terça-feira, junho 19, 2007

Raizes

Essas duas últimas histórias foram contadas por minha avó - a materna. Resolvi escrevê-las depois de muito tempo já pensando em contar alguma coisa da minha família, tendo recebido o empurrãozinho final aqui, com essa quase obsessão dos ingleses sobre suas origens (e aqui, ainda por cima tem o fator da terra, que muitas vezes é a mesma por eras). Contagia.
Por exemplo, a árvore genealógica da MD, seu filho me passou, remonta ao século XII! Seu marido havia se esforçado por anos para achar as conexões.
E esse final de semana vi fixado numa árvore, na frente de casa, um cartaz de um cara que estava procurando informações sobre seus antepassados - um deles havia mandado uma carta desta mesma rua há mais de 100 anos! No cartaz ele dispunha algumas informações que já haviam sido descobertas: Um tataravô assistiu a coroação da Rainha Vitória, outro tinha ligações com um capitão Cooke (será o mesmo "Cook" sahlinsiano?), outros com George Bernard Shaw e outras personalidades, e aparentemente até mesmo William Shakespeare entra na jogada! Um dos troncos parece remontar ao século XI, quando um tal William W (não devem faltar Williams na família, já que o próprio autor do cartaz era um) esposou uma das filhas de William I, o conquistador normando. A filha, de nome Gundreda, morrera em 1087 - pouco depois da invasão em Hastings portanto.
Enfim, acho que não consigo rastrear tão longe minhas origens (apesar que do lado paterno a árvore está mais ou menos completinha até os trisavós), e nem acho que minha família tenha sido uma fração tão ilustre - e, de qualquer maneira, era também uma época em que o passado era melhor ser esquecido.
Mas boas histórias não faltam.
Conto agora algumas da parte paterna então. Uma do meu avô...

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Esta história aconteceu no final da década de 1930, quando ele era ainda um adolescente.
Sua família era muito católica, e fazia questão de criar os filhos dentro da tradição batismo-crisma-comunhão em que eles próprios haviam sido educados. Ida à missa de domingo era costume e obrigação implícita.
Um sábado à noite, levado pelas alegrias da boemia campineira, o garoto perdeu a noção do tempo e voltou da gandaia com o dia já amanhecendo. Temeroso com possibilidade de uma bronca homérica por tamanha irresponsabilidade, foi entrando em sua casa de fininho, ainda trajando seu melhor terno, sapatos e camisa. Tentava não fazer barulho, e mal havia entrado em sua casa, com a mão ainda na maçaneta, sua mãe apareceu e lhe interpelou "Isso são horas de chegar em casa, rapaz?".
Sua mente trabalhou rápido, virou e retrucou "estou de saída para a missa, mãe!". Deu meia volta e foi-se para a rua.

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