segunda-feira, junho 30, 2008

Estar lá


Um pouco inspirado por Richard Holmes, tentei seguir algumas das pegadas de Mary. Como se houvesse algo que pudesse ser captado no ar dos caminhos percorridos. Como se pudesse acessar o testemunho daquelas árvores, daqueles prédios. Ruas em que andou, lugares onde estudou.
Fui para Oxford, no St. Anne's College, procurar esse elã biográfico.
St. Anne faz parte do colegiado da Universidade de Oxford, e, mesmo não sendo tão antigo quanto algumas das outras faculdades, me pareceu transpirar tradição. Ou talvez assim me parecesse por conta de meus interesses. Mas era como se houvesse uma história que para mim fosse significativa. Apenas me esperando. E lá, sozinho, fiz uma tentativa quase mediúnica de imaginar a jovem estudante católica naqueles gramados, naquelas salas, 60 anos antes.
Havia trazido um lanche desde Londres, em uma sacola que carreguei pela cidade medieval. Escolhi um banco afastado, dentro de um jardinzinho pegado a alguma casa de algum departamento, onde alguém fazia um café. E lá fiquei pensando sobre o trabalho que viria pela frente, como se estando lá - essa armadilha que tanto tentamos criticar, mas que nunca é totalmente exorcizada - eu pudesse ver mais claramente não só aquela trajetória, mas o momento no tempo em que esta se encontrou com a minha.

quarta-feira, junho 25, 2008

Paisagens londrinas 1


Na falta de tempo para atualizar por aqui, fica uma imagem do ano passado. Linda ponte que foi explodida e reconstruída no século XIX, quando ainda se escoavam os produtos que chegavam no porto, pelos canais, em barcaças puxadas por cavalos. O carregamento, no caso, era pólvora. Reza a história que o estrondo foi tão grande que os moradores dos arredores acharam que se tratava de um terremoto...
Os canais eventualmente foram interligados e unidos em uma única rede, que serpenteia e recorta Londres, ligando até mesmo outras cidades ao norte e ao oeste.
Na foto, o Regent's canal na altura do Zoológico de Londres.

sexta-feira, junho 13, 2008

Jingle dos infernos

Não sei porque hoje me veio uma musiquinha irritante na mente (será a data tenebrosa?). Sabe daquela que gruda nos seus neurônios, vem das trevas do inconsciente e toma sua mente de assalto para não mais largar? E, como o soluço (esse outro fenômeno fisiológico misterioso), só se vai quando você desiste de tentar matar a dita cuja.
Pois é, dessa. Aliás, eu nunca vi nenhuma explicação sobre porque essas músicas surgem, ou porque elas persistem. Quer dizer, fora o Paulo Coelho, mas com o argumento extraordinário-psíquico-místico, em As Valquírias, ou em Diário de um Mago... um desses (sim, eu lia bastante o imortal da nova era). Algo como a mente em desequilíbrio, ou a mente desconcentrada.
De qualquer maneira, voltando à música. Não é um Bon Jovi, ou uma Bonnie Tyler, ou mesmo uma ABBA - alguns dos campeões do grude. Mas o jingle do Bom Dia São Paulo.
Era o "vamo embora, vamo embora, tá na hora, vamo embora, vamo embora"... que ouvi toda manhã por mais anos do que eu quero lembrar.

E junto com a lembrança do refrão, veio a memória de todos aqueles anos de escola ao raiar do dia.

Nunca gostei de acordar cedo, mas até o terceiro ano do colégio (com exceção do segundo, quando estudei à tarde - e dormia na aula, vai entender...), não tive muita escolha. Como se já não fosse bastante desagradável entrar na sala às 7:00 (os piores anos foram durante minha sétima e oitava séries, quando estudei num legítimo vale, ali perto da lagoa do Taquaral, onde até a segunda aula você não via mais que 10 metros à sua frente por conta da neblina), eu tinha que acordar especialmente cedo, porque desde que me conheço por gente, só fui para o colégio no esquema rodízio-de-pais (partilha da miséria), o que significava várias paradas nas casas de colegas antes de chegar na Bastilha.
E não sei porque cargas d'água, todo pai descontava a frustração de ter que cumprir com seu dever parental - numa hora em que nenhum ser vivo decente e temente à Deus deveria estar acordado - ouvindo o bendito programa, com as notícias que só interessam aos pais (partindo do pressuposto de que não nos faziam ouvir aquilo simplesmente como retaliação por todo o trabalho que lhes dávamos). Nada de The Cure, ou Smiths (em algum momento dos 80), ou U2, Information Society, Titãs ou Paralamas (em outros momentos), ou ainda Nirvana e Pearl Jam (sim, porque isso se arrastou até os 90). Não, eternamente minha trilha sonora para a escola foram as notícias sobre impostos, sobre corrupção na política e sobre os problemas da segurança pública. Invariavelmente e sem exceção.
Não fosse a CBN, ou coisa que o valha, bem poderia ser uma marcha qualquer de pelotão de fuzilamento. Não faria muita diferença.
Eu acho que minha ojeriza aos noticiários vem bastante daí.
E esse "vamo embora, tá na hora"... que desespero! Já está na hora de correr? Tão cedo? Que stress! "Vai vagabundo, faz alguma coisa que você já está atrasado, não importa o que você faça", poderia ser o segundo refrão.
Sempre aquele equilíbrio delicado entre o sair o mais tarde possível, dormir mais alguns poucos minutos (com seus pais ficando nervosos e já tirando o cobertor à força), e depois o correr, antes que o portão se fechasse. E que lógica horrorosa - me fazer ficar ansioso por chegar a tempo, quando o que eu mais queria era perder o sinal e jogar fliperama, ou voltar para a cama! Percebe o elemento esquizofrênico, percebe?
Sempre que ouvia o jingle infernal me sentia miserável, me dava uma sensação de sufocamento, de opressão, como se uma sentença me estivesse sendo anunciada. Seu dia nada mais será que um desdobramento de sua manhã. E nada mais.

E eu que pensava que essa neurose com o tempo fosse exclusivo dos meus anos de universidade...

domingo, junho 08, 2008

De onde os patrícios chegaram


De volta da ABA, da Bahia (uma Bahia diferente, que é Porto Seguro, não obstante), cheio de impressões.
Apresentei meu trabalho, não foi uma maravilha, mas não foi horrível. Tive boas dicas e bons insights, mas faltou falar muita coisa (pelo menos olhando retrospectivamente). Vi apresentações muito boas, mas muita coisa fraca também. Normal. O ponto negativo fica para a organização, bem fraquinha (ainda mais pensando no valor da inscrição). A parte divertida, fora encontrar amigos e perdidos conhecidos, foi a festa de encerramento. Dançar Tati Quebra Barraco com seu GT e seus professores não tem preço!

Da cidade de Porto Seguro mesmo não tenho muito o que dizer. Achei tudo muito feio, mas as praias são bonitas (do pouco que eu vi). Mas não tem jeito, eu não consigo passar despercebido pelas ruas. Minha regionalidade está marcada no corpo, bem como minha zambrice. E paulista é caçado de uma tal maneira que irrita. Fugir dos carinhas que tentam vender as mais diversas porcarias, alugar carros, fazer tatuagem de rena, tererê, ou simplesmente pedir dinheiro, é uma atividade constante e complexa. Já tinha tido experiência parecida em Salvador, e não gostei nada. Não é só a opressão de pedir, já se impondo, mas de já pressupor que fazendo, sem dar fôlego, o que quer que estão tentando vender, irá deixar a vítima constrangida a um tal ponto que não lhe resta alternativa que pagar o serviço - 10 reais aqui, 20 ali...
Como um colega paulistano disse, sair do stress paulista pra passar nervoso na Bahia é foda. E você começa a ficar estúpido depois da trigésima interpelação (que está mais pra assédio mesmo).