terça-feira, agosto 12, 2008

Confidential

Já disseram que um mapa perfeito teria escala 1:1.
Também na crônica temos que nos contentar com os highlights da vida. Claro que fica a cargo do cronista saber o que vale a pena ressaltar de tudo que acontece no seu cotidiano.
Mas a bem da verdade é que não interessa contar tudo, evidentemente.
Muitas vezes fico meio cansado do blog, pensando até em matar o coitado. Acabo não o fazendo, já que depois de um tempo de vacas magras a vontade de contar algum pensamento, algum acontecimento, acaba retornando. E embora perdesse todos os possíveis leitores se contasse o que faço durante meus atuais morníssimos dias, ainda sim tenho alguns causos para relatar por aqui.
Alguns bastante interessantes. Emocionantes até.
Este aconteceu no final do ano passado, quando ainda morava em Londres.

Sabe quando os paranóicos que acreditam em teoria da conspiração dizem que muito do que acontece acaba sendo encoberto pelos agentes da matrix? Engravatados de preto e ponto no ouvido confiscam celulares e máquinas digitais, instruem as testemunhas ou simplesmente desacreditam as que escapam do pente fino. Pois bem, nada é mais verdade do que isso.
As pessoas não precisam ter visto um ovni para concordar comigo. Todo mundo testemunha alguma coisa e se espanta quando o que aconteceu é completamente destorcido pelo relato oficial. Quando o acontecido não é sequer descrito...

Meu "estive lá e vi" ocorreu em um bonito dia de inverno inglês, de muito sol e céu azul.
Estava em Southbank, na altura da Millenium Bridge quando pensei sentir um leve tremor no chão. Já disse aqui, em outra ocasião, que penso ter sentido o terremotinho que aconteceu no começo de 2007, cujo epicentro foi perto de Kent mas produziu efeitos mesmo em Londres. Então instantaneamente acreditei que se tratava de um novo protesto de Gaia.
Algumas das pessoas em volta também parecem ter percebido algo estranho. Mas depois de alguns segundos todos resolveram continuar suas vidas apressadas, e ninguém quis ser alvo de chacota, alardeando um temor infundado.
Entretanto, mais alguns instantes e um novo tremor. Este claro, assustador. Estava perto da entrada do antigo prédio de energia que agora abriga o Tate Modern, e comecei a olhar para as pessoas paradas, estáticas, ainda esperando os sinais da destruição: crateras abertas, estruturas desabando, gritos, correria.
Foi então que a cinquenta metros de onde estava, o chão começou a levantar em um certo ponto. Grandes pedaços de pedras, de asfalto e de terra começaram a rolar para os lados.
Empunhei minha câmera, que estava guardada no bolso, e dei um passo para trás.

O que aconteceu a seguir foi muito rápido. Aquilo saiu do buraco formado, pata depois de pata, já atacando os liliputianos transeuntes mais pertos, com uma agilidade surpreendente para um tamanho gigantesco daqueles. Antes de começar a correr, consegui mirar e fazer um registro.


(Maman, Louise Bourgeois. Foto minha)

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