domingo, setembro 14, 2008

Mão inglesa

Ainda sobre Londres, me lembrei do dia em que quase empacoto por lá. A lembrança veio durante a ABA em Porto Seguro, alguns meses atrás, quando vi que havia por lá uma rua com o sentido invertido, devidamente assinalado com uma placa com os dizeres "mão inglesa". A razão para existir uma única rua, na cidade inteira, com a mão contrária me escapou.

Enfim, é incrível como nos acostumamos rápido com outra dinâmica do cotidiano. Nas andanças pelo centro de Londres, principalmente quando estava sozinho, eu era contaminado pelo afã apressado dos londrinos. Andando praticamente em ritmo de marcha atlética (menos nos horários de rush, quando é necessário reduzir o ritmo para a velocidade de gado confinado), eu desviava dos idosos, das crianças e dos turistas e suas câmeras e me enfiava entre os carros e demais veículos como um desvairado.
Entretanto, eventualmente acabei percebendo que não havia me acostumado totalmente com este outro padrão urbanóide. Ou ainda, exatamente por achar que havia dominado todos os códigos londrinos de conduta, às vezes me via de calças abaixadas.
A Camila sempre me alertava "cuidado com a mão contrária"! E de fato isso ficou bastante automático com o passar dos meses. As faixas pintadas no chão indicando para onde olhar (produzidas certamente pela quantidade de não-ingleses surpreendidos ao atravessar a rua) também facilitaram.
Mas nesse dia em questão, imbuído de um espírito especialmente estressado, quase engordo as estatísticas das baixas destes desavisados (outros dias terríveis incluem uma vez que fiquei tão bêbado que não conseguia ficar de pé e queria morrer e outra vez que peguei a gripe da Pati e suava tanto que parecia que tinha deitado molhado na cama, tendo que trocar de roupa algumas vezes durante a noite). Vinha feito um raio numa daquelas ruas perto do Soho, muito provavelmente Charing Cross Rd, quando um senhor me pára na esquina. Tive que freiar e já me preparava para mostrar minha cara de pedestre irritado quando passou voando um doubledeck exatamente onde estaria se não houvesse parado.
Na hora minhas pernas ficaram meio bambas. Atravessei, depois de alguns segundos tentando me refazer da quase tragédia que ninguém notou ou poderia impedir, olhando para os dois lados e fiquei o restante do dia andando bem devagar.

Quando mais achava que estava virando um londrino de fato, minha herança brasileira de mão contrária voltou com tudo, me fazendo lembrar que minhas referências mais básicas ainda eram outras.

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