Ah, em tempo.
Finalmente pude ver uns pedaços da tal novela do Falabella e a nambiquara doméstica. Já tinha ouvido falar bastante disso, e lido notas de repúdio apaixonadas (bem próprias do meio), mas sempre me esquecia de assistir, porque no mesmo horário passa Friends e outros seriados viciantes!
Acho sim que o movimento indígena tem que botar a boca no trombone e reclamar da representação humilhante reservada à personagem índia (soma-se assim mais um grupo ao hall dos depreciados nas novelas. Quer dizer, na verdade, isso de índio burro, selvagem, preguiçoso, serviçal, promíscuo, não é de hoje). E os próprios índios devem protestar também, claro! O interessante nisso tudo é que a tal Bumba não está nem aí com isso! Deve ganhar um salário razoável e se satisfaz pessoalmente com a bizarra fama. Os outros que reclamam.
Hoje mesmo terminei meu trabalhinho que toca nesse delicado ponto da produção teórica/ postura política de defesa das populações indígenas. Existe um hiato enorme (mas não irreconciliável, aliás muito bem resolvido por muitos "pesquisadores-militantes", como chama a Eunice) entre os discursos dos dois campos - na verdade bem conectados. Enquanto os antropólogos gastam saliva e tinta para dizer que as culturas não são estáticas e novas formas de organização e práticas não equivalem a constatar que uma sociedade aculturou-se ou morreu, o índio (que índio?) muitas vezes tem que ocupar o lugar que lhe reservam na busca de direitos, e vestir a roupa de índio, fazer e dizer exatamente o que lhe dá capital para conseguir um lugar ao sol. Nada contra. Mas às vezes parece um tanto estranho isso tudo, isto sim um pouco esquizofrênico...
Por favor, não digam que sou contra a produção acadêmica, contra a etnogênese ou contra as políticas de venda de cultura pra ong estrangeira que dá dinheiro pra projeto pra floresta. Eu sei o quanto isso pode queimar carinha no meio. É apenas minha impressão sobre a questão. Todo cuidado é pouco, afinal, não quero afugentar os poucos leitores deste blog...
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