quinta-feira, maio 31, 2007

Datas, datas!

Hoje fui para Oxford procurar uma tese para minha pesquisa (ou você acha que eu só saio pra balada aqui?!). Em 1991 eu havia ficado na cidade, por conta de um programa de intercâmbio de inglês. E foi muito legal voltar. Eu havia esquecido como a cidade é charmosa. Extremamente gostosa de passear, tudo é antigo: o café que é de 1600, o restaurante de 1700, a universidade de 1100... aliás, que jóia foi ver os colleges de novo. Lembrei de vários, mas acho que apreciei muito mais agora. Passear (porque eu tenho carteirinha da universidade, vejam só!) pelas mesmas salas e bibliotecas (lindas de morrer e só perdem em número de livros, em seu conjunto, para a colossal British Library, já mencionada aqui) em que estudaram Oscar Wilde, Auden, Lewis Carroll, Tolkien, Aldous Huxley, Graham Greene... é demais!
E fui também no Museu de História Natural (e consegui lembrar das tartarugas gigantes, do crocodilo e dos dinossauros que tinha visto 16 anos antes!) e no Pitt Rivers Museum, uma das mecas dos antropólogos colecionistas. E lá fiquei embasbacado com um lindo e gigantesco totem, de 12 metros de altura, de um potlatch visto por Tylor (a palmeirinha-mor!) no final do século XIX, daí comprado por ele, mandado para a Inglaterra e doado ao museu por volta de 1900!
Fiquei trabalhando na Rhodes House (em homenagem ao tio Cecil), uma das bibliotecas da Blodeian Library, que data de 1600 e pouco e é parte do colegiado da biblioteca da universidade! Mas na verdade eu queria ficar vendo o lugar inteiro ao invés de estudar...

Uma das coisas mais legais foi ter ido num pub, que encontrei me perdendo pelas ruazinhas medievais, chamado The Bear, de 1242! Sim, quase 800 anos que o lugar está lá, com o mesmo nome! E tomei uma pint de uma cerva local, bem mais novinha... de 1800 e bolinha apenas.

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A propósito de números: este é o tricentésimo post. Como diria uma amiga: Ê.

terça-feira, maio 29, 2007

Pit stop

Dia de hoje: acordei e fui encontrar a Camila para fazer compras. Olhei pro céu, azul, e resolvi não levar guarda-chuva.
Chegando onde nos encontraríamos, claro, chove. Voltamos para a casa dela e pegamos 2 guarda-chuvas. Não apenas choveu e ventou como caíram pedras de granizo! Aí parou. Continuamos andando, até a Oxford Street. Chove, pára, chove... Saindo da loja, um sol absurdo!
Fomos almoçar (waffles maravilhosos) e pegamos mais chuvisco. Voltando para casa, mais dilúvio. Agora estou no café amigo, 5 e meia da tarde, não há uma nuvem sequer no céu e estou morrendo de calor! Mas estou, por via das dúvias, de casaco e guarda-chuva em punho, com a sensação de que alguém, certamente imbuído de um frenesi sádico, está se matando de rir...

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Coloco uma fotinho de Mélanie Pain, uma das vocalistas do Nouvelle Vague. Mas eu deveria colocar um vídeo, para vocês verem como ela dança (linda), seus trejeitos, e como ela canta (que voz! Françoise Hardy?!)







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Coloquei ao lado já há alguns dias um link para o site do misterioso grafiteiro inglês Banksy. Vale a pena conferir. De vez em quando aparecem uns grafites criativos em alguma parede londrina. Se a Met não apaga (vandalismo), o dono da parede pode fazer uma pequena fortuna, já que a mística em torno do cara (aparentemente a contra-gosto) está criando um mercado bem carinho para seus trabalhos.
E depois vou colocar o link para o site do presidiário inglês Charles Bronson (aka Michael Peterson), um maluco que eu descobri aqui e que escreve muito bem, além de ter uma história de vida que, tenho certeza, vai virar filme um dia.

segunda-feira, maio 28, 2007

New Wave Soissante


(Na foto: Phoebe e Mélanie)

Ontem foi, finalmente, um dia londrino: vento, chuva fina, frio. Foi perfeito para tomar uma guinness e ouvir Nouvelle Vague!
Eu já conhecia um pouco, mas fiquei deslumbrado! Ao vivo é qualquer coisa de espetacular! Os músicos, ótimos. As meninas (na formação atual estão Phoebe, Marina e Mélanie - cuja voz, visual e trejeitos no palco são simplesmente apaixonantes!), encantadoras - como sói acontecer com as francesas... ainda mais quando parecem saídas direto dos anos 60!
E, de quebra, Skye, ex-Morcheeba, subiu pra cantar algumas músicas também!
Pra mim os pontos altos, de uma apresentação em que todas as músicas eram lindas, foram Friday night, saturday morning do Specials, Heart of Glass da Blondie (essa com a Skye), Teenage Kicks do Undertones, Ever fallen in love do Buzzcocks, Dancing with myself do Billy Idol e Love will tear us apart do Joy Division, com o lugar inteiro cantando! Por sinal, que lugar bacana. Era o Shepard's Bush Empire, e lembra um pouco o Koko (como um antigo teatro), mas em estilo art nouveau!
E dessa vez não fui sozinho!! O Emerson me acompanhou e saímos os dois, entusiasmados, tagarelando, debaixo da chuva, sobre o que vimos.
Saí do show com o gosto de um retrô reelaborado, intimista, melancólico, sexy e muito cool - que demonstrou que os 80, longe de serem os anos de uma década perdida, produziram coisas verdadeiramente atemporais, de uma beleza que transcende alcunhas de punk, new wave ou gótico. Recomendado!

sexta-feira, maio 25, 2007

A longa cerimonia do adeus

Hoje fui num funeral.
Muito diferente do que estamos acostumados em terras tupiniquim. Aqui isso não acontece antes de pelo uma semana depois da morte. O que faz muito sentido, depois que passa a sensação de estranheza com o ritual europeu. Há um tempo para despedida, para cair a ficha que a pessoa, enfim, foi.
Lembro que quando minha madrinha morreu, assim, de repente, eu olhava para seu corpo, descansando no caixão, já no dia seguinte, com uma sensação de absurdo completo me envolvendo. Como assim? Não estou entendendo. Por quê vocês estão abaixando o caixão? E essa terra toda? E chorei copiosamente. Parecia um louco.
Hoje, depois da cerimônia, as pessoas se reuniram para beber vinho e contar histórias, num lindo parque. Discursos emocionados e um clima leve, apesar da evidente tristeza, acentuada anteriormente pelo cantar lírico de uma linda moça de linda voz e o órgão cabisbaixo que lembrava: "esta é a despedida derradeira. Até o final dos tempos, em que todos se encontrarão, na ressurreição prometida". Um fim, mas com a esperança de começo. Um acerto de contas, uma homenagem que não é, como lembra Simone de Beauvoir, cuja despedida pessoal inspirou o título do meu texto, banal.
E eu fui antropólogo e me emocionei. E acho que foi apropriado.

segunda-feira, maio 21, 2007

The world of Cricket. Update news!

Extra, extra! Read all about it!

Quinto dia de embate entre a garbosa esquadra inglesa e os bravos cricketers caribenhos terminou ignominiosamente... sem vencedores!
Devido à chuva, que permitiu hoje pouco mais de uma hora de jogo, o confronto foi declarado empatado.
Aparentemente a paciência do público parecia ter se esgotado e restavam apenas alguns gatos pingados (literalmente) para presenciar o encerramento da peleja.
Agora eles vão pra Leeds, continuar a se digladiar com bolinhas e tacos chatos por mais um tempo.
Mas que anti-clímax, heim?!

domingo, maio 20, 2007

Maratona

Quinta feira de tarde, voltando para casa, vejo uma movimentação estranha no metrô. Centenas de pessoas escoltadas pela polícia caminham para a estação.
Não dei muita bola na hora.
No dia seguinte, combinei de andar com a Mila. Íamos comprar 1 tênis e ver coisas no centro. Encontro com ela na frente do metrô. As centenas de pessoas continuavam lá! Agora a horda saia do tube.
Então descobri. Era um jogo de cricket entre Inglaterra e Índias Ocidentais, que havia sido interrompido no dia anterior por falta de luz natural e agora era retomado!
Ah sim, é bom mencionar que moro a uns 3 quarteirões do maior estádio de cricket de Londres, esse esporte incompreensível para qualquer pessoa com idéias normais e saudáveis sobre entretenimento - e que pra mim parece mais um betis complexificado.
Eu realmente não entendo os números do placar! São equações esotéricas, estatísticas obscuras, aparentemente sem nenhuma lógica aparente! Acho que é meio como a brincadeira do Mornington Crescent (para quem não conhece, não vou explicar, porque acaba com a graça desse jogo estranho inglês, já centenário. Mas de uma complexidade impenetrável ao neófito. Como um manuscrito hermético indecifrável. A graça, entretanto, é que os novatos conseguem jogar mesmo assim!).
Tudo bem, continuo. Sábado, indo para o cinema, experiência narrada ontem, passo pelos pubs locais, lotados. Acho que era intervalo. Do mesmo jogo! De noite, voltando para casa, os pubs continuam lotados e dezenas de pessoas bebendo na calçada. A jornada do dia acabara. No ar, apenas o cheiro azedo da cerveja e vômito. Os destroços do dia, o desfecho trágico dessa ode ao mistério desportivo, em que jogadores e torcedores são levados em comunhão ao limite da exaustão.
Hoje são 17:30 horas e continuo ouvindo a multidão delirando e gritando ao longe. Agora, esse pessoal é movido a anfetaminas ou eles fazem um revesamento básico?
Informo quando souber quem ganhou. Ainda que não tenha nenhuma indicação de quando isso será anunciado.

sábado, maio 19, 2007

The future is unwritten... but is certain

Sabe aqueles dias mágicos, que tudo que acontece parece que está carregado de sentido e daqui a 10 anos você vai lembrar de tudo que fez? Pois é, não tive muitos desses na vida. Mas hoje foi um deles. Decididamente.
O dia foi surreal, mas talvez o mais espetacular desde que estou aqui! E veio logo depois de uma semana nada boa. Tive um dia esquisitíssimo nessa semana, acompanhado de outros nada bons também. Mas, desculpe-me, não sei se contarei aqui. Digo apenas que foi surreal também, mas no mal sentido.
Mas hoje foi diferente. Foi meio... onírico.
Saí de casa desesperado, ao som de britadeiras e instruções técnicas gritadas. Trocavam um cano no quintal de casa! Caos e inferno! É sábado, meu!!
Resolvi que iria andar e depois ver um cinema! Não vou entrar em detalhes, mas acabei fazendo algo que me alegrou demais, por puro impulso. Mas um impulso certo, entende? Bom, um dia eu conto.
E depois fui ver o filme sobre o Joe Strummer!
Chama-se The future is unwritten: Joe Strummer. É um documentário sobre o Joe, um dos meus grandes heróis, há anos. Desde quando me emprestaram uma fita do Clash, menino ainda. Quando vim para cá em 91, pirei em duas coisas: U2 e Clash. U2 virou um grande nada pra mim. Ainda hoje acho Clash simplesmente brilhante.
E eu amei o filme. E fiquei com os olhos cheios de lágrimas ao ver que meu herói, merecia ainda mais admiração. Acho que ele foi daquelas pessoas que são puras, sinceras, vivem a vida de uma maneira honesta e tentam sair do grande palco tendo dito algo de bom e relevante. Quase beirando a caricatura, sabe? Tipo um Che Guevara do rock!
Saindo do filme vi uma das coisas mais bonitas. Um quadro do Hopper praticamente! Voltando, ouvindo Coffin Daggers no ipod e ainda estasiado com o que vi, passo pelo Primrose Hill, 21:30, escuro, vazio, com apenas os casais trepando nos cantos, os moleques fumando escondidos e o lobo mau à espreita.
As luzes dos postes, acesas no meio do parque apenas acentuavam a penumbra. O céu, quase sem nuvens (com exceção de algumas stokerianas), ainda não estava totalmente negro. Era um azul marinho de fim de crepúsculo. O vento agitava as silhuetas das árvores e ali, como nunca vi antes, a lua minguante claríssima, a dois dedos de distância de Vênus, radiante. Apenas as duas, solitárias.
Fiquei lá por um tempo, pouco me fodendo pros lobos. E decidi muitas coisas.

quarta-feira, maio 16, 2007

"The following is based on a true story"...

Há uns 20 anos uma excursão de colégio, que ocorria todos os anos em Ouro Preto e demais cidades históricas de Minas para os alunos da quinta, deu tanto trabalho aos professores e monitores que a direção do colégio resolveu que quaisquer futuras atividades extra-muros aconteceriam em qualquer lugar menos nas lindas paisagens mineiras.
Lembro dos namoricos e bebedeiras dos alunos (que contrabandeavam bebida muitas vezes com a cumplicidade dos professores mais boêmios), a fuga dos quartos masculinos, pelo telhado, para chegar na ala feminina, improvisada no colégio de padres. Lembro da correria e do caos.
Na época não estava mais apaixonado pela linda suíça, mas por uma descendente de alemães, igualmente bela (devia ser uma fase nibelunga).
Lembro das risadas contrastando com os gritos desesperados, tanto de alunos como professores (me abstive em tomar partido, ficando entre os poucos neutros que não entendiam o que acontecia e apenas assistiam perplexos, como a um espetáculo bizarro saído de alguma selva primitiva), quando Léo, um garoto da turma B que era usualmente alvo do cruel escárnio infantil, começou a afundar, depois de ter ido procurar ametistas um pouco longe demais. Chorava, gritava e dizia que ia morrer na areia movediça.
Gargalhadas e desespero proporcionavam uma cena dantesca, uma cacofonia absurda que levava a sentimentos que apenas poderiam ser descritos como próximos da loucura e do delírio.
Quando o infeliz já se encontrava apenas com o torso para fora, a avantajada professora de história, Heloísa, resolveu tomar as rédeas da situação e atirou um pedaço de pau no menino, esperando, talvez, que ele usasse o instrumento para ser içado pelos outros monitores (aparentemente a conclusão mais óbvia sobre o motivo da ação), mas pode ser que a intenção fosse nocauteá-lo e poupá-lo do sofrimento que o aguardava, inexorável (alternativa que parecia igualmente plausível no momento).

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Ele a levantou pela cintura, fazendo perguntas. E ela entrelaçou as pernas em volta de seu corpo. E, envolvendo os braços ao redor de seu pescoço, com os rostos na mesma altura, as respondeu meio vagamente, incerta dos sentimentos que ela mesmo experimentava. Mas lhe cedeu essa alegria, e foi carregada assim até o banheiro, onde deram um pequeno beijo e imaginaram o que queriam mas apenas sonhavam.

segunda-feira, maio 14, 2007

Maddie

Já fazem quase duas semanas que a menina de 3 anos (fez 4 este final de semana), Madeleine McCann sumiu do quarto de hotel em que sua família passava férias, em Algarve, Portugal.
E a coisa toda virou uma comoção nacional por aqui. Pessoas usando pulseiras, gente rica e famosa fazendo apelos na tv e oferecendo recompensas (que já passa dos 3 milhões de libras e está aumentando)...
A polícia acha que a menina pode não estar mais em Portugal. Deve ter sido levada para a Espanha e de lá sabe-se pra onde mais. Então, além das milhões de fotos da menina que circulam aqui e em Portugal, estão pedindo para tornar o caso dela conhecido em outros países.
Normalmente eu acabo não participando dessas correntes (essa eu sei que é legítima, pelo menos). Então em vez de ficar invadindo os e-mails das pessoas, dou minha contribuição aqui.
Devo reconhecer, envergonhadamente, que achei que o fenômeno em volta dessa menina fosse mais por se tratar de uma loirinha linda com cara de anjo - já que centenas de crianças são sequestradas mundo afora todo dia e as famílias não conseguem todo esse apoio (o que não quer dizer que eles não deveriam receber essa e ainda maior ajuda, inclusive). Mas, deixando o cinismo de lado, acho que as pessoas começaram a se encher dessas barbaridades. Eu, pelo menos, estou ficando de saco cheio.
No fundo, acho, está todo mundo esperando que um esforço coletivo ainda possa fazer a diferença. Os acontecimentos nefastos hoje em dia acontecem tão à nossa revelia. Viramos, de fato, espectadores. Do aquecimento global, da guerra no Iraque, da podridão na política (e que foi esse novo aumento de salários? Maldito comunista de merda que está no congresso! Ainda por cima escolheu o dia em que a atenção estaria voltada ao papa, numa taticazinha covarde)...
Enfim, espero realmente que essa menininha seja achada. Aí embaixo tem o link para imagens dela e formas de ajudar com informações.
http://www.ceop.gov.uk/

sexta-feira, maio 11, 2007

Little Great Britain

Da série "comédia televisiva britânica", falo hoje de Little Britain.
Bom, acho que The Office (por falar nisso, Ricky Gervais, o chefe, é pop star aqui! Se apresenta com vários artistas. Sua mais nova parceria parece que vai ser com o mitológico Spinal Tap!) e Peep Show (Mitchell e Webb estão fazendo sucesso com as propagandas da apple, você já viu?) são mais inteligentes, mas algumas sacadas dessa série deliciosamente politicamente incorreta, Little Britain, são realmente brilhantes.
Uma mistura de comédia pastelão, com piadas absurdas e pequenas referências às bizarrices cotidianas da vida na terra da tia Beth (você só percebe a bizarrice dessas coisas quando as torna objeto de piada), garantem o sucesso da série, que teve 3 temporadas apenas (e alguns especiais, bem como rumores de uma continuação e agora uma adaptação para a tv americana).
Mas eles pegam no âmago da tragédia (comédia?) britânica: um provincianismo riquíssimo, com iguais doses de conversadorismo e hiper modernindade, que se revelam em um sentimento de superioridade, desatualizada e superada - o sentimento, no fundo, de que ainda são o centro do universo, os "outros" são apenas figuras interessantes e peculiares e esse tal de multiculturalismo é apenas uma moda passageira, esquecida no momento em que se desliga a tv, se sai do ônibus ou fecha-se o jornal. Enquanto, têm também consciência, já não o são (e aí está o ridículo). Os faladores de inglês do outro lado do oceano tomaram seu lugar.
Essa atitude extranhamente contraditória, estou convencido, é, aliás, a tábua de salvação anglo-saxã das ilhas: rir de si mesmo, ridicularizar o modus vivendi chauvinista e cosmocêntrico. Para que ele continue então a ser legitimado e de fato vivido e operado por milhões de comedores de peixe e batatas e consumidores de cerveja e chá.

quinta-feira, maio 10, 2007

London talk

What a hair trimming, a good shave and a nice smile won't do, eh?
Went to the super today, feeling good with my life (I'll tell you why later), and when I gave my pizza, my chocolates and my eight guinness to the cashier, the fella asked "how old are you?"
I looked, smiled, and continued unpacking things, not giving much thought, thinking he was just being ironic, or friendly, by telling a silly joke.
But then again "How old are you?"
"Are you serious? Well mate, I'm flattered, but I'm 31. Unfortunately - I added" (or perhaps fortunately, since I wanted my guinness).
But I left with a even bigger smile, I'll tell you that.

terça-feira, maio 08, 2007

Abaixa a poeira

Uma breve nota sobre a virada cultural em sp, que não vi.
Na verdade são apenas algumas impressões de quem leu as notícias de longe.
Fiquei sabendo do envento no dia mesmo, quando uma amiga me mostrou a programação, prestes a ir pra lá. Achei que realmente seria algo bem legal. O que deve ter acontecido, com certeza. Muita coisa boa rolou.
Mas no dia seguinte, vieram as manchetes, nos sites de notícias que eu sempre vejo: catástrofe, quebra-quebra, confusão, vandalismo.
Lógico, claro, tinha que acontecer...
Acompanhando as descrições de destruição e confronto com a PM, várias fotos, apimentando os sentidos e a indignação: carros queimados, o choque vindo contra a massa, garrafas atiradas... como as cenas de confrontos civis na Bolívia, Coréia, Indonésia, vai saber. Mas era a praça da Sé.
Aí vieram algumas declarações, do prefeito, do governador, de alguns oficiais da polícia. A impressão que ficou? Que era lógico que isso ia acontecer. É o que acontece num show do Racionais. Show do Racionais, ipso facto, incitação contra a polícia, não é? A sensação era de que foi feio, mas dos males o menor, a polícia tem que ser truculenta - essa era a lógica.
Só foi no dia seguinte ou no outro que começaram a aparecer as notícias dos jornalistas "mais sérios", bem como as impressões do amigos que foram. Via e-mail, blog ou orkut. Que pintaram a coisa de uma maneira bem diferente. A polícia não parece ter sido tão provocada como se diz, e a má-vontade e a predisposição para soltar umas bordoadas na vagabundagem parece ter sido o tom reinante.
Bom, não vou entrar no mérito do acontecimento. Mesmo porque não faltaram relatos bem instigantes, no melhor estilo jornalismo gonzo - fui, vi, me fodi - de escrever.
Mas que é incrível como as notícias de um mesmo acontecimento mostram realidades tão díspares, isso é. E, dada a quantidade de gente que foi e que resolveu contar sua versão, a percepção de algo significativo, de longe, é bem interessante.

sexta-feira, maio 04, 2007

The gender of Vengeance

Bom, assisti HA 3. Uma porcaria. Mas tudo bem, já esperava.

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Em compensação, assisti Lady Vengeance, o terceiro filme da trilogia de Park Chan-Wook. E é lindo também!
Acho que prefiro Oldboy, mas esse também é muito bom. Visualmente acho que é até melhor.
Agora a vingança é feminina, e não é mais descontrolada, visceral. Agora é calculada, fria. E, aquilo que eu falei sobre a redenção ser inexistente no filme anterior... bem, agora a vingança é por redenção de fato. A dúvida agora é sobre satisfação.
O tratado sobre vendeta (porque, não se engane, trata-se aqui de um tratado), em Lady Vengeance, alcança um nível maior de sofisticação: o diretor quer apresentar uma maior indagação moral sobre seu significado e também experimentar com a tentação de se render a ela. A violência, aqui, não é gratuita, apenas o suficiente para que o espectador tenha empatia com os dilemas apresentados. De novo tive a sensação de que o diretor é extremamente econômico e inteligente. Coloca apenas o suficiente para apresentar seu ponto. Mais seria deselegante e até mesmo repugnante.
Park Chan-Wook é realmente muito interessante. Ele tem uma sensibilidade extraordinária para a composição visual da idéia que quer passar, dando aqui e ali umas pitadas existencialistas sobre o ato de buscar retribuição por um mal causado (foi estudante de filosofia, ao que parece; bem como, descobri, o primeiro cosmonauta coreano, tendo participado da missão Mir!), mas nada exagerado ou maçante.
E a atriz Lee Young-Ae parece uma verdadeira deusa da vingança e destruição. Linda e terrível. E uma das atrizes mais bonitas que já vi.

quinta-feira, maio 03, 2007

Agridoce vingança


Hoje assisti Old Boy. O filme tinha passado meio despercebido pra mim, ainda que tenha tido certa notoriedade depois de Cannes (dizem as más línguas que só ganhou o prêmio do júri porque o presidente naquele ano era o Tarantino; mas, enfim, normalmente as más línguas não sabem de muita coisa). Mas acho que teria deixado passar por um bom tempo ainda se não fosse a insistência da Camila de que eu deveria assistir (admito, essa nova máxima de que cinema oriental é bom em princípio me fez adquirir um certo preconceito, depois de ter visto muita porcaria feita "fora do centro", de uma maneira que cada vez mais explora alguns nichos e a lógica do próprio centro).
E o filme é lindo. Um pesadelo sugestivo que vem como um bólido ignorante em sua direção.
Na verdade é a segunda parte da trilogia da vingança do coreano Park Chan-Wook. Agora vou correndo procurar as outras duas partes. Fiquei fã com apenas 1 filme! É o quanto gostei e o quanto achei maravilhosamente bem feito. E o Choi Min-Sik é excelente, numa espécie de versão Musashi fora de foco, ou um Toshiro Mifune desgraçado.
E o melhor é que não tem nada de americano. Ou talvez apenas as melhores contribuições. Mas essencialmente é uma produção oriental, com cadência oriental. Os personagens têm uma moralidade diferente. E não espere encontrar o tipo de redenção ocidental, ainda que o longa se trate de redenção também (e inevitabilidade e fracasso).
A película parece uma daquelas esquisitas lendas de heróis dúbios e monstros amorais, cujo sentido passa despercebido pelas interpretações a que estamos habituados.
E é legal re-assistir (sim, já estou nessa de rever!) e perceber os detalhes plantados pelo diretor. Pequenas pistas que ajudam a dar o tom da história, que no fundo é bem simples e não tem nada de extraordinário. Como o livro da Silvia Plath, as placas de trânsito, versos ou cores. As cenas são cuidadosamente pensadas, com uma economia de sentido impressionante.
Devido às minhas tardes solitárias aqui, acho que não é exagero dizer que já vi dezenas de bons filmes esse ano, mas acho que esse foi o melhor até agora. O menos convencional, pelo menos. O que já é muito, convenhamos, nessa avalanche de mesmices que têm ocupado a tela nos últimos anos.

Hoje a tarde vou ver Homem-Aranha 3.

quarta-feira, maio 02, 2007

Bus talk

Andar de ônibus por aqui depois das 11 da noite é garantia de algum espetáculo ambulante bizarro. Normalmente são londrinos cujo teor alcóolico no sangue passou em muito o nível da auto-censura.
Mas hoje presenciei uma cena diferente, ocorrida durante uma ensolarada e ordinária manhã. Entrei no busão que passa por Maida Vaile em direção ao centro e subi no segundo andar, como sempre faço. Ia para o SOAS, encontrar o Fardon. Na fileira do lado, duas moças conversavam com um cara, sentado no banco de trás.
Elas não eram londrinas, mas falavam inglês. Ele era londrino, mas não sei se era inglês (apesar do inglês quase perfeito, tinha cara de alguém do oriente médio, de óculos ray ban e bigodinho malandro). Sei disso porque elas estavam falando que a próxima parada seria Veneza e ele disse que em Londres tem uma "Pequena Veneza".
Comecei a reparar na conversa deles porque ninguém mais estava falando, o que destacava o episódio em acontecimento ao meu lado (o andar de cima é um pouco mais vazio, ainda mais de manhã). Uma hora percebi que falavam de malária africana, que algum conhecido delas havia contraído, bem como as formas de tratamento que, segundo elas, não são nada esperançosas ao paciente. Depois começaram a falar sobre umas coisas esquisitas e me dei conta que era sobre sexo.
Fiquei no busão por uma meia hora, ouvi bastante, mas aqui deixo apenas um trechinho, ouvido por volta das 10 da manhã desta quarta feira, em plena Oxford Street e devidamente traduzido:

Homem: Não acredito, puta merda! Você é uma vagabunda mesmo, não? (nessa hora comecei a ficar nervoso, achando que teria, eventualmente, que perguntar se estava tudo bem e tentar produzir um olhar másculo e ameaçador ao boca suja. Aquela coisa de cidadão prestativo. Mas que nada, elas não pareciam nem um pouco ofendidas. Mas evidentemente não eram conhecidos).
Mulher 1 continua falando sobre um conhecido egípcio, bem apessoado, que falava e se vestia muito bem, muito educado também (às vezes achava que eles não estavam exatamente num diálogo; o cara fazia uns comentários que não tinham nenhum relação aparente com o tópico das moças e elas por sua vez pareciam que mal levavam em conta o que ele balbuciava).
H coloca uma mão no ombro de M 2 - a mais interessante - e uma hora dá um beijinho em seu pescoço. Ela parece nem reparar. Ele pergunta então: O que você pode fazer por mim?
Mulher 2: Ah, tentarei não cuspir ou me sentir muito enojada.
H: Puta merda.
M 1 pára de falar sobre um conhecido israelense. M 2 levanta e senta no banco de trás. Ouço som de beijos roubados. Mas a conversa entre M 1 e M 2 recomeça.
Pouco depois M 1 olha para trás e diz a companheira: aqui é nosso ponto (que, por acaso, era o meu também, já em Bloomsbury, perto do British Museum).
M 2 e M 1 se levantam e descem, sem se despedir de H. Não sei se desço, porque comecei a achar que H percebeu que eu estava ouvindo a estranha conversa e poderia achar que eu desci apenas pra seguir M 1 e M2.
Ele esperou 5 segundos, talvez pensando o que fazer. Levantou de repente e desceu correndo, já que o ônibus ainda estava parado, devido à quantidade de pessoas descendo.
Resolvi descer atrás, também correndo. Eles foram na direção contrária da minha, mas vi quando H alcançou M 1 e M 2 e retomaram combate.