sábado, outubro 15, 2005

Phantom who?

Bom, não consegui começar a estudar, então voltei para bloggear.
Depois de pensar em contar a história do Fantasma da Ópera, resolvi criar uma nova série: Flushbacks. Finalmente para fazer juz ao nome do blog. Hoje mesmo estava falando para o Emiliano, que me contou uma história engraçadíssima (com um final não tão feliz), que é muito bom você rir de você mesmo, porque isso impede que os outros façam isso por você. Então fiquei com vontade de relatar uns fragmentos de histórias. Flashbacks, mas constrangedores e engraçados. Talvez às vezes até meio assustadores, que retornam para me assombrar de vez em quando. Não dizem que o melhor remédio é enfrentá-los? Pois então. Flush.

*******

Quando completei 15 anos, meu presente de debutante foi fazer um intercâmbio na Inglaterra. Mais especificamente em Oxford, nos idos anos de 1991. A viagem tem histórias engraçadíssimas e até bizarras, que depois poderei relatar aqui. Para se ter uma idéia, lembro que um dia antes da volta para o Brasil consegui gastar meu último dólar num bar perdido em algum lugar da Suíça - o último prego do meu caixão etílico. No avião de volta, no dia seguinte, tentava me controlar para não vomitar, devido à maratona alcólica e a um maldito charuto que me deram pra fumar (naquela santa época você podia fumar no avião. Não sei se podia fumar charuto, mas enfim, foi o que eu fiz). Então fui um dos únicos que não ficou babando em volta da Ana Paula Arósio, que voltava no mesmo vôo, depois de alguma turnê de modelo, sei lá.
Bom, mas voltando para a terra da guinness, sempre tinha várias excursões e coisas para fazer por lá. Em Oxford, nas cidades próximas e também no continente. Mas tudo tinha que pagar, lógico. Em libras, lógico.
Fiz um tour neo-new age (muito novo, como você pode ver) em Stonehenge que foi muito divertido. Perdi uma grana num cassino num navio e também fiz outras coisas divertidas. Mas economizei bastante com algumas coisas que, aos 15 anos, não via como muito interessantes. Teve um final de semana que os outros brasileiros que estavam por lá, escolheram entre ir assistir uma corrida de fórmula 1 em Silverstone ou ver o Fantasma da Ópera em Londres. Optei por ficar em Oxford, junto com outro bêbado sovina como eu, procurando algum pub que fosse podre o suficiente pra deixar dois moleques, claramente com menos de 21 anos (eles tendem a levar esse lance da idade a sério lá), beberem.
Bom, em algum momento nos anos que se seguiram, passei a gostar de musicais. Não me pergunte porque. Não tenho idéia. Dançando na Chuva me encantou. Adorei também Jesus Cristo Super Star, Hair, e por aí vai. Depois de assistir a uma versão em preto e branco do Fantasma da Ópera (mas não lembro nem do diretor nem dos atores) me arrependi de não ter gasto uma graninha para assistir a peça quando pude.
Enfim, anos depois, de volta ao velho continente, não lembro exatamente em que momento no final dos anos 90, estava em Barcelona visitando a Paula. Dessa viagem tenho pelo menos mais uma história para a série Flushbacks, mas por enquanto vou terminar de contar esta. Estava em Barcelona e resolvi ir para a Inglaterra assistir ao Fantasma da Ópera. Assim, sem mais nem menos. Frívolo? Pode ser. Eu acho que a causa foi de novo o velho amigo álcool. Bom, sempre fui um pouco impulsivo também. E pensei "já que estou por aqui, tenho mais é que chutar o balde", "quem está na chuva..." enfim, não quero ficar justificando muito também.
O fato é que eu comprei uma passagem para Londres para ver a bendita peça. Claro, fácil né? Desembarcando em Heatrow, a simpática policial da alfândega me pede o passaporte e me pergunta o motivo da viagem. Juro, foi somente nessa hora que eu percebi o absurdo da situação. Disse "vim assistir ao Fantasma da Ópera". Nem consegui mentir.
Ela me olhou como uma cara de quem entendeu, mas achou que não. Repeti. Ela sorriu e me perguntou se eu tinha um endereço de onde ia ficar. No, sorry. Tem o ingresso da peça? Nope. Aí ela me perguntou se eu sabia que a maioria das peças do West End têm os ingressos vendidos com meses de antecedência e que minha viagem com toda a certeza seria inútil.
Bom, presumindo que ela acreditou na minha história. Deve ter me achado imbecil demais pra mentir. Mas tudo bem, porque se ela achasse que eu era um maldito imigrante, teria me mandado de volta pro avião. Talvez fosse pena. Esse aí não é perigoso pra ninguém. Talvez para ele mesmo. Tudo bem, isso foi antes do 11 de setembro e antes das bombas no tube londrino. Hoje isso não seria assim.
Enfim, de novo na capital inglesa, escolhi um táxi que era uma mercedes datada de pelo menos a década de 60 (finalmente numa mercedes!) e pedi para o motorista me levar para algum hotel bacana e barato. Qualquer um. Você percebe a ingenuidade da criatura, não?
Dei sorte. Ele me deixou em um hotelzinho bacana, perto da estação de Knightsbridge, ao sul do Hyde Park. Lá a gerente, logo quando viu que eu era um brasileiro, se declarou como portuguesa de Coimbra e começou a soltar o verbo. Saudades de exercitar o idioma, creio. Ou era simplesmente bastante extrovertida. Vai saber. Bom, já tinha tido experiências com portugeses antes. Não fiquei exatamente feliz por praticar com ela nosso parentesco linguístico lusófono. Às vezes é melhor conversar em inglês do que em português com um patrício. Acredite em mim.
De qualquer maneira, ficamos conversando sobre nossas vidas e acabei relatando minha saga teatral que me levou até ali. Minha sorte é que a garota também trabalhava com ingressos de peças de teatro. Cambista. Mas uma cambista razoável, não tão mercenária.
Ingresso pro Fantasma da Ópera? Pra essa semana? Só desembolsando uma grana preta.
Raios. "Que mais tem?" "Bom, tem Oliver, Miss Saigon, Cats..." Minha santa ignorância me impediu de reconhecer a maioria das peças e musicais. Conhecia o Fantasma porque... enfim, tudo mundo já ouviu falar do Fantasma da Ópera.
"Ops, Cats!" Eu curto gatos! Vai um desse mesmo.
Foi o máximo. Apresentação no West End é demais! Bebi ginger ale, não entendi nem metade do que aconteceu, mas achei tudo muito bonito. No final comprei uma camiseta com dois olhinhos de gato atrás e esqueci do Fantasma.

Nenhum comentário: