Culiacán, 14 de agosto de 1970.
Querido Alfred,
Recebi hoje sua carta do dia 29. Fico contente que tudo esteja bem com todos. Aprecio muito você ter compreendido meu desabafo. Na verdade sabia que você compreenderia, creio que foi por isso que consegui escrever tudo aquilo.
O que você disse sobre aboriginação me fez pensar muito. Se por um lado sou tentado a concordar que nossas cidades estão cada vez menos anglocêntricas e a celticidade* parece dar lugar para essas vozes policiadas a que você se referiu, por outro lado eu temo se não pensamos assim simplesmente porque desejamos. Espero que você tenha razão, contudo. Espero que toda essa hegomonia seja remoldada por estes desejos. Mas estou pessimista. Mesmo aqui, no porão dos Estados Unidos. Mas se você estiver certo, minha busca pelo verdadeiro México parece mais e mais quixotesca.
Já faz um mês que aluguei um pequeno apartamento em Altata, quase no mar, alguns quilômetros distante de Culiacán propriamente dita. Por enquanto possuo apenas um armário com roupas, uma mesa e duas cadeiras. Ainda não comprei uma geladeira já que tenho um bar logo ao final da rua. Fico adiando providenciar as coisas mais básicas.
Tudo aqui é lindo, sem a agitação da cidade e as tentações mais destrutivas de antes. Mas estou começando a me entediar. Essa maldição do insólito demora para passar e começo a me preocupar, achando que não me encaixarei em lugar nenhum. Nem em mim mesmo.
Agradeço se você puder pagar a senhora Stevenson. Me esqueci completamente. Você pode descontar da minha conta bancária, como de costume.
Peço que escreva para este endereço, já que fica muito dispendioso voltar para o hotel pegar correspondências. Espero ansioso por sua visita.
Seu,
Gary
* celtness
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