domingo, julho 02, 2006

"N'est pas un jouet"

Primeiro eu ia escrever um monte sobre a vergonha de ontem. Depois achei melhor não, desencana, esquece, apenas mais um pra falar o que todo mundo fala... mas agora, um dia depois do incidente - que não foi em Antares, mas foi dantesco assim mesmo - resolvi que vou falar o que penso sim. Desculpe você que já se cansou de ouvir neguinho malhando o Parreira, ou simplesmente não gosta de futebol e não tá nem aí. Falo mais pra mim mesmo. Depois posso até apagar o post.
Para começo de conversa: até gostaria de ser daqueles que dizem que não gostam de futebol e blá blá. Mas eu gosto, fazer o que. Gosto de assistir jogo na tv (não em bar. Se tem algo que não suporto é jogo em bar), assisto vários programas de mesa redonda e, se tivesse dinheiro, comprava um monte de camisa de time. Não creio que seja muito fanático, mas eu realmente gosto de futebol.
Aí chega a Copa e realmente a coisa muda, adquire toda uma nova aura. Nem sempre pro bem - me refiro ao velho argumento do país parar e ao clima meio histérico que vem junto com o pacote. Mas é quando eu jogo de escanteio (sim, nosso léxico é futebolístico) todo meu kit ciências sociais, que pode ser muito careta e castrador. Fico patriota sim, vou deixar de fazer o que estiver fazendo para assistir o jogo, vou torcer.
É por isso que fiquei decepcionado, triste, com raiva. Esses caras (com raras exceções) não percebem que, como eu, existem milhões? Até muito mais apaixonados? Se você ganha 200 mil reais por dia - sim, POR DIA - como o Ronaldo pesado ganha (e vai saber o resto dos patrocínios), tem que suar! É o mínimo. Estou falando o óbvio? Estou reproduzindo o discursinho dos comentaristas (aquela velha piadinha de que crítico de arte é artista frustrado poderia valer pra comentarista de esporte)? Tudo bem, não deixa de ser verdade.
Aquilo ontem foi vergonhoso. Se eu fosse daqueles que acreditam em teoria da conspiração... na verdade, não tenho muitas dúvidas que muitos daqueles jogadores só estão lá por pura pressão dos patrocinadores.
Sim, porque você pensa que Ricardo Teixeira e a camarila - porque aquilo é uma camarila - da CBF pensam em proporcionar as condições ideais para que uma seleção do país vá lá para representar alguma vaga idéia de povo? Aquilo virou um negócio, puro e simplesmente. Você acredita que o Parreira acha que não fazer amistosos com times bons seja realmente melhor para a preparação da seleção? Não, simplesmente a CBF vai ganhar milhões para jogar com a Arábia Saudita. Vai vender mais camisas e mais contratos se vencer Lucerna por 20 a zero. Imagina se perde para a França antes da Copa? Not good for the business.
Agora, o que mais me irrita é a dissociação da realidade com que muitos jogadores parecem sofrer. Isso ou o completo desrespeito com a minha inteligência. Aparecer na TV dizendo que o jogo foi igual, que o Brasil se esforçou, que o futebol é assim mesmo - às vezes se perde... ora, vai catar coquinho! Primeiro que foram cinco jogos assim. Igual? Acho que os franceses até ficaram com dó. Ou não tiveram competência pra meter mais 3 gols. E depois ouvir o Cafú dizendo que ainda não sabe se continua, que quer jogar a Copa de 2010... Deus me livre!
E a arrogância? "Não nos preocupamos com o jogo do adversário. Não vamos mudar o jeito de jogar. Somos o Brasil e são eles que têm que se preocupar". Por quê a soberba? Não seria melhor mostrar a superioridade jogando, se preocupando em ganhar, estudar o adversário? Marcar o Zidane?!?! Hoje fiquei sabendo que o Lehmann tinha uma cola com as estatísticas dos pênaltis batidos pelos argentinos nos últimos 2 anos. Antes de cada cobrança, ele consultava o papel para ver como fulano costuma bater. Só alemão pra pensar nisso, não? Tornar uma ciência algo que é paixão - ainda mais durante cobrança de pênaltis, tão emocionante. Mas ele estava errado? Quem passou para a semifinal? E ainda contra um time argentino como há tempos não surgia.
E para que terminar a carreira na seleção desse jeito? Porque não sair antes? Pra bater o recorde de partidas consecutivas? De partidas na seleção? Gols marcados? Pra conseguir novos contratos de bebida? Ganhar mais dinheiro do que já ganhou? E que técnico é esse que aceita tudo isso?
Aí fica preocupado com que time europeu vai quebrar mais um recorde de milhões negociados para conseguir seu passe, fica preocupado em estreiar chuteira dourada, rosa, verde. Coloca uma faixinha na cabeça com um R bonitinho.
Não se quer mais jogar na seleção para honrar alguma coisa? É simplesmente pra conseguir contrato em time europeu?

E que desperdício...

2 comentários:

cris disse...

dissociação da realidade foi óóótimo - e muito fino.
os jogadores nao estao falando um monte de merd.., eles sofrem de dissociação da realidade.
hahahahhha!
gostei do post. vc daria um bom comentador de futebol, nao enjoa. e essa descoberta sobre o goleiro alemao?? AFFFF! :)

Skywalker disse...

Eu ainda defendo a minha teoria de que aquela cambada de vagabundo, incluindo o Parreira e tirando talvez Lúcio, Robinho, Adriano (que entraram com vontade de fazer alguma coisa, só que tarde...) comeram uma bela duma buchada de bode e ficaram todos com piriri depois, a ponto de ninguém poder se mexer direito senão fazia nas calças... E o Parreira com aquela tranquilidade de quem tá esperando o metro e olhando no relógio? Quer saber, eles que comeram e nós que tomamos no c...