Já parou para pensar sobre aqueles "papagaios de pirata" que saem ao fundo, na sua foto? Alguns se dissolvem na paisagem, mas alguns você acaba reparando. Porque são bonitos, porque estão com uma roupa chamativa, porque estão em foco, na mesa de trás, junto ao monumento sempre lotado... Você nunca mais vai ver essa pessoa. Talvez até passe do lado de alguém que viu, que conheceu, ou que viu ou conheceu alguém que viu ou conheçou (pensando sobre os 6 graus). Mas nunca vai ficar sabendo. As robinsonadas de que falava Marx são mais fortes. Você não é exatamente uma ilha, mas sua vida como você a concebe muitas vezes é. O reconhecimento que algo mais além da mera presença neste planeta e da posse de um polegar opositor liga você a um desconhecido, nem que seja um simples vislumbre, na rua, não é uma opção.
E mais: a chance de você estar inadvertidamente no álbum de fotos de alguém é muito grande. Afinal, todo mundo hoje em dia tem uma câmera digital que leva na viagem ou na festa de aniversário no boteco, ou tem um celular que tira foto, etc. A idéia de que eu permaneço anônimo e congelado, nas lembranças e alegrias de outras pessoas, é assustadora. Só de fotos de viagem para Londres, devo ser residente de dezenas de pastas de imagens; todas, como um fantasma que assombra a famosa faixa de pedestres, atravessando a Abbey Road.
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