiga dos EUA: Ernest Borgnine, Telly Savalas, Charles Bronson, Lee Marvin e o Sutherland, um dos mais jovens do elenco. Da época em que ainda faziam bons filmes de guerra.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Risco do abominável

Fiquei empolgado com a história dos monstros. Hoje fiquei procurando os roteiros dos trocentos filmes de Godzilla e de King Kong para poder fazer uma análise estrutural.

Ainda falta muito, mas já estou pegando um certo padrão. Ainda não descarto a hipótese da guerra fria, mas acho que o significado mitológico dessas histórias é um pouco diferente, ainda que decidamente ligado ao da guerra: o risco ambiental.

Todo monstro que surge ou é criado, vem de uma experiência científica que saiu pela culatra, ganância de alguma empresa, ou simplesmente do lixo mal cuidado.

Godzilla, por exemplo, acordou de seu sono de um milhão de anos por conta de testes nucleares americanos no pacífico. E tenho a impressão que seu bafão radioativo vem em decorrência. No King Kong vs Godzilla, o Kong é um gorilão que, mesmo não sendo produto dos descuidos industriais, tem seu tamanho avantajado propiciado pela ingestão constante de umas frutas enormes - cobiçadas por uma empresa farmacêutica que está interessada em comercializar os poderes terapêuticos destas berries, e aproveitando para capturar o macacão e usá-lo como o garoto-propaganda perfeito para mostrar a eficácia do negócio.

E existem outros exemplos que depois relatarei. Só para lembrar mais um: o Spectreman ajudava o Grupo Anti-Poluição contra os planos do Dr. Gori e seu lacaio Karas, um macaco loiro e um gorilão brutamontes, claramente saídos do Planeta dos Macacos, que criam monstros que se alimentam de lixo! Eu inclusive achei o discurso certinho de abertura dos episódios: "Planeta: Terra. Cidade: Tóquio. Como todas as metrópoles do planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. E apesar dos esforços de todo o mundo, pode chegar o dia em que a terra, o ar e as águas venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá intervir? Spectreman!" Como eu adorava essa parte...

Trata-se, sobretudo, de uma interferência do pára-natural (que pode ser artificial, mas não necessariamente. O alienígena que vem do espaço e também entra na briga com Godzilla em alguns filmes, está a meio caminho do natural. Não é da esfera da cultura, com certeza, mas tem tecnologia) no natural. Aí surge o risco. Se aprendi algo com minha quase ex-objeto de estudo, é que na contestação da norma, na possibilidade de sua desagregação, surgem o perigo e o risco. A poluição e o profano são a ameaça da ordem da pureza e do sagrado.

A análise de aceitabilidade de risco em Mary Douglas está estritamente ligada ao debate da lógica classificatória em antropologia e ao paradigma do conhecimento científico. Prática e discurso estão relacionados ao modo como cada sociedade classifica e se organiza - modos de experienciar o mundo na vida social, e que implicam ação política (já que hierarquizada, como toda classificação) e as maneiras como os grupos buscam formar um consenso sobre o que pensam em que consiste o risco e como evitá-lo.

Aí entram os monstros. E as causas de seu surgimento.

*******

Por falar em monstro... Outro dia ouvi um trecho de uma conversa na cantina. Entre alunos de graduação. Primeiro ano, acho. Eram 3, estavam discutindo algum trabalho sobre os contratualistas.
Um deles: "Hobbes tem o lance do Leviatã. Garantir o bem do cidadão com consenso."
Outro: "Mas não tem aquele bagulho no Hobbes? Tipo, assim, sei lá?"
O terceiro: "Tem também o lance do estado de natureza".
E eles iam se entendendo.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Histórias de gorilas e dragões


Na madrugada de ontem assisti King Kong vs Godzilla (ou Kingu Kongu tai Gojira). Bem tosco. Da década de 1960. Maravilhoso.

Sempre gostei desses filmes de Godzilla versus algum monstro grandão. Esse com o King Kong então... me parece o equivalente a um comercial em que aparecessem juntas Coca-Cola e Pespi. Os dois ocupam um mesmo... digamos... nicho - mas são no fundo completamente irreconciliáveis.

Bom, enquanto assistia comecei a viajar. Primeiro com esse negócio óbvio da destruição resultante do confronto. O filme é de 60 e bolinha, auge da guerra fria. Fiquei pensando se não tinha algo a ver com a posição do Japão nisso. Quer dizer, entre ex-URSS e EUA, talvez possamos considerar o Japão algo como um meio-termo; como um enclave da industrialização e do consumo ocidentais no que seria o oriente; uma ilha entre URSS e China por um lado, e EUA por outro.

Essa história de dois monstros ficarem se batendo sem um sentido aparente, apenas porque ambos são grandes e cada um quer ser o único a permanecer assim, enquanto os coitados dos japoneses e suas cidades são dizimadas como um mero acidente de percurso... bem, não era esse o sentimento que tínhamos quando apareciam informações do tipo "a URSS tem poder nuclear para destruir a Terra trocentas vezes, e os EUA trocentas ao quadrado"?! (afinal, até aí o capitalismo parece ter sido mais eficiente) Eu pelo menos me sentia uma formiguinha grata por nenhum operador de base nuclear ter cochilado ainda em cima do botão.

E para acrescentar, o Godzilla não é resultado de uma anomalia nuclear?!

Existem outras explicações complementares também. Pode ser que seja algo mais psicológico. No caso, em massa. Uma sensação de insignificância frente ao reino do inumano; ou, ao menos, uma posição de reverência frente a algo muito maior que si. Enfim, em uma terra que vira e mexe tem terremoto, tsunami ou tufão (o tornado ou furacão deles; não sei direito a diferença), a hipótese me parece até plausível. Coisa, aliás, que parece estar acontecendo com os americanos há algum tempo também. Vide a moda de filme de catástrofe agora, mas que já se anunciava desde filmes como Terremoto (aquele que tem o presidente honorário do NRA, aka Ben-Hur), pelo menos. Mas aí a coisa complica. Se há uma dimensão quase funcionalista (de regular conflitos sociais), o filme pode permitir também uma análise mais psicanalista. Trauma? Complexo?

Na verdade, enquanto via o macaco e o dragão se engalfinhando e rolando em cima do palácio imperial, me lembrei de um ensaio de Barthes sobre os marcianos que li há muitos anos. Barthes, naquele seu jeito francês de complicar tudo, tem, entretanto, uma sacada muito legal. Diante da ameaça da auto-destruição planetária com um confronto entre EUA e URSS, investida de uma representação esvaziada de alteridade - e por isso mesmo passível de possuir os sentidos mais estapafúrdios que são possíveis de imaginar - ele analisa o fenômeno dos viajantes marcianos. Para ele, os marcianos são o pólo extremo oposto da América capitalista, tendo os insondáveis e enigmáticos russos a meio caminho. Afinal, que americano sabia o que acontecia de fato em Moscou no auge da guerra fria? Coisas como o U2 (o avião, não a banda), embates entre agentes da CIA e da KGB na Alemanha Oriental e o que mais você lembrar das histórias de espionagem, alimentam uma mitopráxis de exotização do soviético que chega a ser ingênua, cômica e trágica ao mesmo tempo.

Agora, se o Said estava certo, isso não é novo. Afinal, o Orientalismo já não começou na Grécia Clássica? E passou, por exemplo, pelo Dante da Paulinha. Onde é que ele e Virgílio encontram Maomé? Na nona vala do oitavo círculo do Inferno. Já ali, quase cheirando o bafo de Lúcifer, no lugar reservado aos cismáticos e promotores do ódio.

Agora, não sei se Barthes estava totalmente correto ou se, ao contrário, os marcianos é que são os intermediários entre americanos e russos. Pelo menos em certas ocasiões parece o mais certo. Algo como o trickster do Lévi-Strauss.

Fazendo uma propaganda da minha dissertação (que, pasmem, foi retirada da biblioteca outro dia por algum maluco!!), é a função exercida pelo Milu, na oposição entre Tintim e os congoleses primitivos. O terrier é a figura anômala que, no mito, permite a relação, a mediação entre opostos, que de outra maneira, não se comunicariam. Milu, tal como os marcianos, está no campo do inumano. Ele é membro do reino da natureza, mas fala: uma terceira categoria. O congolês também fala, mas está com um pezinho na animalidade. O pólo extremo mesmo são os animais que Milu enfrenta: o leão, o macaco, o crocodilo e a serpente.

Segundo Barthes, o marciano representa o juiz - e em certos momentos, o carrasco também - que vem do céu. Observar e julgar esta raça que ameaça se auto-destruir. A ameaça nuclear não vem, no imaginário, do céu? Barthes inclusive chega a pensar sobre um certo despojamento marcinano como sinal desta posição superior. Eles não estão pelados, em discos lisos e sem qualquer tipo de rebuscamento? (tudo bem, tem Marte Ataca e Independence Day, mas isso veio depois) Mais do que isso: eles têm a mesma história que a nossa. Esse determinismo histórico se mostra em argumentos do tipo: "devem ser cientístas ou geógrafos marcianos que vieram nos estudar", ou "se são tão avançados para viajar até aqui, devem ter uma espiritualidade elevada também". Qualquer semelhança com nossa pequena aventura humana não é mera coincidência.

Só que Barthes não viveu para ver a queda do muro. Acho que algumas coisas mudaram na ameaça da invasão pela alteridade. Entretanto eles ainda vêm de fora, e não invadem exatamente - infiltram. Eles tomam os corpos, eles estão no governo (ou escondidos por este; o Arquivo X reatualizou a idéia da Área 51 de uma maneira poderosíssima) ou, supra-sumo do insidioso, controlam sua mente. Não tem agora um novo seriado (Warner, acho) que a esposa do cara é abduzida e não sabe? Ao que parece ela tem uma vida comum, mas algo foi feito a ela, então às vezes é como que possuída e perde o controle de si.

Bom, tudo isso para falar do Godzilla tretando com o King Kong. Em um mundo em que dois seres gigantescos lutam entre si para prevalecer em algo que não sei direito o que é, talvez eles não sejam as figuras anômalas. Talvez, ao inverso, sejam os pólos de alteridade, intermediados pelos pequenos japoneses - esses sim, liliputianos, indefesos, quase não-reais e quase-humanos (onde a humanidade, o foco do filme, parece ser um reino de grandes monstros briguentos).

Isso até a chegada de algum Spectreman ou um Ultraman (lembrando que os Ultramen, ao contrário do Spectreman humano, eram alienígenas que se infiltravam entre as autoridades que defendiam a Terra dos monstros de modo a obter informações de onde enfrentá-los. Agora, os vilões do Spectremen era um macaco loiro - Dr. Gori - e um gorilão - Karas. Falarei sobre eles em outro post), que circulam entre as pessoas comuns, mas podem crescer e lutar contra um monstro assim que este apareça para ameaçar alguma cidade. Então, quem sabe, Kong e Godzilla sejam de fato as figuras mediadoras da oposição, substituições e passíveis de serem substituídas por outras tríades de oposição mediada, como um humano que pode crescer enormemente e que passa a ocupar o lugar do trickster. No fim das contas ele nunca vai poder levar uma vida normal. Um Cinderelo. Um justiceiro que não pode gozar das glórias. A figura ambígua que incorpora a dualidade que media. E por aí vai.

Não sei. Mas King Kong contra Godzilla não pode ser também um exemplo do que Lévi-Strauss quis dizer com os mitos conversando entre si sobre os homens? Ou seria a despeito dos homens? Mesmo que estes pensem que são responsáveis, ao menos, pela produção e direção de um filme sobre os mitos.

Diferente do que talvez se poderia concluir pelo que foi exposto, também acho que os mitos não são reflexos simples de relações sociais. Tal como o rito, os mitos - como discursos que sâo - têm uma capacidade de tranformação do mundo dos homens que não é desprezível. Mesmo que se admita que eles não são expressão de uma estrutura mental profunda. Agora, se no nível da narrativa (ou diacronia), King Kong, Godzilla e os marcianos são coisas completamente diferentes, na análise da sintaxe (pois são linguagem), eles oferecem, sincronicamente, algumas correlações interessantes. Análise paradigmática do enredo do filme, mas também sintagmática, se formos considerar todos os King Kongs do cinema, todos os Godzillas, e todos os homenzinhos verdes (ou cinzas), sobrepostos e contrapostos em uma perspectiva mais geral. Não apenas elementos sistêmicos de um mito, mas mitos unidos pelo sistema de transformações que fornece ora um gorilão, ora um viajante espacial para dizer algo.

É, por mais que falem contra o binarismo estrutural, não consigo deixar de tomá-lo como fundamental em quase tudo - como, aliás, já dizia Leach.

Depois vou tentar uma análise estrutural dos filmes do Godzilla e do King Kong. Existem suficientes para tentar.

domingo, novembro 27, 2005

Iguarias paulistanas

Nova ida à terrinha e, de novo, sem chuva!! Ontem fui ver shows maravilhosos! Chegamos no final do Nação Zumbi e já fomos pegar lugar no palco do Fantomas. Adoro Fantomas, os caras são foda. Mas não sei se é um show legal de assistir. Quer dizer, em uma casa de shows pequena e não em gramadão lotado, ia ser demais!
O Flaming Lips superou minhas expectativas. Os bichinhos pulando no palco, junto com as serpentinas e papel picado... foi tudo muito divertido. E os covers então... É, eles mostraram que coisas potencialmente bregas e cafonas podem ser resignificadas e ficar excelentes.
Iggy Pop é o máximo também. Aquele tio é doido e não acho que seja humano. Como consegue pular tanto? Eu tenho metade da idade dele e não teria pique pra fazer o que ele faz. E ele não muda, continua igual. O show foi muito empolgante! Só ficou a sensação de que foi muito curto - como também aconteceu com o Flaming Lips.
Sonic Youth é muito bom, mas como já tinha visto os caras e estava louco pelo NIN, aproveitei e fui no banheiro e depois tentar pegar um lugar lá na frente, no outro palco. Cheguei a ver uma parte e depois continuei ouvindo e assistindo pelo telão. Estava perfeito também.
Bom, tudo até lá tinha sido maravilhoso, mas nada se compara ao Nine Inch Nails. O som excelente (considerando o tamanho do palco e o fato de ser aberto), os caras animados, a luz e cenografia demais... Não podia ser melhor!
Houveram várias coisas engraçadas para se relatar, mas fico só nas apresentações mesmo. Foram daquelas que fazem você pensar que valeu cada centavo, e enfrentar a Bandeirantes, às 4 e meia da manhã, com um sorriso na cara.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Paulicéia literária

Hoje fui na feirinha de livros da USP com o Lelê e a Vanessa. Estava meio receoso, achando que ia desperdiçar um tempo que não podia perder (prazos maçônicos apertados, pra variar) e dinheiro que não podia gastar. Além do mais estava com medo da chuva que vem alagando SP (quando tudo parecia ter dado certo... 3 anos sem inundações foram pro ralo! Quer dizer, pro ralo é que não foram...), já que em Campinas City estava um tempinho bem feio.
Resolvemos deixar o carro no ifch e pegar o busão. Perguntei para um segurança, que estava protegido da chuva no que costumava ser a cantina do Tatá, onde exatamente poderíamos pegar o ônibus da Linha USP. Ele não sabia, mas perguntou: "Você não vai de carro não? Vai deixar ele aí?" (ele tinha me visto estacionar). Disse: "Não, tô com medo da inundação". Ele retrucou: "Ih, é verdade, mas tá tendo muito roubo aqui, sabe? Tão levando cd de tudo quanto é carro. Vem dois carinhas de moto, o da garupa quebra o vidro e leva tudo em segundos. Nem desce da moto". Suspirei: "É, a violência hoje em dia tá foda..." Ele parecia ter empolgado com o pessimismo: "E vocês voltam só amanhã?" Eu e meu irmão: "Não, voltamos hoje mesmo". O segurança, com pesar: "Ih, mas depois das 10 só vai ter seu carro estacionado aí, não fica mais ninguém vigiando". Eu: "Espero voltar antes disso".
Aí o cara, com quem eu até simpatizaria em alguma outra ocasião, começou a discorrer sobre as técnicas empregadas pelos ladrões na Unicamp e como os seguranças não conseguem fazer nada para impedi-los: "a gente não pode bater e não podemos ter arma. Eu é que não vou morrer por ninharia". Uma hora a chuva diminuiu e nos apressamos em nos despedir do rapaz - que já me deixava nervoso e com vontade de tirar meu carro dalí - e fomos procurar o ponto.
Chegando na FFLCH, fomos direto para a feirinha. Não achei tão mais impressionante que a da Unicamp e fiquei espantado com o fato de que, de maneira geral, mesmo com 50% de desconto, ainda é muito caro comprar livro! De qualquer maneira, foi legal. Não choveu, fez um tempo bom, me lembrei do quanto o paulistano pode ser simpático e prestativo mesmo em situações caóticas envolvendo multidões apressadas, e saí com algumas ótimas aquisições!
É, gastei uma grana, mas saí de lá com a sensação de que valeu a pena. Só da Cosac & Naify encontrei 3 muito bons! O livro do Viveiros de Castro, que já namorava há muito tempo; o do Mauss e do Hubert sobre o Sacrifício, que nem sabia que tinha sido reeditado; e o romance biográfico do Michel Leiris, que parece ser maravilhoso! Outro achado foi um - baratíssimo - do Malinowski. Também consegui encontrar o livro do Weber sobre os fundamentos racionais e sociológicos da música, que eu já procurava há anos. Completei a féria com um livro organizado pela Heloísa e sua bat-amiga Lilia, com vários artigos interessantes. A Vanessa também achou coisas legais e o Lelê saiu com uma tonelada de russos na mochila!
Após uma volta muito cansativa, mas também sem chuva, encontrei, feliz, o meu carro no estacionamento. Ainda com os vidros inteiros.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Novas picuinhas cinematográficas

Hoje vi mais um ícone cinematográfico da década perdida: Gatinhas e gatões. Com quem? Molly Ringwald, claro. Também com Anthony Michael Hall, na minha opinião, em seu melhor papel. E, não sabia, com os dois Cusacks. A Joan nem é creditada no final. Ou melhor, é creditada como Geek Girl. Ela é a do aparelho nos dentes medieval.
Desses filmes que tentam contar a desgraça que é ser adolescente (nos EUA e nos anos 80, especificamente; mas com grande dose de universalidade), esse é um dos melhores. E mesmo não sendo o primeiro filme da maioria desses atores, foi com esse que vários deles começaram a fazer sucesso. Principalmente a Molly, que foi fazer logo depois Clube dos Cinco e Garota de Rosa Choque. O Michael Hall também foi fazer Clube dos Cinco e depois Mulher Nota Mil (por falar nesse filme, lembrei que o irmão escrotão do amigo do Hall é o Bill Paxton, aquele do Twister. Aí lembrei que ele faz pontinhas no Comando para Matar, no Ruas de Fogo e também no primeiro Exterminador: o soldado do radar, o barman e um punk, respectivamente).
O diretor, John Hughes, dirigiu ou fez o roteiro de vários desses ícones anos 80. Só para lembrar meu preferido: Curtindo a vida adoidado.
Pois é, não consigo evitar fazer exercícios de associação quando a matéria é cinema. Os 6 graus funcionam, minha gente!
Curiosidade: O Michael Hall, com exceção de Edward Mãos de Tesoura, só voltou a atuar em um filme bom em... 6 Graus de Separação!

quarta-feira, novembro 16, 2005

Núpcias tradicionais

Ontem teve casamento do meu primo. Foi em uma igrejinha muito simpática, já centenária, numa colônia suíça que data do meio do século XIX. Há bastante tempo que só ia nesses casamentos moderninhos, então foi muito legal ter visto um bem tradicional. Sem sintetizador ou karaokê. Com violinistas, trompetistas, baterista, uma mina numa espécie de sino, e um pianista. A trompetista tinha também uma daquelas cornetas enormes, do tipo das que anunciam a entrada de reis nos filmes medievais. Tinha até bandeirola pendurada! Aliás, era linda (a trompetista, não a bandeirola).
A recepção foi feita logo ali do lado. A parte de encontrar um monte de parente que vc nem sabe o nome e te falam "Você nem lembra de mim, né? Eu te pegava no colo quando vc era desse tamanho..." é meio estranha. Mas, por outro lado, você encontra umas primas que da última vez que viu eram apenas crianças e agora estão lindas. Vinha Lambrusco e whisky sem parar, servidos por suíços de roupinhas verdes com detalhes floridos, mas cerveja que é bom, não bebi um gole! E sempre é muito divertido ver seus tios, tias, avôs e avós dançando Village People no final da noite!
E fica a pergunta: por que só os Tambascias choram?

segunda-feira, novembro 14, 2005

Ça va?

Normalmente a maioria dos filmes sobre alguma análise social é terrível. No máximo serve pra chamar atenção de alguma coisa que vc desconhece. Mas se vc tem a mínima noção do que trata o filme, é inevitável a sensação de frustração e, porque não, até revolta: "o cara viajou, é tudo esteriótipo" e por aí vai. Não é assim com alguma coisa que você tem mais familiaridade?
Mas às vezes aparece um filme que tem um timing sensível. A razão? Não sei direito. Competência do diretor, claro. Bons atores, evidente. Mas há algo de etnográfico também. Não jornalístico (leitor jornalista, não me trucide). Não relata, vive. Ou, vivendo, relata. E respeito. Levar a sério o que se conta.
A respeito do tumulto na França, principalmente nas cités parisenses, alguém poderia dizer que trata-se de uma crônica de um desastre anunciado. Mesmo no cinema.
Quando estava no segundo ano de graduação, fiz um trabalho para uma matéria de licenciatura (não, não posso virar professor. Quando chegou na hora H, de pegar no pesado e dar aula no Estado, tive que tirar meu chapéu pros heróis que conseguem, mas desisti). Versava sobre uma literatura de educação e reprodução de desigualdade social. Tinha algo de Bourdieu, algo de Paulo Freire, e outros autores que esqueci o nome. Mas eu usei principalmente a noção de terrítório do Guaterri para falar das cités parisienses. Usei também (ou melhor, usamos. Desculpe grupo) o filme do Kassovitz, La Haine. Profético? A vida imita a arte? Ou é tão claro que a situação dos imigrantes nas cités, sem emprego, levando porrada de paga-pau de Le Pen, fugindo da polícia e sendo vigiados tão ostensivamente, que nem Foucault, nem Orwell podiam encontrar melhor panóptipo, ia acabar mal?
Pois é, o mundo burocrático é desprovido de imaginação. Chega a ser irritante tudo ser tão previsível, perde até a sensação de tragédia e ficamos com um gosto estranho de comédia - de humor negro.
E existem também desses filmes post facto. Alguns são até interessantes. Hoje assisti um sobre o 11/09, sob a ótica de um capitão de bombeiros que sobreviveu. Piegas? Bom, talvez um pouco. Mas também com uns momentos muito sensíveis e que tocavam nuns pontos nevrálgicos, que são nevrálgicos porque têm muito sentido, ou, ao contrário, não têm nenhum. O impacto real do atentado veio quando foram feitos os enterros - a maioria sem corpos nos caixões.
E esse é um acontecimento que todo mundo vai lembrar do que fazia quando ocorreu. Sempre ouvia dizer isso sobre o assassinato do Kennedy (com meus pais funciona, eles sabem exatamente o que faziam. Ou pelo menos eles têm a narrativa do que faziam prontinha, o que é igualmente interessante), ou a morte do Tancredo. Com o primeiro, claro, não era nem projeto de gente. Na época das Diretas eu era muito moleque. Eu lembro da morte dele, mas não do que eu fazia. Provavelmente devia estar com o dedo enfiado no nariz lendo gibi.
Agora, lembro direitinho do dia 11. Claro, ainda é recente. Mas você percebe quando é um desses acontecimentos marcantes - e não só pra você. Eu tinha acordado cedo, mesmo não precisando, já que as aulas tinham sido canceladas, já que na noite anterior o Toninho tinha sido assassinado. Falei com a minha amiga Dani, por telefone, comentamos sobre o caso e, quando desliguei, minha mãe me disse que um avião tinha batido no World Trade Center. Não entendi bem o que ela dizia, ou não conseguia visualizar, pelo menos. Fui ver. Demorou um tempinho pra ver que era verdade. E - ploft - bateu outro. Cacilda. Todos aqueles clichês de irrealidade... são verdadeiros e precisos. E depois veio o ritual de comentar com todos, dar o seu testemunho do que fazia na hora, esperando saber o mesmo do outro, e trocar impressões. Ninguém nem perguntava se já sabia do que tinha acontecido. Nada daquilo "sabe quem morreu?". Era pressuposto.
E depois veio a loucura explícita. Nada de macarthismos velados. Guerra no Iraque, guerra no Afeganistão.
Isso me faz lembrar de algo que aconteceu esses dias. Mês passado, liguei pra Paula, na Espanha, pra acertar minha viagem. Só que disquei o prefixo da Espanha errado. Algo incompreensível do outro lado da linha. Desliguei e não dei muita bola. Agora chegou a conta de telefone - com uma ligação pro Afeganistão! Pra onde?! Ficava imaginando, preconceituoso, que podia ter ligado na casa de algum talibã que tem o mesmo número de telefone da Paula! E se, pensava neurótico, morasse nos EUA?
Eu vi em algum lugar que os EUA - NSA, FBI, CIA, CSS ou alguma outra sigla alfabética aí - monitoram toda comunicação com alguns países do 'eixo do mal'. Imagina, por causa de um número discado errado, vc pode acabar sendo preso preventivamente! Sem direito a fiança. Se dar mal, tão certamente quanto criticar o chef antes de receber a refeição.


Jusqu'ici tout va bien.
Jusqu'ici tout va bien.
Jusqu'ici tout va bien.
Il sait que l'important c'est pas la chute, c'est l'aterrissage.

domingo, novembro 13, 2005

Pálido mimo da minha paixão, ou Lira dos 30 anos

Cof, cof

Pálida, a luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Cof
Me sentindo como Álvarez de Azevedo na noite com José Bonifácio.
Falta-me a vergonha, falta-me a dedicação, a entrega. Falta-me o láudano.
Mas a tosse...

Cof Cof Cof

sábado, novembro 12, 2005

Lista

Hoje venho com uma daquelas listinhas top ten. Estou completamente acabado depois de ter entregue trabalhinho hoje em cima da hora, depois de dias passados praticamente na frente no computador! Também estou completamente dopado com analgésicos, anti-inflamatórios, pastilhas de garganta, xarope pra tosse e vitamina C concentrada... Adicione muita coca-cola, café, dieta composta exclusivamente de junk food, toneladas de chocolate e vc tem uma mistura que deixa qualquer dietilamida de ácido lisérgico no chinelo!
Lista de hoje: mulheres maravilhosas e fantásticas (conta com a sub-categoria weird):
10- Isabella Rossellini no Veludo Azul (pertubadora)
09- Grace Kelly no Janela Indiscreta (indescritível aqui)
08- Vanessa Redgrave no Blow up (sobra charme)
07- Dominique Gallois (essa só os da área vão entender. E o sotaque... ah o sotaque...)
06- Siouxie (essa é au concour pra qualquer um que teve infância da década de 80)
05- Winona Rider no Fantasmas se Divertem (pois me apaixonei quando adolescente)
04- PJ Harvey (porque ela é poderosa)
03- Cláudia Cardinale no Era uma vez no Oeste (a mulher suada mais sexy que já vi)
02- Nastassja Kinski no Cat People (aqui é perversão mesmo)
E, finalmente, ganhadora em qualquer categoria (glamour ou weird)...
01- Shirley Manson (algo de muito estranho e bizarro que deu muito certo nessa)

Porque me lembrei de outras e não quero excluir ninguém:
11- Jane Fonda no Barbarella (precisa explicar?)
12- Judy Garland no Mágico de Oz (ah, os sonhos, os sonhos... e que boca!)
13- Michelle Pfeiffer no Feitiço de Áquila (os olhos!)
14- A Morte do Neil Gaiman (porque pra essa eu abro uma exceção da categoria "real")
15- Jennifer Connelly no Labirinto (porque ela já foi realmente bonita um dia)
16- Jill Henessy (porque na tv às vezes aparece alguém)
E tem umas meninas que eu conheço que vou te contar... pra não falar de umas professoras...

*******

Mudando completamente de assunto: hoje passou a entrevista com o Lévi-Strauss. Algumas partes muito esquisitas e outras ótimas! O que mais gostei foram as imagens das expedições bororo e nambiquara! E ele continua rumando firme e forte para o centenário.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Há algo de podre no reino do Brasil

E não é que a emenda realemente ficou pior que o soneto?! Já achava essa história levar de caixa de whisky em avião ridícula. O cara diz que Cuba mandou dinheiro pro Lula (imagino o quanto o Fidel pode mandar pro Lula com aquela pindaíba toda... se fosse o Chaves eu até acreditava), agora desmente falando que fez a denúncia bêbado e foi coagido! Tenha dó! Será que ele não tem um advogado para instruí-lo no que ele pode falar e quando ficar quieto? Ou será que todo mundo perdeu a noção do absurdo e o cara pode falar o que quiser?

A história dos prefeitos mortos tá cada vez mais sinistra. Se é que isso era possível.

E agora essa de arrecadar 13 milhões de reais dos correligionários do partido?! Sabia que ia sobrar pro povão pagar a conta! E já que o negócio é um número simbólico, porque não 3 milhões? Além de ser mais modesto, é o número do BURRO no bicho!!

quarta-feira, novembro 09, 2005

London Calling


Tinha conseguido já há algum tempo, mas parei pra ouvir só agora a trilha do I am Sam, que tem só cover dos Beatles. É até legalzinho e me fez pensar sobre minha relação com os reis do iê iê iê.
Meu pai sempre adorou. Na verdade, era o máximo que ele tolerava de rock. De resto só rolava vinil da Betânia, Simon and Garfunkel, Cat Stevens, Joan Baez, Violeta Parra, Mercedes Sosa e Bob Dylan. É, meu pai já usou calça boca de sino, teve cabelo desarrumado, um bigodão digo de Villa, costeletas muito mais ousadas que as minhas, e camisas listradas de golão. Então as opções musicais em casa eram até bem liberais. Mas Rolling Stones já era demais. Parava nos Beatles, que eram mais bonzinhos.
Os primeiros cds em casa, me lembro, foram dos Beatles. Quer dizer, fora os de música clássica, que a gente comprava nas Lojas Americanas ou na falecida Mappin. O primeiro foi Help!, depois vieram A Hard Day's Night, Rubber Soul, With the Beatles, Yellow Submarine, Sgt. Pepper's, Abbey Road e outros.
Adorava Help! No Talent Show da escola de inglês, participei de uma peça inspirada na música. Eu era o Paul. Cantava a música, com um violão emprestado, ao lado de um Ringo, um John e um George também no início da adolescência. Depois de terminada a música, fazíamos uma coreografia e saíamos correndo pela platéia. Foi demais.
Agora, os meus preferidos eram Sgt. Pepper's e Abbey Road. O primeiro porque era muito estranho. Diferente de tudo que eu conhecia. Mas também por causa da história da morte do Paul. Meu pai me dizia que existe uma mensagem oculta dizendo "Paul is dead" e ha também o baixo de canhoto feito de flores na capa, fazendo referência a um túmulo (também há apenas três cordas no baixo, para os três beatles remanescentes; pode-se ler "Paul?" nas flores; há um modelo de carro que seria o que o Paul morreu no acidente; Paul é o único com um instrumento negro e há uma mão aberta em cima da sua cabeça; é também o único que não está de perfil, mas de frente - e na parte de trás do disco, está de costas; e existem várias outras coisinhas).
Sempre gostei de teorias da conspiração. No mundo da música então... já tentei ouvir de trás pra frente o disco da Xuxa (que diziam conter mensagens satânicas), do Led Zeppelin, do Chicago e tentei sincronizar o Dark Side of the Moon com o Mágico de Oz. Acreditei na teoria de que, por uma análise do formato do crânio, era possível provar que a ex-Jackson Lisa Presley não é a filha do Elvis, e que em algum momento foi substituída por uma impostora. Mas uma das teorias preferidas era da morte do Paul. E é por isso que também gostava do Abbey Road (além de ser um disco incrível, claro). Ficava pensando se o Paul estava descalço porque sabia que ia morrer, ou se era apenas um aviso do além de que algo ia acontecer.
Bom, naquela mesma viagem, já relatada aqui, em que fiz intercâmbio com uma família de Oxford, aos 15 anos, fui para Londres algumas vezes. Em uma dessas visitas, tínhamos o dia livre pra fazer o que desse na telha. Eu queria ir pra Winbledon, já que na época era aspirante a jogador de tênis. Só que eu tenho uma amiga, a Dani, que adora Beatles. Bom, na verdade acho que adoração é pouco pra descrever a coisa toda. Tá certo que ela tinha grana, mas comprava TUDO que via dos Beatles na rua. O que não é pouca coisa - ainda mais na Inglaterra. A gente fuçava umas lojinhas de música e ela sempre saía com um vinil ou um compacto originais que eu preferia nem saber quanto custaram. Enfim, nessa tarde livre ela me convenceu a ir para a Abbey Road. Nunca consegui dizer não para as mulheres.
E lá fui eu tirar foto descalço atravessando a faixa! Ficamos espreitando na frente do estúdio, deixamos nossos nomes pixados na muretinha da calçada (ali atrás do fusquinha branco, mais ou menos) e ficamos de tocaia no muro da casa do Paul, que era perto dali. Ela gritava "Paul, Paul, I love you!". E eu me sentindo um daqueles caras do filme Febre de Juventude (em que os Beatles vãos para os Estados Unidos apresentar no Ed Sullivan e tem uma horda de adolescentes insanos que querem ver o show). Sabe aquele que fica reprovando a histeria das amigas, mas sempre está junto? Então. Era igualzinho. Estava adorando tudo aquilo! Histeria em Londres (bom, isso agora pode ter sentido negativo) é muito divertido! E a cidade é demais, não há tanto a inacessibilidade de pessoas e de coisas como em outras cidades grandes.
E à respeito da histeria, devo também dizer que na verdade sou completamente simpático às/aos groupies! Eu gosto de me fazer de cool, mas no fundo sou um.
Um dia eu conto da minha peregrinação ao túmulo do Jim Morisson no Père Lachaise.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Genesis alve-negra

Vendo o jogo hoje (coisa que não fazia há bastante tempo), tive uma grata surpresa. Vi o Biro Biro! Apesar das claras rugas e um semblante mais "experiente", ainda cultiva a cabeleira! Eu fiquei muito contente, com o resultado, claro, mas principalmente por ver o tiozinho. Ele era meu herói!
Existe a crença que você já nasce torcendo para um time aqui no Brasil. Bom, eu tenho um tio palmeirense que até tentou me batizar de verde, mas fora isso, ninguém tentou fazer minha cabeça. Pra minha mãe, tanto faz como tanto fez. E meu pai... bem, meu pai é a pessoa mais tolerante que eu conheço. Em uma família que metade das pessoas são ou vão ser médicas, ele me apoiar na opção quase suicida (e monástica) de fazer sociais, já diz tudo, não?!
Ele até que torce para um time. Outro verdinho, mas esse de Campinas mesmo, do qual ele foi sócio por muito tempo. Na verdade, a maior parte da família torce pro Guarani já há algumas décadas. Isso veio desde um dos meus bisavôs, filho de italianos da Campana, que ajudou a construir um alambrado (ou algo assim) do Brinco de Ouro. Creio que desde lá a família sentiu-se na obrigação de engrossar as fileiras bugrinas e criar uma tradição. Bom, com excessão de um tio e alguns primos, ovelhas-negras (literalmente), que torcem para a arqui-inimiga Ponte Preta. Mas nesse caso também há precedentes ancestrais. Meu outro bisavô, este um alemão de Hamburgo, exercia a hoje extinta profissão de ferreiro. E ajudou a construir... tchã nã nã nã... um alambrado no Moisés Lucarelli!
Nessa trama digna de Shakespeare, eu tive a sorte de ser filho do Tambascia mais sossegado. Pude escolher meu time, o que acho muito legal. Quer dizer, eu sei que torço porque eu quis (é o que eu acho, pelo menos).
Enfim, na minha infância me encantei com a democracia do Parque São Jorge. Adorava o Casão, que naquela época era um dos mais jovens. Adorava o Doutor, um dos jogadores mais imponentes que eu já vi. Ele tinha classe. Mas sobretudo, amava o Biro Biro. Claro, ele era raçudo, e todo mundo gosta de um jogador assim no seu time. Entretanto ele tinha algo a mais também. Passava pela cabeleira loira, claro, mas também por uma vistosidade impressionante ao jogar. Ele sobressaía em campo. Não pela técnica, mas por uma confiança e uma determinação que faziam com que ele parecesse estar em toda parte do campo (tudo bem, ele era diferente também, era mais fácil notá-lo)!
O Corinthians no começo de 80 era empogante. Não lembro do time todo, mas ainda lembro do Wladimir e do Zenon. Naquela época os jogadores ainda pensavam que o time valia sacrifícios, ir para a Europa vinha só depois, ainda usavam barba e ainda podiam usar bigode.
Aí, hoje, vendo o Biro, lembrei porque quis ser corinthiano. E fiquei o resto do dia leve...

domingo, novembro 06, 2005

Chris e os duendes

Ingrid Bergman!!!!

Porra, desde ontem de madrugada que eu tentava lembrar o nome dela!! Lá pelas 3 da manhã ficamos fazendo listas de filmes, diretores, atores e atrizes que gostamos ou detestamos. Não sei exatamente porque eu queria lembrar dela, mas o nome não vinha, não vinha. Fui dormir angustiado e nada. Só lembrei hoje quando acordei.
Ontem à noite foi fogo. Falava: "é a mãe da Isabella Rosselini! Qual é o nome dela, vamos gente!" A Dani veio com um nome espatafúrdio, o que só me deixava mais nervoso. Voltei pra casa frustrado.
Bom, estou contando isso porque não lembrar nomes (os que ficam na ponta da língua, às vezes você lembra até a inicial, mas não passa disso, são os piores) é um dos meus piores pesadelos. Eu fico ansioso, não presto atenção em mais nada nem ninguém até lembrar da palavra, faço exercícios de tentativa e erro (como percorrer mentalmente o abecedário e testar vários nomes com cada letra) e fico com uma cara de quem está pensando na morte da bezerra. É terrível. Quando saiu o Quinto Elemento, aquele filme com o Bruce Willis, eu estava em BCN. Assisti com a Paula e fiquei encasquetado tentando lembrar do nome do cara responsável pelo design do filme (qual é o nome disso?). Sabia que ele fazia quadrinhos, era francês, sabia que começava com a letra M e era apenas um nome, e... mais nada. O terror foi tanto que liguei pro André, no Brasil, porque tinha certeza que ele saberia!
"Alô André, beleza?"
"Fala Slash, como vai tudo por aí?"
"Ah, bacana, bacana... então seu André, qual é o nome do carinha que fez o visual do Quinto Elemento?"
"Hã... Moebius?"
"Issooo! Valeu! Até mais!"
Juro que não tentava bancar o esquisitinho descolado. Era simplesmente questão de sobrevivência. Tinha que saber, era muita ansiedade. Acho até que é meio patológico isso tudo...

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Só pra se ter uma idéia da loucura que me toma de assalto de vez em quando, conto o meu sonho da noite passada. Bom, na verdade trechos, já que esqueci a maior parte.
Era um cenário meio apocalíptico. Uma mistura de Mad Max com alguma selva molhada no Vietnã. Havia uma mulher correndo para sua aldeia, junto com um grupo de homens que retornavam de uma caçada, no final do dia. Ela sabia que tinha algo de errado e apressou o passo. Chegou perto da sua cabaninha e viu que seu filho estava morto. Era velado apenas por uma velha. O corpo do menino brilhava - um brilho meio azul radioativo. Eu sabia que ele era algum tipo de promessa, um futuro chefe, um profeta. A perda era grande.
Eu era um dos caçadores e me aproximei de uma moça guerreira, com quem eu nunca falava. Ela era meio menina, mas com corpo de mulher. Só uns paninhos cobrindo os peitos. Tipo a Jessica Alba do Sin City e do Dark Angel, sabe?
Falei alguma coisa como: "e agora Nena (seu nome), o que será do nosso povo?". Ela parecia não estar muito preocupada. Na verdade estava se lavando numa bica. Me disse que não havia muito problema. O menino havia morrido, mas sua alma ainda não estava ex-orbi (tudo bem, latim chinfrim. Mas mesmo assim, convenhamos...). Poderíamos realizar alguma urucubaca, uma macumba qualquer para manter seu espírito em contato direto com o pessoal da aldeia.
Vai entender. Parece roteiro de filme B dos anos noventa que passa de madrugada na tv.
Depois eu sonhei que estava num caça à jato, procurando alguma coisa.

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Uma vez li um livro de ensaios do A. Alvarez e havia um capítulo sobre o 'pesadelo' no romantismo vitoriano, do desconhecido interior - esteja ele presente ao lado de casa com Jack o Estripador, esteja na África negra de Livingstone e Conrad. Nesse capítulo ele fala sobre o Robert Louis Stevenson e a romantização e a dratamização do pesadelo e do gótico da psique humana - evidentemente Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
Stevenson escreveu grande parte do livro inspirado por sonhos que também tentou analisar, mas que, segundo Alvarez, o atormentavam constantemente desde sua infância. Há algo de interessante para se pensar no ato de tomar uma poção, como Mr. Hyde, e se transformar - de volta à normalidade do gênero humano. Ou vice-versa. Afinal, o que é o prozac? O que é o placebo senão a entrega à perseguição de um coelho branco atrasado e a ingestão do líquido da garrafinha em que se lê "beba-me"?
Bom, o fato é que Stevenson atribuia aos sonhos a força motriz da criação; e aos duendes, os seres pequenininhos que animavam o teatro em sua mente, sua encenação. Pois então, às vezes tenho a mesma sensação de voyerismo passivo com umas idéias e uns sonhos que eu tenho. Me parece, muitas vezes, que a mim cabe apenas anotá-los e me preocupar com o motivo de sua aparição, dar forma às informações que vão surgindo, como o bricoleur do Lévi-Strauss. É uma espécie de assombro e surpresa com a elaboração de algo que funciona na sua mente, mas você não tem quase nenhum controle sobre isso. Duende competente, etnógrafo e colaborador invisível, trancado no sótão.
A explicação dos duendes, por mais bobinha que possa parecer, é tão interessante quanto o chavão que têm muitos escritores em relação às histórias e personagens que desenvolvem: "ah, o personagem cria vida. Eu não sei o que ele vai fazer até escrever de fato". E acho tão válida quanto a explicação menos artística: a psiquiátrica. Esquizofrenia.
Uma vez vi uma entrevista do João Ubaldo Ribeiro, que dizia que não sabia que um personagem dele era gay. Só foi descobrir no final do livro.

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Por falar em Lévi-Strauss, vai aí uma dica pra ver o velhinho quase centenário: entrevista na TV Senado agora nessa semana. Imagino que em vários horários.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Picuinhas do cinema

Bom, estava assistindo hoje o finalzinho do Star Wars (Retorno) e pensei umas cositas - era daquela safra alterada. Eu acho que as inclusões de novas cenas e novos efeitos deixam o filme muito estranho. Não falo nem como um fã saudosista, do tipo que prefere o vinil ao cd ou a válvula ao transistor, por motivos puramente subjetivos (nada contra, heim?). O lance é que ficou estranho mesmo. Até meio esquizofrênico, ou então anacrônico. As cenas novas não combinam.
Dando uma colher de chá ao Lucas por este (grande) deslize, tem algo que eu acho simplesmente sacanagem. Me refiro à cena final, em que o Luke salva o pai, crema seu corpo e termina abraçado com a Leia na festa ewok, olhando para os espectros do Yoda, do Obi Wan e do Anakin. Quando fizeram a primeira alteração, antes de começarem as filmagens dos primeiros episódios, ao menos o ator que fazia o Anakin ainda aparecia nessa cena. Agora o trocaram, por computador, pelo tal do Hayden Christensen! Acho uma puta duma sacanagem com o outro cara, que por sinal se chama Sebastian Shaw, e que nessa época já tinha partido dessa pra melhor. E porque não mudaram o Alec Guiness pelo Ewan McGregor? Eu digo: porque aí o bicho ia pegar, o cara é muito conhecido e fez o nome por outros meios além da série Star Wars. O outro, coitado, perdeu seu lugar numa das cenas mais famosas do cinema. Ficou só no take em que morre, todo cheio de cicatrizes e careca. E é só isso mesmo, já que quem está na armadura é sempre outro cara e a voz é do Mufasa, aka Thulsa Doom (James Earl Jones). Se eu tivesse aparecido num filme do Star Wars, em uma cena importante, e tivessem me cortado, eu voltava pra assombrar o Lucas - azul transparente, com voz cavernosa vinda do além, roupão jedi e tudo!
De todas as besteiras que o George Lucas fez com a série, bichinhos fofinhos e Jar Jar Binks da vida e tal, essa é a com que eu fico mais cabreiro. O que ele ia achar se daqui a 20 anos mudassem nos créditos o nome do diretor pra Spielberg?!

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Curiosidade: o André tinha me dito que o Wicket (aquele ewok que aparece mais, um bem pequeninho, marrom-escuro) é o Willow também!! Isso foi uma revelação! Eu tinha reparado que ele aparece no episódio I, na platéia da corrida de pod, torcendo. Pois então, em busca de novas conexões, descobri outras aparições do pequeno ator. Ele é o Marvin, do Hitchhiker's Guide to the Galaxy, é o Professor Flitwick do Harry Potter e... é também um dos goblins do Jareth (aka David Bowie) que aparecem no Labirinto, aquele filme lindo que eu preciso ter na minha videoteca (outro goblin é o ator que faz o R2 D2. Aliás, existem vários ewoks que são também goblins. Alguns são também Oompa Loompas, do Fantástica Fábrica de Chocolate original. Fico pensando que ser anão em Hollywood deve propiciar uma certa estabilidade de emprego... pelo menos para alguns papéis)!! Ah sim, ele se chama Warwick Davis.

Curiosidade decorrente: por falar em Labirinto, o sábio é o Frank Oz, que é também o Yoda (além de vários Muppets, como a Miss Piggy, o Animal, o Fozzie...). O círculo se completa e a teoria dos 6 graus de separação é comprovada, com ampla vantagem, no caso da kitnet que é Hollywood.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Algumas coisas dos anos 80


Estava ouvindo agora o Bad Reputation da Joan Jett e fiquei matutando sobre algumas coisas sobre os anos 80. Primeiro: como alguém pode ficar ouvindo Avril Lavigne quando tem duas tias maravilhosas, com discos magníficos, que já faziam há muito tempo e muito melhor o que essa guria está tentando fazer agora; mas que ninguém dá muita bola? Claro que eu tô falando da Joan Jett, mas também da Patti Smith.
Outra coisa: quando exatamente acabou o efeito de fade out no final das músicas? Aquele efeito de ficar repetindo o refrão e o volume ir diminuindo até mudar para outra faixa? Engraçado que agora a música termina realmente, não tem mais aquela sensação de que ela poderia continuar indefinidamente, como era antes, na música do vinil.
Tem trocentas coisas que eu poderia falar sobre a década perdida. Minha infância toda foi construída nela. Mas termino com uma dúvida e uma constatação. É o efeito da nostalgia o que faz com que eu aprecie hoje algumas coisas que eu não dava muita bola e dava como garantido 20 anos atrás? Claro, tinha coisas que eu já gostava lá, mas muitas outras passaram meio batidas. Por exemplo? Percebi como Duran Duran é bom!

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E o que aconteceu com a polaina?

Halloween


UAHAHAHAHAHUAHAHUUHUHUH!

sexta-feira, outubro 28, 2005

Out of our minds

Dia pós-entrega de trabalho: aquela gostosa sensanção de vazio por estar acostumado a tanto tempo a não ter tempo para coisa alguma além de trabalhar e, de repente, nada. Um prazer enorme em acordar meio dia, comer lasanha congelada de almoço, bisbilhotar na internet, ver tv sem culpa. Fiquei a tarde toda no shopping, comprando presente para a Sofia (1 ano, já?!) e lendo livro na Saraiva. Dia de solteiro também.
Daí me encontrei com amigos queridos, comi uma pizza supreme e tomei sukita. Fomos ver o Jardineiro Fiel. Gostei bastante. Não sabia quase de nada do filme - o que, quando consigo fazer, acho ótimo. Odeio ter expectativas frustradas.
A Dani disse que o filme a fez pensar na pesquisa dela. Acho que pra mim também aconteceu isso, ainda que não pelos mesmos motivos, acho. Às vezes acho que preciso ir pra lá, mas também, por outro lado, dá pra encarar e ver aquilo que estudei nesses anos, nos livros? Porque, muitas vezes, acho que o Fabian tinha razão: as pessoas estão fora de si em sua racionalidade toda. Quando os clichês deixam de ser clichês e viram sabedoria? Porque as vezes parece que não é possível suportar sem pirar. Já não basta ver Delúbio e Valério colocados no ringue aqui na minha própria terra? Bom, mas quem sabe maçonaria africana não pode ser algo a mais que uma piada que eu fiz outro dia?

quinta-feira, outubro 27, 2005

Uma foto, um filme e uma história


Com mais uma foto do álbum, a que não se considera relevante... e a crise continua.

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Dica cinematográfica: depois de muito tempo sem ver qualquer filme (o último no cinema foi Sin City), assisti hoje Wonderland. O roteiro é bom, boas performances e a trilha sonora é ótima!

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Vou contar a história de um embate. Um embate que não foi bem um embate, e acabou virando constrangimento:

O rapaz foi visitar o Sacre Coeur pela segunda vez. Quando moleque havia feito a peregrinação sem saber o que significava o lugar. Desta vez sabia que a igreja tinha um certo significado, tinha importância, mas ele foi basicamente porque era um ponto turístico famoso. Esta foi sua peregrinação. Nada de transcendental ou religiosa. Bom, de certa forma havia algo de religioso... uma sacralização dos marcos conhecidos por todos. Sua contribuição para o cartão postal. Era uma igreja, mas isso não era o mais importante - ainda que fosse católico.
Estava de sobretudo preto, calças jeans pretas, botas pretas. Cópia do passaporte no bolso da frente - nunca é demais se previnir contra os batedores de carteira que, como se sabe, sempre estão espreitando. A máquina fotográfica, nem boa nem ruim, no outro bolso do sobretudo - o que fica por dentro do forro, sobre o peito. Assim era fácil sacar rapidamente a câmera para bater uma foto e encondê-la novamente, sem chamar a atenção. Nada como aquele clichê das hordas de turistas japoneses. Gostava de se considerar um turista low-profile.
Em um banco da praça, na base da escadaria da igreja, viu que o céu começava a fechar. Nuvens pretas assomavam ameaçadoramente por trás da paisagem. Choveria logo - e muito. Ele estava decepcionado com a reforma que ocorria na fachada do prédio. A foto não sairia como esperava. Ao menos agora tinha um clima de apocalipse para dar um ar especial à coisa toda. Mas não tinha pressa nenhuma em procurar abrigo; de certa forma esperava molhar-se. Desejava até. Ficou esperando alguma coisa, que não sabia exatamente o quê, para se decidir a fotografar.
Na praça, dois ou três parisienses se dirigindo para o Metrô, alguns casais de turistas e uns mochileiros eslavos. Havia, contudo, uma figura interessante - que sabia que era interessante. Um clochard. Também de sobretudo - mas gasto. Claramente tinha mais de 60 anos e ostentava uma barba grisalha imponente e desgrenhada. Alimentava os pombos, que se amontoavam ao seu redor.
O rapaz então sacou a máquina, procurou não fazer movimentos chamativos e mirou. O clochard esperava por isso e levou as mãos ao rosto.
Mesmo há algumas dezenas de metros de distância, espalhando farelo de pão para as aves, o velho estava atento a tudo o que as pessoas faziam. Obviamente devia estar acostumado a ser considerado parte da paisagem turística, como os guardas do Palácio de Buckinham ou os punks que vagam na frente dos seus portões. Mesmo não gostando destes fotógrafos, fez do jogo de esconder-se contra a indiscrição, um ritual. Afinal, gostava de alimentar os pombos alí e não deixaria de fazê-lo por conta de voyeurs endinheirados. Mas no fundo apreciava ter que odiar a necessidade de se esconder. Fazia parte do mesmo ritual. Ao menos aos turistas ele não era invisível. Se esconder fazia, estranhamente, com que fosse ainda menos invisível para um tipo de ser humano.
O rapaz baixou a câmera e ficou constrangido. Fingiu que na verdade não queria tirar uma fotografia do clochard e sim da igreja que se erguia imponente atrás dele. Levantou-se do banco e foi a Montmatre olhar os artistas - estes sim, menos ariscos e dispostos a encantar os estrangeiros.
Alguns anos depois, na sala de espera de um dermatologista, viu entre as fotos que o médico tirava como hobby e que adornavam a sala, um barbudo clochard sorridente. Nunca mais voltou ao consultório.

quarta-feira, outubro 26, 2005

Vidas passadas

Hoje, depois de matar aula, estava esperando que a minha orientadora saísse (da aula que eu matei, mas que seria dada por outro professor que, no entanto, faltou) e fiquei deitado em um banco na frente do prédio onde era dada a aula. Houve, depois da aula propriamente dita, uma discussão sobre o andamento e a organização do curso. Parece que o debate estava um tanto quanto acalorado e demorou bastante para começar a sair gente, isso já passado o horário do almoço.
Enquanto não saía ninguém, meio sem pensar peguei uma folha caída no chão. Dessas em forma de ponta de lança, um pouco grande, já meio amarelada, começando a secar. Também sem tomar muito conhecimento do que fazia, comecei a rasgar a folha junto aos nervos secundários (aqueles que saem obliquamente do nervo principal, mas que ainda são grandes): era uma folha peninérvea (ó!).
Quando percebi o que fazia, uma sensação de déjà-vu surgiu. Ou percebi o que fazia porque surgiu o déjà-vu. Não sei bem. Lembrei que quando era criança, quando ficava na rua esperando qualquer coisa (minha mãe me pegar na escola, o intervalo acabar...), fazia exatamente isso, produzindo uma folha toda recortada simetricamente, mas unida pelo nervo central. Escolhia precisamente as folhas peninérveas do chão, que não podiam estar verdes, mas também não poderiam estar secas, mais fáceis para trabalhar.
Não sei como, mas sabia que não fazia isso há muitos anos, mais de uma década com certeza. Não sei exatamente porquê, mas me senti feliz e angustiado ao mesmo tempo. Parecia que eu estava roubando lembranças. Um passado que vivi e já nem considero mais meu, mas de outra pessoa com quem já nem mais me identifico.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Esses estranhos medos televisivos


Na continuação do projeto do álbum das palmeirinhas, coloco agora outra foto bem legal de uma das realmente primeiras delas. O sobrinho de Durkheim, Mauss. Não dá pra deixar de sentir certo orgulho de ser antropólogo quando você tem ancestrais tão bons no que fizeram, mas ao mesmo tempo conseguem ser bastante divertidos e simpáticos, não? (Tudo bem, existem as exceções...) Talvez pela própria natureza da disciplina, do encontro, o antropólogo passe algo íntimo de si para aquele que lê seu trabalho. Pelo menos vários deles. E, como diz uma das únicas músicas do Chaetano que eu gosto, "de perto ninguém é normal".

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Conto também uma breve experiência, para falar sobre meu pavor de falar em público, ainda mais se é para uma tv.
Hoje, fazendo pausa nos trabalhos para comprar mantimentos no Pão de Açúcar local (esse mesmo do Cambuí), estava parado num farol vermelho do Centro de Convivência (aquele que dá pra Conceição) e vejo uma loira se aproximando, armada com um microfone e um cinegrafista a tira-colo. Gelei.
Quando cheguei o sinal já estava fechado, então sabia que iria abrir logo. Mas um medo automático me invadiu. "E se justo agora ele quebrou? E se o tempo resolver passar mais devagar justo neste momento?" Quem conhece um pouco sobre qual é a verdadeira natureza do destino, sabe que ter tais pensamentos negativos é mais do que justificado.
Com um canto do olho eu via a mulher se aproximar (estava no único carro na faixa da esquerda e ela estava na calçada do Centro de Convivência, seu território de caça) e ficava olhando, impaciente, o vermelho na minha frente, esperando que o verde do sinal dos pedestres começasse a piscar, o que indicaria que logo a cor mudaria e eu poderia fugir. Mas não piscava. Não abria. Pânico aumentando. Ela abriu a boca, empunhou o microfone ameaçadoramente e perguntou se poderia... O sinal de pedestres começou a piscar! Rápido, rápido! Abriu! Sorri pra moça, que viu o sinal abrir e voltou com seu microfone para a calçada, desapontada por não haver conseguido abocanhar sua presa. Acelerei e nem olhei para trás. Não soube nem que emissora era. Deveria ser uma dessas locais, porque não havia logo no microfone, como pude lembrar depois, já mais calmo e recomposto.
Relatado o caso, informo que minha experiência com a tv não é das melhores. Apareci no ar 4 vezes, que eu saiba. Uma delas foi quando era bem moleque, época que era viciado em histórias da Segunda Guerra Mundial (tenho parentes que morreram na Alemanha até). Sabia tudo sobre as principais batalhas, os comandantes e tal. Por muito tempo tive certeza que eu era um cientista austríaco que havia vivido nesta época, na minha encarnação passada. Acho que poderia ter sido meio estranho nesse ponto (depois que li o conto do Stephen King que originou aquele filme do menino que descobre um criminoso de guerra no seu bairro, fiquei ainda mais preocupado com isso - por um tempo), mas não é o caso de falar isso agora.
Enfim, nessa época descobriram que o Mengele, depois de ter fugido para a Argentina, havia vivido e morrido no Brasil. Afogado, mais precisamente. Em Bertioga. O Badan Palhares foi encarregado de fazer o laudo que confirmaria que a ossada exumada era do médico alemão. Meus pais, colegas do legista, contaram para o dito cujo do meu interesse pela Segunda Guerra e lá fui eu ver e tocar no crânio maldito. No mesmo dia ele apresentou o laudo, para várias tvs. Lá estou eu do seu lado. A primeira vez até que não teve nenhum trauma sério. Mas eu estava morrendo de vontade de ir no banheiro, e minha cara na tv é estranhíssima, no meio de toda aquela gente.
A segunda vez foi na MTV, em que apareço num show do Raimundos, no Junta Tribo, que aconteceu no observatório da Unicamp, totalmente coberto de pó (tirei terra de orifícios do meu corpo ao longo de toda aquela semana) e levando uma botinada de um punk que fazia mosh e pulou bem onde eu estava. O bico da bota acertou em cheio meu olho direito. Tive chance de rever isso outro dia, quando passou um especial de 10 anos (já?!) do Junta Tribo.
A terceira vez que apareci, foi um dia que estava na Unicamp nas férias. Quem foi pra Unicamp nas férias sabe como aquilo fica deserto. Bom, eu fui acompanhar meu amigo André, então estudante de arquitetura da PUCC, a filmar um projeto de urbanismo. Minha função era atirar uma bola de basquete, como se estivesse jogando boliche, através daqueles caminhos de pedrinha do ciclo básico enquanto ele filmava o trajeto da bola. Nunca entendi direito a proposta do filme. Acho que era algo sobre uma metáfora da circulação das pessoas. Bom, uma hora em que fui longe, quase na BC já, para pegar a bola depois de um arremesso muito eficaz, uma moça sorridente, seguida de um câmera carrancudo, se aproximou de mim e perguntou se eu não poderia dar uma entrevista sobre Viagra. Mal sabia o que era isso, o produto acabara de ser lançado. Disse isso aos dentes brancos, ao que estes me responderam que não tinha problema, eles me dariam uma pergunta para decorar e então fazer para a câmera. Não sei porque aceitei. Malditos dentes hipnóticos! Me posicionei frente à lente e disparei: "Gostaria de saber: Viagra vicia?" Deveria ser daqueles programas que aparece a pergunta do cidadão anônimo e preocupado e depois corta para a resposta do médico. A acionista da Colgate me disse em que canal e hora iria passar o negócio. Mas nessa altura já estava completamente arrependido. Nem quis assistir.
A quarta vez que apareci na tv, foi naquele canal 25 (quem tem net em Campinas sabe qual é: uma tv local que tem vários programas "jovens"). Tinha acabado de fazer tatuagem no Gatto e ele me falou que iria na tv falar sobre sua arte, perguntando para mim e para a Dani se não queríamos ir como clientes satisfeitos. Aceitamos. Lá estou eu, no canal 25, mostrando minha recém-feita tattoo e falando muita merda sobre período de cicatrização, como lidar com arrependimentos possíveis, sobre meu piercing e a Dani dando um fora na apresentadora imbecil que queria dar de feminista esclarecida, perguntando pra ela se não era verdade que as mulheres têm que bater nos homens (?!)...
Bom, desde a primeira tatuagem meu pai sempre brigou. Essa tinha feito sem falar nada. "Tudo bem" - pensei - "ninguém assiste essa porcaria mesmo". No dia seguinte meu pai, triste e bravo, me pergunta porque não contei que faria nova tatuagem. Não foi legal ele ter sabido por colegas no hospital! Fala sério, que médico fica assistindo canal 25 no meio da tarde, reconhece o filho do colega e no dia seguinte vai fofocar?
Agora não parece tão espantoso meu pavor do dia de hoje, quando vi aquela loira com o tailleurzinho preto de executiva-de-média-empresa se aproximando, não?

quinta-feira, outubro 20, 2005

Fatigatis sed non saciatis

Os dedos já estão ficando doloridos, os olhos irritados e lacrimejantes; nem falo sobre as condições das costas. Imerso completamente nos mistérios da maçonaria pra ganhar um troco e ajudar minha linda orientadora, começo a indagar se não estou acelerando o meu processo de evolução. Ou melhor, involução: rumo a uma forma medonha de cabelos desgrenhados e barba pinicante, eternamente envolto nas vestes de dormir - regado pela radiação maligna da tela do computador.
Antigos Espíritos do Mal, transformem esta forma decadente em... algo pior!
Tudo bem, impossível ficar o dia todo trabalhando no computador. Durmo um pouco, vou 2, 3 vezes no banheiro, faço muito café, assisto um pouco de tv e faço uns sanduíches também. O resto do tempo, computador. Claro, mesmo quando estou no computador não trabalho sempre. Tem paciência spider, que hoje passou de mil vitórias contabilizadas (?!) Tem joguinho de computador que brinco por meia hora de vez em quando. E tem os blogs. De amigos e de amigos de amigos. Estabeleci uma rede de blogs que venho lendo há um tempo já. E entro umas 2, 3 vezes por dia pra ver se algo mudou!! Um novo post, um novo comment. É o cúmulo...
Ainda bem que estou me divertindo pacas, a exemplo do que falou Manuel Antônio de Almeida! Mas não seria eu se não reclamasse também. Queria saber o que o Antônio de Almeida diria quando a fadiga, inevitavelmente, triunfasse...

quarta-feira, outubro 19, 2005

Álbum das palmeirinhas


Colocando a fotinho do Malinowski, achei umas outras imagens geniais de várias das palmeirinhas da disciplina. Poderia pôr umas aqui de vez em quando. É um projeto que já foi muito adiado por mim e pela Dani. Bom, essa é de um dos mais fotogênicos e performáticos dos antropólogos, "Papa Franz". Aqui em costumes esquimó. Fala a verdade, quem disse que fazer ciência (ou pelo menos estudá-la) não pode ser divertido?

terça-feira, outubro 18, 2005

Antropólogo em crise



Crise de pesquisa. Penso em mudar tudo, deixar a solidão dos livros e da companhia daninha do computador e partir para um campo "real". O Omar tinha me dito semana passada, de brincadeira, é claro, que enquanto alguns antroólogos pegam malária no campo, outros estudam Tintim. Tá, eu sei que não é o campo que define um antropólogo e qualquer tema pode ser antropologicamente relevante. Mas eu começo a sentir um incômodo e uma espécie de insatisfação e uma ansiedade que urge por pessoas, trocas de subjetividades, longe do arquivo - pelo menos por um tempo.

(Malinowski com trobriandeses)