Quando eu entrei em Sociais, nos idos de 1997, já tinha feito 2 anos de economia, mas abandonei o curso em grande parte devido ao meu pífio desempenho em cálculo, por 3 semestres consecutivos. Na verdade, descobri, nunca gostei muito de economia (a única matéria que tive que fazer na área depois, obrigatória, de noite, me deixou poucas lembranças, nenhuma relacionada à disciplina: lembro que descobri nessa época que suco de embu da cantina do IE é bom pacas, e lembro que ficava conversando com a Dani e minha querida Ju sobre causos e shows).
A parte de economia que gostava era história (meu primeiro projeto de iniciação foi sobre a origem do crédito ultramarino, o que combinava bem com minha obsessão na época: templários e cruzadas) e ciências sociais. Então, antes de levar o strike out, quando vi que tinha que sair fora ou ser jubilado, resolvi fazer sociais mesmo. Lógico, não?
Bem, na verdade era meu enésimo vestibular. Havia entrado, vejam só, em Sociais. Depois resolvi prestar economia, porque achava mais glamouroso. Amarguei 1 ano naquele purgatório dos desesperados que é o cursinho. Prestei (e, pasmem, passei) em administração pública na GV, o último ano do curso pela fuvest. Mas resolvi que não queria ir pra SP. Daí entrei em economia, eventualmente saí, e entrei em sociais. O resto é, como dizem, história (não a matéria... bem, vocês entenderam).
Mas o ponto é que não foi de se estranhar que eu não tivesse muito saco pra trote nessa altura dos acontecimentos. Mesmo no trote da economia, depois de uma tarde escaldante no semáfaro na frente do Coração de Jesus, coletando dinheiro pra veterano encher a cara, completamente pintado e apenas com um sapato, afinal resolvi pegar um busão e ir pra casa, manquitola, e só voltar depois de 1 semana de aula.
No trote de Sociais, já me sentia veterano. Resolvi deixar passar. Lembro que, no primeiro dia de aula, eu fui convicto pra sala, no ciclo básico, esperando ter aula! Vejam só o nível caxias de comportamento...
Claro que não houve aula (seria antropologia I, com a professora Emília, então ainda doutoranda e a quem fiquei atormentando sobre Castañeda, minha única referência de antropologia na época, por várias aulas depois). Mas fiz amizade com uma espanhola e também com um rapaz que acabou não fazendo parte do meu círculo de amizades, mas que sempre me cumprimentava e dava um abraço quando nos encontrávamos. Ambos se juntaram à minha ignorância naquela manhã, também achando que haveria aula. Não sei o que foi feito do cara. Deve ter ido para a Alemanha, como planejava fazer. A espanhola hoje é mãe e está morando em algum acampamento sem-terra Brasil afora. Mas nada como compartilhar essa primeira experiência na faculdade, imagino. Os laços, com os que estavam presentes, de alguma maneira viram eternos.
Olhando para trás, acho que deveria ter participado do trote. De fato, como defendem os veteranos, talvez por motivos menos nobres, o trote é imprescindível para a socialização do calouro. Um ritual que não é exatamente para humilhar e demarcar os lugares de cada um (como eu imaginava então), mas que serve para forjar laços que dificilmente seriam tão fortes em outros contextos, no mesmo mínimo período de tempo.
E depois foi difícil correr atrás. Era incrível como as pessoas que se conheciam apenas a alguns dias e ainda nem haviam decorado os nomes uns dos outros, já andavam pra cima e pra baixo como amigos de longa data! Aconteceu muito rápido realmente. Fiquei abismado, e mais convicto ainda na minha condição de outsider. E, como eu nunca fui muito dotado de quesitos sociáveis e morava a 10 minutos da faculdade, não tive essa experiência de coavelness (e identificação) que apenas bixos e prisioneiros em campos de concentração estabelecem entre si. Eu não bandeijava, ia pra casa comer. Eu não ia conhecendo a universidade com os colegas, descobrindo suas peculiaridades, porque eu cresci ali. Apenas ia pra aula.
Claro, acabei fazendo amizades. Mas no primeiro ano, pelo que me lembre, foi apenas com dois cabeludos e um outro cara.
Daí arrumei um esquisito e inter-estadual namoro, que começou a me fazer deixar a faculdade em segundo plano. Depois um rolo, igualmente esquisito, mas dessa vez inter-municipal. Por um tempo realmente deixei a faculdade e os colegas nela, de lado. Ainda mais porque agora começávamos a fazer nossas escolhas: por sociologia, antropologia, política ou geral, bacharelado ou licenciatura, separando ainda mais alguns caminhos (outros iriam convergir, claro, mas na época eu não sabia disso). Cheguei a pensar em sair, depois que fui com minha prima no trote de medicina dela: "Isso sim é trote. Quero um desse pra mim. Além do mais, medicina tem mais futuro", pensei. Mas acabei desistindo de mais um vestibular.
Lá pelo terceiro ano, canabis e doces e álcool e festas depois, fiz amizade com três maravilhosas garotas e acabamos fazendo muita coisa juntos. Era época que o Karambar era bom, que a Cooperativa Brasil era interessante (olhem só, eu até comecei a gostar de forró), em que existiam boas festas na moradia e em repúblicas da região, em que íamos ao Cidade e Lírios antes da invasão surfista, no Coven ou no Tribo, ao Pantanal antes da reforma, ao Astagu jogar sinuca por horas a fio, e quando eu levava uma bendita máquina fotográfica pra todo lugar que ia. "Vamos tirar uma foto?"
Dessa época lembro das promessas de amizade e felicidade eternas. As coisas não saíram bem como imaginava, mas ainda sim bem o suficiente. Cada um foi para um canto, algumas amizades enfraqueceram. Mas outras apenas aumentaram. Viraram amor, daquele que não precisa de presença diária, porque é certo.
Bem, logo depois eu conheceria uma estonteante estudante de antropologia, que andava sempre de coturno e roupas pretas, e a quem ficava admirando na aula de metodologia e que, numa festa na casa de uma amiga blogueira (em que estava completamente chapado), me catou. Eu, pobre pato, sempre fui atormentado com a dúvida "será que ela tá a fim mesmo, ou é viagem minha?". Ela seria a mulher com quem eu quero passar o resto da vida com.
Mas uma das minhas mais queridas lembranças da graduação é bem singela e não tem nada demais. Era trocar halls preto e bilhetinhos no fundo da classe com minha linda xará...
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2 comentários:
E eu que vou passar o resto da vida com o pato mais maravilhoso da face da terra, e que é doido o suficiente pra querer isso, e ainda me achar estonteante... Fiquei me achando, agora...
Te amo!
Ai, meu coração ficou pequenininho agora... Que saudade daquele tempo! Beijos, Cris
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