domingo, novembro 27, 2005

Iguarias paulistanas

Nova ida à terrinha e, de novo, sem chuva!! Ontem fui ver shows maravilhosos! Chegamos no final do Nação Zumbi e já fomos pegar lugar no palco do Fantomas. Adoro Fantomas, os caras são foda. Mas não sei se é um show legal de assistir. Quer dizer, em uma casa de shows pequena e não em gramadão lotado, ia ser demais!
O Flaming Lips superou minhas expectativas. Os bichinhos pulando no palco, junto com as serpentinas e papel picado... foi tudo muito divertido. E os covers então... É, eles mostraram que coisas potencialmente bregas e cafonas podem ser resignificadas e ficar excelentes.
Iggy Pop é o máximo também. Aquele tio é doido e não acho que seja humano. Como consegue pular tanto? Eu tenho metade da idade dele e não teria pique pra fazer o que ele faz. E ele não muda, continua igual. O show foi muito empolgante! Só ficou a sensação de que foi muito curto - como também aconteceu com o Flaming Lips.
Sonic Youth é muito bom, mas como já tinha visto os caras e estava louco pelo NIN, aproveitei e fui no banheiro e depois tentar pegar um lugar lá na frente, no outro palco. Cheguei a ver uma parte e depois continuei ouvindo e assistindo pelo telão. Estava perfeito também.
Bom, tudo até lá tinha sido maravilhoso, mas nada se compara ao Nine Inch Nails. O som excelente (considerando o tamanho do palco e o fato de ser aberto), os caras animados, a luz e cenografia demais... Não podia ser melhor!
Houveram várias coisas engraçadas para se relatar, mas fico só nas apresentações mesmo. Foram daquelas que fazem você pensar que valeu cada centavo, e enfrentar a Bandeirantes, às 4 e meia da manhã, com um sorriso na cara.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Paulicéia literária

Hoje fui na feirinha de livros da USP com o Lelê e a Vanessa. Estava meio receoso, achando que ia desperdiçar um tempo que não podia perder (prazos maçônicos apertados, pra variar) e dinheiro que não podia gastar. Além do mais estava com medo da chuva que vem alagando SP (quando tudo parecia ter dado certo... 3 anos sem inundações foram pro ralo! Quer dizer, pro ralo é que não foram...), já que em Campinas City estava um tempinho bem feio.
Resolvemos deixar o carro no ifch e pegar o busão. Perguntei para um segurança, que estava protegido da chuva no que costumava ser a cantina do Tatá, onde exatamente poderíamos pegar o ônibus da Linha USP. Ele não sabia, mas perguntou: "Você não vai de carro não? Vai deixar ele aí?" (ele tinha me visto estacionar). Disse: "Não, tô com medo da inundação". Ele retrucou: "Ih, é verdade, mas tá tendo muito roubo aqui, sabe? Tão levando cd de tudo quanto é carro. Vem dois carinhas de moto, o da garupa quebra o vidro e leva tudo em segundos. Nem desce da moto". Suspirei: "É, a violência hoje em dia tá foda..." Ele parecia ter empolgado com o pessimismo: "E vocês voltam só amanhã?" Eu e meu irmão: "Não, voltamos hoje mesmo". O segurança, com pesar: "Ih, mas depois das 10 só vai ter seu carro estacionado aí, não fica mais ninguém vigiando". Eu: "Espero voltar antes disso".
Aí o cara, com quem eu até simpatizaria em alguma outra ocasião, começou a discorrer sobre as técnicas empregadas pelos ladrões na Unicamp e como os seguranças não conseguem fazer nada para impedi-los: "a gente não pode bater e não podemos ter arma. Eu é que não vou morrer por ninharia". Uma hora a chuva diminuiu e nos apressamos em nos despedir do rapaz - que já me deixava nervoso e com vontade de tirar meu carro dalí - e fomos procurar o ponto.
Chegando na FFLCH, fomos direto para a feirinha. Não achei tão mais impressionante que a da Unicamp e fiquei espantado com o fato de que, de maneira geral, mesmo com 50% de desconto, ainda é muito caro comprar livro! De qualquer maneira, foi legal. Não choveu, fez um tempo bom, me lembrei do quanto o paulistano pode ser simpático e prestativo mesmo em situações caóticas envolvendo multidões apressadas, e saí com algumas ótimas aquisições!
É, gastei uma grana, mas saí de lá com a sensação de que valeu a pena. Só da Cosac & Naify encontrei 3 muito bons! O livro do Viveiros de Castro, que já namorava há muito tempo; o do Mauss e do Hubert sobre o Sacrifício, que nem sabia que tinha sido reeditado; e o romance biográfico do Michel Leiris, que parece ser maravilhoso! Outro achado foi um - baratíssimo - do Malinowski. Também consegui encontrar o livro do Weber sobre os fundamentos racionais e sociológicos da música, que eu já procurava há anos. Completei a féria com um livro organizado pela Heloísa e sua bat-amiga Lilia, com vários artigos interessantes. A Vanessa também achou coisas legais e o Lelê saiu com uma tonelada de russos na mochila!
Após uma volta muito cansativa, mas também sem chuva, encontrei, feliz, o meu carro no estacionamento. Ainda com os vidros inteiros.

quinta-feira, novembro 17, 2005

Novas picuinhas cinematográficas

Hoje vi mais um ícone cinematográfico da década perdida: Gatinhas e gatões. Com quem? Molly Ringwald, claro. Também com Anthony Michael Hall, na minha opinião, em seu melhor papel. E, não sabia, com os dois Cusacks. A Joan nem é creditada no final. Ou melhor, é creditada como Geek Girl. Ela é a do aparelho nos dentes medieval.
Desses filmes que tentam contar a desgraça que é ser adolescente (nos EUA e nos anos 80, especificamente; mas com grande dose de universalidade), esse é um dos melhores. E mesmo não sendo o primeiro filme da maioria desses atores, foi com esse que vários deles começaram a fazer sucesso. Principalmente a Molly, que foi fazer logo depois Clube dos Cinco e Garota de Rosa Choque. O Michael Hall também foi fazer Clube dos Cinco e depois Mulher Nota Mil (por falar nesse filme, lembrei que o irmão escrotão do amigo do Hall é o Bill Paxton, aquele do Twister. Aí lembrei que ele faz pontinhas no Comando para Matar, no Ruas de Fogo e também no primeiro Exterminador: o soldado do radar, o barman e um punk, respectivamente).
O diretor, John Hughes, dirigiu ou fez o roteiro de vários desses ícones anos 80. Só para lembrar meu preferido: Curtindo a vida adoidado.
Pois é, não consigo evitar fazer exercícios de associação quando a matéria é cinema. Os 6 graus funcionam, minha gente!
Curiosidade: O Michael Hall, com exceção de Edward Mãos de Tesoura, só voltou a atuar em um filme bom em... 6 Graus de Separação!

quarta-feira, novembro 16, 2005

Núpcias tradicionais

Ontem teve casamento do meu primo. Foi em uma igrejinha muito simpática, já centenária, numa colônia suíça que data do meio do século XIX. Há bastante tempo que só ia nesses casamentos moderninhos, então foi muito legal ter visto um bem tradicional. Sem sintetizador ou karaokê. Com violinistas, trompetistas, baterista, uma mina numa espécie de sino, e um pianista. A trompetista tinha também uma daquelas cornetas enormes, do tipo das que anunciam a entrada de reis nos filmes medievais. Tinha até bandeirola pendurada! Aliás, era linda (a trompetista, não a bandeirola).
A recepção foi feita logo ali do lado. A parte de encontrar um monte de parente que vc nem sabe o nome e te falam "Você nem lembra de mim, né? Eu te pegava no colo quando vc era desse tamanho..." é meio estranha. Mas, por outro lado, você encontra umas primas que da última vez que viu eram apenas crianças e agora estão lindas. Vinha Lambrusco e whisky sem parar, servidos por suíços de roupinhas verdes com detalhes floridos, mas cerveja que é bom, não bebi um gole! E sempre é muito divertido ver seus tios, tias, avôs e avós dançando Village People no final da noite!
E fica a pergunta: por que só os Tambascias choram?

segunda-feira, novembro 14, 2005

Ça va?

Normalmente a maioria dos filmes sobre alguma análise social é terrível. No máximo serve pra chamar atenção de alguma coisa que vc desconhece. Mas se vc tem a mínima noção do que trata o filme, é inevitável a sensação de frustração e, porque não, até revolta: "o cara viajou, é tudo esteriótipo" e por aí vai. Não é assim com alguma coisa que você tem mais familiaridade?
Mas às vezes aparece um filme que tem um timing sensível. A razão? Não sei direito. Competência do diretor, claro. Bons atores, evidente. Mas há algo de etnográfico também. Não jornalístico (leitor jornalista, não me trucide). Não relata, vive. Ou, vivendo, relata. E respeito. Levar a sério o que se conta.
A respeito do tumulto na França, principalmente nas cités parisenses, alguém poderia dizer que trata-se de uma crônica de um desastre anunciado. Mesmo no cinema.
Quando estava no segundo ano de graduação, fiz um trabalho para uma matéria de licenciatura (não, não posso virar professor. Quando chegou na hora H, de pegar no pesado e dar aula no Estado, tive que tirar meu chapéu pros heróis que conseguem, mas desisti). Versava sobre uma literatura de educação e reprodução de desigualdade social. Tinha algo de Bourdieu, algo de Paulo Freire, e outros autores que esqueci o nome. Mas eu usei principalmente a noção de terrítório do Guaterri para falar das cités parisienses. Usei também (ou melhor, usamos. Desculpe grupo) o filme do Kassovitz, La Haine. Profético? A vida imita a arte? Ou é tão claro que a situação dos imigrantes nas cités, sem emprego, levando porrada de paga-pau de Le Pen, fugindo da polícia e sendo vigiados tão ostensivamente, que nem Foucault, nem Orwell podiam encontrar melhor panóptipo, ia acabar mal?
Pois é, o mundo burocrático é desprovido de imaginação. Chega a ser irritante tudo ser tão previsível, perde até a sensação de tragédia e ficamos com um gosto estranho de comédia - de humor negro.
E existem também desses filmes post facto. Alguns são até interessantes. Hoje assisti um sobre o 11/09, sob a ótica de um capitão de bombeiros que sobreviveu. Piegas? Bom, talvez um pouco. Mas também com uns momentos muito sensíveis e que tocavam nuns pontos nevrálgicos, que são nevrálgicos porque têm muito sentido, ou, ao contrário, não têm nenhum. O impacto real do atentado veio quando foram feitos os enterros - a maioria sem corpos nos caixões.
E esse é um acontecimento que todo mundo vai lembrar do que fazia quando ocorreu. Sempre ouvia dizer isso sobre o assassinato do Kennedy (com meus pais funciona, eles sabem exatamente o que faziam. Ou pelo menos eles têm a narrativa do que faziam prontinha, o que é igualmente interessante), ou a morte do Tancredo. Com o primeiro, claro, não era nem projeto de gente. Na época das Diretas eu era muito moleque. Eu lembro da morte dele, mas não do que eu fazia. Provavelmente devia estar com o dedo enfiado no nariz lendo gibi.
Agora, lembro direitinho do dia 11. Claro, ainda é recente. Mas você percebe quando é um desses acontecimentos marcantes - e não só pra você. Eu tinha acordado cedo, mesmo não precisando, já que as aulas tinham sido canceladas, já que na noite anterior o Toninho tinha sido assassinado. Falei com a minha amiga Dani, por telefone, comentamos sobre o caso e, quando desliguei, minha mãe me disse que um avião tinha batido no World Trade Center. Não entendi bem o que ela dizia, ou não conseguia visualizar, pelo menos. Fui ver. Demorou um tempinho pra ver que era verdade. E - ploft - bateu outro. Cacilda. Todos aqueles clichês de irrealidade... são verdadeiros e precisos. E depois veio o ritual de comentar com todos, dar o seu testemunho do que fazia na hora, esperando saber o mesmo do outro, e trocar impressões. Ninguém nem perguntava se já sabia do que tinha acontecido. Nada daquilo "sabe quem morreu?". Era pressuposto.
E depois veio a loucura explícita. Nada de macarthismos velados. Guerra no Iraque, guerra no Afeganistão.
Isso me faz lembrar de algo que aconteceu esses dias. Mês passado, liguei pra Paula, na Espanha, pra acertar minha viagem. Só que disquei o prefixo da Espanha errado. Algo incompreensível do outro lado da linha. Desliguei e não dei muita bola. Agora chegou a conta de telefone - com uma ligação pro Afeganistão! Pra onde?! Ficava imaginando, preconceituoso, que podia ter ligado na casa de algum talibã que tem o mesmo número de telefone da Paula! E se, pensava neurótico, morasse nos EUA?
Eu vi em algum lugar que os EUA - NSA, FBI, CIA, CSS ou alguma outra sigla alfabética aí - monitoram toda comunicação com alguns países do 'eixo do mal'. Imagina, por causa de um número discado errado, vc pode acabar sendo preso preventivamente! Sem direito a fiança. Se dar mal, tão certamente quanto criticar o chef antes de receber a refeição.


Jusqu'ici tout va bien.
Jusqu'ici tout va bien.
Jusqu'ici tout va bien.
Il sait que l'important c'est pas la chute, c'est l'aterrissage.

domingo, novembro 13, 2005

Pálido mimo da minha paixão, ou Lira dos 30 anos

Cof, cof

Pálida, a luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Cof
Me sentindo como Álvarez de Azevedo na noite com José Bonifácio.
Falta-me a vergonha, falta-me a dedicação, a entrega. Falta-me o láudano.
Mas a tosse...

Cof Cof Cof

sábado, novembro 12, 2005

Lista

Hoje venho com uma daquelas listinhas top ten. Estou completamente acabado depois de ter entregue trabalhinho hoje em cima da hora, depois de dias passados praticamente na frente no computador! Também estou completamente dopado com analgésicos, anti-inflamatórios, pastilhas de garganta, xarope pra tosse e vitamina C concentrada... Adicione muita coca-cola, café, dieta composta exclusivamente de junk food, toneladas de chocolate e vc tem uma mistura que deixa qualquer dietilamida de ácido lisérgico no chinelo!
Lista de hoje: mulheres maravilhosas e fantásticas (conta com a sub-categoria weird):
10- Isabella Rossellini no Veludo Azul (pertubadora)
09- Grace Kelly no Janela Indiscreta (indescritível aqui)
08- Vanessa Redgrave no Blow up (sobra charme)
07- Dominique Gallois (essa só os da área vão entender. E o sotaque... ah o sotaque...)
06- Siouxie (essa é au concour pra qualquer um que teve infância da década de 80)
05- Winona Rider no Fantasmas se Divertem (pois me apaixonei quando adolescente)
04- PJ Harvey (porque ela é poderosa)
03- Cláudia Cardinale no Era uma vez no Oeste (a mulher suada mais sexy que já vi)
02- Nastassja Kinski no Cat People (aqui é perversão mesmo)
E, finalmente, ganhadora em qualquer categoria (glamour ou weird)...
01- Shirley Manson (algo de muito estranho e bizarro que deu muito certo nessa)

Porque me lembrei de outras e não quero excluir ninguém:
11- Jane Fonda no Barbarella (precisa explicar?)
12- Judy Garland no Mágico de Oz (ah, os sonhos, os sonhos... e que boca!)
13- Michelle Pfeiffer no Feitiço de Áquila (os olhos!)
14- A Morte do Neil Gaiman (porque pra essa eu abro uma exceção da categoria "real")
15- Jennifer Connelly no Labirinto (porque ela já foi realmente bonita um dia)
16- Jill Henessy (porque na tv às vezes aparece alguém)
E tem umas meninas que eu conheço que vou te contar... pra não falar de umas professoras...

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Mudando completamente de assunto: hoje passou a entrevista com o Lévi-Strauss. Algumas partes muito esquisitas e outras ótimas! O que mais gostei foram as imagens das expedições bororo e nambiquara! E ele continua rumando firme e forte para o centenário.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Há algo de podre no reino do Brasil

E não é que a emenda realemente ficou pior que o soneto?! Já achava essa história levar de caixa de whisky em avião ridícula. O cara diz que Cuba mandou dinheiro pro Lula (imagino o quanto o Fidel pode mandar pro Lula com aquela pindaíba toda... se fosse o Chaves eu até acreditava), agora desmente falando que fez a denúncia bêbado e foi coagido! Tenha dó! Será que ele não tem um advogado para instruí-lo no que ele pode falar e quando ficar quieto? Ou será que todo mundo perdeu a noção do absurdo e o cara pode falar o que quiser?

A história dos prefeitos mortos tá cada vez mais sinistra. Se é que isso era possível.

E agora essa de arrecadar 13 milhões de reais dos correligionários do partido?! Sabia que ia sobrar pro povão pagar a conta! E já que o negócio é um número simbólico, porque não 3 milhões? Além de ser mais modesto, é o número do BURRO no bicho!!

quarta-feira, novembro 09, 2005

London Calling


Tinha conseguido já há algum tempo, mas parei pra ouvir só agora a trilha do I am Sam, que tem só cover dos Beatles. É até legalzinho e me fez pensar sobre minha relação com os reis do iê iê iê.
Meu pai sempre adorou. Na verdade, era o máximo que ele tolerava de rock. De resto só rolava vinil da Betânia, Simon and Garfunkel, Cat Stevens, Joan Baez, Violeta Parra, Mercedes Sosa e Bob Dylan. É, meu pai já usou calça boca de sino, teve cabelo desarrumado, um bigodão digo de Villa, costeletas muito mais ousadas que as minhas, e camisas listradas de golão. Então as opções musicais em casa eram até bem liberais. Mas Rolling Stones já era demais. Parava nos Beatles, que eram mais bonzinhos.
Os primeiros cds em casa, me lembro, foram dos Beatles. Quer dizer, fora os de música clássica, que a gente comprava nas Lojas Americanas ou na falecida Mappin. O primeiro foi Help!, depois vieram A Hard Day's Night, Rubber Soul, With the Beatles, Yellow Submarine, Sgt. Pepper's, Abbey Road e outros.
Adorava Help! No Talent Show da escola de inglês, participei de uma peça inspirada na música. Eu era o Paul. Cantava a música, com um violão emprestado, ao lado de um Ringo, um John e um George também no início da adolescência. Depois de terminada a música, fazíamos uma coreografia e saíamos correndo pela platéia. Foi demais.
Agora, os meus preferidos eram Sgt. Pepper's e Abbey Road. O primeiro porque era muito estranho. Diferente de tudo que eu conhecia. Mas também por causa da história da morte do Paul. Meu pai me dizia que existe uma mensagem oculta dizendo "Paul is dead" e ha também o baixo de canhoto feito de flores na capa, fazendo referência a um túmulo (também há apenas três cordas no baixo, para os três beatles remanescentes; pode-se ler "Paul?" nas flores; há um modelo de carro que seria o que o Paul morreu no acidente; Paul é o único com um instrumento negro e há uma mão aberta em cima da sua cabeça; é também o único que não está de perfil, mas de frente - e na parte de trás do disco, está de costas; e existem várias outras coisinhas).
Sempre gostei de teorias da conspiração. No mundo da música então... já tentei ouvir de trás pra frente o disco da Xuxa (que diziam conter mensagens satânicas), do Led Zeppelin, do Chicago e tentei sincronizar o Dark Side of the Moon com o Mágico de Oz. Acreditei na teoria de que, por uma análise do formato do crânio, era possível provar que a ex-Jackson Lisa Presley não é a filha do Elvis, e que em algum momento foi substituída por uma impostora. Mas uma das teorias preferidas era da morte do Paul. E é por isso que também gostava do Abbey Road (além de ser um disco incrível, claro). Ficava pensando se o Paul estava descalço porque sabia que ia morrer, ou se era apenas um aviso do além de que algo ia acontecer.
Bom, naquela mesma viagem, já relatada aqui, em que fiz intercâmbio com uma família de Oxford, aos 15 anos, fui para Londres algumas vezes. Em uma dessas visitas, tínhamos o dia livre pra fazer o que desse na telha. Eu queria ir pra Winbledon, já que na época era aspirante a jogador de tênis. Só que eu tenho uma amiga, a Dani, que adora Beatles. Bom, na verdade acho que adoração é pouco pra descrever a coisa toda. Tá certo que ela tinha grana, mas comprava TUDO que via dos Beatles na rua. O que não é pouca coisa - ainda mais na Inglaterra. A gente fuçava umas lojinhas de música e ela sempre saía com um vinil ou um compacto originais que eu preferia nem saber quanto custaram. Enfim, nessa tarde livre ela me convenceu a ir para a Abbey Road. Nunca consegui dizer não para as mulheres.
E lá fui eu tirar foto descalço atravessando a faixa! Ficamos espreitando na frente do estúdio, deixamos nossos nomes pixados na muretinha da calçada (ali atrás do fusquinha branco, mais ou menos) e ficamos de tocaia no muro da casa do Paul, que era perto dali. Ela gritava "Paul, Paul, I love you!". E eu me sentindo um daqueles caras do filme Febre de Juventude (em que os Beatles vãos para os Estados Unidos apresentar no Ed Sullivan e tem uma horda de adolescentes insanos que querem ver o show). Sabe aquele que fica reprovando a histeria das amigas, mas sempre está junto? Então. Era igualzinho. Estava adorando tudo aquilo! Histeria em Londres (bom, isso agora pode ter sentido negativo) é muito divertido! E a cidade é demais, não há tanto a inacessibilidade de pessoas e de coisas como em outras cidades grandes.
E à respeito da histeria, devo também dizer que na verdade sou completamente simpático às/aos groupies! Eu gosto de me fazer de cool, mas no fundo sou um.
Um dia eu conto da minha peregrinação ao túmulo do Jim Morisson no Père Lachaise.

segunda-feira, novembro 07, 2005

Genesis alve-negra

Vendo o jogo hoje (coisa que não fazia há bastante tempo), tive uma grata surpresa. Vi o Biro Biro! Apesar das claras rugas e um semblante mais "experiente", ainda cultiva a cabeleira! Eu fiquei muito contente, com o resultado, claro, mas principalmente por ver o tiozinho. Ele era meu herói!
Existe a crença que você já nasce torcendo para um time aqui no Brasil. Bom, eu tenho um tio palmeirense que até tentou me batizar de verde, mas fora isso, ninguém tentou fazer minha cabeça. Pra minha mãe, tanto faz como tanto fez. E meu pai... bem, meu pai é a pessoa mais tolerante que eu conheço. Em uma família que metade das pessoas são ou vão ser médicas, ele me apoiar na opção quase suicida (e monástica) de fazer sociais, já diz tudo, não?!
Ele até que torce para um time. Outro verdinho, mas esse de Campinas mesmo, do qual ele foi sócio por muito tempo. Na verdade, a maior parte da família torce pro Guarani já há algumas décadas. Isso veio desde um dos meus bisavôs, filho de italianos da Campana, que ajudou a construir um alambrado (ou algo assim) do Brinco de Ouro. Creio que desde lá a família sentiu-se na obrigação de engrossar as fileiras bugrinas e criar uma tradição. Bom, com excessão de um tio e alguns primos, ovelhas-negras (literalmente), que torcem para a arqui-inimiga Ponte Preta. Mas nesse caso também há precedentes ancestrais. Meu outro bisavô, este um alemão de Hamburgo, exercia a hoje extinta profissão de ferreiro. E ajudou a construir... tchã nã nã nã... um alambrado no Moisés Lucarelli!
Nessa trama digna de Shakespeare, eu tive a sorte de ser filho do Tambascia mais sossegado. Pude escolher meu time, o que acho muito legal. Quer dizer, eu sei que torço porque eu quis (é o que eu acho, pelo menos).
Enfim, na minha infância me encantei com a democracia do Parque São Jorge. Adorava o Casão, que naquela época era um dos mais jovens. Adorava o Doutor, um dos jogadores mais imponentes que eu já vi. Ele tinha classe. Mas sobretudo, amava o Biro Biro. Claro, ele era raçudo, e todo mundo gosta de um jogador assim no seu time. Entretanto ele tinha algo a mais também. Passava pela cabeleira loira, claro, mas também por uma vistosidade impressionante ao jogar. Ele sobressaía em campo. Não pela técnica, mas por uma confiança e uma determinação que faziam com que ele parecesse estar em toda parte do campo (tudo bem, ele era diferente também, era mais fácil notá-lo)!
O Corinthians no começo de 80 era empogante. Não lembro do time todo, mas ainda lembro do Wladimir e do Zenon. Naquela época os jogadores ainda pensavam que o time valia sacrifícios, ir para a Europa vinha só depois, ainda usavam barba e ainda podiam usar bigode.
Aí, hoje, vendo o Biro, lembrei porque quis ser corinthiano. E fiquei o resto do dia leve...

domingo, novembro 06, 2005

Chris e os duendes

Ingrid Bergman!!!!

Porra, desde ontem de madrugada que eu tentava lembrar o nome dela!! Lá pelas 3 da manhã ficamos fazendo listas de filmes, diretores, atores e atrizes que gostamos ou detestamos. Não sei exatamente porque eu queria lembrar dela, mas o nome não vinha, não vinha. Fui dormir angustiado e nada. Só lembrei hoje quando acordei.
Ontem à noite foi fogo. Falava: "é a mãe da Isabella Rosselini! Qual é o nome dela, vamos gente!" A Dani veio com um nome espatafúrdio, o que só me deixava mais nervoso. Voltei pra casa frustrado.
Bom, estou contando isso porque não lembrar nomes (os que ficam na ponta da língua, às vezes você lembra até a inicial, mas não passa disso, são os piores) é um dos meus piores pesadelos. Eu fico ansioso, não presto atenção em mais nada nem ninguém até lembrar da palavra, faço exercícios de tentativa e erro (como percorrer mentalmente o abecedário e testar vários nomes com cada letra) e fico com uma cara de quem está pensando na morte da bezerra. É terrível. Quando saiu o Quinto Elemento, aquele filme com o Bruce Willis, eu estava em BCN. Assisti com a Paula e fiquei encasquetado tentando lembrar do nome do cara responsável pelo design do filme (qual é o nome disso?). Sabia que ele fazia quadrinhos, era francês, sabia que começava com a letra M e era apenas um nome, e... mais nada. O terror foi tanto que liguei pro André, no Brasil, porque tinha certeza que ele saberia!
"Alô André, beleza?"
"Fala Slash, como vai tudo por aí?"
"Ah, bacana, bacana... então seu André, qual é o nome do carinha que fez o visual do Quinto Elemento?"
"Hã... Moebius?"
"Issooo! Valeu! Até mais!"
Juro que não tentava bancar o esquisitinho descolado. Era simplesmente questão de sobrevivência. Tinha que saber, era muita ansiedade. Acho até que é meio patológico isso tudo...

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Só pra se ter uma idéia da loucura que me toma de assalto de vez em quando, conto o meu sonho da noite passada. Bom, na verdade trechos, já que esqueci a maior parte.
Era um cenário meio apocalíptico. Uma mistura de Mad Max com alguma selva molhada no Vietnã. Havia uma mulher correndo para sua aldeia, junto com um grupo de homens que retornavam de uma caçada, no final do dia. Ela sabia que tinha algo de errado e apressou o passo. Chegou perto da sua cabaninha e viu que seu filho estava morto. Era velado apenas por uma velha. O corpo do menino brilhava - um brilho meio azul radioativo. Eu sabia que ele era algum tipo de promessa, um futuro chefe, um profeta. A perda era grande.
Eu era um dos caçadores e me aproximei de uma moça guerreira, com quem eu nunca falava. Ela era meio menina, mas com corpo de mulher. Só uns paninhos cobrindo os peitos. Tipo a Jessica Alba do Sin City e do Dark Angel, sabe?
Falei alguma coisa como: "e agora Nena (seu nome), o que será do nosso povo?". Ela parecia não estar muito preocupada. Na verdade estava se lavando numa bica. Me disse que não havia muito problema. O menino havia morrido, mas sua alma ainda não estava ex-orbi (tudo bem, latim chinfrim. Mas mesmo assim, convenhamos...). Poderíamos realizar alguma urucubaca, uma macumba qualquer para manter seu espírito em contato direto com o pessoal da aldeia.
Vai entender. Parece roteiro de filme B dos anos noventa que passa de madrugada na tv.
Depois eu sonhei que estava num caça à jato, procurando alguma coisa.

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Uma vez li um livro de ensaios do A. Alvarez e havia um capítulo sobre o 'pesadelo' no romantismo vitoriano, do desconhecido interior - esteja ele presente ao lado de casa com Jack o Estripador, esteja na África negra de Livingstone e Conrad. Nesse capítulo ele fala sobre o Robert Louis Stevenson e a romantização e a dratamização do pesadelo e do gótico da psique humana - evidentemente Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
Stevenson escreveu grande parte do livro inspirado por sonhos que também tentou analisar, mas que, segundo Alvarez, o atormentavam constantemente desde sua infância. Há algo de interessante para se pensar no ato de tomar uma poção, como Mr. Hyde, e se transformar - de volta à normalidade do gênero humano. Ou vice-versa. Afinal, o que é o prozac? O que é o placebo senão a entrega à perseguição de um coelho branco atrasado e a ingestão do líquido da garrafinha em que se lê "beba-me"?
Bom, o fato é que Stevenson atribuia aos sonhos a força motriz da criação; e aos duendes, os seres pequenininhos que animavam o teatro em sua mente, sua encenação. Pois então, às vezes tenho a mesma sensação de voyerismo passivo com umas idéias e uns sonhos que eu tenho. Me parece, muitas vezes, que a mim cabe apenas anotá-los e me preocupar com o motivo de sua aparição, dar forma às informações que vão surgindo, como o bricoleur do Lévi-Strauss. É uma espécie de assombro e surpresa com a elaboração de algo que funciona na sua mente, mas você não tem quase nenhum controle sobre isso. Duende competente, etnógrafo e colaborador invisível, trancado no sótão.
A explicação dos duendes, por mais bobinha que possa parecer, é tão interessante quanto o chavão que têm muitos escritores em relação às histórias e personagens que desenvolvem: "ah, o personagem cria vida. Eu não sei o que ele vai fazer até escrever de fato". E acho tão válida quanto a explicação menos artística: a psiquiátrica. Esquizofrenia.
Uma vez vi uma entrevista do João Ubaldo Ribeiro, que dizia que não sabia que um personagem dele era gay. Só foi descobrir no final do livro.

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Por falar em Lévi-Strauss, vai aí uma dica pra ver o velhinho quase centenário: entrevista na TV Senado agora nessa semana. Imagino que em vários horários.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Picuinhas do cinema

Bom, estava assistindo hoje o finalzinho do Star Wars (Retorno) e pensei umas cositas - era daquela safra alterada. Eu acho que as inclusões de novas cenas e novos efeitos deixam o filme muito estranho. Não falo nem como um fã saudosista, do tipo que prefere o vinil ao cd ou a válvula ao transistor, por motivos puramente subjetivos (nada contra, heim?). O lance é que ficou estranho mesmo. Até meio esquizofrênico, ou então anacrônico. As cenas novas não combinam.
Dando uma colher de chá ao Lucas por este (grande) deslize, tem algo que eu acho simplesmente sacanagem. Me refiro à cena final, em que o Luke salva o pai, crema seu corpo e termina abraçado com a Leia na festa ewok, olhando para os espectros do Yoda, do Obi Wan e do Anakin. Quando fizeram a primeira alteração, antes de começarem as filmagens dos primeiros episódios, ao menos o ator que fazia o Anakin ainda aparecia nessa cena. Agora o trocaram, por computador, pelo tal do Hayden Christensen! Acho uma puta duma sacanagem com o outro cara, que por sinal se chama Sebastian Shaw, e que nessa época já tinha partido dessa pra melhor. E porque não mudaram o Alec Guiness pelo Ewan McGregor? Eu digo: porque aí o bicho ia pegar, o cara é muito conhecido e fez o nome por outros meios além da série Star Wars. O outro, coitado, perdeu seu lugar numa das cenas mais famosas do cinema. Ficou só no take em que morre, todo cheio de cicatrizes e careca. E é só isso mesmo, já que quem está na armadura é sempre outro cara e a voz é do Mufasa, aka Thulsa Doom (James Earl Jones). Se eu tivesse aparecido num filme do Star Wars, em uma cena importante, e tivessem me cortado, eu voltava pra assombrar o Lucas - azul transparente, com voz cavernosa vinda do além, roupão jedi e tudo!
De todas as besteiras que o George Lucas fez com a série, bichinhos fofinhos e Jar Jar Binks da vida e tal, essa é a com que eu fico mais cabreiro. O que ele ia achar se daqui a 20 anos mudassem nos créditos o nome do diretor pra Spielberg?!

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Curiosidade: o André tinha me dito que o Wicket (aquele ewok que aparece mais, um bem pequeninho, marrom-escuro) é o Willow também!! Isso foi uma revelação! Eu tinha reparado que ele aparece no episódio I, na platéia da corrida de pod, torcendo. Pois então, em busca de novas conexões, descobri outras aparições do pequeno ator. Ele é o Marvin, do Hitchhiker's Guide to the Galaxy, é o Professor Flitwick do Harry Potter e... é também um dos goblins do Jareth (aka David Bowie) que aparecem no Labirinto, aquele filme lindo que eu preciso ter na minha videoteca (outro goblin é o ator que faz o R2 D2. Aliás, existem vários ewoks que são também goblins. Alguns são também Oompa Loompas, do Fantástica Fábrica de Chocolate original. Fico pensando que ser anão em Hollywood deve propiciar uma certa estabilidade de emprego... pelo menos para alguns papéis)!! Ah sim, ele se chama Warwick Davis.

Curiosidade decorrente: por falar em Labirinto, o sábio é o Frank Oz, que é também o Yoda (além de vários Muppets, como a Miss Piggy, o Animal, o Fozzie...). O círculo se completa e a teoria dos 6 graus de separação é comprovada, com ampla vantagem, no caso da kitnet que é Hollywood.