quarta-feira, setembro 21, 2005

Poder da maioria

Estava hoje eu na cantina, numa daquelas gloriosas cadeiras de plástico vermelhas, lendo um texto do Lévi-Strauss sobre a vaca louca, quando passa um indivíduo correndo e gritando "porra, invadiram a assembléia! Porra!" Aí ele foi pro CA, gritou a mesma coisa lá. Foi pro pessoal que fica atrás do Nilsão e gritou também sua indignação. Passou correndo pela Priscila e voltou pra cantina. Não sei se ele queria angariar simpatizantes pra sair gritando. O fato é que foi tão estranho e súbito que todo mundo ficou olhando disfarçadamente com uma cara de quem pensa: "mais um pirado" (ou assim interpretei as coisas). Ou então as pessoas fingiram que não viram e ignoraram. Às vezes pode ser um raivoso, vai saber...
Lembrei na hora daquele programa da GNT, "Zoológico humano" (ou algo assim). Segundo o tal documentário, as pessoas são todas umas Marias-vai-com-as-outras. Todo mundo vai pela maioria: ignorar se todos ignoram. Se ninguém dá bola pro alarme de incêndio, quem é você pra querer se salvar? Mas eu fico pensando... será que é isso mesmo? Se for, o que explica todos ignorarem o coitado?
Bom, só um pouco depois que eu me liguei do que ele estava falando. Fiquei o dia todo no instituto e estava muito cansado. Demorou pra cair a ficha. É que hoje teve a renúncia do Mr. Magoo, que devia estar falando na tv naquela hora. Acho que ele (o exaltado) se referiu aos estudantes que foram retirados da Câmara pelos seguranças.
Mas o mais interessante é que, a despeito do surto que o rapaz teve, e a cena meio Monty Phytoniana que encenou, ele acabou doutrinado pela indiferença dos presentes. Ninguém gritou, ninguém se revoltou junto e ninguém propôs ir para Brasília numa horda destruidora e demolir tudo. Desapontado com o resultado ridículo e a apatia geral, ele voltou para o seu canto, já mais calmo e pediu um café.

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