domingo, outubro 02, 2005

Clarim Diário

Algo muito estranho aconteceu.
Tenho essas neuras de fazer backup de tudo de vez em quando (neuras saudáveis, como já tive oportunidade de perceber diversas vezes). Só que eu faço backup (antes naqueles disquetes quadradinhos que agora só juntam poeira e agora em cd e daqui a pouco em dvd) e nunca mais vejo o que salvei. Bom, umas 2 ou 3 vezes eu precisei procurar uns textos meio antigos pra pegar umas citações ou alguma bibliografia. Mas via de regra tudo vai se acumulando em um cantinho de reminiscências praticamente apenas ornamentais.
Na verdade eu sempre fiz esse tipo de coisa. Mesmo antes de ter computador em casa. Guardava trocentos papeizinhos com anotações as mais variadas, minhas e dos outros, sem ter coragem de jogar nada fora. A grande maioria desse material ainda está guardado. "Quem sabe um dia posso reaproveitar alguma coisa?" Era o que pensava.
Bom, mas estava olhando uns disquetes do período musteriano e achei uns textos escritos há muito tempo atrás. Acho que ainda da época em que derivadas e integrais ainda não tinham me vencido completamente e teimava em pensar que seria um economista rico. Achei uma idéia para um livro (?!) e também uns ensaios. "Porcaria", foi o primeiro pensamento. Afinal, normalmente eu mal termino de escrever um trabalho e já acho tudo um lixo! Minha dissertação está lá fechadinha. Não tenho nem coragem de ver as barbaridades que tenho certeza que escrevi. Acho que é um dos motivos porque meu currículo não deveria ter o "rrículo" nele. Acho que um artigo nunca está bom o suficiente e não o mando pra lugar nenhum. Nesse sentido, algo decenário deveria ser pior ainda...
Até me arrepiei quando vi os títulos de alguns dos ensaios (não feitos para a faculdade): "Deus e a racionalização do divino", "A ironia do destino e a problemática do fundamentalismo ético", um sobre pensamento científico e RPG. E por aí vai. Naquela época eu gostava de títulos imponentes. Hoje prefiro os bem humorados ou de duplo sentido. Ou então algum metafórico. Por isso já fiquei com medo até de dar uma olhada nos tais ensaios.
Mas eu li. E não é que tem coisas legais? O interessante é que não me lembro deles!! Quer dizer, sei que os escrevi, mas parecem que nem são meus, são de outro/outros. Na medida que ia lendo, não lembrava do texto, mas reconhecia minha linha de pensamento. Claro que tem muita besteira. Mas tem também algumas coisas que eu escreveria novamente se já não o tivesse feito.
Quem sabe um dia não os posto aqui? Me sentiria como um editor que estivesse publicando textos de outra pessoa. Um outro eu que colhe os frutos de um eu mais antigo; nenhum dos dois sendo este eu. Tipo Spider/Parker.
O que me faz pensar: será que gostei dos textos porque são legais mesmo, porque são testemunho da existência de uma inteligência de um eu imobilizado em sépia, ou porque eu apenas consigo apreciar algo que escrevi com muito, mas muito distanciamento? Se for o caso, talvez outros fósseis ainda tenham salvação. Daqui a um tempo.

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