domingo, agosto 31, 2008

Springbok

Neste quatrocentésimo post pensei em escrever algo sobre dois maravilhosos assuntos: comida e viagem.
Um amigo deu a deixa, me indicando um canal com programação recheada de ambas as coisas. Agora já não lembro do nome, mas fiquei curioso para assistir qualquer dia desses e depois contar algo sobre.
Na verdade, pensei em fazer uma série de textos sobre o assunto. Vamos ver se vinga. Por hora fico pela África do Sul...

No final de 2006, já nos preparativos para a viagem para Londres, acabei passando umas semanas em Cape Town, considerada por muitos uma das cidades mais bonitas do mundo. De fato não há como não se apaixonar pela cidade. As praias não deixam nada a desejar em relação com o que temos por aqui (existe toda uma discussão sobre se é a Cidade do Cabo ou se é o Rio de Janeiro a metrópole que melhor combina paisagem natural e urbanidade).

O Victoria & Albert Waterfront por si só é uma maravilha bastante singular - a herança européia transformou-se em algo bastante leve, nesta ponta do continente africano (há algo de inegavelmente colonial, mas ao mesmo tempo bastante contemporâneo, em Cape Town). Claro, aquilo é, e também não é, ao mesmo tempo, África. Ou ainda, é uma África bastante particular (ainda que não seja possível falar de uma África - me refiro apenas à idéia do continente).
Eu adorei passear pelos bares, restaurantes e lojinhas do lugar. A boa comida não é cara, e é possível beber uma cerveja e comer um ótimo peixe, frito ou assado, ouvindo música, nas mesinhas espalhadas ao longo do pier, ao lado de lindos barquinhos encantados de gente rica.
Para quem gosta de aquários - uma dica - o de lá me deixou maravilhado, com alienígenas caranguejos gigantes, fascinantes água-vivas fluorescentes e tubarões amedrontadores.

A Table Mountain, cartão postal número um, é algo de espetacular. Vista da cidade, com as nuvens descendo de suas encostas como uma gigantesca coberta, a montanha mais parece a morada de alguma deidade africana ancestral. E a vista lá de cima é de tirar o fôlego: à direita e em frente, toda a parte mais urbana com seus prédios, praças e avenidas; à esquerda da pedra em forma de leão, as praias com o mar azul e as casinhas branquinhas que mais parecem saídas de um cenário de ilhas gregas.


Ainda na cidade, uma visita ao South African Museum dá um gostinho da influência do antropologismo sul-africano do Cabo, ainda que o acervo inclua muita coisa de história natural. O Centro do Holocausto, colado ao museu judaico de Cape Town, é também um passeio obrigatório, ainda que intenso e um tanto quanto depressivo. Lá estão os depoimentos dos sobreviventes da Segunda Guerra que migraram para a África do Sul, e que trouxeram as marcas e objetos da perseguição e do anti-semitismo no velho continente. O National Gallery, na mesma área de Company Gardens, exibe arte européia e sul-africana, desde o período colonial até a arte pós-apartheid - este fantasma ainda não totalmente resolvido por lá.

Uma visita às vinículas, geralmente afrikaners, é um ótimo programa para quem gosta de saber mais sobre a produção dos excelentes vinhos sul-africanos, sentar debaixo de uma árvore enorme e frondosa, no campo, e degustar alguns vinhos.
Ainda na linha "natureza" (quase tudo por lá), o jardim botânico me surpreendeu. Pensei que fosse achar tudo meio entediante, mas o cuidado com as flores e plantas me deixou entusiasmado e bastante impressionado.

Para quem gosta e não se importa de fazer o turismo clichê, existem safaris - fotográficos - não muito distantes da cidade (que, afinal, não é tão completamente desanimalizada assim: vi vários babuínos e pinguins dando suas voltinhas nas estradas mais periféricas).Uma ida ao Cabo das Tormentas (porque de boa esperança acho que não tem muito mesmo; esse tal de Bartolomeu Dias foi um cara fodão), é igualmente uma boa opção, ainda que demorada e um pouco cansativa. Por lá, se tiver sorte, você pode ver baleias e focas, e nas não muito distantes praias mais orientais, alguns tubarões brancos (para quem tem coragem, existe a possibilidade de mergulhar com os tais bichos, mas essa experiência eu passo).

Mas uma das mais prazeirosas experiências foi dirigir em direção ao sul, margeando quilômetros de oceano atlântico, rumo ao Índico, e parar em um dos lindos restaurantes do caminho, com uma varanda dando para a praia, e beber uma cervejinha sul-africana (mais parecida com a nossa do que com a inglesa) e comer o tal springbok. Experimentei um tipo de guisado da carne do bichinho-símbolo de lá, numa espécie de mini-caldeirão de barro. Bem temperada e saborosa, parece um pouco uma comida que você acharia no litoral baiano - se aqui houvesse o costume de comer carne de caça, algo bem mais comum no outro lado do oceano.

Mas a melhor refeição mesmo, para quem puder gastar um pouco mais e tiver na mala uma roupinha mais arrumada, é aparecer no restaurante Atlantic do Table Bay Hotel. Comer com vista para o Waterfront e para a Table Mountain torna toda a experiência gastronômica muito mais prazeirosa.
O cardápio consite basicamente de uma mistura de cozinha sul-africana e internacional muito bem feita - e nem um pouco fresca, mesmo que sofisticada. O restaurante também possui vinhos realmente deliciosos. Na noite que apareci por lá, com mais algumas pessoas, éramos os únicos clientes, o significou que podíamos escolher as músicas, e ter no final, um tour guiado pela enorme e impressionante adega.

De maneira geral, a cidade é extremamente atraente e agradável. O custo não é alto, quando comparado à Europa. O grande defeito ainda - e espero que resolvam isso para a Copa - é melhorar alguns aspectos da infraestrutura: melhor transporte público e uma ampliação do aeroporto, que já não comporta o crescimento dos últimos anos.

sexta-feira, agosto 29, 2008

Smog

Para ver como ando desconfiado com as coisas. Cínico, na verdade. A política fede e os problems se acumulam.
Hoje, saindo do supermercado, olhei para o céu e vi um troço esquisito no sol. Mas vendo as manchetes, agora há pouco, descubro que se tratava de um fenômeno natural um tanto quanto raro. Algo a ver com o reflexo dos raios solares em cristais do ar...
Mas na hora lembrei das imagens que vi de Pequim durante as olimpíadas e pensei comigo mesmo que já era hora de pensar em mudar de cidade - "que merda de poluição, daqui a pouco vai parecer que sempre andamos no escuro"...

quarta-feira, agosto 27, 2008

Poeta moral

Ontem assisti uns pedaços do documentário sobre o Vinicius de Moraes do Miguel Faria Jr. Não é um grande filme, analisando friamente, mas ainda sim bastante interessante, muito por conta da figura que foi Vinicius. Acredito que seria muito difícil fazer algo chato sobre o poeta.
O longa segue a fórmula da reunião de depoimentos de familiares e de amigos, muitos dos quais também personalidades da arte brasileira. Às vezes este formato dá certo, como no já mencionado e maravilhoso filme do Julian Temple que comentei por aqui há um ano, mais ou menos. É evidente que, para segurar a atenção, os depoentes têm que ter certo talento - o que não acontece em alguns momentos - e as anedotas do personagem têm também que ser singulares. No caso de um Vinicius isso não é um problema. Mas aqueles intervalos com declamações de poemas, ainda que bem intencionados, quebram um pouco do ritmo narrativo. Eu preferia que existissem mais cenas com falas do próprio poeta ao invés disso. Mas no final das contas valeu ter assistido.
Personagem realmente fascinante, Vinicius de Moraes passa um pouco batido por uma certa intelectualidade que se pretende mais refinada, como bem lembrou minha amiga Paulinha algumas semanas atrás. A popularidade de sua obra, imagino eu, acaba por esconder a qualidade de seus escritos. Que são muitas. E tão evidentes, que toda essa história cheira a dor de cotovelo.
Talvez o fato de ser uma figura meio incongruente, inverossímil, também tenha contribuído para a injusta fama de um poeta menor. Porque se trata de um tiozinho barrigudo, meio impertinente, que não corresponde nem ao trovador romântico, ou ao devasso maldito, tuberculoso e bêbado (ainda que em certa medida o fosse - bêbado pelo menos). O fato é que alguém que não tem medo de queimar realmente, que canta o amor visceral e não ideal, só pode ser alguém extraordinário, no sentido literal da palavra. Meio que fora do mundo.
Os depoimentos são interessantes neste sentido também. Em torno de Vinicius circularam estas pessoas, que se apropriaram de sua vida, ou da vida que lhes tocava, de qualquer maneira. São, assim, depoimentos impressionistas e impressionados.
É, na grande maioria das vezes, recordar inventando. Ou talvez inventar recordando. Já não sei mais.
Talvez a própria pessoa homenageada concordasse com muito do que foi dito, mas ao mesmo tempo, com nada. Porque com todas as anedotas, se repetindo, e voltando, reaparecendo e teimando, ele se aproxima mais e mais de um mito.
E este documentário só contribui para isso. Porque as pessoas que o conheceram não precisam de incentivo para lembrá-lo. Lembro de ter ouvido o Toquinho contar causos engraçadíssimos do colega em várias oportunidades. Carlinhos Lyma também. Há bem uns 10 anos, fui assistir um show do Chico, no agora extinto Palace. Lembro bem dele também ter se rendido - me perdoem o trocadilho - ter se rendido ao vício de falar de Vinicius.
É, no final das contas, com todos os copos de whisky, todas as mulheres, as músicas e o pigarro, alguém invejável. Triste e acuado pelo mundo, ainda sim conseguia fazer o que queria. Uma inveja que não se sente, por exemplo, por outros velhos barrigudos e bêbados da literatura.

terça-feira, agosto 26, 2008

E a vaca vai, em ritmo de marcha atlética, para o brejo

As olimpíadas acabaram... e já não era sem tempo! Nada contra a maratona de competições, já que gosto de tudo quanto é esporte, por bizarro que seja. É só que eu fiquei tão viciado, que a qualificação, que já estava atrasada, praticamente parou nestas semanas.
Nos primeiros dias assistia as coisas mais "normais", tipo as partidas de vólei da seleção. Depois fui aumentando a gama de interesses, até terminar por ver algo como Sri Lanka versus Vietnã no badminton. Afinal, pensei, quando é que eu poderia assistir algo do gênero se não a cada 4 anos?
Nem ia comentar nada por aqui, porque vício você esconde, não é mesmo? Mas, conversando com um amigo meu hoje, que se disse tão viciado como eu nestas fatídias duas últimas semanas (e também em tempo de escrever tese), fiquei um pouco mais aliviado e me sentindo um pouco menos culpado. E ele, ainda, sem tv a cabo, quando se cansava dos jogos mais mainstream na globo, ia de madrugada na casa do orientador ver, digamos, o lado b dos jogos. Eu só precisava mudar a bunda 30 cm de lugar no sofá, quando cansava de uma posição - o que talvez seja ainda mais triste, pensando bem. Sei lá.

sexta-feira, agosto 22, 2008

Sitcoms ambíguas

Esses dias andei assistindo o The Riches, que tem feito certo sucesso lá pelas bandas do norte. Gostei bastante da idéia e dos atores, mas acho que é o tipo de seriado que eu não vou conseguir assistir. Isso porque acabo criando uma certa empatia com os protagonistas que, pela própria premissa da série, vão acabar se ferrando e passando por inevitáveis apertos futuros. E isso me deixa muito nervoso: o esperar. Será hoje? Ainda não. Será hoje? Quem sabe.
Como acontece também com Dexter, a série do serial-killer de boas-intenções. Além do misterioso serial killer rival que apronta umas, e o policial desconfiado, é claro que as dificuldades um dia vão alcançá-lo e algum dia o segredo dele será revelado. Aí não vai ter jeitinho nenhum que resolva. Porque a América pode ser suja dentro do armário, mas, hipocritamente, tem que ser impecável abertamente.
Mas o que é divertido nestas séries, enquanto o fim da farsa não vem, é que a idéia do moralmente correto puritano americano fica em xeque por alguns momentos.
Mesma razão, aliás, por eu ter gostado tanto de Brotherhood e Nip/Tuck, diga-se de passagem.

quinta-feira, agosto 21, 2008

London parks

Assistindo o programa do Jamie Oliver hoje me deu uma saudade de algo realmente maravilhoso de Londres e que dificilmente temos por aqui: os parques.
Neste programa, o cozinheiro-celebridade resolveu fazer uns quitutes para fazer um piquenique. A comida parecia muito boa e tal, mas o que me interessou mesmo foi o piquenique em si. Nada como escapar do corre-corre do dia a dia e relaxar num gramado maravilhoso, com uma vista linda, bebendo um suco ou comendo um sanduíche, ouvindo música e tomando um pouco de sol.
Eu morava perto de dois lindos parques (e outros menores - existem vários em todos os bairros): o Regent's e o Primrose Hill, logo em frente. Saindo de meu bairro, St. Johns Wood e indo em direção a Chalk Farm, Camden Town e Belsize Park, esses dois lindos pedaços de verde tornam a área muito agradável.
O Regent's é bem grande, com teatro ao ar livre, jardins muito gostosos, o delicioso canal que já descrevi por aqui e também o zoológico de Londres. Já o Primrose fica atravessando uma avenida, rodeado por aquelas casinhas bem inglesas, sobrados com montes de plantas e flores na frente, verdadeira paixão inglesa. E este parque tem um morro com uma visão espetacular de Londres! Lá de cima você consegue ver St. Paul, o London Eye, o centro da cidade... Em um dos cantos do parque existe um pub vitoriano, The Queens, que fica, por sua vez, logo em frente a casa do Engels, onde Marx sempre passava uns tempos discutindo os rumos do comunismo. É também uma área cheia de artistas de cinema, não só britânicos - o próprio Jamie morava ali. Mas muito tranquila e de fácil acesso.
Senti muita falta de fazer um sanduíche, sentar por lá e perder uma meia hora fazendo nada na grama, e das vezes em que fiz um piquenique, geralmente com a Camila.
A possibilidade de ficar pensando na morte da bezerra por algum tempo em um lugar pertinho de casa, em uma cidade tão grande quanto Londres, para olhos brasileiros soa um pouco inacreditável. E talvez um pouco estranho - até que você experimente e saiba o que está perdendo por não ter algo parecido por aqui. E o melhor, sem chance de ser assaltado, estuprado ou pegar um carrapato estrela deitado no chão.

domingo, agosto 17, 2008

Novas notas olímpicas

Uma diversão a parte neste jogos olímpicos, pra mim, é ver uma competição fora das quadras, pistas e piscinas. As das emissoras de tv.
A troca de farpas é engraçada, para não dizer ridícula. Principalmente da espn, que como grande parte dos que estão em segundo lugar, acaba apelando. Dando umas zapeadas, pego sempre os comentaristas dessa emissora soltando "nessa prova, apenas nós estávamos lá. É impressionante o descaso das outras emissoras com o Brasil", ou algo do naipe.
É interessante notar que quando o Gustavo Borges, comentarista contratado pela globo/sportv, entrou na área dos nadadores e foi comemorar com o Cielo, foi sumariamente cortado pelos replays da concorrente.
Outro quesito em que eles estão perdendo é a entrevista com familiares e amigos. Nas provas em que brasileiros têm chance, sempre existe uma equipe da globo filmando os parentes, naquela rasgação de seda toda, já praxe nesses momentos. Com o Cielo, claro, não foi diferente. Tinha uma equipe de reportagem na casa da avó do cara, aqui perto, em Souzas.
À outra emissora restou procurar um técnico de natação lá. Ou quem sabe o jornaleiro do cara.

E o Carlitos Tevez da natação conseguiu mesmo. Well done.

Se eu fosse um desses atletas brasileiros sem qualquer tipo de apoio (a maioria), ou que tivesse meu patrocínio cortado pela confederação do meu esporte porque resolvi treinar fora do país porque teria melhores condições de treino, então ganhasse um ouro, e o Lula ligasse me cumprimentando, ou a supracitada confederação tentasse agora aproveitar os louros da minha vitória, mandaria todo mundo pastar.

quinta-feira, agosto 14, 2008

Onde foram parar todos os cachorros?

Nessas madrugadas de escrivinhação torna-se irresistível assistir um pouco das olimpíadas, nos momentos de pausa (momentos que se estendem além da pausa, claro).
Tenho assistido bastante coisa. Por enquanto o que mais gosto de ver é a natação, em especial os brasileiros, que parecem melhores que 4 anos atrás, e o Michael "Tevez" Phelps. Não compro as críticas que tenho visto sobre o cara. Principalmente sobre as de arrogância e soberba. Se o cara acha que pode vencer, quem sou eu pra dizer o contrário... e ele realmente sobra nas provas.
Os outros esportes não têm sido tão empolgantes. Talvez o basquete seja uma exceção, com o tal Redemption Team, e a seleção da Espanha (e alguns jogadores de outras equipes). Mas as partidas são muito cedo, quando estou indo dormir. Fora natação e basquete eu acabo vendo um pouco de cada coisa, mas acabo logo me cansando um pouco.
O que espero com ansiedade mesmo são as provas de atletismo, que devem começar agora. Eu realmente me impressiono com o atletismo. As provas de velocidade são inacreditáveis; as de força dão medo; as de resistência dão agonia; as de salto são impressionantes. Acho tudo tão distante do que eu poderia sequer pensar em fazer um dia que não posso deixar de elogiar até mesmo o último colocado. Admiro em especial o salto com vara (imagine saltar sobre uma casa com uma vara!!!) e o decathlon e o heptathlon (esses sim são atletas).
E tem sido especialmente divertido ver esses jogos de Pequim por algumas histórias que se sobressaem. Desde as inevitáveis, no estilo Oprah - de superação e sacrifício - até os dramas mais rodriguianos. Essa história escabrosa da nadadora francesa Laure Manaudou é digna de aparecer na Márcia, por exemplo.
De resto, merece nota o completo descaso do governo brasileiro em desenvolver um projeto esportista no país; extremo oposto da neurose chinesa em ultrapassar os EUA em número de medalhas.

Em tempo: para onde foram os cachorros de Pequim?

terça-feira, agosto 12, 2008

Confidential

Já disseram que um mapa perfeito teria escala 1:1.
Também na crônica temos que nos contentar com os highlights da vida. Claro que fica a cargo do cronista saber o que vale a pena ressaltar de tudo que acontece no seu cotidiano.
Mas a bem da verdade é que não interessa contar tudo, evidentemente.
Muitas vezes fico meio cansado do blog, pensando até em matar o coitado. Acabo não o fazendo, já que depois de um tempo de vacas magras a vontade de contar algum pensamento, algum acontecimento, acaba retornando. E embora perdesse todos os possíveis leitores se contasse o que faço durante meus atuais morníssimos dias, ainda sim tenho alguns causos para relatar por aqui.
Alguns bastante interessantes. Emocionantes até.
Este aconteceu no final do ano passado, quando ainda morava em Londres.

Sabe quando os paranóicos que acreditam em teoria da conspiração dizem que muito do que acontece acaba sendo encoberto pelos agentes da matrix? Engravatados de preto e ponto no ouvido confiscam celulares e máquinas digitais, instruem as testemunhas ou simplesmente desacreditam as que escapam do pente fino. Pois bem, nada é mais verdade do que isso.
As pessoas não precisam ter visto um ovni para concordar comigo. Todo mundo testemunha alguma coisa e se espanta quando o que aconteceu é completamente destorcido pelo relato oficial. Quando o acontecido não é sequer descrito...

Meu "estive lá e vi" ocorreu em um bonito dia de inverno inglês, de muito sol e céu azul.
Estava em Southbank, na altura da Millenium Bridge quando pensei sentir um leve tremor no chão. Já disse aqui, em outra ocasião, que penso ter sentido o terremotinho que aconteceu no começo de 2007, cujo epicentro foi perto de Kent mas produziu efeitos mesmo em Londres. Então instantaneamente acreditei que se tratava de um novo protesto de Gaia.
Algumas das pessoas em volta também parecem ter percebido algo estranho. Mas depois de alguns segundos todos resolveram continuar suas vidas apressadas, e ninguém quis ser alvo de chacota, alardeando um temor infundado.
Entretanto, mais alguns instantes e um novo tremor. Este claro, assustador. Estava perto da entrada do antigo prédio de energia que agora abriga o Tate Modern, e comecei a olhar para as pessoas paradas, estáticas, ainda esperando os sinais da destruição: crateras abertas, estruturas desabando, gritos, correria.
Foi então que a cinquenta metros de onde estava, o chão começou a levantar em um certo ponto. Grandes pedaços de pedras, de asfalto e de terra começaram a rolar para os lados.
Empunhei minha câmera, que estava guardada no bolso, e dei um passo para trás.

O que aconteceu a seguir foi muito rápido. Aquilo saiu do buraco formado, pata depois de pata, já atacando os liliputianos transeuntes mais pertos, com uma agilidade surpreendente para um tamanho gigantesco daqueles. Antes de começar a correr, consegui mirar e fazer um registro.


(Maman, Louise Bourgeois. Foto minha)

quarta-feira, agosto 06, 2008

A fábula da qualificação

Há um consideravelmente longo tempo atrás...
Em um lugar relativamente distante...
Vivia um antropólogo, em sua não tão gloriosa tarefa de de escrever sua qualificação.
Um texto quase-texto: perto de terminar de ser escrito, perto de estar compreensível, perto de ter todas as idéias encadeadas.
Mas ainda sim, sempre incompleto.
O bloqueio maléfico era onipotente, e o reino em que trabalhava não queria financiar sua pesquisa...