quarta-feira, abril 02, 2008

Estádios e times


Hoje o Guarani FC faz 97 anos. Na verdade fez ontem, mas convencionou-se adotar o dois de abril afim de evitar mal-entendidos e piadinhas sem graça.
Vi hoje que o projeto de salvação (renovação, aos mais otimistas) foi aprovado. O Brinco será vendido, se tornará mais um conjunto de prédios em uma área que está se valorizando na cidade, e o time terá um novo complexo mais afastado. Parece que o consenso é que era ou isso ou o desaparecimento do clube, afundado em dívidas, às vésperas do seu centenário.
Tal como acontece com a cidade, minha família é dividida entre bugrinos e ponte-pretanos. E, ao que parece, há gerações. Reza a cosmogonia e mitologia familiar que meu bisavô materno, Fernando, alemão oriundo de Hamburgo que abandonou seu ofício de ourivesaria para se tornar ferreiro em terras tupi (destino poético e trágico, em certo sentido), foi responsável por uma das arquibancadas do estádio Majestoso. Já meu avô, genro de Fernando, parece ter se envolvido com o rival carlos gomista desde muito cedo, também aparentemente através de seu pai, que ajudou em alguma reforma, em algum momento da história. Mas até a chegada da ovelha negra do meu tio mais novo, o destino familiar estava traçado, em prol dos bugrinos.
De minha parte, creio que não tendo nem para um lado nem para outro. Sempre fui simpático aos alvi-negros, que transmitiam uma áurea de romantismo quixotesco. Eram sempre os mais pobrinhos, mas nunca abandonavam o time ou a esperança (a tragédia maior parece remontar à famigerada final com o Corinthians em 1977). É, além disso, um clube que sempre gozou de boas relações com o mencionado Corinthians. Mas também sempre tive um certo carinho com o Guarani, com certeza devido à paixão paterna. O bom é que parti para uma terceira opção como torcedor e me abstive da tomada de partido.
Mas me entristece muito a notícia do acordo, ainda que concorde que é o menor dos males. Em minha terceira década como habitante deste planeta, já pude notar uma grande diferença na paisagem urbana. Onde morava era quase uma roça em comparação a hoje. Claro, é inevitável que coisas mudem. Mas é também angustiante ver certos marcos, tão visíveis e tão duradouros não se mostrarem... bem, duradouros. Não passar pela Princesa d'oeste e não ver o estádio será estranho. Lá estive, em 1988, na final com o mesmo Corinthians, vendo o Viola acabar com as esperanças verdes, e lá estive em outras ocasiões depois.
Deve ser algo parecido com o famoso trauma que enfrentaram os torcedores do Dodgers quando tiveram que mudar de estádio no Brooklyn (o que acarretou na mudança do time da cidade e desespero dos fãs), e que em breve enfrentarão os torcedores do Yankees, que verão a demolição do quase centenário Yankees Stadium, no Bronx, e também outro marco da cidade de Nova Iorque.

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