Fiquei empolgado com a história dos monstros. Hoje fiquei procurando os roteiros dos trocentos filmes de Godzilla e de King Kong para poder fazer uma análise estrutural.
Ainda falta muito, mas já estou pegando um certo padrão. Ainda não descarto a hipótese da guerra fria, mas acho que o significado mitológico dessas histórias é um pouco diferente, ainda que decidamente ligado ao da guerra: o risco ambiental.
Todo monstro que surge ou é criado, vem de uma experiência científica que saiu pela culatra, ganância de alguma empresa, ou simplesmente do lixo mal cuidado.
Godzilla, por exemplo, acordou de seu sono de um milhão de anos por conta de testes nucleares americanos no pacífico. E tenho a impressão que seu bafão radioativo vem em decorrência. No King Kong vs Godzilla, o Kong é um gorilão que, mesmo não sendo produto dos descuidos industriais, tem seu tamanho avantajado propiciado pela ingestão constante de umas frutas enormes - cobiçadas por uma empresa farmacêutica que está interessada em comercializar os poderes terapêuticos destas berries, e aproveitando para capturar o macacão e usá-lo como o garoto-propaganda perfeito para mostrar a eficácia do negócio.
E existem outros exemplos que depois relatarei. Só para lembrar mais um: o Spectreman ajudava o Grupo Anti-Poluição contra os planos do Dr. Gori e seu lacaio Karas, um macaco loiro e um gorilão brutamontes, claramente saídos do Planeta dos Macacos, que criam monstros que se alimentam de lixo! Eu inclusive achei o discurso certinho de abertura dos episódios: "Planeta: Terra. Cidade: Tóquio. Como todas as metrópoles do planeta, Tóquio se acha hoje em desvantagem em sua luta contra o maior inimigo do homem: a poluição. E apesar dos esforços de todo o mundo, pode chegar o dia em que a terra, o ar e as águas venham a se tornar letais para toda e qualquer forma de vida. Quem poderá intervir? Spectreman!" Como eu adorava essa parte...
Trata-se, sobretudo, de uma interferência do pára-natural (que pode ser artificial, mas não necessariamente. O alienígena que vem do espaço e também entra na briga com Godzilla em alguns filmes, está a meio caminho do natural. Não é da esfera da cultura, com certeza, mas tem tecnologia) no natural. Aí surge o risco. Se aprendi algo com minha quase ex-objeto de estudo, é que na contestação da norma, na possibilidade de sua desagregação, surgem o perigo e o risco. A poluição e o profano são a ameaça da ordem da pureza e do sagrado.
A análise de aceitabilidade de risco em Mary Douglas está estritamente ligada ao debate da lógica classificatória em antropologia e ao paradigma do conhecimento científico. Prática e discurso estão relacionados ao modo como cada sociedade classifica e se organiza - modos de experienciar o mundo na vida social, e que implicam ação política (já que hierarquizada, como toda classificação) e as maneiras como os grupos buscam formar um consenso sobre o que pensam em que consiste o risco e como evitá-lo.
Aí entram os monstros. E as causas de seu surgimento.
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Por falar em monstro... Outro dia ouvi um trecho de uma conversa na cantina. Entre alunos de graduação. Primeiro ano, acho. Eram 3, estavam discutindo algum trabalho sobre os contratualistas.
Um deles: "Hobbes tem o lance do Leviatã. Garantir o bem do cidadão com consenso."
Outro: "Mas não tem aquele bagulho no Hobbes? Tipo, assim, sei lá?"
O terceiro: "Tem também o lance do estado de natureza".
E eles iam se entendendo.
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Um comentário:
o "se entendendo" que é phoda's.... rsss
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