Há uns 20 anos uma excursão de colégio, que ocorria todos os anos em Ouro Preto e demais cidades históricas de Minas para os alunos da quinta, deu tanto trabalho aos professores e monitores que a direção do colégio resolveu que quaisquer futuras atividades extra-muros aconteceriam em qualquer lugar menos nas lindas paisagens mineiras.
Lembro dos namoricos e bebedeiras dos alunos (que contrabandeavam bebida muitas vezes com a cumplicidade dos professores mais boêmios), a fuga dos quartos masculinos, pelo telhado, para chegar na ala feminina, improvisada no colégio de padres. Lembro da correria e do caos.
Na época não estava mais apaixonado pela linda suíça, mas por uma descendente de alemães, igualmente bela (devia ser uma fase nibelunga).
Lembro das risadas contrastando com os gritos desesperados, tanto de alunos como professores (me abstive em tomar partido, ficando entre os poucos neutros que não entendiam o que acontecia e apenas assistiam perplexos, como a um espetáculo bizarro saído de alguma selva primitiva), quando Léo, um garoto da turma B que era usualmente alvo do cruel escárnio infantil, começou a afundar, depois de ter ido procurar ametistas um pouco longe demais. Chorava, gritava e dizia que ia morrer na areia movediça.
Gargalhadas e desespero proporcionavam uma cena dantesca, uma cacofonia absurda que levava a sentimentos que apenas poderiam ser descritos como próximos da loucura e do delírio.
Quando o infeliz já se encontrava apenas com o torso para fora, a avantajada professora de história, Heloísa, resolveu tomar as rédeas da situação e atirou um pedaço de pau no menino, esperando, talvez, que ele usasse o instrumento para ser içado pelos outros monitores (aparentemente a conclusão mais óbvia sobre o motivo da ação), mas pode ser que a intenção fosse nocauteá-lo e poupá-lo do sofrimento que o aguardava, inexorável (alternativa que parecia igualmente plausível no momento).
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Ele a levantou pela cintura, fazendo perguntas. E ela entrelaçou as pernas em volta de seu corpo. E, envolvendo os braços ao redor de seu pescoço, com os rostos na mesma altura, as respondeu meio vagamente, incerta dos sentimentos que ela mesmo experimentava. Mas lhe cedeu essa alegria, e foi carregada assim até o banheiro, onde deram um pequeno beijo e imaginaram o que queriam mas apenas sonhavam.
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Um comentário:
Curiosa a colocação em sequência dessas duas histórias, que realmente pode-se pensar o que quiser, mas não dá para ter certeza se são uma a continuação da outra ou não, se são realmente duas histórias independentes... Acho que assim, sem revelar a conexão, gera uma sensação gostosa de desconforto no leitor e a pergunta que não quer calar: afinal, foi o aluno que comeu a professora?
;0)
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