terça-feira, março 17, 2009

Paradoxos da vida moderna, ou beber sozinho não quer dizer desacompanhado

Lá pelos primórdios do orkut, fiquei fazendo parte de uma comunidade de / para insones. Naquela época (quando isso? 2004, 2005? Já não lembro. Preciso entrar numa comunidade de esclerosados...) sofria bastante com o problema. Ainda tenho minhas noites ingratas, mas a coisa melhorou bastante (tenho certeza que o sono vinha proporcionalmente com o prazo da dissertação; quero só ver como vai ser com a tese...). Tanto que saí da comunidade, que ficou um pouco pesada para mim depois de um tempo. Ficar com gente com a mesma aflição não ajuda de fato, ainda que sirva para dar certa perspectiva (é por isso que nunca entrarei em qualquer sociedade de auto-ajuda).
Como tem gente fodida nesse mundo.
Enfim, nessa época, fiz umas amizades com umas figuras interessantes. Um casal virá a propósito deste post. Um casal bastante insólito também. Basta dizer que ela era um amor de pessoa, trabalhava em um hospital psiquiátrico voluntariamente, mas tinha algum problema com bebida (além da supracitada insônia); ele era também muito engraçado, mas briguento, rabugento e neo-nazista convicto (e, claro, insone). Além disso, sofria de algo mais sério que não conseguir dormir: tinha um aneurisma cerebral que deveria ser eventualmente operado, fato que os levou para a Alemanha posteriormente.
Todo esse preâmbulo para contar que ela era minha parceira de bebedeira virtual - ainda que real. Se é que você me entende.
Hoje que me caiu a ficha que este era um tipo de sociabilidade totalmente pós-moderno (na minha nova acepção do termo). Impessoal, mas extremamente íntimo - porque prescinde das inibições da realidade. E para o qual eu não estava nem um pouco ciente ou preparado (estamos alguma vez?). Além de completamente inconcebível para quem acredita que a possibilidade de se inventar é sinônimo de mentira ou engano (afinal, quem disse que as informações tomadas "cara a cara" mostram qualquer coisa de essencial sobre o outro?)
Ao longo de alguns meses, consumimos algumas garrafas de vodka (ou whiskey) online, até eu perceber que isso não ajudava com a insônia e que no fundo era algo bastante triste, ainda que divertido. Ou seja, repleto das contradições da vida urbana atual que estão sendo apenas descobertas e mapeadas pelos nossos filósofos e literatos de plantão. Antes tarde do que nunca, claro...
Mas havia algo de muito atraente e sedutor na idéia da ebriedade (existe isso?) à distância. É como se não fosse necessário etnografar os buracos sujos da cidade para suprir a dose de boemia e decadência, que tanto são valorizadas no lixo neo-qualquer coisa na literatura alternativa de hoje. Ainda que, devo confessar, uma coisa não substitui a outra - ainda que principal diferença seja apenas em grau. Mas chega surpreendentemente perto. Pelo menos em termos de descobrimento e iluminação pessoais.
Depois de Geertz, qualquer antropólogo que se preze aprendeu a desconfiar do poder e autoridade do testemunho e da necessidade de "sujar as mãos" para obter algo "verdadeiro".
Enfim, fiquei um algum tempo depois disso ainda escrevendo recados bêbados para uma outra amiga minha - e vice-versa. Quando voltava de alguma balada, ou quando jogava pôker na internet com um cachimbo e um copo de whisky do lado e nem via mais os naipes direito, indo dormir quando o sol raiava. Mas hoje em dia, a única coisa que eu consigo fazer quando volto de uma balada é me encolher em uma bola e dormir...

Epa! E eis que descobro a solução para a insônia! Será algo da idade?

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