Esta é a tragédia de Henrieta C., carioca torcedora do Fluminense, que veio para São Paulo assistir à semifinal da libertadores contra o outro time tricolor, mas que justificou a viagem, para seu pai, por conta de numa exposição sobre a Natureza das Coisas, no MASP, já que fazia arquitetura na Puc.
Foi, na verdade, para a capital paulista com seu namoradinho Josias, e não com a turma da faculdade, que viajou para Ouro Preto em uma pesquisa de campo.
É certo que pensou na exposição como desculpa porque queria de fato visitá-la, ainda que num nível bastante ideal e platônico, já que não tinha intenção nenhuma de deixar de assistir o jogo. Josias tinha conseguido os ingressos dificílimos e não tinham como perder a oportunidade, agora que o Flu parecia estar com um time tão bom e competitivo, e já tão longe na competição.
O fato é que o pai de Henrieta, Rene, não gostava nem um pouco de Josias que, para ele, era simplesmente um malaco. Homem muito conservador e controlador, proibiu a filha de se encontrar com o Romeu. Pobre homem, ignorante das verdades dos corações jovens, já tão cantadas pelos poetas, que sabem que a probição é como combustível para a paixão, mas ainda tão misteriosas aos pais, que sempre acham que seus filhos são diferentes deles mesmos.
A menina achou que o melhor era inventar uma desculpa relacionada à sua formação, tão prezada pelo pai. Quanto a isso, nunca nada lhe era negado. E de qualquer forma estaria de volta no dia seguinte, sem problemas.
Mas quis o destino que Rene resolvesse assistir o jogo na tv aquela noite. E quiseram os deuses zombeteiros que a câmera focalizasse, quase no final da partida, a torcida carioca, e mostrasse Josias passando um baseado para Henrieta. Era o primeiro que ela fumava, mas estava tão inebriada pelo espetáculo e pelo inusitado da situação, que resolveu experimentar. Oportunidades não faltavam na faculdade, mas nunca quisera então. Uma coisa era seu cotidiano. Outra era esta experiência, tão única e quase surreal, um parênteses na sua vidinha.
Rene, boquiaberto na frente da tela, por um momento não acreditou no que viu. Sua filhinha estava em Minas! Mas a imagem era clara.
Copo na parede. Cacos no chão. Cerveja no tapete.
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Um comentário:
Eu morria de medo de que coisas assim pudessem acontecer comigo toda vez que eu mentia. E não era pouco. Ainda bem que a gente fica cara de pau quando assume a própria vida. Um beijo, querido!
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