Não contei muito do que aconteceu durante o hiato de 5 anos desse blog. Mas tenho planos de aos poucos fazer isso.
Uma das coisas mais bacanas que aconteceu foi que, daquele momento de estudante em Belém, durante uma RBA (Reunião Brasileira de Antropologia), já doutor, mas ainda desempregado, para cá, eu virei, justamente, professor na universidade que me formou (o hiato mais ou menos coincidiu com um período estranho, límbico, de não-lugar, quando você já se doutorou, não é mais estudante, mas também não passou em nenhum concurso... momento que as pessoas acabam preenchendo cada vez mais com bicos, pós-doutorados e muita angústia sobre o que fazer da vida). Professor, agora, contratado de fato, mas por quatro anos, naquele esquema emocionante de posdoc.
E já tenho várias histórias pra contar sobre essa aventura que é dar aula (e lá se vão quase sete anos desde que comecei a dar aula, cinco desses realmente pra valer - uma diferente da outra, completamente imprevisíveis). Mas ontem lembrei, dando risada, de um dia em específico. Creio que era 2013, ou então 2012, e eu dava uma disciplina na graduação em Ciências Sociais. Talvez Antropologia III, ou Antropologia IV, obrigatórias. Turma lotada, sempre rolam seminários bacanas por parte dos alunos (gosto de deixar como atividade opcional, não é todo mundo que gosta de dar seminário - mas quando é bacana, é muito bacana!).
Estávamos discutindo um livro da Maria Elvira, Nas Redes do Sexo, que é sobre o mercado pornográfico brasileiro (livrão, aliás). Eu sempre gostei de dar liberdade para os alunos prepararem os seminários - a criatividade é geralmente grande e sempre veem boas surpresas. Bem, no seminário anterior, que era sobre Tristes Trópicos, o grupo tinha passado um video com uma entrevista do Lévi-Strauss falando sobre o Brasil, e foi super legal (acho que foi nesse ano também que um grupo passou um video do Antonio Cândido falando sobre o caipira, bem como umas fotos de quadros do Almeida Júnior - o seminário, claro, era do lindo Parceiros do Rio Bonito). Pois bem, o grupo, talvez um pouco provocativamente, pra ver até onde ia a boa vontade do professor, resolveu passar em sala um video pornô feminista. A ideia era discutir a possibilidade de pornografia que não reproduzisse estruturas de dominação masculina. E acho que tivemos mesmo um debate fantástico sobre agência, empoderamento, poder, sexualidade e gênero.
Mas enquanto eu via aqueles corpos todos pelados e mandando ver, eu não conseguia deixar de pensar que em alguns dias a direção iria me dar uma bronca, depois de ter sido procurada por algum pai ou mãe chocados com a ementa dos cursos na universidade. Não aconteceu nada, claro. Eu subestimava a beleza que é uma universidade pública livre e contestadora. Pouco tempo passou desde então, mas o mundo mudou bastante, ficou mais histérico e paranóico. E eu fico pensando até quando ainda vai ser possível ter aulas assim.
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Um comentário:
que lindo Chris...
que legal que você voltou a escrever,
que coincidência eu também retomei o meu...sintonias? rs
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