terça-feira, agosto 01, 2006

Rex mundis

Eu gostei muito do primeiro Harry Potter. Na época a febre ainda não era tão horrenda. Ainda era livro de criança. Tanto que peguei emprestado da minha priminha, que na época morava em casa. Ela falou tanto do bendito que resolvi ler.
Mesmo antes de existir qualquer notícia sobre algum filme sobre o menino bruxo, já achava que era um personagem que beirava o plágio - não apenas visualmente. Uma mistura do que o Terry Pratchett e o Neil Gaiman já haviam criado, cada um à sua maneira, anos antes. Harry Potter é igualzinho ao Timothy Hunter! Se na Inglaterra for como nos EUA, eles ganhariam um processo contra a Rowling.
Enfim, de qualquer maneira eu gostei do livro. Achei que a Rowling fez bem a descrição de um mundo todo paralelo. Gostei da interação entre os personagens e fiquei até contente de ver uma trama interessante e ao mesmo tempo inocente.
Aí li o segundo e o terceiro. Já achei que a história ficou besta. Quase um soap opera de tanta linguiça. Era óbvio que o sucesso do primeiro levou a autora a diluir suas idéias e levar a trama em banho maria - o que, aliás, só iria piorar com a publicação dos outros livros e com o lançamento dos filmes. Depois veio o quarto, o quinto e o sexto. Mais por "agora quero saber como termina" do que qualquer outra coisa.
A bem da verdade é que, como outras coisas que me irritam profundamente (salários que não condizem com o que é feito, como acontece com jogadores de basquete americano, futebol...), uma historiazinha divertida perdeu todo o parâmetro no mercado literário. Não é exatamente sobre isso que quero falar, mas me deixa estarrecido o fato de autores medíocres tirarem espaço de pessoas com idéias muito melhores e técnica mais refinada. Sim, estou falando da senhora Potter, de Paulos Coelhos da vida. Não que isso seja exclusivo da literatura. Mas se há alguma coisa em que teoricamente alguém deveria sobressair pelo talento, é com a escrita.
No fundo tudo é oportunidade. Como exemplificam os urubus que vêm na traseira de um best-seller. Depois de Código da Vinci, vieram dezenas (sim, dezenas) de "decifrando o", "a verdade por trás do", "quebrando o", "invejando o"...
Mas comecei a divagar. Faço isso com facilidade. O fato é que comecei a escrever este post depois de ter visto uma notícia sobre o próximo e último livro do Harry Potter. A notícia dizia que John Irving e Stephen King pediram para que Rowling não matasse o protagonista de seus livros.
Foi aí que me dei conta do quanto as pessoas estão reféns da mulher mais rica da Inglaterra! Mesmo os outros escritores blockbusters. Sim, ela pode ferir milhões de coraçõeszinhos por aí se resolver que Harry Potter vai desta para melhor. A princípio o pedido parece muito besta. Besta seria também falar sobre ele. Algo como um sinal de como as questões públicas carecem de relevância, ou então sinal de como as pessoas estão cada vez mais dependentes de coisas supérfuas. Não há nada melhor para falar?
Mas há muito tempo cheguei à conclusão que a literatura não pode ser subestimada. Não acho que vale tudo. Ou melhor, acho que o vale tudo deve ser tomado com consciência. Depois não vai matar cantores cabeludos por aí e começarem a procurar relação com Salinger! E nem estou defendendo a sobrevivência do bruxinho! Só acho espantoso o quanto isso ficou importante.
E o que é mais intrigante (ou assustador): acho que a mulher não está nem aí. Para ela deve ser sinal que o sucesso absoluto foi alcançado e agora que ela pode mesmo fazer o que der na telha. Até pode dizer que vai matar o Potter porque se recusa a comprometer a história tal como ela deve ser e como foi imaginada (e a história pediria que ele fosse morto, como o personagem do último livro. Com o que, aliás, não concordo. Acho que ela matou o outro simplesmente porque queria seguir uma fórmula batida de "o mentor deve morrer para que o discípulo percorra seu próprio caminho". A bem da verdade é que não fez sentido nenhum ele ter morrido. Talvez ela tenha escrito nas coxas por causa de prazos. Ou talvez ela não seja realmente tão boa assim, não é?). Mas acho que ele morrerá (se morrer) simplesmente porque ela pode. Porque ela não precisa mais fazer isso. Não quer mais fazer isso.
Claro que eu poderia criticar o Lula, ou o Bush. A estes foram delegados poderes muito mais perigosos do que a influência de uma escritora medíocre (guardadas as devidas proporções). Mas, enfim, quem sabe se eles também pedirem, aí seria o sinal final de que o mundo está totalmente errado?

2 comentários:

cris disse...

sim, o mundo está completamente errado.
hahhahahhahahahaha!
o lula escrever pra autora nao matar o harry potter!!! aaaaaaaahahahahahahhahhhahaha....q loucura.

ah, e sobre a festa de peladoes, eu tb nao iria 'a seco'. hehehhe..

cris disse...

ops, no comentario ai em cima ficou parecendo q o lula já pediu.....

quem sabe agora no novo horario político, né?

aaaaaaaaafffffffffffffffffff.....