Seguindo com a série de posts inspirados pelo blog da Carol, falo hoje sobre a vez em que usei um cartão de crédito pela primeira vez no Brasil.
Era o ano de nosso Senhor de 2002 (se acreditarmos em Gregório). Eu e Dani havíamos conseguido emprestada uma linda casinha nos campos rio-grandenses, dos pais de um orientando do meu pai (olha a picaretagem).
Era um chalezinho, nos arredores de Gramado, onde (presumidamente) iríamos para a XXIII reunião da ABA.
Do congresso em si vi muito pouco. Como não ia apresentar, procurei os eventos que mais me interessavam. Foram poucos. Vi uma palestra muito boa da Eunice Durham, um mesa redonda bem interessante sobre homossexualidade, com o Sérgio Carrara, e a palestra de abertura com o Adam Kuper, que viria a ser meu co-orientador, cinco anos depois, nesta empreitada britânica (que, me contou, lembra bem deste dia. Ficou assustadíssimo com a quantidade de antropólogos que lotaram o salão. Seu departamento, na Brunel, conta com apenas uma meia dúzia de pessoas. E ele confidenciou que não existem tantos antropólogos assim na Inglaterra e todos mais ou menos se conhecem. Mesmo sobre a grandiosidade de um congresso da triple A americana, relativizou dizendo que todos são meio setorizados e raramente aparecem em massa em um mesmo evento).
Mas basicamente ficamos comendo fondue, tomando chocolate quente e passeando pela bela cidade de Gramado (e demais localidades gaúchas, nos deliciando com o pecaminoso café colonial)! (Continua a picaretagem).
A viagem em si daria um post à parte... Bom, aproveito e conto aqui vai...
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A viagem que quase não aconteceu e como ir de Cumbica a Congonhas em meia hora no rush paulistano:
Para irmos para a ABA, sem financiamento de qualquer agência ou do departamento, compramos dessas passagens, baratinhas, pela Gol. Embarcamos, ali no glorioso - e já não mais tão prostituído - largo do Pará, num Caprioli, rumo a Guarulhos.
Opa, Guarulhos? A Gol não opera em Guarulhos! Tonto, estava tão acostumado a tudo ser em Cumbica que nem me liguei. Só quando não achamos nenhum guichê da dita compania aérea é que um tiozinho nos explicou que deveríamos estar em Congonhas!
Perderíamos o avião? Não! Por sorte (depende do ponto de vista) encontramos um taxista com tendências suicidas (ou complexo de piloto de corrida, o que também explicaria seu modus operandi atrás do volante), que nos levou, abrindo caminho, passando de uma faixa para outra numa velocidade vertiginosa, em meio ao selvagem trânsito paulistano de uma manhã de dia de semana, até o outro aeroporto de São Paulo, ali perto do Jabaquara. Tudo bem que a corrida custou tanto quanto uma passagem para POA, mas enfim...
Seguiu-se cena de filme. Correndo com as malas, passando e trombando com passageiros, num dia movimentadíssimo, para pegar a última chamada e entrar na aeronave.
Tudo muito bem, depois dos batimentos cardíacos voltarem para um nível fora de perigo, fizemos uma boa viagem. Nenhuma turbina pifou ou janela caiu.
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Continuando a história de... Como se ferrar conscientemente, ou dos arrependimentos premeditados:
Em Porto Alegre, nos dirigimos para uma locadora e pedimos o carrinho mais barato, que veio a ser um gol (me lembraria dele com carinho depois, quando troquei meu carro). Mas a diária já era um absurdo. E com o seguro, quase dobraria. Mas não tinha jeito, o tal chalé ficava no meio de uma estradinha, longe da cidade. Um carro seria imprescindível. Falei então para a moça da agência: "Vai sem seguro mesmo, dona". Ela: "Tem certeza?", num tom que deixava claro que me considerava um estúpido irresponsável.
Vamos lá Murphy, não me faça bater o carro ou ser roubado!
Bom, acontece que Murphy parecia ter tirado uma folga, ou estava bebendo um chimarrão e comendo churrasco, porque não aconteceu nada demais nos dias que se seguiram e pudemos economizar uns bons trocados.
Uma semana depois, saciados de fondue (e nem tanto com a seleção, que jogava mais ou menos e apenas nuns horários tipo 4 da manhã - lembre-se que isso foi na época da Copa da Coréia e Japão) e de GTs (haha, até parece), voltamos para POA e devolvi o carro inteiro.
A diária terminava às 12 e o vôo para SP era apenas no final da tarde, mas felizmente o idealizador do belo aeroporto Salgado Filho é um gênio, e colocou salas de cinema para os passageiros aborrecidos (dica para a Infraero: se é muito demorado construir novos aeroportos para desafogar o caos atual, porque não construir uns cinemas ou teatros improvisados? Aposto que a irritação dos passageiros diminuiria consideravelmente assistindo o novo filme do Harry Potter ou Shrek).
Assistimos Blade, aquele filme com o Wesley Snipes. Mas mesmo assim sobrou muito tempo para matar (outra boa surpresa: havia uma sessão de empréstimo de livros).
Passeando pelo saguão, eis que uma moça me chama a atenção para uma promoção: "moço, gostaria de receber uma assinatura grátis?" Veio um discursinho ensaiado de como a editora dispunha dos mais variados e incríveis títulos, para todos os gostos: revistas de esportes, variedades, fofoca, arquitetura e construção, design, carros, informática... (será que veio daí meu trauma com pessoas que abordam na rua? Aliás, parêntesis, hoje estava impossível andar no centro! Uma meia-dúzia de voluntárias bem intencionadas me parou. E hoje até os Hare Krishnas estavam presentes, provendo a trilha sonora para uma volta pela Oxford Street!)
Fiquei com dó da moça que era invariavelmente ignorada (saberia depois o porque) e que disse que aquilo pagava a faculdade dela (hoje eu tenho minhas dúvidas, não sei se foi apenas chantagem emocional).
Não entendi muito bem como ela poderia ganhar dinheiro distribuindo assinaturas grátis, mas aceitei assinar uma revista de carros (os tais incríveis títulos não eram tão incríveis assim. Peguei a menos pior).
Lá pelas tantas, ela pede meu número de cartão de crédito.
"Como?"
É grátis apenas nos seis primeiros meses, me falou, já meio triste, prevendo que mais um cliente lhe escaparia por entre os dedos...
Suspirei fundo e, mesmo sabendo que me arrependeria cinco minutos depois, continuei a transação.
Por anos recebi a tal revista - que tal como vinha, ia: para o lixo. Não li nenhuma, nunca. Claro que comecei a receber as faturas também, já que nunca me lembrava de cancelar a assinatura, que era renovada automaticamente todo início de ano, quando eu estava ocupado demais com a ceia e as férias pra me importar.
Só parei de pagar a tal revista quando um dia, finalmente, cancelei o cartão - que enquanto existiu, foi usado apenas para isso.
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Um comentário:
Carolina está se deliciando com os posts!
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