(Limito minha crítica à Jane Fonda versão malhação... hehe)
Da série de posts dedicados à minha amiga Carolina, vai aí um sobre academias... (sugiro aos que se interessem por saber mais da cultura dos halteres e esteiras ergométricas que leiam o texto intitulado "O último reduto da maromba", postado no Jornalista de Merda - linkado aí ao lado)
Não gosto de academia.
Nunca gostei. E acho que não gosto de nenhum aspecto dela. Nada se salva: a música bate-estaca, a neura dos instrutores e dos outros frequentadores, o ambiente histriônico, as conversas monótonas e repetitivas (convenhamos, o tipo de conversa é o simétrico oposto de conversa de bar, minha paixão).
E juro que tentei frequentar. Por 3 vezes!
A primeira das fracassadas tentativas foi numa academia de Barão - minha xará, aliás. Decidido que iria engolir minha aversão ao templo da maromba moderna pasteurizada, resolvi pagar a matrícula e uma mensalidade antes mesmo de fazer a tal aula-grátis. Doendo no bolso eu inevitavelmente me forçaria a ir. Pelo menos essa era a idéia.
Não durou nem um dia. Odiei o lugar e passei mal, quase desmaiando ao tentar levantar uns pesinhos mequetrefes. Me deu um ataque de pânico como nunca tinha experimentado antes. Pior que meu medo de altura!
Anos se passaram. Estava convicto que nunca mais pisaria em um lugar em que a música parece estar no repeat, a cor do bronzeado das pessoas te dá medo e você pode ficar surdo com os gritos das instrutoras de step.
Quer dizer, convencido que estava com problemas de joelho, acabei entrando em uma versão mais light de academia: uma de hidroginástica, na qual fiquei por um tempo e em que uma ex-colega de colégio era instrutora (a quantidade de colegas que foram fazer educação física e fisioterapia é impressionante! E eles ganham muito mais dinheiro do que eu sequer posso sonhar em vir a ganhar!). Lá levava um couro das velhinhas com bóias e pranchas (mais novo do que eu, apenas a Dani. De resto, todos tinham pelo menos 20 anos a mais do que nós. E de representantes do sexo XY, apenas o que vos fala). O negócio era hardcore! Os meus pobres músculos preguiçosos pareciam queimar ao correr debaixo d'água! Saía exausto de lá, com uma fome grotesca! Como as velhinhas aguentavam eu não sei... me sentia naquele filme da Courtney Cox, Cocoon.
Bom, alguns anos depois me mudei pra cidade e decidi, junto com a Dani, tentar levar uma vida mais saudável. Menos sal, menos açúcar, sem frituras e... academia! Ajudou o fato de que meus primos têm uma perto de casa. Senão o orçamento não permitiria.
Mas de novo não rolou. Na época da dissertação, deixei as séries e repetições de lado para ficar na frente do inimigo número um dos instrutores - o computador - e não mais voltei. Mesmo depois do mestrado defendido.
Mas todos sempre me cobravam para voltar. "É de graça, por quê não aproveita?", ouvia toda a semana. Fiquei meses com medo de encontrar meus primos porque sabia que viria um sermão pela frente, ou então aqueles encorajamentos que de fato não encorajam nadica de nada: "e aí primo, quando a gente vai encher essa camisa de músculos?". Isso lá é coisa que se diga para um membro da família?
De fato eu era bem tratado (familiar dos donos é outra história). Eu tinha um instrutor que me dava atenção especial, sempre me falando que eu segurava errado algum aparelho (ô frescura). O apelido da criança era Cavalo, e ele foi campeão mundial de queda de braço algumas vezes (vai vendo). Mas não era esse o ponto.
Depois de alguns meses acabei me rendendo aos apelos e tentei novamente. Mais umas semanas passando vergonha, ao não conseguir alcançar nem os dedos dos pés na sessão de alongamento, pedalar menos que a senhora do lado e levantar menos peso que adolescentes com 15 anos a menos (as meninas. Porque com os meninos nem dá pra competir. Repararam no tamanho dos adolescentes de hoje em dia? Falando em síndrome de Adônis...). E pior: não parecia haver progresso algum!
Bom, cheguei à conclusão de que não dava. Chega! Não mais!
Mas de aniversário pedi uma bicicleta (eeeeeeeee), pra tentar manter a forma de outra maneira (alarmado com o fôlego inexistente e o aparecimento de dores nas juntas). Sempre achei que uma das piores coisas da academia era o fato de ser indoors, aquela coisa claustrofóbica. E como quando mais novo adorava pedalar e passear pelo bairro...
Bom, a bicicleta, que lembra mais uma abelha - preta e amarela - está lá, parada, na casa da minha mãe. Mas eu ainda pretendo andar quando voltar, agora preparado por léguas de andanças londrinas.
Post scriptum: No final do ano passado passei um dia em São Carlos, famosa por sua fartura na cozinha. Comi um sanduíche gigantesco num boteco que dava de frente para uma academia. Nesta academia havia aquela janelona panorâmica que dá pra rua, do tipo daquelas que ficou moda em academias, pra deixar os pedestres e transeuntes fora de forma que eventualmente passam na frente, se sentindo miseráveis - a galera pedala olhando pra o mundo exterior, como peixes num aquário ideal e higienizado: "este é o mundo podre de onde vocês escaparam". "Sim, este é um mundo cruel, filho".
Bem, eu e mais meia dúzia de humanos sedentários, mas, quero crer, perfeitamente normais, comíamos olhando para os esbaforidos executivos, que pedalavam, ainda que estáticos, como se em busca da juventude que, de repente perceberam, se vai. E eles nos olhavam comer e babar maionese e ovo frito.
Agora, não sei quem tinha mais inveja de quem... não sei quem se estabeleceu primeiro no ponto, e não sei se foi uma jogada de mestre ou uma cagada sem igual de quem construiu seu negócio depois...
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Um comentário:
Não! Salve Hanoi Jane!
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