sexta-feira, setembro 08, 2006

Um sonho que tive

Esses dias eu sonhei com a irmã de um antigo amigo meu. Acho que ex-amigo, já que fiquei anos sem falar com ele. Foi morar na Inglaterra e depois na Suíça, acho. Foi fazer cinema (agora tenho outra amiga que faz cinema na terra da rainha). O encontrei alguns anos atrás, em uma festa junina na unicamp, mas o encontro foi frio e decepcionante.
Não sei exatamente o que me fez lembrar de sua irmã agora. Fazia muito tempo que nem pensava nessa moça. Quer dizer... moça... ela era a irmã mais velha desse meu amigo, então...
Enfim, eu tinha uma verdadeira paixão por ela. Sempre que ia na casa deste amigo, inglês nascido em Hong Kong e descendente de russos, procurava roubar um olhar, um oi, um simples vislumbre com o canto do olho.
Ela não era cruel, como são as irmãs mais velhas nos filmes de John Hughes. Bom, claro que um certo "vocês não são da minha turma" existia. Mas havia um carinho e um respeito por meu status de menino tímido-mas-bacana-e-divertido (e não apenas o amigo pirralho do irmão pentelho, invisível para ela) que só fazia aumentar essa minha paixão.
E ela era linda. Tinha o nome maravilhoso - Natasha, igual à heroína de Tolstói que tanto admirava (ainda que não tivesse nada a ver com a personagem original, ou mesmo com a Hepburn, que a imortalizou).
Anos 80. Essa era a época do permanente, do hair spray e do colant. Ela fazia ballet e jazz dance, tinha o cabelo loiro-castanho sempre armado e desfiado, e pilotava, soberba, imponente e dona da rua, uma vespa preta (desnecessário dizer que vespas eram o sonho de consumo dos meninos da minha geração. Vespas e, para os não tão favorecidos, mobilete, claro).
O rosto era lindíssimo. Olhos castanhos, nariz pequeno, boca suave e algumas sardinhas em torno do nariz. Tinha os peitos mais maravilhosos que um menino de minha idade podia conceber - e que não via paralelo, obviamente, pela idade, nas colegas do sexo oposto da escola.
Ainda não era época do silicone (que parece estar passando, não?!) e um dia ela resolveu fazer uma cirurgia de redução - coisa que achei um sacrilégio, mas que me permitiu alimentar ainda mais adoração: no dia em que voltou do hospital, eu estava brincando de playmobil com esse meu amigo. Fomos para seu quarto dar as boas-vindas. Ela me deixou entrar e ficar no quarto! Eu nem acreditava, sorvia todos os detalhes, os pôsters do Motley Crue e os bichinhos de pelúcia, a caixinha de marlboro vermelho na escrivaninha e as roupas que havia vestido, em cima da cama. Conversamos e ela contava como havia sido a operação. Isso pra mim foi quase uma experiência sexual e lembro nitidamente ainda hoje (quanto, 20 anos depois?!).
Ela tinha vários namorados, claro. Todos seriam os quarterbacks da escola, se no Brasil jogássemos o outro tipo de futebol - eram os mais populares, os que já dirigiam, os que fumavam... eu, infelizmente, mal tinha uma bicicleta que prestasse. Ah, a inveja que sentia...
A vi, muitos anos depois e muitos anos atrás, no shopping, ainda linda. Já não tinha o excesso dos anos 80 nela. Nada das roupas pakalolo ou OP, nada da maquiagem carregada, casado de pele de carneiro aveludado e elástico de cabelo wagon num roxo opressor. Talvez estivesse casada, com filhos. Ela estava com essa cara, não sei. Tive uma vontade tremenda de chamá-la, mas não tive coragem. Acho que ela faz um bem enorme para mim em sua perfeição de Natasha da minha memória, nobre oprimida pelo exército napoleônico invasor, mas de espírito muito maior que o corpo.

2 comentários:

Skywalker disse...

Devo declarar que eu me divertia muito com a mobilete que o meu pai comprou quando eu tinha 10 anos e que ele usava para ir dar aulas na UNICAMP. Com ele ficava meio estranho, aquele professor coroa com sua pastinha andando naquele negócio que teoricamente não passava de 60km!! Mas a verdade é que a gente dava um jeito e estourava o velocímetro da mobilete e se divertia a beça, até o dia em que dois caras babacas da minha classe pegaram ela forçado de mim e devolveram com o tanque vazio e o pneu furado! Fiquei muito puto, mas me sentindo impotente, pois eles eram daqueles caras que topavam tudo (coisa que, é óbvio, as meninas da minha turma achavam o máximo...) e eu, por outro lado, tinha lá meus pudores... O fato é que a mobilete me acompanhou desde os 10 anos até eu entrar na UNICAMP, e lembro direitinho do dia que tinha ido levar o meu pai na Física e passei pelo IFCH, logo depois de ter passado no vestibular, e acelerei para ninguém do IFCH me ver, porque tinha ficado com a maior vergonha de ainda estar andando numa mobilete, enquanto o povo nessa época já tinha carro e dirigia... Foi a única vez que eu me arrependi de estar andando nela...Depois dessa vez, nunca mais andei... Uma vez cheguei inclusive a ir buscar o meu avô, que ia passar uns dias em casa, com pastinha e guarda-chuva, no terminal barão... Enfim, como a sua Natasha, que eu acho que conheci, também achava bonita, mas sabia também que não era para o meu bico, tem coisas na vida que a gente não esquece...

Abraços,

Celo

cris disse...

que história bonita! não é q eu consegui enxergar a natasha? vc ja sabia da estoria do tolstói nessa época? uau, hein....! :-)

ah, sobrou pão de metro, mas tudo bem....já distribui pra família.

o q vcs vao fazer?