segunda-feira, março 31, 2008

Uma festa

Dezembro. O frio já se abatia sobre a cidade. Só de lembrar das baixas temperaturas do começo do ano, sentia um misto de excitação e apreensão. O velho mundo é muito mais charmoso no inverno.
Contando que não houvesse neve, estaria tudo ótimo.
O trabalho andava a mil. Havia descoberto, algumas semanas antes, um pequeno tesouro na faculdade de Malinowski. Depois de achar que faltavam apenas pequenos detalhes para resolver e então poderia aproveitar as semanas derradeiras em stouts, ales e bitters, me peguei trabalhando praticamente durante todo o dia.
Mas vieram as visitas, e também não é que parei de aproveitar o que havia de bom e iria acabar logo.
Foi então que numa quinta-feira gelada, de garoa-quase-neve, encontramos uma festa para ir. Como na música dos brasilienses, estranha, com gente esquisita.
E num lugar bizarro. Era um antigo depósito de carga em King Cross, longe e escondido, agora usualmente usado pelo pessoal rave. Fiquei pendurado no telefone com a promoter, tentando entender onde tinha que virar à esquerda, direita, seguir reto, achar o posto, depois do pub...
Lá chegando achei que seria um fracasso. Nas vielas abandonadas, em meio a galpões velhos e fechados, carros enferrujados e muita escuridão, apenas os organizadores do evento, que se punham postados, de tempos em tempos, orientando os perdidos para onde ir. Mais ninguém. Pareciam tão solitários, parados no frio, no silêncio, como soldados esperando a próxima pessoa a pedir direções. Estranhamente, muito simpáticos e contentes.
Mas uma vez dentro, vi que havia muita gente. Como vieram e por onde chegaram permaneceu um mistério (e como foram embora, porque o lugar era realmente bem fora de mão, sem transporte coletivo depois de uma certa hora).
O mais interessante foi ver como eram os "étnicos" que mandavam no lugar. No centro da pista eram admirados e imitados - não muito bem, por sinal.
Invisíveis e pálidos nos escritórios e nas ruas, debaixo do estrobo e na frente dos falantes, eram diferentes. Fenômeno que vi outras vezes, como numa boate brazuca em plena Holborn.
Mas sou injusto. É a dor de cotovelo falando. Não existem mais festas assim em outras paragens.

3 comentários:

meme disse...

Putz, uma aguinha mineral teria sido tuuudo de bom! Hehee! I'll keep you posted!
E vamos lá, vamos lá, que o trabalho enobrece!
Bjs
m

J. disse...

Nessas festas sem autorização eu não estive em London, mas me lembrarei pra sempre de uma festa em que eu estava. Foi só eu sair pra fumar e ir ao banheiro que mudaram tudo de lugar e colocaram a Brixton Academy num barco cheio de plataformas que se mexiam e por isso me perdi dos meus amigos. Inacreditável.
Beijo e saudade!
Adoro a forma como vc escreve!

J. disse...

A festa metamorfética foi em London. Mexeu com meu labirinto. Acid.
Os relatos de Maceió e Buenos Aires eu ainda não lhe fiz? Desleixo, preciso fazer. Beijo, querido!