quarta-feira, junho 06, 2007

Dia enxaqueca


Tem dia que você acorda com vontade de reclamar do mundo. Todas aquelas pequenas coisas que te irritam mas você normalmente deixa passar em prol de um relacionamento harmonioso com o semelhante, de repente viram motivo suficiente para iniciar uma guerra.
Faço então uma pequena lista-enxaqueca londrina.

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-Carinha distribuindo panfleto na rua. Aqui normalmente é imigrante ou pessoa muito pobre, que arranja esses bicos de entregar papelzinho, jornal, tentar anunciar um produto, pedir apenas cinco minutinhos. Mas não tem jeito, isso me irrita, não consigo simpatizar ou relativizar. Me dá pânico. Quando vejo um na frente, acelero o passo pra emparelhar com o transeunte à minha frente, só pra ele ser a vítima e eu passar ileso. Ou então desvio mesmo. Dou um grande C ao redor do infeliz e continuo andando são e salvo. Se algum por acaso consegue me parar (e tem uns que quase pulam em cima, estendendo a mão ameaçadoramente), mando um "sorry, sorry" apressado ou então "me no speak english" e vamo que vamo (hahaha lembrei de uma boa. A menina queria falar comigo sobre alguma coisa. Fiz menção que não falava inglês. Ela, então, apressada: "Habla español?" - No. "Parlez vous français?" - No. "Sprechen sie deutsche?" - No. Mas achei engraçado e QUASE fiquei, em homenagem ao esforço).
Uma amiga disse que esse seria o último grau que desceria pra arrumar grana. Prostituição sim, panfleto não. É muito chato (sabe um que suscita irritação parecida? Vendedor que chega devagarinho e pergunta se quer ajuda. Me deixem em paz, quero ver as coisas tranquilamente! As vezes fico achando que estão de olho pra ver se eu não enfio nada dentro da calça e saio correndo - me sinto vigiado).
E sabe quem são os piores (fora os hare krishna)? Os que defendem alguma causa nobre, querem te conscientizar sobre os bichos abandonados, os pobres na Somália ou o aquecimento global. Porque esses você não pode odiar.

-Fulano ouvindo i-pod como se estivesse numa boate. Isso é foda. Tá lá você, enfezado com a vida, mas recluso e ciente de seu espaço respeitoso, na sua zona de segurança, e tem que aguentar o tstum tstum tstum vindo do infeliz de capuz, vestindo uma calça 4 números maior e uma cerveja na mão, achando que é um gangsta e que certamente vai precisar de um otorrinolaringologista daqui a alguns anos. E aqui tem muuuito disso, acredite.

-Taxista. Êta raça, viu?! Os caras não respeitam faixa de pedestre, não param no amarelo, não dão passagem... vêm pra cima mesmo, fazem questão de acelerar e passar voando do seu lado, buzinando pra ver se conseguem provocar um ataque cardíaco, além de parar em fila dupla e na faixa com a luzinha piscante (alguns posts atrás falei dos motoristas de ônibus. Esses também...).

-Grupos de turistas em geral (geralmente alemães, americanos ou japoneses). Essas verdadeiras hordas hunas de tiozinhos e tiazinhas de camisas havaianas, bonés, ray-bans, bermudas e chinelos franciscanos, com máquinas e filmadoras em punho, vão andando a meio por hora como se estivessem sozinhos no mundo, ocupam a calçada inteira e quase te fazem atropelar um deles, quando param de repente pra tirar uma foto de um prédio absolutamente comum ou consultar um mapa gigantesco de escala 1 pra 1!

-Obras. Como tem obras. Se não tem nada que precise de conserto, acho que eles quebram só pra poder fechar tudo, usar britadeiras e infernizar a vida. País rico tem isso. Não sabe onde gastar? Muda a calçada, ajeita a fachada, faz buraco, troca cano. Não existe um canto em que não tenha o tum tum dos martelos ou os benditos carinhas de jaquetinha verde-abacate-fluorescente-anos-oitenta; normalmente cockneys com uma tatuagem de uma âncora no antebraço ou então poloneses (aqui a divisão do trabalho é extrema).

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Poderia continuar. Mas já deu um alívio descarregar um pouco.
Ah sim, hoje tem Happy Mondays!

2 comentários:

Anônimo disse...

O Monguinha viveu uns bons meses aí distribuindo panfleto de pizzaria. Queria ver você cruzar com ele e jogar o "me no speak english"... rs! Cris

Anônimo disse...

hehe pois é...
mas me deixe precisar, na verdade. se a pessoa não me aborda ou me pára, não tem problema. se é só entregar, tudo bem... rs
c