quinta-feira, julho 20, 2006

A mídia moderna

E não é que o cara do clip conseguiu?! Quer dizer, era claro que ia conseguir, mas não sabia que seria tão rápido... Só que essa é daquele tipo de idéia que só rola uma vez. Se outro tentar, vira Napoleão sobrinho... farsa.

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E esse SPFW?! Nada me interessa menos, juro. Mas quando vejo uma manchete do tipo "SPFW coloca a África na moda", é despertado em mim um sentimento de irritação profunda. Não, não sou hipócrita de dizer que faço algo pelos desesperados do mundo. Sou daqueles que se sentem satisfeitos de separar lixo orgânico do reciclável, sem saber onde catzo vai cada um. Sou daqueles que votam no menos ruim e não pesquisam vida de candidato (de boas intenções... você sabe o resto, não é?!). Odeio desperdiçar comida, mas não faço alguma coisa concreta pela Unicef. Minha solidariedade é a esmola para o menino no sinal e levar os agasalhos velhos no pão de açúcar. Acho o Che um cara batuta, aprecio o que ele alcançou e produziu nas pessoas, mas não consigo deixar de achar que a morte dele foi estúpida, que quase ninguém realmente o levou a sério (a revolução no Congo, aperitivo do que viria na Bolívia, se não fosse trágica e real, seria roteiro de comédia absurda. Aliás, o falecido Kabila pai, que para muitos simbolizou a liberdade do mobutismo, era um dos revolucionários mais patetas na época do Che). Reclamo que o clima do mundo está indo para o saco, mas não deixo de andar de carro para distâncias maiores do que alguns quarteirões.
Só que acho que nada disso me tira o direito de me irritar profundamente quando boutiques megamilionárias e estilistas insuportáveis enchem o c$ de dinheiro com moda inspirada em "motivos africanos tradicionais" (leia-se: roupas coloridas com toques tribais. E atente: isso se usa na África inteira...). Como já aconteceu com o próprio Che, que virou camiseta vendida na fórum por 100 reais. Como aconteceu com o punk. Como aconteceu com os hippies. E com tantas outras coisas mais. Há algo que possa não se tornar produto?
Possivelmente não. Mas não é tanto esse o caso. O problema é que esse pessoal que tem sua "tradição" usurpada, não recebe nada com isso. O que é a biopirataria senão gringo pesquisar alguma coisa que um pajé, ou sua avó, usava como remédio, patentear e então fazer um remédio que rende alguns bilhões de dólares?
Aí dão sorte os que têm cacife para tentar responder na mesma moeda. Como os maori, que detêm os direitos de reprodução de todos os motivos artísticos identificados com o que seria uma cultura maori.
Só acho que algumas coisas passam do limite da ingenuidade e da cegueira quanto às mazelas do mundo, e chegam às raias da crueldade e da filha-da-putagem. São nessas horas que eu torço para existir justiça divina, ou reencarnação como verme, barata...
O chavão de que o mundo está cada vez mais próximo tem que ser matizado. Acho que as distâncias estão maiores do que nunca. E o acesso rápido a tais distâncias apenas torna tudo muito chocante. Entre botox e plásticas mal-feitas, entre bronzeamentos assustadores, sorrisos ultra-brancos e roupinhas hiper-valorizadas, acho que as mentalidades e as prioridades (e o senso estético) das pessoas são cada vez menos compreensíveis e mensuráveis umas para as outras.

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E ainda no mundo fashion... o que é aquele novo reality show da gnt?! Aquele que uns imbecis competem para virar lacaio de uma modelo asquerosa (rachei de dar risada com o Sem Controle dessa semana)!
Quando é que a fórmula reality show e variantes vai se esgotar?! Fico imaginando os coitados dos carinhas responsáveis (serão os malfadados estagiários?) pela criação de novos programas... "e agora, que vamos fazer?"; "ah, vamos fazer um reality show"; "mais um?"; "sim, mas agora sobre alguma coisa diferente... e nem precisamos mudar o layout".
Vejamos, a fórmula big brother já passou pelo mundo da moda (tanto para modelo, como para vestidor de modelo, bem como para projetista do que modelo veste), pela música (american idol e variantes), pelo boxe (Stallone, como ele mesmo, consegue ser pior do que como ator), mundo dos negócios (Trump-peruca-horrível, Stewart-cozinheira-mafiosa, Justus-sorriso-arrepiante), pelo ramo dos arranjos românticos (vai, o tio Sílvio já fazia isso com muita propriedade há várias décadas) do tipo bachelor e bachelorette, do conto de fadas (do zé ruela que todas pensam que é milionário), pela dança (vi esse outro dia... um dos piores)... até para estagiário de mtv teve programa!
Que mais falta?
Dou aqui minhas dicas (e, atenção, são copyleft: se alguém quiser usar alguma idéia, fique sossegado que não vou cobrar direito nenhum) para o próximo reality show:

- Reality show de jogador de futebol. Tudo bem, não sei como funcionaria para escolher o melhor jogador. Mas você não quer saber o que jogador de futebol faz de verdade? Não é possível que sejam todos iguais! Como eles vivem, como eles falam, na realidade, na privacidade do lar? Acho que aqueles discursos bestas e manjados de final de partida são todos combinados. Simplesmente para desviar a atenção.

- Reality show de cientista social, historiador e filósofo - esse é manjado e a idéia não é minha, mas tenho minhas suspeitas sobre a aceitação popular. Acho que interessaria só para os do ramo. Mas já pensou que legal, antropólogo brigando com sociólogo sobre método, os dois tirando sarro do cientista político, todo mundo ignorando o historiador e, sozinho num canto lendo, o filósofo cartesiano?

- Reality show para escolher político. Eu acho que os candidatos deveriam ir todos para uma casa fechada por alguns meses antes da eleição. Fazer prova para garantir a comida da semana, ir para o confessionário escolher o voto, ter os conchavos filmados... O horário político seria ocupado pelos melhores momentos. Quem quiser ver tudo na íntegra teria a opção pay-per-view. Acho que a baixaria seria muito pior do que big brother europeu.

- Reality show para escolher um novo mestre SM. Homens e mulheres competem com corda, cera, clamp, plug e chicote para ver quem se mostra um(a) melhor master/mistress. Convenhamos, a audiência ia ser altíssima. E hoje em dia dá para fazer um pacote mais light até mesmo para horários nobres de tv aberta. E, além disso, o canal é fazer programa voltado para nichos específicos de audiência.

- Reality show de médico. Uh, esse não é para os que preferem não saber como são formadas as pessoas que cuidam da nossa saúde. Mas talvez tantos anos de e.r. e sitcoms genéricos tenham saturado o mercado.

E por aí vai. O esquema é fácil. Veja uma profissão e explore o que ela tem de mais caricato. Uma dica: para fazer sucesso com esta fórmula, que já está meio manjada, o melhor é escolher as profissões mais estranhas, ou as que você menos lembra. Reality show de operador de tele-marketing (esse é trash), de funcionário de agência de financiamento (u-hú!), de escritor de romance (hahahaha) e, por quê não (já que algumas coisas sempre funcionam), de lutadoras de ringue com gel?

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