sexta-feira, agosto 10, 2007

Banksy

Já havia falado sobre ele antes aqui no blog. E esses dias comprei um livro com várias fotos das obras do grafiteiro / artista de rua Banksy. Coisas inventivas e extremamente simples - basicamente estêncil e bom senso de aplicação.
Há muito tempo não via nada que fosse original e sincero. A ousadia apenas dá um toque especial. E não falta ousadia.
O interessante é que a constituição da arte em si - a que é vista, o produto final - é instantânea. Alguns minutos roubados da madrugada, sorrateiro e atento para agentes da lei e câmeras de vigilância. O maior trabalho consiste em olhar para o cotidiano e vê-lo como realmente é: regulador e normatizador. Então pensar em como mostrar essa repressão com um mínimo de imagem, criando um novo significado a partir do outro, brincando com os sentidos do transeunte. O próximo passo é desenhar e criar um estêncil em casa, e então esperar pela calada da noite, para sair na surdina, com tinta no bolso e muita cara de pau.
Comentando com minha amiga Camila sobre o cara, ela disse "ah sim, tem um graffiti dele perto de casa, passo sempre na frente e dou uma risadinha". Claro que eu fui na mesma hora ver, já que eles não duram muito tempo e são logo apagados - o que no fundo é parte da graça: o elemento perecível da coisa. Arte sem duração, com contexto, sem copyright e aberta a todo tipo de manipulação - porque pretende manipular qualquer coisa. Democrática porque para qualquer um, mas especial porque com prazo de validade - indeterminado (depende do nível de indecência que o dono da parede ou que a polícia atribuírem ao trabalho em questão; ou quanto tempo eles demoram para se dar conta de que aquilo é protesto). Apesar que descobri que esse graffiti é uma exceção: está lá desde o ano passado (está no catálogo e foi feito em 18 minutos).
Isso, aliás, criou um estranho paradoxo. É uma arte que reclama da autoridade dos estabelecidos, mas que não vive sem a censura destes. Uma arte com propósitos suicidas, portanto. Que almeja ser obsoleta.
Uma espécie de mistura de Luther Blisset com Hackim Bey e algo mais, Banksy é um artista sem cara, de arte sem dono (o que não é sinônimo de falta de personalidade; é pública, no sentido mais estrito do termo), carregada de manifesto e ironia. Um delicioso amálgama de ultraje e revolta com muito bom humor.
E ele consegue falar muito, pela técnica mais eficiente para isso: endereçar assuntos seríssimos, sem se levar a sério.
Fazia tempo que eu queria ver uma obra dele. Ao vivo, digo. Na rua, numa parede. Ainda que agora seja mais simples ver suas obras, já que ele começa a ser reconhecido (mas também mais demonizado, ao mesmo tempo). Uma galeria já expõe alguns trabalhos (ele produz telas e esculturas também), e alguns outros já foram incorporados como arte em alguns museus. Essa semana vi que uma exposição acaba de ser montada, contrapondo Banksy com Warhol. Claro que iriam associar o pós-nadismo do novo milênio do Banksy com pop art. Num primeiro momento parece óbvio. Mas até que o grafiteiro entre no circuito da arte-negócio de vez (o que espero que não aconteça e até imagino que não seja intenção do artista) e pare de re-interpretar e denunciar o absurdo da realidade e saia desse rótulo que combate - a marginalidade - isso não será verdade. Ele pode até virar um artista convencional (e ser muito bom mesmo assim), mas seu trabalho será outra coisa.
Como outros revolucionários, sua luta é, necessariamente, perdida (o que não quer dizer que seja em vão).

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando voltar ao Brasil me empresta o livro??? Mas ele já entrou no mercado... até a Christina Aguilera tem um quadro do cara. As telas chegam a custar até 35.000 euros!!! Mas que ele é foda, isso é!
Beijos

cris disse...

que legal isso, chris.
continuo adorando seu blog.