Essa história aconteceu em Campinas, por volta da década de 1950.
Os três irmãos moravam num sobrado, de frente ao bosque dos jequitibás - naquela época ainda sem cerca e muito maior: A região era como um bairro de chácaras.
Quem primeiro morou ali foi o avô dos três, um sisudo ferreiro alemão vindo de Hamburgo e de nome abrasileirado, Fernando. Mas Ferdinand na certidão e Fritz para a família - o que não deixava esconder seu lado saxão, como quando ouvia clandestinamente a rádio de Berlin. Vibrava quando um navio aliado era afundado, para desespero de sua esposa, Clementina, descendente da bota (que mostrou ter razão: Fritz de fato chegou a ser preso por algum tempo, dedurado por um vizinho cioso).
Nesta casa os três irmãos dormiam juntos em um quarto que dava para o bosque. No quarto havia uma grande janela. E enfileiradas e alinhadas com a janela, três camas - sendo uma exatamente debaixo da finestra. Por acaso era a do irmão mais novo.
Os dois mais velhos, gostavam de assustar e infernizar a vida deste, como sói acontecer na dinâmica fraternal, e aproveitaram os eventuais rugidos das onças - que nessa época ainda podiam ser encontradas no bosque - para aterrorizá-lo, dizendo que ela estava com fome e vinha buscar comida na casa, entrando, sorrateira, na primeira janela que encontrasse. O pequeno irmão foi informado, então, que já era, inevitavelmente, comida de onça.
Este se pôs a chorar copiosamente, e quando a mãe dos meninos veio ver o que acontecia, ele contou, em meio aos soluços, a história de seu trágico e gastronônico fim. A mãe evidentemente brigou com os filhos mais velhos e fez com que trocassem de lugar, deixando o pequeno na cama mais distante da janela e, logo, da onça faminta.
Mal ela saiu e o menino sossegou, seus irmãos disseram que a onça havia ficando com tanta fome, e agora estava com tantas ganas de conseguir comida, que daria um pulo tão grande que passaria sobre as duas primeiras camas e aterrizaria direto sobre o infeliz ocupante da cama mais distante.
E o choro recomeçou, com intensidade dobrada.
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Um comentário:
Deus é pai e me fez filha mais velha!
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