segunda-feira, dezembro 21, 2015

Passeios pelas alamedas verdes

Fui, nesses dias, no CEASA (Centrais de Abastecimento de Campinas). Há anos que não ia. Lembro que ia de vez em quando com a minha mãe, que adorava levar os filhos pra esses lugares diferentes. Era aventura em fábrica de biscoito, em central de abastecimento de legumes e flores, em granja no bairro rural, em fazenda pra pegar leite na latona... Outra época, outra Campinas.

Bom, fui lá porque eu e a Dani decidimos que esse Natal iríamos dar plantas e flores de presente. E foi ótimo! O dia estava muito quente, mas quando chegamos na sessão das plantas tudo ficou mais fresco: não apenas porque, afinal, estávamos no meio do verde, mas porque tinha também aquele sprayzinho de água funcionando nos corredores imensos com as barraquinhas de vendedores. Passeamos bastante e saímos com o carro cheio de flores e plantas - suculentas e cactos, orquídeas e plantas carnívoras, plantas com folhões e plantas com folhinhas... e um jasmim cheiroso, pra ir pra janela da minha salinha na unicamp assim que terminarem as férias!

Voltei com as lembranças e os cheiros de anos passados. Mas também com ideias e vislumbres de ideias, oxigenadas provavelmente pela clorofila toda.

Memórias tão antigas que pertenciam a outros átomos. Geradas por outras paixões. Mas também inspirações refrescantes.

Me veio um diálogo à mente - de um diálogo real. Chegava hoje de manhã no ifch quase vazio, as 8 da manhã.

"Professorzinho" - Dona Marli me chama sempre assim, a senhora da limpeza da empresa terceirizada alocada no instituto. Um dínamo. "Professorzinho, não acredito que veio trabalhar!"

"É o último dia, dona Marli. Depois só no começo de janeiro."

"Ah, essa bendita empresa nova [recentemente houve uma troca das empresas e os funcionários migraram, mas com ainda menos direitos] vai nos obrigar a ficar até o dia 24 aqui. Toca sair correndo pra preparar ceia correndo depois de trabalhar. Uma maldade."

"Não acredito dona Marli!"

"Sim, e segunda estou de volta. Quer que regue seus bebês [é como chama as minhas plantinhas]?"

"Não, obrigado. E queria poder te responder em qualquer outro ano." Bem, essa última parte eu não respondi de fato. Só pensei. Queria dizer para ela que a vida era uma merda, que ela não precisava se preocupar comigo, mas que isso a fazia uma linda pessoa. Queria ter uma resposta que não soasse, não importa o quanto eu desejasse o contrário, constrangida.

Pensei o porquê pensei: "por que responder em outro ano?" O passado que talvez idealizamos. O futuro que vai chegar e deixar as amarguras mais anestesiadas. Porque vai passar. Há de passar.

Conversava com uma amiga ontem. Há algo de um princípio reparador no universo. Não exatamente místico, ou cármico, mas você pode pensar assim se quiser. Não exatamente algo compensatório, mas sinta-se à vontade de se confortar com essa noção. É que há um momento que a estatística, the big picture, nos alcança nas mais ínfimas intimidades - e tudo se mistura, não se equalizando. E a justeza da existência se assenta. É tão injusto esperar que a gratidão não discrimine, achar que basta esperar pelo bem. Mas ao mesmo tempo são nessas horas que o pessimismo da crueza da análise nua não funciona - e não vai funcionar mesmo. E acreditar em coisas melhores cria outras coisas - geralmente muito bonitas. De estar fodido, mas ainda sim fazer sorrir.


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