Há anos que faço etnografia televisiva - com gosto, devo dizer. Não acho que faço mal quando o papo é tv.
Logo depois do almoço eu paro no canal das mesas redondas de futebol - ainda que de vez em quando fique um tempo sem assistir, já que geralmente os argumentos se repetem irritantemente. As análises táticas raramente são compreensíveis e há uma preocupação exagerada de um equivalente politicamente correto nos prognósticos dos jogos - tudo é marcado por um "equilíbrio", e nada é "moleza".
Time X é "melhor tecnicamente", mas Z é "mais coeso e estruturado", enquanto W "passa por uma fase de renovação", entretanto K "tem a tradição a seu favor", só que Y "conta com o fator campo" - contudo, não se pode esquecer da altitude! Isso se traduz, literalmente, em não menosprezar o adversário ou, para quem vê de fora, em não queimar a língua, já que ninguém tem a mínima idéia do que vai acontecer (senão estava rico jogando na loteria esportiva e não apresentando programa). Porque, como dizia o folclórico Vicente Matheus, futebol é uma caixinha de dois legumes. Ou algo equivalente.
No fundo futebol ainda é extremamente marcado por conservadorismos esquisistos (como essa clivagem de gênero de décadas de idade) que, de alguma maneira, ainda conseguem sobreviver neste meio, como que socialmente blindados. Pelo menos no no que diz respeito à tv.
Exemplifico: no programa de hoje surgiu um comentário sobre como o ex-atacante são-paulino Müller está com o corpo conservado mesmo hoje em dia. Rapidamente todos os representantes masculinos se isentaram de comentários com risadinhas de "nessa eu não me meto". Com a exceção de que apenas a comentarista - que é gay, por sinal - presente poderia opinar, porque isso é do "departamento" dela.
E já existiram outras situações parecidas. Parece haver uma fobia exagerada em fornecer qualquer elemento que possibilite acusá-los, mesmo que remotamente, de nada menos que heterossexuais mais do que convictos. Ultra-machos. Duvidar da hombridade dos envolvidos com o esporte é ofensivo, e tabu maior que em outras esferas. É impensável até mesmo admitir que se tenha alguma opinião sobre algo inocente, como as pernas do Roberto Carlos.
Não o rei.
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