quinta-feira, abril 06, 2006

Naked anthropology

Pois é, assisti o sitcom do antropólogo. O cara é um doutor por Oxford que vai lecionar na universidade de Montreal, sobre antropologia sexual e (não) utilizando seus dados etnográficos sobre o assunto em sua própria vida pessoal.
Mas sei lá, não tenho certeza do que achei. Por um lado, "putz, finalmente alguém pode ter alguma idéia do que faz um antropólogo além de aparecer no Faustão falar besteira". Por outro, "putz, que idéia vão ter do que faz um antropólogo?!"
Antes de mais nada... a antropologia é só o pano de fundo para mais uma série sobre encontros e desencontros amorosos, ou há algo mais por trás? Tipo, a antropologia pode saber tudo sobre sexo em teoria, mas na hora H... o cara é um banana com as mulheres. Claro, é um duro golpe na altivez e na soberba antropológicas, mas ao mesmo tempo será que não é exatamente isso?
Engraçado que hoje mesmo, à tarde, no msn, conversava com uma amiga antropóloga (quero ver o que ela vai achar disso quando ler...), que está naquela tenebrosa fase de mandar um texto para qualificação. Comentei sobre uma matéria que a Dani está fazendo e que parece ser muito boa, assim como a professora - se não me engano a única do departamento com quem nunca tive aula. Já a ouvi falar e sei que ela é foda, mas nunca fui seu aluno.
Bom, o fato é que, conversa vai, conversa vem, falávamos de sua pesquisa. Para não dar com a língua entre os dentes e entregar sua identidade, digamos apenas que é algo pesado. E ficamos falando sobre a esquisitice de imaginá-la fazendo campo com este tema. Sim, pode ser preconceito puro. Por que nossos professores não podem "take a walk on the wild side" como qualquer um de nós alunos "descolados"?! Idade não é igual a caretice, com certeza.
Mas que é estranho é.
E na verdade minhas inquietações vêm de antes. Estranhava o fato de sempre sermos ensinados que a teoria antropológica pode ser aplicada virtualmente a tudo, até à ela mesma, mas inexistirem dissertações sobre certos temas. Ou se surgem parecem sempre beirar o simples jornalismo ou de mostrarem uma ignorância flagrante sobre aspectos importantíssimos sobre tal assunto. Talvez isso esteja mudando, devo salientar. Já sei de pesquisas bem interessantes sobre subculturas de deixar o cabelo em pé os mais pervertidos. Raios, homossexualidade e todo seu universo, turismo sexual e prostituição já ocupam a agenda de pesquisa de várias pessoas. O problema é que sempre tem algo mais sujo e mais inacreditável em algum porão (conectado, evidentemente à internet), como os genitapófagos alemães, por exemplo.
Enfim, me parece engraçado o fato de que esta realidade analisada e interpretada (e de certa maneira, imortalizada e sacralizada) nas monografias, parecer estar quase totalmente dissociada e descolada de um certo cotidiano laico das pessoas que vivem tal realidade. Ao ponto de vermos nossa bibliografia, tão venerada, fazer tanta besteira nas quebradas dessa vida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Na mosca, Chris.
Adorei.
Claro que somos preconceituosos...
Mas o que pega é o descompasso entre o que se diz e o que se faz, como já dizia o bom e velho Malinowski - que na altura não devia nem sonhar o que um dia aconteceria com seus diários...
Sei lá... será que o habitus acadêmico não acaba permitindo que fiquemos assim, tão contraditórios?
Talvez se a antropologia vivesse fora do meio científico, as coisas fossem um pouco diferentes...
Mas aí, talvez também não fosse mais a antropologia!

Beijinhos!

Sua amiga gestante de qualificação