terça-feira, setembro 09, 2008

O Incondicionado segundo Kant

Amanhã começam as experiências nas entranhas das terras francófonas para recriar o big bang. Lembro quando meu grande professor de Epistemologia, nos idos de 1997, mencionou pela primeira vez a notícia - na época a experiência talvez acontecesse no Arizona, ou Kansas, sei lá, um desses estados americanos quase vazios (não sei exatamente o que aconteceu no meio tempo e porque a honra ficou com o Velho Continente).
A propósito do prefácio da Segunda Edição da Crítica da Razão Pura, ele falava sobre o Incondicionado kantiano, e achava algo realmente formidável - de um ponto de vista puramente teórico; na prática a coisa toda lhe soava como um disparate megalomaníaco extremamente perigoso e caro - que as pessoas ainda buscassem a origem da origem, agora menos em termos filosóficos e especulativos, e partindo para a parte prática. Nada como ter recursos e pôr a mão na massa.
Seria algo como gastar alguns bilhões (não é que esteja faltando, heim?) para fazer uma máquina biruta para descobrir se há vida após a morte, ou qual é resposta para a pergunta fundamental da vida, do universo e tudo mais (essa o Douglas Adams já anunciou: 42. Aliás, aposto que nenhum dos caras brincando de hamster naqueles túneis leu Douglas Adams; se houvessem talvez passassem a acreditar que a idéia toda soa bastante ridícula).
E não é que eu seja um defensor da pesquisa aplicada apenas - afinal, faço antropologia e mexo com biografia e trajetória - mas tudo isso me cheira muito estranho. Meia dúzia de cientistas gastam mais que o orçamento de um pequeno país, fazem a pesquisa da vida deles e o resultado é meio dúbio. Tudo bem, você vai me dizer que não há como prever os desdobramentos das experiências. Realmente. Vai que descobrem a cura do câncer numa dessas. Mas ainda não me convenci (e não adianta me explicar em termos euclidianos) de que se a tal aceleração de partículas realmente der certo, todos nós não deixaremos de existir, ou passaremos para um plano de realidade paralela bizarro. E se não acontecer nada... bem, há sempre desperdícios mais estúpidos do que este.
Ainda não sei se torço para sair uma faisquinha por lá ou não...
Dizem que os primeiros sucessos (depende de que sentido você aplica ao termo) da experiência demorarão algumas semanas, talvez meses, para acontecer. Mas por via das dúvidas, se amanhã um buraco negro se abrir no meio da Suíça e tudo isso por aqui finalmente for pra cucuia, deixo meu post de despedida.

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