terça-feira, abril 24, 2007

Curiosidades cinematograficas e o pensamento entre parentesis


Vou fazer uma pequena experiência neste post. Há algum tempo (muitos anos, na verdade) que percebo que sou meio hipertextual (e não que isso seja necessariamente bom). Tanto no que escrevo quanto no que falo. E especialmente quando o assunto é cinema. Eu vou abrindo parênteses e começo a falar sobre outras coisas, que vão suscitando outras coisas... Escrevi então um pequeno comentário sobre Conan, o personagem de inspiração celta criado por Robert E. Howard mais de 70 anos atrás. Daí vieram umas notinhas, com pensamentos que não necessariamente têm a ver com o texto. Poderia fazer isso indefinidamente, tipo uma wikipedia, mas peguei apenas alguns elementos, devidamente assinalados em maiúscula abaixo.

*******

Red Sonja, o que foi quase um terceiro filme da série Conan, nos anos 80, não teve a receptividade dos predecessores, ainda que contasse com alguns dos mesmos atores e tivesse o dedo de De Laurentis e música do genial Moricone.
"Quase" um terceiro filme porque Schwarzenegger, atual governador da Califórnia, não é Conan, mas Kalidor - ainda que essencialmente fosse Conan mesmo. Para o papel de Red Sonja, personagem com presença constante nas páginas da ESPADA SELVAGEM DE CONAN, e Conan o Bárbaro, foi contratada Brigitte Nielsen, a modelo dinamarquesa. Uma espécie de Jane Fonda durona vinda da terra dos vikings.
O filme tem um roteiro fraco, performances ruins e, mesmo no contexto dos inconstantes anos 80, produção pífia. Mas virou uma espécie de cult, como muita coisa trash da década perdida.
O primeiro filme, Conan o Bárbaro, esse sim foi um sucesso. Lançou de vez o agora (e provavelmente então também) mais famoso ator austríaco ao estrelato e ainda contou com a presença magistral de James Earl Jones. O roteiro, de John Millius e Oliver Stone (sim, o próprio), era simples, mas poderoso, pegando mesmo o espírito do Conan de Robert Howard: um bruto impiedoso que decepa membros alheios com a eficiência de um liquidificador humano, mas com um coração decente. O filme ainda contou com Gerry Lopez (havaiano conhecidíssimo entre os aficionados por surf), a linda Sandahl Bergman e Max Von Sydow - irreconhecível, ainda que sempre com a excelência de sempre.
E há algumas PÉROLAS DE CONHECIMENTO para o aventureiro comum que são de uma sabedoria assustadora.
O segundo filme, Conan o Destruidor, não repetiu o mesmo sucesso. Agora com a assustadora Grace Jones e o também irreconhecível Wilt Chamberlain - que ainda detém muitos dos recordes da NBA (que não parecem que serão quebrados tão cedo). Talvez o filme seja tão tosco quanto Red Sonja, ainda que eu o guarde com carinho na lembrança, por ter feito parte de minha infância.

A minha experiência com o universo Conan foi intensa nesses anos. Os filmes e os quadrinhos surgiram para mim, na mesma época, como uma avalanche viciante de horas de leitura, diárias de empréstimo na locadora ou atenção à programação da sessão da tarde. Tal se dava com os quadrinhos em especial (e dentre eles, especialmente o preto-e-branco Espada Selvagem de Conan); ficava esperando na banca o dia de uma nova edição sair. Até o número cento e tanto, tenho tudo. Incluindo os Conan o Bárbaro no não-tão-excitante formato disney de gibi em cores, os Conan Rei e as graphic novels do cimério.
E não era apenas esta criação de Howard que eu idolatrava. Acho que Howard foi a minha primeira leitura de um autor pulp. Eu ia atrás mesmo das informações de sua vida, em livrarias e sebos, ou simplesmente o velho "boca-a-boca", sem a facilidade da tecnologia atual. Diabos (ou, como diria capitão Haddock, por mil macacos e por milhões de raios e trovões), eu faço parte da última geração que conheceu a vida, tal como a conhecemos, sem internet ou celular. E às vezes é difícil lembrar disso. Encontrar informações sobre as coisas hoje em dia é tão fácil que não temos mais a satisfação de sabermos mais sobre tal coisa ou pessoa, que apenas a via crucis de "fazer com suas próprias mãos" proporcionava. E mesmo se potencialmente podemos saber tudo, como um oráculo estéril de saber, a grande parte desse saber ocupa um lugar fugaz na nossa memória de curta duração. Esquecemos logo daquilo, ou então vira apenas uma nota de rodapé na estrada do conhecimento pessoal. Como já profetizava Umberto Eco, décadas atrás, o excesso de informação pode virar ruído e barulho.
Divago, percebe?
Voltando ao Howard. De personalidade sombria, propenso a crises de depressão profundas, reza a lenda (uma das) que Howard teria deixado um final tétrico ao seu mais famoso personagem, encontrado escondido, junto com outros papéis, em um fundo falso de sua escrivaninha, comprada por um admirador muitos anos depois do SUICÍDIO de Howard, aos 30 anos de idade, em 1936. E ainda é mantido em segredo, sob a alegação que poderia horrorizar os fãs de Conan (seja lá o que for, o que pode ser tão terrível nessa época de Bushs e Bin Ladens? A história toda virou, pra mim, algo como saber o terceiro segredo de Fátima, ou saber o que raios havia dentro da maleta em Pulp Fiction; uma curiosidade quase insuportável).

*******

ESPADA SELVAGEM DE CONAN - Foi apenas há alguns anos, juro, que eu percebi como o nome dos quadrinhos parece um título de história gay barata. Algo como "A mangueira poderosa do bombeiro Bill", ou "A pistola certeira de Big John Silver". Toda a coisa, aliás, é meio homoerótica, a despeito de toda a virilidade hetero do guerreiro cimeriano. Como faziam questão de assinalar alguns colegas de infância, por sinal.

PÉROLAS DE CONHECIMENTO - Como o enigma do aço (que afinal, parece ser captado por Conan, na experiência de quase-morte e nos relances do futuro e do passado de uma vida). Ou como o famoso genghiskhaniano "What's best in life?" indagado pelo chefe dos gladiadores aos seus súditos. "To crush your enemies, to see them driven before you, and to hear the lamentations of their women", responde sem hesitação o sábio das ruas, Conan, depois de algumas tentativas fracassadas por seus colegas menos agraciados com a sabedoria da força bruta. E, o clímax para mim, quando Thulsa Doom está vindo com seus soldados, numa cavalgada da morte, atrás do enlutado cimério e seu silencioso amigo arqueiro: "Crom, I have never prayed to you before. I have no tongue for it. No one, not even you, will remember if we were good men or bad, why we fought or how we died. No, all that matters, is that two stood against many. That's what's important. Valour pleases you Crom. So grant me one request. Grant me revenge! And if you don't listen, then to hell with you!"

SUICÍDIO - Num mundo em que a regra parece ser a que um indivíduo faz de tudo para assegurar sua sobrevivência, um suicida causa certa intriga. Ou é um maldito estúpido que não entendeu nada, ou então é alguém que, ao contrário, está por demais ciente do que acontece ao seu redor; tem um conhecimento profundo do sentido de sua vida e seu papel no mundo (o que explicaria a áurea de fascínio que muitos suicidas exercem). E, acima de tudo, alguém que aprecia o bem-estar próprio de uma maneira extrema.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom. Continuamos frustrados com a trilogia do Conan originalmente concebida mas que nunca foi pra frente. Conan, o Bárbaro, é definitivamente a maior contribuição do Arnold para a humanidade, e as citações que você colocou, as melhores frases que ele disse na vida. e pra finalizar, acho que Conan é erótico e ponto. sem hetero ou homonormatividades.