sexta-feira, abril 06, 2007

Alguém

A pedidos da Eziza, aí vai...

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Ela tem lindos olhos inocentes, que contradizem toda a idéia de olhos - espelho/janela da alma corrente por aí. Claros, angelicais, de um azul indefinido, resistem, depois do primeiro instante, à tentação de definir uma personalidade. Após alguns momentos fica claro que não é inocente. Não que seja depravada – ainda que o seja durante certas luas. Mas não é inocente, isso não... ou talvez sim, às vezes... nem sempre, quando menos se espera. Talvez. Talvez ela queira parecer inocente, o que seria a prova inegável de que não é. Mas não, tenho certeza, agora, de que por vezes é inocente. Sim.
Poderia ser, também, uma devoradora – uma luz demasiada forte para abraçar. Mas também não, transborda meiguice a despeito do evidente conhecimento do mundo e suas doenças – ela conhece o wild side of life, mas não sucumbe.
Prevalece por uma força interior, geradora daquela luz de que falei. Mas não passa incólume. E aí sua beleza multiplica-se. As feridas, abertas, esperando redenção. Esperando que alguém se apaixone por elas e tente curá-las. Pelo menos aliviá-las, oferecendo um copo de água durante o percurso (rumo ao Gólgota?).
Mas se recusa a perder a altivez, a independência. Entretanto a vontade de confortá-la, abraçar forte, escondendo-a do universo, protegendo e adotando, é grande. E, prazer egoísta, ela deixa. Há algo de divino em ajudar criatura tão soberba. Receber uma lágrima tão difícil.
Mas a verdade é que a fragilidade está lá. Não me entenda mal. Ela ainda é um brilho incomum, um som distinto. A guarda abaixa por um pequeno momento. Depois, algo maior que ela, volta majestosa.
E não sei se os gregos tinham uma categoria para ela. Em certos aspectos parece terrível como uma górgona. Mas há algo de cristão também. O que invalida tudo. Ela guarda uma similaridade, no entanto, com as personagens ctônicas: desafia classificações.
Quem viu Emily Watson em Gosford Park (não falei que iria voltar a ela?) sabe que tipo de pessoa ela é. Cigarro na boca, perfeitamente imperfeita, resplandecente em seu lugar, cai na escuridão por culpa de sua própria virtude, chora, mas você sabe que ela se recuperará e não pode deixar de sentir amor e admiração.

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Qualquer semelhança com personagens históricos reais é mera coincidência. Ela não é uma alegoria de qualquer figura cristã ou mitológica que você está imaginando.

4 comentários:

Anônimo disse...

Que bonito!
Beijo.

Anônimo disse...

Lindo! Valeu a pena esperar! Obrigada!

Skywalker disse...

Quero reforçar o coro... também achei lindo Chris, e não só esse post: tenho observado, confesso que com uma certa admiração, a sua capacidade de registrar as suas observações acerca da realidade, em particular aquela dos filmes...

Parabéns, keep writing...

Celo

J. disse...

Ah, me identifiquei!! hahahaha
Lindo mesmo!