A moral desta tétrica história da menininha, para mim é que as narrativas do ocorrido são construções, são bricolagem com agendas pré-determinadas, nem um pouco isentas. Até aí nada de novo. O que é sim interessante de se pensar é acerca do limite alcançado (ou melhor, ainda não alcançado) por estas narrativas, vindas dos mais diferentes campos. Por quê tanta repercussão?
Os dados "objetivos" são utilizados na criação de verdadeiras histórias pseudo-coerentes. Coerentes, sim. Mas uma coerência arbitrária, seletiva. Traços de personalidade, e até menos do que isso: um simples comentário, um deslize, são provas irrefutáveis da culpa, que aparece aqui como irresistível, certa e inevitável. E nem falo dos que simplesmente supõem que as ações abomináveis são resultado das posições ocupadas no quadro de parentesco, ou pela posição social.
E a entrada deste novo personagem, que já veio assombrar a idéia de uma neutralidade e objetividade científica (forense) em outra oportunidade, para mim só reforça a idéia de construção, de ficção. Duas histórias completamente opostas podem surgir. Interpretações ou explicações? De onde se fala e qual é a legitimidade de quem fala. E surge a possibilidade da dúvida, que é a intenção da defesa, claro (e nem digo com isso que não seja possível uma ciência forense bem intencionada).
Isso me lembra bastante o que li sobre o caso do Jack, o mais famoso deles. Estudos minuciosos provam que ele foi um pintor expressionista inglês, foi o médico que teorizou a histeria, foi um membro da realeza sifilítico.
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