segunda-feira, setembro 26, 2005

Interlúdio

Não sabia ao certo se queria escrever este post. Minha intenção não é fazer um blog melancólico, mas de qualquer forma vão aí uns desabafos...
Há algum tempo eu pensava em escrever sobre a separação tardia dos meus pais. É uma coisa meio estranha. Mais estranha ainda porque eu não sei explicar direito meu problema em relação a isso.
Afinal de contas, depois que você viveu o seu primeiro quarto de século de existência, não espera que seus pais vão mais se separar. Digo, de todo o stress e brigas que certamente ocorrem em um relacionamento, entre mortos e feridos, é de se esperar que a gota d'água deveria ter transbordado muito antes, não? Mas depois de 30 anos?! Aí eu penso "antes tarde do que nunca. Vão ser felizes agora". Só que não sei se é tão simples, ao menos para mim...
Quando terminei minha adolescência intocado por esse problema que afetava boa parte dos meus conhecidos e amigos, realmente achei que teria apenas uma casa para voltar nos domingos para comer macarronada. Tudo bem, como não experimentei isso antes, não posso dizer que meus sentimentos em relação a isso são muito diferentes dos de um adolescente ou uma criança. Por um lado, alguém mais novo pode ter muito mais problemas com uma separação. Mas por outro, exatamente porque eu achava que poderia lidar melhor com isso, acabei penando pra caramba.
Explico: Quando o negócio ficou realmente feio, tentei argumentar com ambos e intermediar as brigas, resolver tudo, ser o salvador. Grande equívoco. As coisas só pioraram. E no final, acabei nem sequer sabendo porque tudo aconteceu ou como começou. Tenho teorias. Que doem mais do que certezas.
Me estraçalhava o coração ver que depois de 3 décadas de trabalho duro, quando meus progenitores finalmente conseguiram construir a casa em que eles queriam envelhecer juntos e receber os netos, esta ficou vazia. Quer dizer, não vazia de gente, mas vazia do que poderia ter sido e quase foi. Arrisco dizer - talvez meio levado pelo envolvimento pessoal - do que deveria ter sido. Depois de décadas de construção, planos e sonhos de como seria a casa nova (desde que me lembro por gente isso era a meta principal da família. Meio como o anseio pelo incondicionado de Kant) acho que moramos todos juntos apenas 1 ano lá.
Hoje já não sofro tanto com isso, ainda que não possa dizer que seja algo totalmente resolvido. Se agora percebo que poderia ter me desgastado menos com o processo, na época me recusava a acreditar no que no fundo realmente deveria ter percebido e aceitado: "em briga de marido e mulher..." você sabe como é o ditado.
O mais trash veio justo quando me mudei (talvez um analista me dissesse que eu me sinto culpado de alguma maneira porque foi exatamente quando saí de casa que eles perceberam que poderiam se separar). Acho que mesmo se fosse muito jovem uma cena me marcaria (afinal, tenho nítidas lembranças de uma vez que meu pai ficou 1 semana fora de casa e minha avó veio pedir para minha mãe para aceitá-lo de volta. Meu irmão ainda era um bebê e eu fingia estar brincando num triciclo, quando na verdade ouvia tudo o que elas falavam): meu pai chorando ao se despedir de mim e do meu irmão, levando apenas o carro dele e uma muda de roupa.
Apenas para não deixar o post completamente down... Há um motivo porque seria melhor que isso tivesse acontecido quando fosse criança: teria ganho presentes em dobro.

Um comentário:

Karina Kuschnir disse...

Lindo demais esse post, Chris...