domingo, novembro 06, 2005

Chris e os duendes

Ingrid Bergman!!!!

Porra, desde ontem de madrugada que eu tentava lembrar o nome dela!! Lá pelas 3 da manhã ficamos fazendo listas de filmes, diretores, atores e atrizes que gostamos ou detestamos. Não sei exatamente porque eu queria lembrar dela, mas o nome não vinha, não vinha. Fui dormir angustiado e nada. Só lembrei hoje quando acordei.
Ontem à noite foi fogo. Falava: "é a mãe da Isabella Rosselini! Qual é o nome dela, vamos gente!" A Dani veio com um nome espatafúrdio, o que só me deixava mais nervoso. Voltei pra casa frustrado.
Bom, estou contando isso porque não lembrar nomes (os que ficam na ponta da língua, às vezes você lembra até a inicial, mas não passa disso, são os piores) é um dos meus piores pesadelos. Eu fico ansioso, não presto atenção em mais nada nem ninguém até lembrar da palavra, faço exercícios de tentativa e erro (como percorrer mentalmente o abecedário e testar vários nomes com cada letra) e fico com uma cara de quem está pensando na morte da bezerra. É terrível. Quando saiu o Quinto Elemento, aquele filme com o Bruce Willis, eu estava em BCN. Assisti com a Paula e fiquei encasquetado tentando lembrar do nome do cara responsável pelo design do filme (qual é o nome disso?). Sabia que ele fazia quadrinhos, era francês, sabia que começava com a letra M e era apenas um nome, e... mais nada. O terror foi tanto que liguei pro André, no Brasil, porque tinha certeza que ele saberia!
"Alô André, beleza?"
"Fala Slash, como vai tudo por aí?"
"Ah, bacana, bacana... então seu André, qual é o nome do carinha que fez o visual do Quinto Elemento?"
"Hã... Moebius?"
"Issooo! Valeu! Até mais!"
Juro que não tentava bancar o esquisitinho descolado. Era simplesmente questão de sobrevivência. Tinha que saber, era muita ansiedade. Acho até que é meio patológico isso tudo...

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Só pra se ter uma idéia da loucura que me toma de assalto de vez em quando, conto o meu sonho da noite passada. Bom, na verdade trechos, já que esqueci a maior parte.
Era um cenário meio apocalíptico. Uma mistura de Mad Max com alguma selva molhada no Vietnã. Havia uma mulher correndo para sua aldeia, junto com um grupo de homens que retornavam de uma caçada, no final do dia. Ela sabia que tinha algo de errado e apressou o passo. Chegou perto da sua cabaninha e viu que seu filho estava morto. Era velado apenas por uma velha. O corpo do menino brilhava - um brilho meio azul radioativo. Eu sabia que ele era algum tipo de promessa, um futuro chefe, um profeta. A perda era grande.
Eu era um dos caçadores e me aproximei de uma moça guerreira, com quem eu nunca falava. Ela era meio menina, mas com corpo de mulher. Só uns paninhos cobrindo os peitos. Tipo a Jessica Alba do Sin City e do Dark Angel, sabe?
Falei alguma coisa como: "e agora Nena (seu nome), o que será do nosso povo?". Ela parecia não estar muito preocupada. Na verdade estava se lavando numa bica. Me disse que não havia muito problema. O menino havia morrido, mas sua alma ainda não estava ex-orbi (tudo bem, latim chinfrim. Mas mesmo assim, convenhamos...). Poderíamos realizar alguma urucubaca, uma macumba qualquer para manter seu espírito em contato direto com o pessoal da aldeia.
Vai entender. Parece roteiro de filme B dos anos noventa que passa de madrugada na tv.
Depois eu sonhei que estava num caça à jato, procurando alguma coisa.

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Uma vez li um livro de ensaios do A. Alvarez e havia um capítulo sobre o 'pesadelo' no romantismo vitoriano, do desconhecido interior - esteja ele presente ao lado de casa com Jack o Estripador, esteja na África negra de Livingstone e Conrad. Nesse capítulo ele fala sobre o Robert Louis Stevenson e a romantização e a dratamização do pesadelo e do gótico da psique humana - evidentemente Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
Stevenson escreveu grande parte do livro inspirado por sonhos que também tentou analisar, mas que, segundo Alvarez, o atormentavam constantemente desde sua infância. Há algo de interessante para se pensar no ato de tomar uma poção, como Mr. Hyde, e se transformar - de volta à normalidade do gênero humano. Ou vice-versa. Afinal, o que é o prozac? O que é o placebo senão a entrega à perseguição de um coelho branco atrasado e a ingestão do líquido da garrafinha em que se lê "beba-me"?
Bom, o fato é que Stevenson atribuia aos sonhos a força motriz da criação; e aos duendes, os seres pequenininhos que animavam o teatro em sua mente, sua encenação. Pois então, às vezes tenho a mesma sensação de voyerismo passivo com umas idéias e uns sonhos que eu tenho. Me parece, muitas vezes, que a mim cabe apenas anotá-los e me preocupar com o motivo de sua aparição, dar forma às informações que vão surgindo, como o bricoleur do Lévi-Strauss. É uma espécie de assombro e surpresa com a elaboração de algo que funciona na sua mente, mas você não tem quase nenhum controle sobre isso. Duende competente, etnógrafo e colaborador invisível, trancado no sótão.
A explicação dos duendes, por mais bobinha que possa parecer, é tão interessante quanto o chavão que têm muitos escritores em relação às histórias e personagens que desenvolvem: "ah, o personagem cria vida. Eu não sei o que ele vai fazer até escrever de fato". E acho tão válida quanto a explicação menos artística: a psiquiátrica. Esquizofrenia.
Uma vez vi uma entrevista do João Ubaldo Ribeiro, que dizia que não sabia que um personagem dele era gay. Só foi descobrir no final do livro.

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Por falar em Lévi-Strauss, vai aí uma dica pra ver o velhinho quase centenário: entrevista na TV Senado agora nessa semana. Imagino que em vários horários.

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