Memória é algo que é tremendamente estudado, mas no final das contas ninguém sabe direito como explicar. Em Sociais, memória é encarada de diversas maneiras; mas a que parece mais render frutos e ser mais respeitada é um blend hermenêutico interpretativista - já há algum tempo em moda.
Mas faz algum tempinho que alguns investigadores, inclusive muitos antropólogos, estão investindo em uma abordagem mais "cientificista". Memória pode ser mais precisamente analisada, acessada e, dentro em breve ao que parece, registrada por uma máquina. Dizem que esta área é promissora (quem diz são alguns pesquisadores de ponta).
Ainda que isso pareça ir contra tudo que estudei por 10 anos, acredito. No fundo acho que o ranço preconceituoso contra certos determinismos biológicos vêm de interpretações ingênuas e perigosas, devidamente denunciadas pelos relativistas de plantão. Além, creio eu, de um medo atroz de perder o lugar no panteão dos explicadores da vida humana.
Mas é com cada vez menos desconfiança que estamos comprovando que somos mais ratinhos de laboratório do que gostaríamos de admitir. Por mim tudo bem. Estou cada vez menos entusiasmado com tudo o que essa academia "clássica" propõe...
Além do mais, estou dando mais valor às explicações do tipo "lavagem ou condicionamento cerebral", ainda que por enquanto elas continuem relegadas à mesa do bar e variantes pouco respeitadas pela ortodoxia intelectual.
Entretanto, acho que muita gente já conhece a importância da mensagem subliminar e está ganhando rios de dinheiro vendendo coisas que ninguém em CNTP gostaria de comprar. É daquelas coisas que todo mundo discute teoricamente o que é ou o que não é, enquanto na prática, no mercado, as pessoas sabem muito bem como fazer render.
Por que tudo isso? Para falar da minha memória e o fast food.
Mais de nove anos depois de conhecer Madrid com o meu irmão, fui visitar novamente a capital da Espanha (ou já é apenas de CA Madrid?), agora com a Dani. Reconheci muita pouca coisa, na verdade. Só lembrei de como era o Prado quando fiquei lá na frente dele... e guiado por um mapa! Tomando o Prado como referênia, minha lembrança era de que o La Reina Sofia era do lado e o Thyssen Bornemisza era longe pra dedéu. A estação de trens Atocha (a mesma do atentado), mais longe ainda.
Mas não é que o Thyssen é do outro lado da rua, Atocha fica no final do passeo del Prado e, apesar de não ser exatamente longe, o Reina Sofia é o mais distante destes pontos? Só que não precisamos muito de mapa para encontrar. Sabe por que? Porque eu lembrava que na entrada da praça do museu, havia um McDonald's! E, presto, sabia direitinho como ir naquela joça! Não lembrava de várias obras-primas da arte dos museus, mas sabia direitinho onde eu e o Lelê sentamos para comer um Big Mac. Lembro até que numa mesa do lado, haviam trocentos adolescentes barulhentos com roupas de esqui. Mas aquele quadro magnífico do Hieronymus Bosch já estava lá antes? Outra memória clara de Madrid do século passado era o Hard Rock Café, que eu e o Lelê achamos demais! Mas dessa vez me recusei a procurar isso. Há limites.
E em Barcelona, apesar de ter voltado para lá algumas vezes desde a viagem com meu irmão, nunca mais subi na Sagrada Família depois da primeira vez. Mas claro que tinha que ir com a Dani. Aquilo é imperdível. Lá fomos nós, eu quase borrando as calças e achando toda hora que a Dani tinha caído. Rejeitamos o elevador e subimos, como todo bom desmonetarizado, pelas escadas. Descemos morrendo de fome e fomos direto ao KFC que eu sabia que tinha numa esquina. De novo, sem problema nenhum em localizar. Lá estava a maior perdição do fast food contemporâneo pré-era do frango resfriado, exatamente como me lembrava. Ficou inevitável associar museu com McDonald's e Gaudi com KFC!
Bem, há outra explicação além da lavagem cerebral publicitária que nos bombardeia desde a mais tenra infância (e não é que as pessoas sabem a musiquinha do McDonald's, mas não o hino nacional? As crianças sabem qual o nome do palhaço de cabelo vermelho e não do presidente?). A memória gastronômica é muuuito mais eficiente. E, desculpem os relativistas, muuuito mais exata.
Quer um exemplo de comida e mensagem subliminar? Nigela Lawson. Por que a câmera teima em filmar a preparação culinária dos peitos para baixo?
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2 comentários:
Numa versão mais simplificada eu chamaria isso de fome num momento de penúria monetária, ou seja, é apenas instinto de sobrevivência aguda que uma boa biologia ainda explica também. E para isso a memória nessas horas de onde comer barato (para quem não podia competir com os valores em Euro) fica aguçada. É óbvio que a publicidade se aproveita dessa situação e tenta tornar tudo muito mais fácil de conseguir por bem (?) menos...
Cara, eu nunca assisti à Nigela... Vou ver se descubro o horário e dou uma espiada...
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