quarta-feira, novembro 09, 2005

London Calling


Tinha conseguido já há algum tempo, mas parei pra ouvir só agora a trilha do I am Sam, que tem só cover dos Beatles. É até legalzinho e me fez pensar sobre minha relação com os reis do iê iê iê.
Meu pai sempre adorou. Na verdade, era o máximo que ele tolerava de rock. De resto só rolava vinil da Betânia, Simon and Garfunkel, Cat Stevens, Joan Baez, Violeta Parra, Mercedes Sosa e Bob Dylan. É, meu pai já usou calça boca de sino, teve cabelo desarrumado, um bigodão digo de Villa, costeletas muito mais ousadas que as minhas, e camisas listradas de golão. Então as opções musicais em casa eram até bem liberais. Mas Rolling Stones já era demais. Parava nos Beatles, que eram mais bonzinhos.
Os primeiros cds em casa, me lembro, foram dos Beatles. Quer dizer, fora os de música clássica, que a gente comprava nas Lojas Americanas ou na falecida Mappin. O primeiro foi Help!, depois vieram A Hard Day's Night, Rubber Soul, With the Beatles, Yellow Submarine, Sgt. Pepper's, Abbey Road e outros.
Adorava Help! No Talent Show da escola de inglês, participei de uma peça inspirada na música. Eu era o Paul. Cantava a música, com um violão emprestado, ao lado de um Ringo, um John e um George também no início da adolescência. Depois de terminada a música, fazíamos uma coreografia e saíamos correndo pela platéia. Foi demais.
Agora, os meus preferidos eram Sgt. Pepper's e Abbey Road. O primeiro porque era muito estranho. Diferente de tudo que eu conhecia. Mas também por causa da história da morte do Paul. Meu pai me dizia que existe uma mensagem oculta dizendo "Paul is dead" e ha também o baixo de canhoto feito de flores na capa, fazendo referência a um túmulo (também há apenas três cordas no baixo, para os três beatles remanescentes; pode-se ler "Paul?" nas flores; há um modelo de carro que seria o que o Paul morreu no acidente; Paul é o único com um instrumento negro e há uma mão aberta em cima da sua cabeça; é também o único que não está de perfil, mas de frente - e na parte de trás do disco, está de costas; e existem várias outras coisinhas).
Sempre gostei de teorias da conspiração. No mundo da música então... já tentei ouvir de trás pra frente o disco da Xuxa (que diziam conter mensagens satânicas), do Led Zeppelin, do Chicago e tentei sincronizar o Dark Side of the Moon com o Mágico de Oz. Acreditei na teoria de que, por uma análise do formato do crânio, era possível provar que a ex-Jackson Lisa Presley não é a filha do Elvis, e que em algum momento foi substituída por uma impostora. Mas uma das teorias preferidas era da morte do Paul. E é por isso que também gostava do Abbey Road (além de ser um disco incrível, claro). Ficava pensando se o Paul estava descalço porque sabia que ia morrer, ou se era apenas um aviso do além de que algo ia acontecer.
Bom, naquela mesma viagem, já relatada aqui, em que fiz intercâmbio com uma família de Oxford, aos 15 anos, fui para Londres algumas vezes. Em uma dessas visitas, tínhamos o dia livre pra fazer o que desse na telha. Eu queria ir pra Winbledon, já que na época era aspirante a jogador de tênis. Só que eu tenho uma amiga, a Dani, que adora Beatles. Bom, na verdade acho que adoração é pouco pra descrever a coisa toda. Tá certo que ela tinha grana, mas comprava TUDO que via dos Beatles na rua. O que não é pouca coisa - ainda mais na Inglaterra. A gente fuçava umas lojinhas de música e ela sempre saía com um vinil ou um compacto originais que eu preferia nem saber quanto custaram. Enfim, nessa tarde livre ela me convenceu a ir para a Abbey Road. Nunca consegui dizer não para as mulheres.
E lá fui eu tirar foto descalço atravessando a faixa! Ficamos espreitando na frente do estúdio, deixamos nossos nomes pixados na muretinha da calçada (ali atrás do fusquinha branco, mais ou menos) e ficamos de tocaia no muro da casa do Paul, que era perto dali. Ela gritava "Paul, Paul, I love you!". E eu me sentindo um daqueles caras do filme Febre de Juventude (em que os Beatles vãos para os Estados Unidos apresentar no Ed Sullivan e tem uma horda de adolescentes insanos que querem ver o show). Sabe aquele que fica reprovando a histeria das amigas, mas sempre está junto? Então. Era igualzinho. Estava adorando tudo aquilo! Histeria em Londres (bom, isso agora pode ter sentido negativo) é muito divertido! E a cidade é demais, não há tanto a inacessibilidade de pessoas e de coisas como em outras cidades grandes.
E à respeito da histeria, devo também dizer que na verdade sou completamente simpático às/aos groupies! Eu gosto de me fazer de cool, mas no fundo sou um.
Um dia eu conto da minha peregrinação ao túmulo do Jim Morisson no Père Lachaise.

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