terça-feira, junho 26, 2007

Vertigo

Ele teve que ficar sentado,
porque quando se levanta seus pés tocam o chão.

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Ontem assisti Frankenstein, um dos melhores filmes de todos os tempos - de verdade, não exagero não! Ele não é mais exatamente um filme de terror, mas ainda te deixa nervoso, tenso, assistindo na ponta da cadeira. O filme é ligeiro, mas ao contrário do que poderia se esperar, a ação não fica mal explicada (com exceção de alguns pequenos detalhes, que não interferem muito).
Karloff é genial, Colin Clive idem. O ator que faz Fritz (um precursor do Igor, depois imortalizado por Bela Lugosi) é incrível! Uma das melhores caras que já vi!
Todos os rostos parecem ser talhados em sombra! Aliás, as tomadas abusam dos closes e wide shots que privilegiam as sombras, o sonho, o surreal, o sugerido. E tudo muito vertical, muito sugestivo. A cena da perseguição do monstro pelos locais, armados com tochas e ódio irracional, parece saído de um pesadelo expressionista (já não usei essa expressão? Bem, ela serve direitinho aqui...)! As rochas, o moinho... James Whale caprichou! E de fato a influência dos filmes expressionistas alemães é patente! E pensar que fizeram isso há quase 80 anos...

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Aí do lado coloquei o link para o "Life is too short for boring music", fotolog sobre o Billy Childish feito por Rodrigo Sputter, frontman do The Futchers e os já consolidados The Honkers, ambas ótimas bandas soteropolitanas. Rodrigo publicou algumas fotos muito boas - umas tiradas pelo que vos fala. Aliás, acumulei tantas fotos que penso em fazer um fotolog também, ou quem sabe esse tal de flickr...

domingo, junho 24, 2007

Shows


Há toda uma história por detrás, mas vou encurtar dizendo que consegui ingresso na última hora e fui assistir o show de uma das bandas mais fodas dos 80! The Jesus and Mary Chain, que voltaram depois de uns 8 anos!
O show foi lindo, como quem é fã deve imaginar. E foi emocionante ouvir algumas músicas da adolescência... e de quebra uma das bandas do lengendário C86, The Pastels, abriu! Outra maravilha de performance!
A semana foi atribulada em matéria de show, aliás! No final de semana passada vi Motorhead (phoda também) e quarta vi a banda rockão do Nick Cave, Grinderman! Pra quem está acostumado ao Nick Cave melancólico, foi uma boa surpresa ver a energia, o peso e a rapidez dessa formação. Com direito a rodinha e pessoas desmaiando...
E quem abriu foi a esquisita, mas igualmente legendária Suicide, que depois voltou para tocar umas músicas com o Nick.

sábado, junho 23, 2007

Bangsices

Dicas para tornar-se um (a - daqui pra frente considerem declinações de gênero suspensas) artista hype:

- Primeiro, gravar um disco na África ou com motivos africanos "tradicionais", mas com uma roupagem nova: querendo dizer samples eletrônicos bacaninhas e guitarrinhas esquisitas. Claro que isso no fundo é apenas uma releitura da "world music" desacreditada. Não há necessidade de precisar afinal de que parte da África vem o som, mas se você regurtitar um ou outro nome étnico no encarte do seu cd, seu caso se fortalece.
- Adotar uma criança cambojana e batizá-la com algum nome neo-hippie (que, ao contrário das alcunhas dos filhos do flower-power, não querem dizer absolutamente patavinas).
- Recitar a situação política no mundo, especialmente lá em Deus-me-livre e outros recantos obscuros do mapa.
- Comprar um quadro do Banksy.
- Morar na Riviera italiana (ok, pode ser Búzios, seu POBRE!)
- Ser pêgo bêbado ao sair de alguma boate para mostrar que você é um subversivo e não liga para sua imagem (hahaha, não posso resistir à infâmia: sede é tudo).
- Visitar por dois dias um campo de refugiados ou campo dos Médicos sem Fronteiras (e então achar que fez sua parte para aliviar a consciência pesada).
- Exercite sua arrogância de achar que faz mais pelos necessitados do mundo, disfarçando de caridade condescendente - quando olha com repulsa ao vagabundo da sua rua, que, afinal de contas, é vagabundo porque quer. Porque, afinal, abraçar o horror estrangeiro é hipocrisia em sua forma mais cruel: se escolhe ignorar a podridão doméstica em prol de uma ignorância saudável ao adotar uma pseudo dor alheia, mas que, tão logo torna-se um espinho desconfortável, é facilmente extirpada, esquecida e varrida para debaixo do tapete da indiferença.

Seguindo as instruções com cuidado, você será considerado um artista engajado e acima do restante da "ralé-tum-tum-tum-e-dancinhas-eróticas-com-gemidos-lascivos-e-letras-absolutamente-desprovidas-de-sentido" que existe por aí.
Mas cuidado! A consciência da dor de viver, como a lembrança de uma bebida amarga, não pode ser lavada depois de experimentada, mas volta rastejando nos momentos mais inesperados e impróprios - despertos ou não. E não há terapia new age ou yoga tântrica que te salvem então. O momento que você perscrutar, nem que seja por um breve e fugidio instante, que o significado mais profundo da vida, como Bangs descobriu ouvindo aquele disco do Van Morrison tantos anos atrás, é que podemos machucar e ser machucados, neste momento você estará amaldiçoado, uma "esponja para todos aqueles problemas dos outros imbecis".
A menos que você não tenha tentado entender nada disso pra começo de conversa.

quinta-feira, junho 21, 2007

Thriller français

Tenho percebido que o cinema francês ultimamente voltou a ter uma cara. Depois da esquisitices (desculpem-me os cinéfilos e os profissionais do gênero) dos anos 60 e 70, a sétima arte em terras gaulesas ficou por muito tempo associada a escabrosas histórias de amor e traição, com uma dose de sexo que seria impensável na industria cinematográfica americana da era Reagan. E já emendo - antes de ser amaldiçoado por francófilos de plantão - pra mim.
E se não "l'amour terrible", outras películas esquisitíssimas nas décadas seguintes, mas sem a inovação da geração precedente. E o pior: com uma produção que pouco apelava aos sentidos (ao menos o principal, tratando-se da telona - o visual). Mesmo as eventuais tentativas de super-produção me pareciam re-encenações da sentença de Marx, seguindo a dica deixada por Hegel: a história se repete como farsa (ok, não sei bem quando aconteceu a tragédia no presente caso. Mas, aproveitando os parênteses: dou meu pitaco sobre as ocupações. Sou totalmente simpático aos objetivos, mas quem sabe uma rápida leitura no 18 - pularam essa parte na graduação? - não elevaria o nível das reivindicações revolucionárias?, e, então, talvez os cérebros dos vivos não sofressem tantos pesadelos com a tradição das gerações mortas que lhes emprestam a linguagem e a roupagem, e então de fato se atualizassem, e não apenas produzissem caricaturas de um tempo morto - principalmente de algumas coisas que já pareciam ultrapassadas até mesmo então). A velha máxima de que ninguém dá uma festa melhor do que os americanos fica comprovada - que digam as tentativas pífias de emular Oscar, Grammy, Emmy e outras estatuazinhas batizadas do entretenimento (eu morro de vergonha pelos organizadores de um MTV awards brasileiro, por exemplo). E isso acaba valendo também para outras áreas de atividade.
Claro, muita coisa boa sempre continuou a ser feita. Mas um novo momento, de verdade... creio que não (isso a despeito de uma safra sem fim de ótimos atores).
Ultimamente alguns filmes independentes têm sido uma boa surpresa. Mas geralmente são filmes europeus, não necessariamente franceses. As co-produções que envolvem financiadores, produção e atores de vários países não são raras. E, da mesma maneira que a BBC tem imensa influência na televisão e cinema britânicos, o Canal Plus têm atuado de maneira positiva, principalmente na Espanha e na França. É um exemplo de uma sociedade poderosa, que tem lá suas fortes relações com o Estado (lembra alguma outra?), mas que no geral prima pela boa qualidade das produções.
Não se trata de nenhuma Hollywood, mas existe agora uma fatia do cinema francês que conta com um financiamento generoso, o que acaba se refletindo na tela. E dessa vez parece que os diretores franceses não ficam tão perdidos na confecção de um blockbuster.
E diferente do que acontece na terra do Tio Sam, onde orçamento milionário não é necessariamente sinônimo de qualidade, os filmes franceses são, no mínimo, bom entretenimento. Mesmo os que de certa forma emulam uma fórmula que nos EUA já tem mostrado sinais de aferrecimento - leia-se filmes policiais e de gângsters (ou talvez não; estão vindo aí exemplos que me contradizem). O descomprometimento com o espectador e com a própria obra que parece tornar-se vigente em outras praias, via de regra ainda não aportou do outro lado do canal.
Os franceses ainda gostam de uma história romântica - e agora sem tanto o elemento sórdido de alguns anos antes - mas estão investindo pesado no que era antes monopólio absoluto de seus amis américains: os thrillers.
Hoje vi um, Ne le dis à personne (Tell no one), que é exemplo de uma boa história, que é também bem contada, mas com todos os outros ingredientes de um filme comercial. Performances muito boas, mas sem descuidar do lado "destrói carro, tiros, sangue e perseguição" que garante, não nos enganemos, a bilheteria.
Não foi uma surpresa, porque já esperava algo bom (apesar que, geralmente quando construo qualquer expectativa, isso é o ingresso para a decepção; então mais um ponto a favor). Mas foi um dos melhores filmes que vi no ano - uma história que não subestima o espectador e não entrega tudo mastigado, ocupando metade do tempo com o rodriguez óbvio ululante. Et c'est la verité.

Um dia desses preciso conferir uma teoria que está se formando na minha cabeça: que qualquer filme que a linda, competente e look-a-like da minha amiga Malu (que, por sua vez, detém essas e também outras qualidades), Kristin Scott-Thomas está, é muito bom.

quarta-feira, junho 20, 2007

A onça

Essa história aconteceu em Campinas, por volta da década de 1950.
Os três irmãos moravam num sobrado, de frente ao bosque dos jequitibás - naquela época ainda sem cerca e muito maior: A região era como um bairro de chácaras.
Quem primeiro morou ali foi o avô dos três, um sisudo ferreiro alemão vindo de Hamburgo e de nome abrasileirado, Fernando. Mas Ferdinand na certidão e Fritz para a família - o que não deixava esconder seu lado saxão, como quando ouvia clandestinamente a rádio de Berlin. Vibrava quando um navio aliado era afundado, para desespero de sua esposa, Clementina, descendente da bota (que mostrou ter razão: Fritz de fato chegou a ser preso por algum tempo, dedurado por um vizinho cioso).
Nesta casa os três irmãos dormiam juntos em um quarto que dava para o bosque. No quarto havia uma grande janela. E enfileiradas e alinhadas com a janela, três camas - sendo uma exatamente debaixo da finestra. Por acaso era a do irmão mais novo.
Os dois mais velhos, gostavam de assustar e infernizar a vida deste, como sói acontecer na dinâmica fraternal, e aproveitaram os eventuais rugidos das onças - que nessa época ainda podiam ser encontradas no bosque - para aterrorizá-lo, dizendo que ela estava com fome e vinha buscar comida na casa, entrando, sorrateira, na primeira janela que encontrasse. O pequeno irmão foi informado, então, que já era, inevitavelmente, comida de onça.
Este se pôs a chorar copiosamente, e quando a mãe dos meninos veio ver o que acontecia, ele contou, em meio aos soluços, a história de seu trágico e gastronônico fim. A mãe evidentemente brigou com os filhos mais velhos e fez com que trocassem de lugar, deixando o pequeno na cama mais distante da janela e, logo, da onça faminta.
Mal ela saiu e o menino sossegou, seus irmãos disseram que a onça havia ficando com tanta fome, e agora estava com tantas ganas de conseguir comida, que daria um pulo tão grande que passaria sobre as duas primeiras camas e aterrizaria direto sobre o infeliz ocupante da cama mais distante.
E o choro recomeçou, com intensidade dobrada.

terça-feira, junho 19, 2007

Raizes

Essas duas últimas histórias foram contadas por minha avó - a materna. Resolvi escrevê-las depois de muito tempo já pensando em contar alguma coisa da minha família, tendo recebido o empurrãozinho final aqui, com essa quase obsessão dos ingleses sobre suas origens (e aqui, ainda por cima tem o fator da terra, que muitas vezes é a mesma por eras). Contagia.
Por exemplo, a árvore genealógica da MD, seu filho me passou, remonta ao século XII! Seu marido havia se esforçado por anos para achar as conexões.
E esse final de semana vi fixado numa árvore, na frente de casa, um cartaz de um cara que estava procurando informações sobre seus antepassados - um deles havia mandado uma carta desta mesma rua há mais de 100 anos! No cartaz ele dispunha algumas informações que já haviam sido descobertas: Um tataravô assistiu a coroação da Rainha Vitória, outro tinha ligações com um capitão Cooke (será o mesmo "Cook" sahlinsiano?), outros com George Bernard Shaw e outras personalidades, e aparentemente até mesmo William Shakespeare entra na jogada! Um dos troncos parece remontar ao século XI, quando um tal William W (não devem faltar Williams na família, já que o próprio autor do cartaz era um) esposou uma das filhas de William I, o conquistador normando. A filha, de nome Gundreda, morrera em 1087 - pouco depois da invasão em Hastings portanto.
Enfim, acho que não consigo rastrear tão longe minhas origens (apesar que do lado paterno a árvore está mais ou menos completinha até os trisavós), e nem acho que minha família tenha sido uma fração tão ilustre - e, de qualquer maneira, era também uma época em que o passado era melhor ser esquecido.
Mas boas histórias não faltam.
Conto agora algumas da parte paterna então. Uma do meu avô...

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Esta história aconteceu no final da década de 1930, quando ele era ainda um adolescente.
Sua família era muito católica, e fazia questão de criar os filhos dentro da tradição batismo-crisma-comunhão em que eles próprios haviam sido educados. Ida à missa de domingo era costume e obrigação implícita.
Um sábado à noite, levado pelas alegrias da boemia campineira, o garoto perdeu a noção do tempo e voltou da gandaia com o dia já amanhecendo. Temeroso com possibilidade de uma bronca homérica por tamanha irresponsabilidade, foi entrando em sua casa de fininho, ainda trajando seu melhor terno, sapatos e camisa. Tentava não fazer barulho, e mal havia entrado em sua casa, com a mão ainda na maçaneta, sua mãe apareceu e lhe interpelou "Isso são horas de chegar em casa, rapaz?".
Sua mente trabalhou rápido, virou e retrucou "estou de saída para a missa, mãe!". Deu meia volta e foi-se para a rua.

segunda-feira, junho 18, 2007

Borboletas

Essa história eu ouvi há quase 10 anos. Essa mesma menina, agora uma anciã, ainda gozava de boa saúde, andava para cima e para baixo, com seus quase noventa anos. Cuidava do jardim, cozinhava, tricotava e levava suas filhas à loucura.
Foi na casa de uma das filhas, também minha madrinha e agora já falecida, que sentamos e conversamos. Perguntei porque havia vindo ao Brasil, onde passou tanto sufoco para criar a família. Havia uma história, que não sabia o quanto era verdade (as pessoas sempre tendem a romantizar suas origens), de que sua família tinha muitas propriedades antes de emigrar -
Ube era uma vila litorânea (apenas veio a se tornar uma cidade décadas depois) no sul de Honshu, a maior ilha japonesa. Localiza-se não muito longe de Hiroshima - e era próspera (hoje é famosa por seu verde, seus jardins e as esculturas que adornam a região).
Ela contou que as histórias que circulavam sobre o Brasil é de que o lugar não era nada menos do que um grande éden na Terra: as galinhas andavam livres pela rua, ovos e verduras só precisavam ser colhidos pelo caminho, e a riqueza estava esperando apenas que alguém viesse reclama-la.
A viagem de navio foi longa e difícil, mas lembra que estava feliz, junto com suas irmãs e seu cunhado - que depois retornaria, durante a guerra.
Chegaram em Santos, onde desembarcaram e foram para uma fazenda, para o interior, encontrar a abundância.
Depois de alguns anos casou-se com um homem que havia vindo tempos antes, e descobriu que ambos foram praticamente vizinhos na infância, já que ele também se lembrava do grande incêndio!
Isso aconteceu em Borborema, onde as duas filhas mais velhas nasceram, e onde disse que viu um rio tão grande, tão largo e tão comprido que não tinha fim - um rio de borboletas. Sua lembrança mais bonita.
Alguns anos depois acabaram se instalando no que hoje é Valinhos, antes de finalmente ir para São Paulo, morar no Iguatemi, onde ela costurava e seu marido, fumador de fumo de corda (agachava, enrolava o cigarro, cortando o fumo com a faquinha de pica-fumo e acendia o fedido), era verdureiro ambulante.
Passou-se um tempo e foram morar na Joaquim Floriano, no Itaim Bibi - época em que nasci.
É possível entrever algo que mesmo anos depois eu pude perceber - de que lá no fundo, incandescente, havia uma faísca e uma energia interiores que por vezes chegavam a chamuscar as pessoas ao redor. Mas que nunca deixou de fascinar.
Me confessou, emocionada, que o Brasil foi a melhor coisa que lhe aconteceu, que de fato era o seu lar. Sem galinhas na rua e tudo.

domingo, junho 17, 2007

A mulher e o urso

Ela tinha apenas uns quatro ou cinco anos quando aconteceu, então tudo deve ter ocorrido por volta de 1915. Há bastante tempo.
A vila onde morava, no Sul, chamada Ube, era pequena e bem tradicional. Era formada por casinhas simples, típicas do campo. Não havia asfalto e, nos dias chuvosos, era uma lama só.
Na casa vizinha à sua, morava um homem que possuia um urso, que ficava em uma grande jaula.
Mas a esposa deste homem nutria uma satisfação sádica em cutucar o urso com um pedaço de pau. Por muito tempo o urso apenas rugia, em vão, quando a mulher passava para torturar e zombar, limitando-se então a ficar acuado.
Uma noite aconteceu um grande incêndio - como as casas eram todas de madeira, o fogo espalhou-se rapidamente, de uma morada para outra, destruindo boa parte da vila.
Durante a tragédia o urso escapou e sua única vítima foi a mulher que lhe atormentava.
O urso havia agarrado a mulher pelos cabelos e atacara.
Ela lembra, menina e impressionada, quando trouxeram a moribunda para sua casa, toda ensanguentada e sem escalpo.

sábado, junho 16, 2007

Aviso: leia o post a seguir por sua propria conta e risco

Hoje está um dia tenebroso...
É apenas hora do almoço e está escuro como a noite. Precisei acender a luz.
Trovões irrompem de tempos em tempos. Alguns tão altos que fazem a janela tremer (ok, não precisa de muito pra isso na minha velha casa).
Agora está aquela calmaria tensa, sem vento algum, como que se o tempo estivesse tomando fôlego, apenas para cair de um só golpe na forma de uma terrível tempestade.
A temperatura caiu. Agora está aquele quase frio - o que dá um calafrio de vez em quando.
Vejo, pela janela, uma ou outra pessoa, andando apressadas, voltando para a segurança de seus lares. Tenho pena da moça que vem fazer a limpeza da parte comunitária... ela veio sem guarda-chuva.
No fogo, estou esquentando água para fazer meu almoço - tortelloni de queijo e tomate. O vapor embaça o vidro da janela.
Condições ideais para escrever este post.

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Tudo começou na infância, quando primeiro ouvi aquelas lendas urbanas, histórias "verídicas" de encontros espectrais e narrativas macabras - que os colegas diziam que a mãe do amigo do irmão mais velho havia presenciado. Ou algo assim.
Histórias desde as quase inocentes, até as mais assustadoras - sobrenaturais ou não. Lembro de várias:

- Que houve uma vez um lote de babalus com cocaína dentro.
- Que um funcionário da coca-cola caiu num tanque, morreu dissolvido e a empresa distribuiu a bebida mesmo assim.
- Que dentro do boneco do fofão havia uma adaga.
- Que um disco do Led Zepellin tinha uma mensagem escondida - quando ouvido de trás para frente (anos depois de fato ouvi que tem).
- Que o Dark Side of the Moon era sincronizado com o Mágico de Oz.
- Que um disco da Xuxa tinha mensagens satânicas (e vem daqui a inspiração para mais um texto da série "posts para a Carolina" atual, juntamente com algo que aconteceu aqui, ontem).

Havia também lendas locais, que para mim eram as piores, pois diziam respeito a lugares e pessoas que eu conhecia:

- Que o fundo do laguinho entre o Centro Médico e a Unicamp era tão pantanoso e cheio de detritos hospitalares que um menino se afogou, ao não conseguir soltar o pé, preso em um galho (qualquer semelhança com Sexta-Feira 13 não é mera coincidência).
- Que um amigo do namorado da irmã do meu amigo (a Natasha, que já foi mencionada neste blog antes), andando de vespa (lembra da vespa?) levou um tiro ao fugir de um assalto, e só percebeu quando chegou em casa, sentiu frio e viu a camisa molhada.
- Que esta mesma Natasha, também andando de vespa, sentiu alguém a puxando para trás e quase caiu. Uma semana depois, com as mãos ocupadas ao segurar o cachorro no colo, seu namorado fez uma curva de repente, a porta do fusca abriu e ela saiu rolando carro afora (bom, essa última parte de fato aconteceu. Ela ficou toda ralada e quase não andava. Aliás, aconteciam coisas estranhas com essa família: a tia deles foi assassinada a facadas algumas semanas depois, na rua de cima de casa. Até hoje o crime não tem solução).
- Que os donos de uma casa perto da estrada da Rhodia descobriram uma ossada no quintal, provavelmente de algum cemitério antigo (qualquer semelhança com Poltergeist não é mera coincidência).
- Que o pai de uma amiga da irmã de um amigo, ao descobrir que ela e seus amigos faziam a brincadeira do copo na sala, virou, bravo, o copo. Tão logo saiu da sala uma cadeira rachou ao meio. Semanas depois a mãe da menina foi empurrada escada abaixo, aparentemente por ninguém.
- Que uma amiga viu seres alados sugando uma fumaça que saía da pele de seu avô - apenas ela via. O avô morreu algum tempo depois.
- Que os meninos e meninas da quinta série fizeram contato com um espírito de um árabe, morto a séculos (essa sessão do copo eu vi acontecer, de longe, no fundo do pátio).

Essas e outras histórias foram contadas todas na mesma época, entre a quarta e sexta séries. Não sei se foi uma moda no momento, se foi aquela coisa mórbida dessa idade, ou se de fato coisas estranhas aconteciam então.
Mas eu fiquei muito impressionado com todas elas.
Por esta mesma época aquele mesmo amigo, George, sempre aparecia com uns filmes, que assistíamos ora em casa, ora na casa dele: Exorcista (com esse tive problemas sérios de sono por uns dias), Evil Dead (quando o Sam Raimi ainda fazia bons filmes), Demons (do Argento e do Bava, meus ídolos por um tempo), Poltergeist (cuja série também tinha uma lenda urbana envolvendo: de que depois da gravação do primeiro, a irmã mais velha morreu; depois do segundo, o menino; depois do terceiro, a Caroline), Pet Sematary (mas esse eu adorava, apenas para ouvir Ramones), A Hora do Espanto (lembra desse? Passou várias vezes na sessão da tarde), ou qualquer um do Romero ou inspirado nos filmes do Romero.
Os filmes me aterrorizavam. Mas eu não conseguia deixar de assistir.

Anos depois eu vi uma comunidade no orkut sobre a Loira do Banheiro - numa versão, ela era uma professora que se apaixonara por um aluno e fora morta, então, pelo marido. Ela tinha algodão nas narinas para estancar o sangue que lhe escorria e atacava os alunos que chutavam a privada ou davam descarga três vezes (?!).
Estranho, parecia uma lenda urbana bem popular, mas que eu nunca tinha ouvido falar. Mesmo tendo ficado meio que fascinado com essas histórias por muitos anos. E algumas vezes, quando perguntava, as pessoas de fato se lembravam dela.
Questão de um mês atrás, conversando com minha amiga Camila (que agora está no Brasil), lembramos de umas histórias do Rio Branco (posts virão sobre este colégio, no futuro). Acabamos caindo no tópico das lendas urbanas e locais. E não é que ela também achava que era a única que nunca tinha ouvido a história da Loira do Banheiro na escola? Conversando com as pessoas depois, todos pareciam conhecer a trágica lenda já naquela época, menos ela.


Para encerrar o post.
Ontem fui no banheiro do pub e... adivinhem?!
Não, não era a loira do banheiro. Era uma mulher vestida de tirolesa. Mas acho que o susto deve ser parecido...

sexta-feira, junho 15, 2007

Das cagadas que doem no bolso, ou como se ferrar conscientemente e não fazer nada a respeito

Seguindo com a série de posts inspirados pelo blog da Carol, falo hoje sobre a vez em que usei um cartão de crédito pela primeira vez no Brasil.
Era o ano de nosso Senhor de 2002 (se acreditarmos em Gregório). Eu e Dani havíamos conseguido emprestada uma linda casinha nos campos rio-grandenses, dos pais de um orientando do meu pai (olha a picaretagem).
Era um chalezinho, nos arredores de Gramado, onde (presumidamente) iríamos para a XXIII reunião da ABA.
Do congresso em si vi muito pouco. Como não ia apresentar, procurei os eventos que mais me interessavam. Foram poucos. Vi uma palestra muito boa da Eunice Durham, um mesa redonda bem interessante sobre homossexualidade, com o Sérgio Carrara, e a palestra de abertura com o Adam Kuper, que viria a ser meu co-orientador, cinco anos depois, nesta empreitada britânica (que, me contou, lembra bem deste dia. Ficou assustadíssimo com a quantidade de antropólogos que lotaram o salão. Seu departamento, na Brunel, conta com apenas uma meia dúzia de pessoas. E ele confidenciou que não existem tantos antropólogos assim na Inglaterra e todos mais ou menos se conhecem. Mesmo sobre a grandiosidade de um congresso da triple A americana, relativizou dizendo que todos são meio setorizados e raramente aparecem em massa em um mesmo evento).
Mas basicamente ficamos comendo fondue, tomando chocolate quente e passeando pela bela cidade de Gramado (e demais localidades gaúchas, nos deliciando com o pecaminoso café colonial)! (Continua a picaretagem).
A viagem em si daria um post à parte... Bom, aproveito e conto aqui vai...

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A viagem que quase não aconteceu e como ir de Cumbica a Congonhas em meia hora no rush paulistano:

Para irmos para a ABA, sem financiamento de qualquer agência ou do departamento, compramos dessas passagens, baratinhas, pela Gol. Embarcamos, ali no glorioso - e já não mais tão prostituído - largo do Pará, num Caprioli, rumo a Guarulhos.
Opa, Guarulhos? A Gol não opera em Guarulhos! Tonto, estava tão acostumado a tudo ser em Cumbica que nem me liguei. Só quando não achamos nenhum guichê da dita compania aérea é que um tiozinho nos explicou que deveríamos estar em Congonhas!
Perderíamos o avião? Não! Por sorte (depende do ponto de vista) encontramos um taxista com tendências suicidas (ou complexo de piloto de corrida, o que também explicaria seu modus operandi atrás do volante), que nos levou, abrindo caminho, passando de uma faixa para outra numa velocidade vertiginosa, em meio ao selvagem trânsito paulistano de uma manhã de dia de semana, até o outro aeroporto de São Paulo, ali perto do Jabaquara. Tudo bem que a corrida custou tanto quanto uma passagem para POA, mas enfim...
Seguiu-se cena de filme. Correndo com as malas, passando e trombando com passageiros, num dia movimentadíssimo, para pegar a última chamada e entrar na aeronave.
Tudo muito bem, depois dos batimentos cardíacos voltarem para um nível fora de perigo, fizemos uma boa viagem. Nenhuma turbina pifou ou janela caiu.

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Continuando a história de... Como se ferrar conscientemente, ou dos arrependimentos premeditados:

Em Porto Alegre, nos dirigimos para uma locadora e pedimos o carrinho mais barato, que veio a ser um gol (me lembraria dele com carinho depois, quando troquei meu carro). Mas a diária já era um absurdo. E com o seguro, quase dobraria. Mas não tinha jeito, o tal chalé ficava no meio de uma estradinha, longe da cidade. Um carro seria imprescindível. Falei então para a moça da agência: "Vai sem seguro mesmo, dona". Ela: "Tem certeza?", num tom que deixava claro que me considerava um estúpido irresponsável.
Vamos lá Murphy, não me faça bater o carro ou ser roubado!
Bom, acontece que Murphy parecia ter tirado uma folga, ou estava bebendo um chimarrão e comendo churrasco, porque não aconteceu nada demais nos dias que se seguiram e pudemos economizar uns bons trocados.
Uma semana depois, saciados de fondue (e nem tanto com a seleção, que jogava mais ou menos e apenas nuns horários tipo 4 da manhã - lembre-se que isso foi na época da Copa da Coréia e Japão) e de GTs (haha, até parece), voltamos para POA e devolvi o carro inteiro.
A diária terminava às 12 e o vôo para SP era apenas no final da tarde, mas felizmente o idealizador do belo aeroporto Salgado Filho é um gênio, e colocou salas de cinema para os passageiros aborrecidos (dica para a Infraero: se é muito demorado construir novos aeroportos para desafogar o caos atual, porque não construir uns cinemas ou teatros improvisados? Aposto que a irritação dos passageiros diminuiria consideravelmente assistindo o novo filme do Harry Potter ou Shrek).
Assistimos Blade, aquele filme com o Wesley Snipes. Mas mesmo assim sobrou muito tempo para matar (outra boa surpresa: havia uma sessão de empréstimo de livros).
Passeando pelo saguão, eis que uma moça me chama a atenção para uma promoção: "moço, gostaria de receber uma assinatura grátis?" Veio um discursinho ensaiado de como a editora dispunha dos mais variados e incríveis títulos, para todos os gostos: revistas de esportes, variedades, fofoca, arquitetura e construção, design, carros, informática... (será que veio daí meu trauma com pessoas que abordam na rua? Aliás, parêntesis, hoje estava impossível andar no centro! Uma meia-dúzia de voluntárias bem intencionadas me parou. E hoje até os Hare Krishnas estavam presentes, provendo a trilha sonora para uma volta pela Oxford Street!)
Fiquei com dó da moça que era invariavelmente ignorada (saberia depois o porque) e que disse que aquilo pagava a faculdade dela (hoje eu tenho minhas dúvidas, não sei se foi apenas chantagem emocional).
Não entendi muito bem como ela poderia ganhar dinheiro distribuindo assinaturas grátis, mas aceitei assinar uma revista de carros (os tais incríveis títulos não eram tão incríveis assim. Peguei a menos pior).
Lá pelas tantas, ela pede meu número de cartão de crédito.
"Como?"
É grátis apenas nos seis primeiros meses, me falou, já meio triste, prevendo que mais um cliente lhe escaparia por entre os dedos...
Suspirei fundo e, mesmo sabendo que me arrependeria cinco minutos depois, continuei a transação.
Por anos recebi a tal revista - que tal como vinha, ia: para o lixo. Não li nenhuma, nunca. Claro que comecei a receber as faturas também, já que nunca me lembrava de cancelar a assinatura, que era renovada automaticamente todo início de ano, quando eu estava ocupado demais com a ceia e as férias pra me importar.
Só parei de pagar a tal revista quando um dia, finalmente, cancelei o cartão - que enquanto existiu, foi usado apenas para isso.

quinta-feira, junho 14, 2007

Chris in gymland, or #@* %$ #!^*, JF!

(Limito minha crítica à Jane Fonda versão malhação... hehe)

Da série de posts dedicados à minha amiga Carolina, vai aí um sobre academias... (sugiro aos que se interessem por saber mais da cultura dos halteres e esteiras ergométricas que leiam o texto intitulado "O último reduto da maromba", postado no Jornalista de Merda - linkado aí ao lado)

Não gosto de academia.
Nunca gostei. E acho que não gosto de nenhum aspecto dela. Nada se salva: a música bate-estaca, a neura dos instrutores e dos outros frequentadores, o ambiente histriônico, as conversas monótonas e repetitivas (convenhamos, o tipo de conversa é o simétrico oposto de conversa de bar, minha paixão).
E juro que tentei frequentar. Por 3 vezes!
A primeira das fracassadas tentativas foi numa academia de Barão - minha xará, aliás. Decidido que iria engolir minha aversão ao templo da maromba moderna pasteurizada, resolvi pagar a matrícula e uma mensalidade antes mesmo de fazer a tal aula-grátis. Doendo no bolso eu inevitavelmente me forçaria a ir. Pelo menos essa era a idéia.
Não durou nem um dia. Odiei o lugar e passei mal, quase desmaiando ao tentar levantar uns pesinhos mequetrefes. Me deu um ataque de pânico como nunca tinha experimentado antes. Pior que meu medo de altura!
Anos se passaram. Estava convicto que nunca mais pisaria em um lugar em que a música parece estar no repeat, a cor do bronzeado das pessoas te dá medo e você pode ficar surdo com os gritos das instrutoras de step.
Quer dizer, convencido que estava com problemas de joelho, acabei entrando em uma versão mais light de academia: uma de hidroginástica, na qual fiquei por um tempo e em que uma ex-colega de colégio era instrutora (a quantidade de colegas que foram fazer educação física e fisioterapia é impressionante! E eles ganham muito mais dinheiro do que eu sequer posso sonhar em vir a ganhar!). Lá levava um couro das velhinhas com bóias e pranchas (mais novo do que eu, apenas a Dani. De resto, todos tinham pelo menos 20 anos a mais do que nós. E de representantes do sexo XY, apenas o que vos fala). O negócio era hardcore! Os meus pobres músculos preguiçosos pareciam queimar ao correr debaixo d'água! Saía exausto de lá, com uma fome grotesca! Como as velhinhas aguentavam eu não sei... me sentia naquele filme da Courtney Cox, Cocoon.
Bom, alguns anos depois me mudei pra cidade e decidi, junto com a Dani, tentar levar uma vida mais saudável. Menos sal, menos açúcar, sem frituras e... academia! Ajudou o fato de que meus primos têm uma perto de casa. Senão o orçamento não permitiria.
Mas de novo não rolou. Na época da dissertação, deixei as séries e repetições de lado para ficar na frente do inimigo número um dos instrutores - o computador - e não mais voltei. Mesmo depois do mestrado defendido.
Mas todos sempre me cobravam para voltar. "É de graça, por quê não aproveita?", ouvia toda a semana. Fiquei meses com medo de encontrar meus primos porque sabia que viria um sermão pela frente, ou então aqueles encorajamentos que de fato não encorajam nadica de nada: "e aí primo, quando a gente vai encher essa camisa de músculos?". Isso lá é coisa que se diga para um membro da família?
De fato eu era bem tratado (familiar dos donos é outra história). Eu tinha um instrutor que me dava atenção especial, sempre me falando que eu segurava errado algum aparelho (ô frescura). O apelido da criança era Cavalo, e ele foi campeão mundial de queda de braço algumas vezes (vai vendo). Mas não era esse o ponto.
Depois de alguns meses acabei me rendendo aos apelos e tentei novamente. Mais umas semanas passando vergonha, ao não conseguir alcançar nem os dedos dos pés na sessão de alongamento, pedalar menos que a senhora do lado e levantar menos peso que adolescentes com 15 anos a menos (as meninas. Porque com os meninos nem dá pra competir. Repararam no tamanho dos adolescentes de hoje em dia? Falando em síndrome de Adônis...). E pior: não parecia haver progresso algum!
Bom, cheguei à conclusão de que não dava. Chega! Não mais!
Mas de aniversário pedi uma bicicleta (eeeeeeeee), pra tentar manter a forma de outra maneira (alarmado com o fôlego inexistente e o aparecimento de dores nas juntas). Sempre achei que uma das piores coisas da academia era o fato de ser indoors, aquela coisa claustrofóbica. E como quando mais novo adorava pedalar e passear pelo bairro...
Bom, a bicicleta, que lembra mais uma abelha - preta e amarela - está lá, parada, na casa da minha mãe. Mas eu ainda pretendo andar quando voltar, agora preparado por léguas de andanças londrinas.

Post scriptum: No final do ano passado passei um dia em São Carlos, famosa por sua fartura na cozinha. Comi um sanduíche gigantesco num boteco que dava de frente para uma academia. Nesta academia havia aquela janelona panorâmica que dá pra rua, do tipo daquelas que ficou moda em academias, pra deixar os pedestres e transeuntes fora de forma que eventualmente passam na frente, se sentindo miseráveis - a galera pedala olhando pra o mundo exterior, como peixes num aquário ideal e higienizado: "este é o mundo podre de onde vocês escaparam". "Sim, este é um mundo cruel, filho".
Bem, eu e mais meia dúzia de humanos sedentários, mas, quero crer, perfeitamente normais, comíamos olhando para os esbaforidos executivos, que pedalavam, ainda que estáticos, como se em busca da juventude que, de repente perceberam, se vai. E eles nos olhavam comer e babar maionese e ovo frito.
Agora, não sei quem tinha mais inveja de quem... não sei quem se estabeleceu primeiro no ponto, e não sei se foi uma jogada de mestre ou uma cagada sem igual de quem construiu seu negócio depois...

quarta-feira, junho 13, 2007

Semeando...

E não é a Inglaterra um dos pilares do capitalismo moderno?
Imbuído dos ventos poupadores que transbordam como suor dos poros puritanos e protestantes, como (não) diria tio Weber, eis que reservei uma parte da grana e investi em fundos flexíveis de aplicação!
Na verdade, deixe-me explicar melhor... Recebo a cada 3 meses, então no último recebimento me senti perigosamente - e erroneamente - rico! Estava receoso de chutar o pau da barraca numa insensatez gastadora e ter que esperar a próxima bolsa na amarga penúria... então, quando o gerente do banco perguntou se eu não queria fazer algo com aquele dinheiro, parado (aviso aos bancos brazucas: aqui até mesmo os pobres coitados, com conta básica - que não dá nem direito a cartão de débito e é tão furreca que não tem mensalidade - são bem atendidos. Ganho capuccino, chocolate quente e docinhos e ouço sobre as melhores maneiras de administrar a conta. Claro que nada é por caridade, mas é bem melhor que a muvuca e a aguinha em copo de plástico a que estou acostumado), aproveitei e deixei um pouco (bem pouco, é verdade) reservado para emergências.
E aqui é inconcebível não fazer lucro!
E agora, 3 meses depois, meus primeiros dividendos! Os frutos da mágica especulativa e fé nas instituições financeiras:
Já ganhei meu próximo café da manhã inglês!



A propósito da imagem. Um amigo gostou de um post publicado um tempo atrás e esta foto lhe pareceu apropriada. E realmente é muito bonita. O post em questão é sobre o anão dublador...

E fiquei inspirado, com a leitura de um blog de uma querida amiga, a escrever uma montanha de posts! Especialmente sobre os constrangimentos da vida e sobre as academias de ginástica. Aos poucos vou publicando, já que ando um pouco ocupado esses dias...

sábado, junho 09, 2007

24 hour party people


(Shaun Ryder e Bez)

Quarta passada fui no show do Happy Mondays, uma das minhas bandas preferidas num período da minha adolescência! Valeu pelo histórico da coisa e deu até pra pular e cantar um pouco também. Mas o som estava estourado, o Shaun Ryder cantou metade do show sentado e até o Bez uma hora cansou de ficar pulando e teve que dar um break... é, o preço da vida bandida... não rola mais 24 horas de festa. Mas esse foi um desses shows que nunca pensei que um dia fosse ver!

Engraçado que, no que eu achava que era a fila para o show (descobri ao entregar o ingresso pro segurança, depois de quase uma hora ali, que não era naquele lugar. Acho que estava na fila para um show da Gloria Gaynor, na casa de shows do lado! Estava achando o povo da fila meio esquisito mesmo hehe), fiquei trocando idéia com um inglês enorme com o sotaque cockney mais lazarento que eu encontrei aqui por enquanto! Sem brincadeira, havia horas que não rolava entender o que o indivíduo falava!
Em Londres você escuta línguas de todo lugar, algumas que não tenho nem idéia de quais são. E você escuta, inclusive, alguns tipos peculiares de inglês...

O punk nao morreu

Mais uma noite de bandinhas bacaninhas. No Dirty Water, pra variar.
Fomos, eu e Emerson, ver o que vem a ser uma banda indie de um dos últimos países comunistas neste mundo.
Uma das bandas foi bem divertida. O vocalista era bem empolgado e atacava de vez em quando com um megafone.
Mas tem uma coisa aqui que é realmente esquisita. Os ingleses não agitam nessas bandas de abertura... fica todo mundo longe, só olhando. Dá dó dos músicos até.
Do primeiro grupo vimos apenas metade do show, mas pareceu bem legal. Dois caras e uma mina muito baixinha faziam uns covers dos Headcoats. E quatro garotas de lingerie ficavam dançando e dando uns pirulitos, balinhas e assoprando bolhinhas de sabão entre a galera. Bom entretenimento, mas era difícil prestar atenção na banda em si.
Agora, os tais chineses... que legal! Todos pareciam saídos de um mangá! Muito esquisitos! Mas tocavam muito e fiquei bastante empolgado! Começou meio psychobilly, depois ficou algo meio shoegaze, depois emendavam umas batidas bem punk, misturadas com um guitar esquisito. E de vez em quando parecia REM!
Procure aí, direto de Pequim, The Joyside.
E os caras ficavam tomando um goró de uma garrafa pet, alternando com cerva, e estavam ficando muito doidões (no final o vocalista apagou! Por tempo ficaram uns chineses meio que tentando cuidar, mas depois desistiram e largaram ele lá). Depois fui cumprimentar os caras e trocar uma idéia. Aproveitei e perguntei o que eles estavam bebendo, já que tinha ficado curioso. Não entendi nada do que o guitarrista me tentou explicar, mas ele falou que eu podia experimentar. Não tenho idéia do que fosse, mas era ruim demais!! Será um psicotrópico sino-milenar produzido ilegalmente na China? Ou um refrigerante de mamona?

E depois me acabei na discotecagem que seguiu os shows. Não danço bem, passo meses sem dançar, mas de vez em quando eu preciso. E fico pulando e balançando, totalmente descoordenado e perdido no meu mundinho. Mas é realmente libertador...

Abaixo deixo uma crítica retirada do site do Dirty Water:

The band was formed in a dank basement in the north of Beijing, China. Three years later, the four “lazy, dizzy guys” got their debut album released, "Drunk is Beautiful".
Then they had their first tour around China. The singer Bianyuan called it a “rock’n’roll nightmare”. But the other band members say it was “amazing, full of passion and chaos, and fuddle and shout”. (I’m not sure what “fuddle” means…)
American film director Kevin Fritz followed the tour with the band and later made a wonderful documentary entitled "Wasted Orient". After years of “innumerable spreeing and vomitting, the paranoias start to climb out of their beer barrels” says the band. “We dig pure rock'n'roll, give great big kisses to devil, and run wild on the burning side.”
So far The Joyside have had five album released and have become the biggest name in independent rock music in China.
The band claim that they are “bitches of rock'n'roll, who are addicted to Dead Boys, New York Dolls, Sex Pistols and the Stooges.
They are surviving young dudes from the old century. They are your modern human beings' nightmare makers.”

quarta-feira, junho 06, 2007

Dia enxaqueca


Tem dia que você acorda com vontade de reclamar do mundo. Todas aquelas pequenas coisas que te irritam mas você normalmente deixa passar em prol de um relacionamento harmonioso com o semelhante, de repente viram motivo suficiente para iniciar uma guerra.
Faço então uma pequena lista-enxaqueca londrina.

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-Carinha distribuindo panfleto na rua. Aqui normalmente é imigrante ou pessoa muito pobre, que arranja esses bicos de entregar papelzinho, jornal, tentar anunciar um produto, pedir apenas cinco minutinhos. Mas não tem jeito, isso me irrita, não consigo simpatizar ou relativizar. Me dá pânico. Quando vejo um na frente, acelero o passo pra emparelhar com o transeunte à minha frente, só pra ele ser a vítima e eu passar ileso. Ou então desvio mesmo. Dou um grande C ao redor do infeliz e continuo andando são e salvo. Se algum por acaso consegue me parar (e tem uns que quase pulam em cima, estendendo a mão ameaçadoramente), mando um "sorry, sorry" apressado ou então "me no speak english" e vamo que vamo (hahaha lembrei de uma boa. A menina queria falar comigo sobre alguma coisa. Fiz menção que não falava inglês. Ela, então, apressada: "Habla español?" - No. "Parlez vous français?" - No. "Sprechen sie deutsche?" - No. Mas achei engraçado e QUASE fiquei, em homenagem ao esforço).
Uma amiga disse que esse seria o último grau que desceria pra arrumar grana. Prostituição sim, panfleto não. É muito chato (sabe um que suscita irritação parecida? Vendedor que chega devagarinho e pergunta se quer ajuda. Me deixem em paz, quero ver as coisas tranquilamente! As vezes fico achando que estão de olho pra ver se eu não enfio nada dentro da calça e saio correndo - me sinto vigiado).
E sabe quem são os piores (fora os hare krishna)? Os que defendem alguma causa nobre, querem te conscientizar sobre os bichos abandonados, os pobres na Somália ou o aquecimento global. Porque esses você não pode odiar.

-Fulano ouvindo i-pod como se estivesse numa boate. Isso é foda. Tá lá você, enfezado com a vida, mas recluso e ciente de seu espaço respeitoso, na sua zona de segurança, e tem que aguentar o tstum tstum tstum vindo do infeliz de capuz, vestindo uma calça 4 números maior e uma cerveja na mão, achando que é um gangsta e que certamente vai precisar de um otorrinolaringologista daqui a alguns anos. E aqui tem muuuito disso, acredite.

-Taxista. Êta raça, viu?! Os caras não respeitam faixa de pedestre, não param no amarelo, não dão passagem... vêm pra cima mesmo, fazem questão de acelerar e passar voando do seu lado, buzinando pra ver se conseguem provocar um ataque cardíaco, além de parar em fila dupla e na faixa com a luzinha piscante (alguns posts atrás falei dos motoristas de ônibus. Esses também...).

-Grupos de turistas em geral (geralmente alemães, americanos ou japoneses). Essas verdadeiras hordas hunas de tiozinhos e tiazinhas de camisas havaianas, bonés, ray-bans, bermudas e chinelos franciscanos, com máquinas e filmadoras em punho, vão andando a meio por hora como se estivessem sozinhos no mundo, ocupam a calçada inteira e quase te fazem atropelar um deles, quando param de repente pra tirar uma foto de um prédio absolutamente comum ou consultar um mapa gigantesco de escala 1 pra 1!

-Obras. Como tem obras. Se não tem nada que precise de conserto, acho que eles quebram só pra poder fechar tudo, usar britadeiras e infernizar a vida. País rico tem isso. Não sabe onde gastar? Muda a calçada, ajeita a fachada, faz buraco, troca cano. Não existe um canto em que não tenha o tum tum dos martelos ou os benditos carinhas de jaquetinha verde-abacate-fluorescente-anos-oitenta; normalmente cockneys com uma tatuagem de uma âncora no antebraço ou então poloneses (aqui a divisão do trabalho é extrema).

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Poderia continuar. Mas já deu um alívio descarregar um pouco.
Ah sim, hoje tem Happy Mondays!

segunda-feira, junho 04, 2007

Sobre Guinness e cigarros


Taí, como hoje ainda não acabou e pelo jeito não vai acontecer nada de produtivo mesmo, continuo chutando o balde.
Vou aproveitar a deixa da Dê e falar então sobre essa minha paixão que se consolidou aqui: Guinness.

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É esquisito, mas eu só comecei a gostar de Guinness aqui. Bom, eu já a achava muito cool. Uma cerveja escura, que dizem que não é bebida, mas quase uma comida; cremosa e, quando bem tirada, com um trevinho de espuma adornando?!
No "Dangerous Habits", em Hellblazer, John Constantine fala de Guinness (que na história tem estreita relação com água benta), de um jeito apaixonado e mágico...

(Parênteses: mataram a alma do Constantine no filme que fizeram com o Keanu Reeves! Como um cara que engana três demônios, cura do câncer de pulmão e a primeira coisa que faz é acender um cigarro, no filme acaba com um chicletinho anti-nicotina?! o Garth Ennis pisou na bola... Trivia: Constantine fuma Silk Cuts, mas isso é considerado cigarro de mulher aqui na Inglaterra - algo como um Free One. Acontece que o Ennis, aparentemente, como não fumante, pegou a primeira marca que apareceu para caracterizar o personagem. Os aficionados dizem que um Benson & Hedges, esse sim um tijolo no pulmão, seria mais adequado ao trapaceiro.)

E os colegas descolados falavam de Guinness como falariam, sei lá, de um filme do Almodóvar. Uma coisa alternativa, que é bacaninha falar que gosta e que não é consenso, como alguma comida muito esquisita (estranhamente eu gosto mesmo dessas porcarias, tipo fanta-uva). E eu, com um pouco de inveja, achava que isso consistia meio um grupinho seleto.
E eu tinha experimentado e odiado. Coisa amarga, meio doce ao mesmo tempo. Credo.
Bom, na verdade, eu fiquei muito tempo sem gostar de cerveja e ponto (ainda que sempre tenha gostado de chopp)! Sei lá, bebia porque não tinha muito porque pedir uma coca-cola no boteco (ainda que eu faça isso de vez em quando). Coca, eu tomo uma e empapuço. Cerveja dá beber até cair ou acabar o dinheiro ou expulsarem do bar. É uma bebida mais sociável, inegavelmente. Mas gostar MESMO, de verdade, só a partir da faculdade, quando era cerveja sempre.
E pois, não é que aprendi a apreciar Guinness?! O gosto estranho sumiu e o paladar se acostumou (e de fato é uma delícia depois que você se acostuma).

Ah, dica. Normalmente não acredito muito nessa precisão alquimista normalmente praticada pelos enólogos, mas acho que aqui vale a pena comentar. O primeiro gole é divino. O resto do pint nem tanto. Lá pelo meio, vem um gosto de banana (viagem minha?) esquisito. Mas no segundo pint em diante é muito bom! Claro, não é como cerva brazuca que você pode continuar bebendo sem parar. Mas acho que o terceiro pint é o auge! Então é bom já pensar em parar, porque daí em diante nem dá pra reparar muito no gosto. E também pra não voltar trançando as pernas, como acontece muito por aqui...

Killing time

Sabe aquela coisa que a pessoa faz quando vê ou vive alguma coisa - passa a falar com propriedade sobre o caso? Os antropólogos usam o pomposo nome de "autoridade etnográfica" (bem, ao menos os antropólogos que tiveram que lidar de alguma forma com essa chatice que pode ser a pós-modernidade), mas isso pode, acoxambrando, também ser chamado de arrogância.
E nós não gostamos de arrogância, ainda que sempre nos rendamos à ela eventualmente; todo mundo gosta de mostrar que sabe de algo.
Os antropólogos conseguiram elaborar razões teóricas para a condenação da prática, principalmente no contexto anti-colonialista. Mas basicamente poderíamos, assim, dizer que é um pé no saco neguinho ter o rei na barriga.
Agora, a linha entre essa arrogância e um desejo genuíno de compartilhar as coisas com as pessoas, é tênue. E muitas vezes essa linha vem mais pra cá ou mais pra lá, atendendo à influência de uma coisa bem subjetiva mas muito real - a empatia. Não tem jeito. Se a gente não vai com a cara da pessoa e essa começa a falar sobre uma viagem que fez pra Cannes, já vem o pensamento "puta que o pariu, lá vem". Mas a pessoa querida, essa sim é ouvida. Mesmo porque sabemos que ela não tem intenção de se mostrar, e quer genuinamente contar pra você algo interessante que lhe aconteceu. E você também quer ouvir. É como uma declaração de amizade, o certificado de que tal pessoa é considerada e confiada.
Às vezes não existe um interlocutor específico, como no caso de um blog como este (ainda que, juro, muitos posts são escritos com algumas pessoas em mente). Aquela coisa do Geertz, pra quem se escreve, então, não encaixa completamente (bem, sempre se poderia pensar em algo - "pessoas com internet"), mas arriscaria dizer que quem lê aqui é conhecido. Sim, todos vocês 3!
Enfim, isso de alguém reclamar uma legitimidade para falar sobre algo, baseado na idéia de "estive lá, você não", ou na idéia de uma relação especial que tal indivíduo possuiria para compreender o fenômeno em questão (etnia, gênero, nacionalidade, classe ou seja lá o que), sempre cai na minha listinha das coisas com as quais tenho que suspeitar.
Agora, comecei a escrever este post (também porque não consigo trabalhar hoje - surgiram muitas coisas boas pra pesquisar, mas o cansaço hoje bateu, e daí não tem jeito) porque deixei de lado o Hunter Thompson pra ler Charles Bronson (e pra que eu deixe o Thompson de lado precisa muito), e o peixe à venda do Bronson é exatamente sua experiência. E não me entenda mal, adoro saber sobre as experiências das pessoas, o olhar único que elas têm sobre algo. Apenas fico esperto, só isso.
Charles Bronson, nascido Michael Peterson, escreve bem. Tem um olhar irado e irônico sobre a sociedade que te deixa desconcertado. É extremamente contraditório, mas é coerente em sua contradição. Não é nada politicamente correto (aliás, isso nem se aplica ao caso, já ele fala o que acha mesmo, pouco se lixando como esse pensamento vai ser rotulado), que pode te chocar, mas que no fundo pega naquele nervinho raivoso que você tem dentro de você, mas não tem coragem de admitir. Ele parece um daqueles homens-fortes de circo: careca, com um bigodão (às vezes uma barba gigantesca) e grande. E deve ter quebrado o recorde de flexões feitas, se por acaso existir algum.
Mas Bronson é publicado principalmente porque ele é um dos prisioneiros mais simpáticos e ao mesmo tempo mais violentos do Reino Unido. E que coincidentemente também gosta de desenhar e escrever.
Meio como um etnógrafo da prisão, passou quase 40 anos atrás das grades - na solitária na maior parte do tempo. Sobre o que ele escreve? A sujeira, a loucura e a violência dessa parte da sociedade que ninguém quer saber. A vida na prisão, no manicômio, no asilo. A política carcerária, os códigos de conduta no xilindró e a insanidade dentro e fora da lei.
Agora, como não levar a sério os escritos de alguém que passou 2 terços da vida enjaulado, rodou por algumas dezenas de instituições carcerárias e já ouviu e presenciou mais histórias que os próprios diretores das prisões, os médicos, os enfermeiros e os psiquiatras? E que não tem nada além de tempo de sobra pra malhar, desenhar, rachar uns côcos e escrever sobre tudo isso?
Maurice Leenhardt, o etnólogo-missionário não dizia algo a respeito de 40 anos para entender uma cultura? E para ele não era apenas um trabalho, era uma missão de vida.

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Mudando de assunto. Esqueça os puddings, os cafés maravilhosos, os milhares de chás, os chocolates animais, todo o fish and chips, mash and sausage, salt and vinegar e a cerveja (ok, talvez não a guinness)! O que vou mais sentir falta quando não estiver mais aqui são os amendoins cobertos com yogurt açucarado que são vendidos no Tesco! Quem foi o ser luciférico que inventou isso? Dá uma compulsão que só deve ser equivalente, em seu frenesi, aos desejos incontroláveis de um viciado em heroína: você não pára de comer enquanto não acaba a baguaça!

sábado, junho 02, 2007

Holly e a gatinha


Ontem o dia foi muito esquisito... mas muito bom também.
Consegui progressos muito interessantes no trabalho. E de tarde fiquei sabendo que haveria um novo show da Holly!
Comi correndo, passei nuna HMV do centro, comprei um cd pra ela autografar e fui. O lugar, o Buffalo Bar, sempre tem uns showzinhos bacanas. O problema é que é meio longe, em Islington. Então, se eu perdesse o trem, complicava.
Lá encontrei a Debbie, que havia vendido os discos da Holly pra mim uns meses antes e é fãzaça. Ficamos conversando e ela me convidou para ir no bar dela um dia! O que farei, claro. Conheci sua namorada e depois um inglês e uma sul-africana muito malucos mas muito gente boa! Apareceram do nada e ficamos horas falando! No final, biritados, já estava naquela de combinar novas saídas em Camden (eles têm esquema de entrar de graça em alguns lugares) e de acampar! hahaha Quando eles forem pro Brasil, já falei que eles podem ficar em casa (ok, Dani?).
O lugar era muito pequeno, lotado e muito quente, o que foi um problema durante as 2 primeiras bandas (The Guillotines, sueca, e The Black Time), e na primeira parte do show da Holly. Mas depois, e na hora não sabia porque (descobri mais tarde), a galera começou a ir embora e eu fiquei lá, na frente dela, com mais uns poucos (todos os meus amigos ingleses tinham ido também). E que show legal... Apenas ela e mais um, tocando um blues-country muito gostoso. Depois consegui autógrafo, troquei uma idéia e tirei umas fotos com ela! Muito esquisitas por sinal... ela fez umas caretas engraçadas. Em uma ela parece o Popeye!
Mas depois, saindo, vi porque foi todo mundo embora. O tube fechou e o busão pro centro acabou! Tive que voltar andando uma cara, pra daí pegar um busão pra Camden e de lá pegar outro pra casa! Mas valeu a pena...
Mesmo os tipos malucos da noite estavam especialmente estranhos, mas me divirto com isso...
Quase chegando em casa fiz amizade com uma gatinha linda e gorda, que ficou se esfregando um tempão em mim e quase me fez levá-la pra casa...