terça-feira, março 18, 2008

Cruzada pela moral e pelos bons costumes

Deu para o novo governador de Nova Iorque também admitir suas puladas de cerca - e o capacete de boi recíproco. Deve ter pensado que era melhor falar logo, que descobrirem e causarem um rebu - o que provavelmente aconteceria. Escândalo nos EUA é como mineração: depois que se descobre um veio, toda sorte de aproveitadores e carniceiros afluem como abutres pelo fedor e putrefação até que não reste nada além da memória dos ossos limpos.
Agora, essa honestidade em suspeita levanta algumas questões. A moral da história do paladino antecessor que foi pêgo com a boca na botija tem que ser que, o pior, não foi tanto a rendição às fraquezas da carne, mas a hipocrisia puritana. Isso em um país que leva muito a sério a correlação entre conduta e discurso. "Não mentirás", que para ouvidos sul-americanos soa como um estranho mandamento, é muito pior que "não roubarás".
De fato, há um grande mal estar quando os representantes eleitos do povo mostram-se menos que castos e honestos. O que é estranho, pelo menos no caso americano (e aqui também como no brasileiro), em que há uma desconfiança enorme no histórico moral dos políticos de carreira (talvez isso inclusive tenha agravado a situação de Spitzer, que definitivamente não tem o perfil de político profissional, mas que veio de um meio, digamos, menos suspeito. A traição parece maior).
Parece que a suspeita sempre paira, mas ainda causa choque quando ela se materializa de fato. O que me faz indagar o quanto isso é causado pelo ultraje moral e o quanto é pela decepção, talvez velada, pelo fato de que o cara, enfim, foi pêgo. Incompetente.
E não tem jeito, é como em outras esferas da vida pública - o que causa comoção são os crimes que envolvem sexo, traição. Esses dão ibope. Porque, afinal, não é o eleitorado que tira as maçãs podres do cesto, mas a pressão exercida pelas outras frutas reticentes e receosas da atenção recebida. Essa é razão pela qual fornicadores são guilhotinados e lobbistas, traficantes de armas e genocidas têm cargos vitalícios. Ainda que os corruptos e instigadores de violência estejam em círculos muito mais profundos que os luxuriosos na economia infernal dantesca.
Mas é evidente que não se pode esperar o fim do moralismo tacanho na política. As quatro paredes do poder ainda testemunharão, em silêncio, os horrores humanos. Se essas confissões têm um contexto todo especial para existirem, é importante lembrar que se trata de NY. Sabe quando isso aconteceria em... Utah, digamos?

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