Estou solteiro nesse Natal, então resolvi passar uma temporada na casa da minha mãe. Depois de dormir hoje tanto quanto um gato, resolvi tirar um pouco do pó das juntas e músculos e fui jogar basquete. Enquanto caminhava em direção às quadras, fui ficando nostálgico. Lembrei que, há bem uns 12 anos, fazia o mesmo caminho praticamente todo dia com meu primo, para jogar. Ele me ligava, ou então ligava eu, sempre logo depois do almoço. Aí ele passava em casa, eu calçava o tênis, pegava a bola e saíamos.
Logo no final da minha rua, havia uma flamboyant com um galho bem horizontal, que, com um pulo, era alcançado. Tínhamos sempre que nos pendurar no dito galho, felizes, balançando. Era meio um ritual. E já que não conseguíamos enterrar no jogo, pelo menos alí nos sentíamos um pouco Shaquille O'Neal.
No caminho falávamos de tudo. Nunca faltava assunto. Aí chegávamos nas quadras e ficávamos a tarde inteira jogando, conversando "assuntos de homem" com o pessoal que, como nós, iam lá todos os dias. De vez em quando combinávamos com vários amigos de comer cachorro quente na Tia Maria, ou então beber cerveja no Pier 4, ou jogar boliche em algum lugar. Aqueles eram bons tempos.
Nas quadras encontrei dois amigos que fazem parte das figuras daquela época. Um deles está bem, cheio de coisas boas acontecendo na sua vida. O outro continua alegre como sempre foi, mas acabou se ferrando muito no último ano. Tudo porque ele teve coragem de peitar a filha do chefe. É, por um lado eu respeito muito isso. Não leva desaforo pra casa, mesmo à custa do futuro profissional. Não é qualquer um que faz isso. O tal chefe acabou com as perspectivas dele na Unicamp e nas principais universidades paulistas. E não é exagero não, acabou mesmo - pelo menos para o que ele queria fazer. Me dá uma pena...
Sinto falta de tudo aquilo. Até dos machucados e torcidas de tornozelo (foram tantas...) Fico com uma sensação de que algumas coisas... nunca mais. O que é óbvio para qualquer um, mas na verdade eu nunca tinha parado de fato para avaliar essas coisas, que viraram quase um filme super 8 na minha cabeça. As mesmas cores, o mesmo jeito de velho e de bonito. Meio onírico. Claro que tenho outras coisas maravilhosas acontecendo comigo, mas meu lado egoísta, como já disse Freddie Mercury, teima em querer tudo.
Enquanto eu caminhava sozinho para jogar, e depois voltando, agora há pouco, pensei em tudo isso. Me lembra aquele tipo de filme que termina com uns textinhos para cada personagem: fulano virou empresário, ciclana senadora, beltrano foi morar no Tibet...
Meu primo entrou na marinha, depois engordou muito, foi para São Paulo e a última vez que o vi foi no enterro da minha tia, há anos já. Quase todos meus amigos daquela época se casaram e foram morar em outros lugares. Muitos com filhos. A maioria deles não vejo mais do que uma vez por ano, se tanto. Eu fui fazer outras coisas também, mas quando volto para estes espaços de memória e de passado, geralmente fico com a impressão de que só eu faço isso. Com a impressão de que sobrei.
Ah... cortaram a flamboyant.
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Um comentário:
feliz natal pra vc tb, chris!
que muitos flamboyants floridos apareçam no seu caminho ... ;-) !!
abração,
cris.
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