Existem documentários que te deixam mal, ou então indiginado. Mas realmente poucos produzem alguma ação concreta por parte da maioria das pessoas.
Há os documentários de bichos. Tanto os na linha "a vida natural como ela é", como os de alerta para extinção de algum animalzinho. Claro, esses tocam. Talvez você até dê um dinheirinho pra WWF algum dia. No fundo acho que, sendo cruel, mas sincero, que esses documentários são aparentados com os sobre a miséria e a fome - essencialmente africana. A lógica é a da esmola, que anestesia a consciência e a culpa com uma doação anual para a Unicef ou órgão semelhante.
Já os documentários de atentado começaram a virar moda. Claro, com um aumento de 300% dos atentados terroristas nos últimos 5 anos, seria o normal. Esses horrorizam, fazem você se perguntar se este é o mundo que você quer para o seu filho, te deixam neurótico. Você critica o imperialismo americano, tenta compreender porque um cara se entupiu de explosivos e matou trocentos ao seu redor. Mas o que exatamente isso produz, além de uma sensação de que você está ciente da existência dos tumores terrestres e aquele monte de playboys e patricinhas no bar não? Como se essa grande vantagem sobre os demais ignorantes fosse algo que te faça dormir melhor. E no fundo sempre dizem respeito a umas pessoas por demais distantes de nós para que algo além de uma empatia por dó surja.
Existem também os documentários do tipo "Michael Moore", ligados aos documentários de terrorismo, mas focados principalmente nas mazelas da vida política dos grandes centros industriais e econômicos - EUA, essencialmente, mas existem vários sobre nossa própria violência simbólica e física tupiniquim. Esses fazem você ter nojo da política tal como ela se apresenta. Talvez sejam os mais eficientes, mas é difícil medir o que de fato muda na consciência da cidadania, exercida e presente na população. Às vezes o que acontece é o surgimento, simplesmente, de um discurso anti-americanista sem qualquer reflexão mais apurada de porque os tais imperialismos devem criticados. Daí para o chavismo é um pulo. Pode ser munição para os "fundamentalismos bem-intencionados".
Existem os variados documentários sobre a cultura e a vida cotidiana. A maioria desses entra para o repertório de "curiosidades" ou "cultura geral" no arcabouço de cada pessoa. Meio como um atestado de que realmente há algo de errado na pragmática da vida contemporânea, refletida nas bizarrices e absurdos do comportamento das inúmeras "tribos" sociais, sejam os gordos, os anoréxicos (o assunto do momento), ou o pessoal sm.
Claro, alguma coisa de bom todos esses documentários fazem. Os que criam alguma nova consciência nas crianças (tipo o "Nós que aqui estamos..." ou o "Ilha das flores", passados nas escolas). Os que ajudam a estender a indignação com as coisas terríveis que acontecem diariamente por aí.
E existem vários deles agora que ganharam um nicho cinematográfico considerável. O filme do Al Gore parece ser assustador (não porque diga algo novo, mas porque um ex-político importante confirma o que até agora apenas os ambientalistas desprestigiados diziam). O Lelê e a Vanessa disseram que o tal documetário "A carne é fraca" está convertendo diversas pessoas ao vegetarianismo (realmente você acaba se perguntando o quanto sua ignorância é desculpa para continuar a perpetuação de uma indústria no mínimo duvidosa). Efeito semelhante produzido pelos documentários sobre cigarro (como continuamos a fumar depois de saber de algumas coisas?), ou pelo já manjado "Supersize me". Na linha da consciência sobre nossa indústria alimentar - estamos falando de carne, especialmente - tem também o Earthlings, narrado pelo Joaquin Phoenix, com a trilha composta pelo Moby. Esse dá vontade de apertar o botão de desliga - seja qual for ele. Eu chorei como um bebê, meu coração parecia ficar menor e menor, fiquei enjoado e com a sensação que a humanidade não presta e é essencialmente cruel - e covarde, tanto pelo que faz como por preferir a ignorância do que é feito. É quase insuportável de assistir. Mas não é nem um pouco ignorável.
Você pode saber mais sobre Earthlings ou algum que ainda não viu no you tube. É rapidinho e fácil de achar. Se você procurar por "Terráqueos", acha legendado. Lembra muito as discussões com a Nádia sobre uma antropologia que lide com nossa relação com os animais. Na época, faltou-me a perspectiva sensitiva, acho. Como também a constatação de que é um assunto, sim, que merece atenção e é importante. Algo que o Peter Singer, no "Animal Liberation", tão bem colocou. Aliás, acho que é O assunto a ser discutido. O armagedon não é apenas mítico, nem apenas simbólico.
Bom, eu acho que as pessoas deveriam saber e ver, mas não acho que seja para qualquer um. Esteja avisado... Existem também alguns fóruns de discussão, que dão raiva, pra falar a verdade. Um monte de gente querendo chocar, mas no fundo acreditando em nada mais que novas formas de tortura e genocídio.
Mas no fundo são poucos os que fazem algo a respeito de todos esses problemas (eu, me apresso em dizer, não sou um). E há como uma chavinha que você desliga para poder viver a sua vida. Isso até é necessário, não dá pra ficar imaginando todo a hora nas milhares de mortes, nas milhões de pessoas que passam fome, nos milhares de estupros, em todos os cachorrinhos abandonados na rua que existem por aí nesse exato momento em que eu escrevo, e que continuarão a existir no momento em que você ler isso.
Agora, um documentário como esse "Fuerza Aerea S.A.", parece que pode gerar algum efeito a curto prazo. Parece que já está gerando, na Argentina. Porque se metade dele for verdade, alguém tem que fazer alguma coisa. Se você não ouviu falar desse filme ainda, não sou eu que vai te explicar. Procure. Acho que o efeito e a reflexão são maiores, nesses documentários, se a pessoa vai atrás.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
A falência da humanidade começa dupla: física, com o que é feito hoje; moral, pelo como é feito. No caso dos animais, não é apenas o que buraco em que estamos nos metendo (que em alguns anos será inegável e não acho que as pessoas terão o luxo de continuar ignorantes), mas a crueldade de como estamos construindo esse buraco. Nem dignidade de nos ferrar nós temos...
Assistimos metade do "Earthlings" ontem. Muito mais chocante do que "A carne é fraca".
Catarse via alegoria, essa história de documentário-mundo-cane-vida-real! Funciona, e desde os tempos da Grécia Clássica (via teatro, via Aristófanes, via Ésquilo), é aquele momentim de autocrítica,o famoso soco no estômago... A gente pode não causar auela revolução no dia seguinte, mas dá um arranho bom na alma e, o melhor, o tal arranjo é cada vez mais coletivizado quandomaior for a propaganda boca-a-boca... Da minha parte, deu certo, porque tô morrendo de vontade de ver o tal Earthlings!
Postar um comentário