segunda-feira, fevereiro 13, 2006

O décimo terceiro trabalho de Hércules

Vou falar agora sobre as peripécias exclusivas do mundo moderno, que afligem 11 em cada 10 pessoas: o sistema eletrônico e informatizado de serviços.

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Como todo começo de ano, liguei hoje para a central do cartão de crédito. Já virou um costume eu passar pelos obstáculos eletrônicos e pelas opções de participar das promoções enganosas até conseguir falar com um atendente e reclamar do preço abusivo da anuidade do cartão. Virou costume ameaçar cancelar o cartão e receber uma enumeração das qualidades e vantagens do dito cujo. Depois de um tempinho, quando me mostro irredutível, vem o discursinho "devido à excelente relação que temos com o senhor, vamos estar verificando (note o gerúndio) o que podemos fazer para reduzir o valor".
E vai assim até a anuidade ficar por volta de 5 vezes menos do cobrado inicialmente. São essas coisas que me fazem perceber que as instituições financeiras devem ser as construções predominantes no nono círculo do inferno. Porque, afinal, o valor que eu vou pagar já deve dar lucro para eles. O valor original consiste essencialmente de uma sem-vergonhice escandalosa.

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Fiquei o final de semana inteiro tentando mandar um e-mail para a secretária da Unicamp, para entregar meu curriculum Lattes (que não era atualizado, descobri, desde meados de 2004) sobre as atividades e a produção do ano passado.
Considerando o fato que meu curriculum consiste basicamente dos meus dados pessoais e o curso que estou fazendo, o arquivo ficou pequinininho. Mas toda hora que enviava o e-mail voltavam mensagens dizendo que não era possível mandar o mail com o anexo.
Uma hora consegui mandar um. Infelizmente, havia esquecido de anexar o arquivo. Veio uma mensagem da secretária dizendo que recebera o mail, mas não o anexo. Claro. Novas tentativas - em vão. Decidi ir até o CPD imprimir eu mesmo o negócio e entregar pessoalmente. Mesmo com a data limite expirada. No CPD, a senha não funcionava. Claro. Fui atendido por um funcionário da informática, que ficou 10 minutos tentando resolver o problema.
Tudo muito bom, tudo muito bem, consegui imprimir as duas folhas do meu invejável curriculum e entregar. Isso porque ontem fiz a besteira de misturar cerveja com conhaque e fumar como uma chaminé. Como não estou mais acostumado com isso, hoje acordei com aquela ressaca monstro. Foi com muita relutância, enjôo, tontura e mau-humor que saí rumo a Unicamp.

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Resolvi então passar na casa da minha mãe, já que estava por Barão. Tinha chegado à conclusão que a tontura era fruto de fome. Almocei pela segunda vez. Terminada a refeição, minha mãe, que está sem carro, pediu uma carona ao banco. Banco. Essa palavra começou a evocar emoções nada benévolas.
Lá fui eu, morrendo de calor, no lugar mais próximo ao lar de Malebolgia na Terra. Esperando na nem um pouco eficiente fila, sento num banquinho e começo a ler o Correio Popular que alguém deixou por ali. Li a coluna do Luiz Fernando Veríssimo, escritor que não gosto muito, mas enfim... Advinhem sobre o que era coluna? De suas aventuras em desbloquear um cartão na central de atendimento ao cliente. Relatava sua alegria inicial em conseguir falar com um humano, mas depois a comprovação de que isso não significa que você consiga o que quer.

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Isso me fez lembrar de um episódio passado em Barcelona. O que comprova que a eficiência bancária não é exclusividade nossa.
Para a nossa viagem, eu e Dani fomos trocar nosso suado e minguado dinheiro (mais contribuições paternas) por euros. No Banespa pegamos o que podíamos em dinheiro e o resto (que é a maior parte) em traveler cheques. Nos foi dito que em qualquer Santander espanhol poderíamos trocar sem taxas. Ok. Lá pelo segundo ou terceiro dia em Barcelona, fomos procurar um Santander.
Não é difícil encontrar. Tem um em cada esquina. O problema é que essas agências, pequenas, não trocam dinheiro. O viajante tem que ir até o Santander central. Tudo bem, lá vamos nós, munidos de passaportes, traveler cheques, n camadas de roupa e muita boa vontade.
A primeira vez deu tudo certo. Trocamos um pouco de euro para sobreviver mais uns dias. Na segunda vez, porém, depois de assinados (ou seja, se não conseguisse trocar, teria problemas), fui avisado que o sistema de comprovação e aprovação dos cheques da American Express não funcionava. O cara ficou muito tempo tentando se conectar no computador e nada. Detalhe: eu estava com dor de barriga, devido à dieta nada saudável de fast food que fizemos ao longo da viagem, morrendo de vontade de ir ao banheiro. Notificado que não havia um banheiro aos clientes (como assim?!), respirei fundo, tentei não pensar muito na situação e rezei ao arquiteto da matrix que consertasse o problema logo. Não ia sair dali sem os euros, ou com os cheques já assinados.
Depois de muito tentar, o funcionário disse que não funcionava mesmo. "Cocô", pensei eu. Literalmente, neste caso. O cara resolveu ligar então para a central da AmEx. Só que fica nas Filipinas, ele me disse. Estranho. Isso me cheirou a maracutaia fiscal, a sede da American Express ser nas Filipinas. Bom, tudo bem. Desde que eu tenha meu dinheiro...
Ninguém atendia o telefone. O cara, todo solícito: "que não funcione o sistema, eu até entendo. Mas que ninguém atenda o telefone? O que será que aconteceu?" Não pude deixar de pensar, morbidamente: "Tsunami?"
Bom, muito tempo depois, conseguiu discar em outro número, que pedia o número de autenticação do traveler. Que é gigantesco. Ele me disse então: "o problema de ligar nesse número, é que essa autenticação nunca dá certo. Vou digitar todos esses números e o sistema vai dizer que estão incorretos. Vou ter que repetir a operação mais duas vezes até ser transferido para um ser humano". Que, como li hoje na coluna do Veríssimo, já virou primo da máquina que o precede.

2 comentários:

Skywalker disse...

Eita. Filipinas é phoda... Imagina se nào é paraiso fiscal essa meleca....Em plena Europa, Espanha, tem que ligar para as Filipinas? Imelda Marcos? Vai ver que a autorização está dentro de um dos sapatos da louca ai...Ou estava, porque pelo que eu me lembro ela nào manda mais lá; agora, se co-manda, isso ai eu já não sei...Phoda!!

Maria disse...

HAHAHAHAHAHAHA... e você ainda é fino, pensa "Cocô"... eu penso MERDAAAAAAAAAAAA mesmo... HAHAHAHAHAHA...


Esse mundo moderno é uma josma. E traveler check só funciona mesmo nos EUA, eu tive a mesma experiência em Roma. É um saco... e esses caras do Santander são uns fdps... eheheheheh, beijitos!