terça-feira, novembro 24, 2009
Sobre eventos da política nacional
Diga-me com quem andas e direi quem és (devaneios de uma madrugada insone).
segunda-feira, novembro 23, 2009
Samcro
Sempre em busca de novos seriados interessantes, acabei encontrando uma gema, Sons of Anarchy.
Os personagens são inteligentemente criados e as situações muito bem boladas. Mas é a idéia de contar toda uma subcultura de desajustados, que nos EUA existem aos borbotões, mas são convenientemente relegados aos rodapés da história tal como ela é narrada nos meios midiáticos mais usuais, que me cativou profundamente.
Se trata de uma família de motociclistas, totemicamente ligados ao Grim Reaper, sobreviventes ou subprodutos da contra-cultura do Oeste americano - insatisfeitos com o establishment do que acreditam não ser o verdadeiro espírito do país - que participam de uma série de desventuras fora-da-lei em sua tentativa de dar sentido a um ideal libertário que, ademais, inflama outros tantos malucos por lá com suas próprias versões de como consegui-la.
Mas a história toda clama por uma análise antropológica, do parentesco, das fissuras e conexões estabelecidas entre os diversos grupos e segmentos (que se unem em determinadas ocasiões, contra outros clubes), em sua lógica, regras e moralidade particulares e paralelas de como levar a vida. Coisa que, aliás, tenho pensado desde que li o livro dos Hell's Angels do Hunter Thompson, praticamente uma monografia etnográfica das gangues de motociclistas da costa oeste dos Estados Unidos (escrita no começo da carreira do Thompson, se não me engano).
Recomendadíssima.
Os personagens são inteligentemente criados e as situações muito bem boladas. Mas é a idéia de contar toda uma subcultura de desajustados, que nos EUA existem aos borbotões, mas são convenientemente relegados aos rodapés da história tal como ela é narrada nos meios midiáticos mais usuais, que me cativou profundamente.
Se trata de uma família de motociclistas, totemicamente ligados ao Grim Reaper, sobreviventes ou subprodutos da contra-cultura do Oeste americano - insatisfeitos com o establishment do que acreditam não ser o verdadeiro espírito do país - que participam de uma série de desventuras fora-da-lei em sua tentativa de dar sentido a um ideal libertário que, ademais, inflama outros tantos malucos por lá com suas próprias versões de como consegui-la.
Mas a história toda clama por uma análise antropológica, do parentesco, das fissuras e conexões estabelecidas entre os diversos grupos e segmentos (que se unem em determinadas ocasiões, contra outros clubes), em sua lógica, regras e moralidade particulares e paralelas de como levar a vida. Coisa que, aliás, tenho pensado desde que li o livro dos Hell's Angels do Hunter Thompson, praticamente uma monografia etnográfica das gangues de motociclistas da costa oeste dos Estados Unidos (escrita no começo da carreira do Thompson, se não me engano).
Recomendadíssima.
sexta-feira, novembro 13, 2009
Navegar é preciso - versão saxã
Há alguns anos, em uma viagem com meu pai - que, por sinal, anda bastante pelo mundo - adquiri o hábito de procurar meu sobrenome nas listas telefônicas dos lugares em que vou.
Nesse mês passado encontrei uns dois ou três em Buenos Aires. Mas em Auckland, nada de nenhum dos representantes de Casteveltere in Val Fortore overseas.
Isso então me levou a pensar sobre o fato de quase não haver brasileiros por lá, pelo que tenha visto.
Até os últimos dias de estadia, inclusive pensei que não fosse ouvir português nas ruas - mas acabei ouvindo, uma vez, no ônibus, já no final da viagem.
Aí fiquei pensando nessa coisa da Nova Zelândia ser uma referência quase nula para os brasileiros. Exatamente por não ter quase nada que remeta a alguma idéia de familiaridade com o lugar. É a terra média e pronto.
"É longe demais", pensei.
Só que, estranhamente, ouvi muito alemão enquanto estive lá. Mas a Alemanha é longe também. Qual seria a razão disso?
Claro, o poder aquisitivo do pessoal das terras teutônicas é ligeiramente maior que o nosso, o que permite certa potencialidade de sair do país. E de fato, havia vários turistas. Mas havia também muita gente trabalhando e estudando lá.
Ao contrário da referência brazuca, que costuma mirar na Europa Ocidental e no velho Tio Sam, os amigos saxões acabam indo também para outros sítios.
Conversando com um casal alemão num jantar, certa noite, a mulher disparou: "vim estudar aqui porque é o lugar mais distante possível da Alemanha na Terra".
"Claro", pensei, "quem aguenta ficar a vida inteira naquela terrinha gelada onde tudo acontece certinho?"
Mas fiquei imaginando se não havia também um resquício do ethos germânico dos exploradores, aventureiros e colecionadores de curiosidades do mundo. Um certo complexo de Humboldt que impulsiona essa galera para fora (afinal, que alemão que se preze continua na casa dos pais depois da maioridade?).
Um pouco aquela idéia de pegar um globo, fechar os olhos e colocar o dedo em algum pedacinho esquisito e desconhecido. "É lá mesmo que vou me encontrar".
Nesse mês passado encontrei uns dois ou três em Buenos Aires. Mas em Auckland, nada de nenhum dos representantes de Casteveltere in Val Fortore overseas.
Isso então me levou a pensar sobre o fato de quase não haver brasileiros por lá, pelo que tenha visto.
Até os últimos dias de estadia, inclusive pensei que não fosse ouvir português nas ruas - mas acabei ouvindo, uma vez, no ônibus, já no final da viagem.
Aí fiquei pensando nessa coisa da Nova Zelândia ser uma referência quase nula para os brasileiros. Exatamente por não ter quase nada que remeta a alguma idéia de familiaridade com o lugar. É a terra média e pronto.
"É longe demais", pensei.
Só que, estranhamente, ouvi muito alemão enquanto estive lá. Mas a Alemanha é longe também. Qual seria a razão disso?
Claro, o poder aquisitivo do pessoal das terras teutônicas é ligeiramente maior que o nosso, o que permite certa potencialidade de sair do país. E de fato, havia vários turistas. Mas havia também muita gente trabalhando e estudando lá.
Ao contrário da referência brazuca, que costuma mirar na Europa Ocidental e no velho Tio Sam, os amigos saxões acabam indo também para outros sítios.
Conversando com um casal alemão num jantar, certa noite, a mulher disparou: "vim estudar aqui porque é o lugar mais distante possível da Alemanha na Terra".
"Claro", pensei, "quem aguenta ficar a vida inteira naquela terrinha gelada onde tudo acontece certinho?"
Mas fiquei imaginando se não havia também um resquício do ethos germânico dos exploradores, aventureiros e colecionadores de curiosidades do mundo. Um certo complexo de Humboldt que impulsiona essa galera para fora (afinal, que alemão que se preze continua na casa dos pais depois da maioridade?).
Um pouco aquela idéia de pegar um globo, fechar os olhos e colocar o dedo em algum pedacinho esquisito e desconhecido. "É lá mesmo que vou me encontrar".
quarta-feira, novembro 11, 2009
O último que sair...
Eu já reclamando da cpfl ou achando que tinha pifado algum transformador nas redondezas, odiando porque ia perder a final da world series do poker, ao vivo, quando volta a luz e descubro, ouvindo os caras da narração, que estavam falando que foi difícil chegar no estúdio para gravar o programa porque o trânsito em SP estava maluco com a falta de luz, que na verdade o apagão não foi somente no meu bairro, mas em grande parte do sul, sudeste e centro-oeste do país, além do Paraguai e Argentina.
Talvez alguém tenha tropeçado em algum fio em Itaipu.
E me lembrei do apagão lá pelos idos de 1999. Na época estava no ginásio da unicamp - num show que me recuso a dizer qual era, mas se alguém quiser pesquisar para me envergonhar depois... taí o google.
Na ocasião havia ido, então, no breu, ao falecido Karambar, onde a luz, finalmente, voltou, de madrugada, para embaraço dos mais assanhados lá presentes.
Será que os papos de pane energética no país, que há uma década competiam, alarmistas, com o medo de uma falta de água potável num futuro próximo, mas que foram esquecidos por completo, irão voltar? Junto com a novela toda da transposição do São Francisco?
Talvez alguém tenha tropeçado em algum fio em Itaipu.
E me lembrei do apagão lá pelos idos de 1999. Na época estava no ginásio da unicamp - num show que me recuso a dizer qual era, mas se alguém quiser pesquisar para me envergonhar depois... taí o google.
Na ocasião havia ido, então, no breu, ao falecido Karambar, onde a luz, finalmente, voltou, de madrugada, para embaraço dos mais assanhados lá presentes.
Será que os papos de pane energética no país, que há uma década competiam, alarmistas, com o medo de uma falta de água potável num futuro próximo, mas que foram esquecidos por completo, irão voltar? Junto com a novela toda da transposição do São Francisco?
quarta-feira, novembro 04, 2009
"Citizen and Subject"
Hoje assisti, com algum atraso, Distric 9, o filme produzido pelo Peter Jackson que estava dando o que falar.
Tenho ido muito pouco ao cinema ultimamente. Em parte porque nada de bom tem sido feito, em parte porque estou ficando biruta com a tese. Acho que os últimos filmes que tinha ido assistir na telona foram Up e Era do Gelo 3.
Ambos em 3D.
Nem o do Tarantino acabei vendo - apesar que estou achando que vou me decepcionar com o tal...
Mas nesses dias de calor, saariano, com a pouca produtividade acadêmica ainda mais debilitada, acabei fugindo para o ar condicionado, siberiano, da sala de cinema com minha bat-companheira de filmes.
A idéia me parecia bastante interessante. Algo sobre uma analogia sobre o apartheid (na África do Sul, para dissipar qualquer possibilidade de não compreensão da referência) com aliens que tiveram que parar, por motivo de força maior, nesse planetinha esquisito e infeliz, o terceiro da órbita solar - para trocar o estepe, ou encher uma garrafa pet de gasolina, algo asssim (me lembrei da notícia dos franceses que foram rapelados numa faleva do Rio porque o GPS do carro deles pode até identificar radar, mas não considera IDH).
A velha história do deslocamento e do varrer para baixo do tapete.
Arrisco dizer que aconteceria o mesmo se eles tivessem ido parar em Toronto e não em Johannesburg (mas reconheço que deram azar os coitados. Pior apenas seria se tivessem acabado na Faixa de Gaza...).
E o começo parecia mesmo ser promissor. Referências explícitas ao multiculturalismo tenso da África do Sul, bem como sobre o genocídio de Ruanda - e tasca Mamdani neles (tutsi aqui não são baratas, mas camarões; ainda que os tais aliens pareçam mais baratas mesmo)!
(Eco, talvez, da idéia de que a África é uma coisa só?)
Achei bem interessante a sapatada na ONU e nas "agências humanitárias" e as cooperativas (geralmente escandinavas ou americanas) nós-cegas que patinam, soberbas, em nome de uma política "esclarecida" e altruísta, mas que operam basicamente com a mesma lógica paternalista do período colonial (resta fazer documentário premiado para passar no GNT, não é?).
Só que achei a narrativa meio confusa (sei que era intencional, propositalmente evitando explicar tudo tintim por tintim; mas...). Um pouco perdida nas nojentices e na ação, a meu ver, demasiada (a proposta não era ser um blockbuster de ação - mesmo pecado cometido pelos demais Matrix, aliás, que passaram do ponto).
Nojentice, aliás, que deve ter sido bem a gosto do Peter Jackson, relembrando sua fase Bad Taste e Braindead (sim, ele fez algo bom na Nova Zelândia antes dos hobbits e orcs).
Mas no geral saí satisfeito. Veria a continuação.
Nota - Todo mundo deve estar agora escrevendo sobre o Lévi-Strauss, que aguentou firme, centenário, para poder enterrar boa parte dos pós-estruturalistas e pós-modernistas pentelhos.
Quem sabe uma outra hora falo mais sobre o autor que me maravilhou e me irritou nesses anos todos de antropologia. Mas não agora.
Digo apenas que depois dele realmente não existem mais grandes pensadores humanistas.
Tenho ido muito pouco ao cinema ultimamente. Em parte porque nada de bom tem sido feito, em parte porque estou ficando biruta com a tese. Acho que os últimos filmes que tinha ido assistir na telona foram Up e Era do Gelo 3.
Ambos em 3D.
Nem o do Tarantino acabei vendo - apesar que estou achando que vou me decepcionar com o tal...
Mas nesses dias de calor, saariano, com a pouca produtividade acadêmica ainda mais debilitada, acabei fugindo para o ar condicionado, siberiano, da sala de cinema com minha bat-companheira de filmes.
A idéia me parecia bastante interessante. Algo sobre uma analogia sobre o apartheid (na África do Sul, para dissipar qualquer possibilidade de não compreensão da referência) com aliens que tiveram que parar, por motivo de força maior, nesse planetinha esquisito e infeliz, o terceiro da órbita solar - para trocar o estepe, ou encher uma garrafa pet de gasolina, algo asssim (me lembrei da notícia dos franceses que foram rapelados numa faleva do Rio porque o GPS do carro deles pode até identificar radar, mas não considera IDH).
A velha história do deslocamento e do varrer para baixo do tapete.
Arrisco dizer que aconteceria o mesmo se eles tivessem ido parar em Toronto e não em Johannesburg (mas reconheço que deram azar os coitados. Pior apenas seria se tivessem acabado na Faixa de Gaza...).
E o começo parecia mesmo ser promissor. Referências explícitas ao multiculturalismo tenso da África do Sul, bem como sobre o genocídio de Ruanda - e tasca Mamdani neles (tutsi aqui não são baratas, mas camarões; ainda que os tais aliens pareçam mais baratas mesmo)!
(Eco, talvez, da idéia de que a África é uma coisa só?)
Achei bem interessante a sapatada na ONU e nas "agências humanitárias" e as cooperativas (geralmente escandinavas ou americanas) nós-cegas que patinam, soberbas, em nome de uma política "esclarecida" e altruísta, mas que operam basicamente com a mesma lógica paternalista do período colonial (resta fazer documentário premiado para passar no GNT, não é?).
Só que achei a narrativa meio confusa (sei que era intencional, propositalmente evitando explicar tudo tintim por tintim; mas...). Um pouco perdida nas nojentices e na ação, a meu ver, demasiada (a proposta não era ser um blockbuster de ação - mesmo pecado cometido pelos demais Matrix, aliás, que passaram do ponto).
Nojentice, aliás, que deve ter sido bem a gosto do Peter Jackson, relembrando sua fase Bad Taste e Braindead (sim, ele fez algo bom na Nova Zelândia antes dos hobbits e orcs).
Mas no geral saí satisfeito. Veria a continuação.
Nota - Todo mundo deve estar agora escrevendo sobre o Lévi-Strauss, que aguentou firme, centenário, para poder enterrar boa parte dos pós-estruturalistas e pós-modernistas pentelhos.
Quem sabe uma outra hora falo mais sobre o autor que me maravilhou e me irritou nesses anos todos de antropologia. Mas não agora.
Digo apenas que depois dele realmente não existem mais grandes pensadores humanistas.
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