Hoje tirei o dia de folga. Não que eu esteja trabalhando tremendamente, como vocês podem perceber. Mas realmente fiquei várias horas sentado nesses últimos dias, tentando apressar uma tradução. Mas acabei indo de manhã encontrar um amigo do meu pai, que estava por aqui, para ele levar algumas coisinhas pro Brasil. Voltei, com ele, ao National Gallery, perto de onde estava, ver uma exposição de um artista americano, bem como mais um pouco do Da Vinci. Depois saí com a Camila, fomos à torre de Londres e passear no centro.
Na Virgin (sim, de novo!), acabei comprando mais uns filminhos, baratinhos. Comprei Transformers (lindo! Com o Orson Welles como Unicron, Leonard Nimoy como Galvatron e Judd Nelson como Rot Rod!), comprei Once Upon a Time in the West (aproveitando a Leonemania que me atacou ultimamente), The Spy that came from the Cold (com o Richard Burton) e Ferris Bueller`s Day Off - ou, como muitos conhecem, Curtindo a Vida Adoidado (essas traduções...)!
Eu ainda estou para dimensionar o quanto o meu caráter e minha formação como gente se deveram ao John Hughes (quem sabe em terapia um dia descubro), e o Dia de Folga de Ferris certamente foi um dos filmes que mais me marcou (como Gatinhas e Gatões, O Clube dos 5, Mulher Nota 1000 ou Garota de Rosa Choque - ok, este ele só escreveu)!
O filme é muito bonito, na verdade. Positivo, pra cima. Isso de fato deve ser um fator para que mesmo hoje eu ainda goste dele (como também pela nostalgia, como gostar de ouvir música anos 80 agora). Mas, assistindo de novo, percebi que há algo a mais. Ferris Bueller`s Day Off na verdade é sobre algumas facetas da condição humana e não apenas um filme de adolescente.
Explico. Ferris não é apenas um mimadinho, preguiçoso e egoísta que pode fazer o que quiser - ainda que ele seja essas coisas também - mas ele é uma idéia antes de tudo. Ou ainda, um anseio. Nossos sonhos, Cameron que somos, reprimidos que somos. Só que o filme também não tem nada de anarquista, ou ainda algo de "jogue tudo pro alto e vá vender côco na praia". Trata-se de um Day Off, literalmente. Ferris pode ser um espírito livre, mas acompanhamos apenas este dia. Este dia é especial, não é ordinário.
Ok, talvez ele não tenha planejado tudo apenas para seu amigo Cameron se sentir melhor, como ele diz que faz (faz também porque pode, porque quer se afirmar a figura que ele acredita ser); mas mesmo assim ele contagia os outros com sua liberdade (que só é possível no trio - ele, a namorada e o amigo; e, acreditem, quantas vezes eu não me senti como o amigo, em que as migalhas de afeto são como rios de alento), em uma ocasião de fato especial (afinal, ele quase é pego várias vezes).
No semestre que vem, sabemos, eles vão trabalhar, ele irá para uma faculdade, seu amigo para outra, sua namorada continuará no colégio - e ninguém tem a mínima idéia do que fazer! Quão assustador é isso, se pararmos para pensar! Cameron, Ferris profecia, é tão reprimido que se continuar assim vai se casar com a primeira garota que se deitar com ele; e então será infeliz, será tratado como merda, porque "ela terá dado o que ele construiu em sua mente como o final de tudo, a totalidade da existência humana" e "você não respeita alguém que beija sua bunda" (palavras de Ferris). Quão assustador, repito, não é isso? E quão verdadeiro? Uma matada de aula, nesse contexto, não é tão besta quanto poderia parecer. Passar algum tempo com seus companheiros...
Quantas pessoas você conhece, que faziam parte da sua vida, foram para outra cidade, outro emprego, outro país, outra vida? De repente, a vida aconteceu. É isso.
E de fato somos bastante Camerons, "self-pitying bipeds", com vidas com responsabilidades, compromissos - chatos a maioria das vezes. Mas o quanto é bom lembrar aquele dia especial... Eu me considero uma pessoa impulsiva, faço muita coisa de sopetão. Mas para cada impusividade, quantos dias de labuta, de economia...
Agora que estou em um novo contexto, algumas coisas ficam mais claras. Estou fazendo mil coisas, todos os dias praticamente. Coisas que aqui são até corriqueiras, mas que ainda me entusiasmam, tudo é novidade. Coisas que no Brasil seriam muito extraordinárias (por isso fico contando no blog). Não que minha vida na terrinha seja ordinária, ou chata. Quero muito voltar, logo. Mas ao mesmo tempo estou aproveitando o máximo que posso. Este não será meu cotidiano depois de um ano, é isso que quero dizer. Mas é algo que, segundo a Camila, muita gente não faz aqui, ou demora muito para começar a fazer.
Mas o filme foi algo de diferente mesmo. Único, que influenciou muita gente, que faz parte da infância, adolescência de muita gente. Aquela musiquinha, quando o diretor aparece... adorava aquela música, só com uns efeitos de voz... O filme também foi um marco na vida dos atores, com certeza. Matthew Broderick será sempre Ferris.
O DVD tem extras muito bons também. Uma entrevista do professor que faz a chamada e vê que Ferris não está na escola (Bueller?... Bueller?... Bueller?), em especial, gostei muito. O ator, Ben Stein, foi colunista do NYT, do WSJ, era o cara que escrevia discursos para o Gerald Ford e pro Nixon, escreveu trocentos livros. Mas ele diz que o dia mais feliz da vida dele, foi o dia em que fez aquela cena famosa. Que valeu a ele piadinhas pelo resto da vida, mas que apenas lembram a ele que, humano, gostou de fazer os outros rirem, gostou de ser imortalizado por algo bom. Sua lápide será, diz ele: "He liked dogs, and... Bueller... Bueller...").
Duas anedotas: Parece que ao encontrar o Bush, a primeira coisa que este fez foi colocar o braço em seu ombro e dizer "Bueller... Bueller", depois de ter assistido o filme no Air Force 1.
Outra vez encontrou uns americanos em um hotel em Dublin, num elevador.
Stein, percebendo o sotaque: "vocês obviamente são americanos, o que vocês fazem?"
Os americanos, se apresentando: "Eu sou o Kurt Cobain; eu sou Kris Novoselic; eu sou Dave Grohl".
Stein, reconhecendo os nomes: "Ah, legal! Vocês fazem bastante sucesso, não?"
Cobain: "Bueller... Bueller".
Save Ferris
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Um comentário:
Eu concordo em gênero, número e grau com a tua análise. Eu outro dia assisti "Garota de Rosa Schocking", aliás se tiver aí vc compra, Clis? Então, eu achei o filme o máximo. Super delicado e complexo, na verdade é um triângulo amoroso ( a Molly- o amigo biruta- o príncipe chato e um tanto insosso- e o yuppie ricão cafa), que gira em torno da figura do pai da Molly- desempregado, largado pela mulher... uns puta atores... assim como no Ferris. Eu amo o Ferris porque os atores são ótimos, é em Chicago e aquela cena do Cameron na Jacuzzi olhando pra namorada do amigo de baby-doll... cara, é demais!
A gente aqui assistiu "Fúria de Titãs" e o Dr. Lao. E sentimos sua falta. Carpe diem in London, Clis! Beijos!
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