Já devo ter mencionado meu cotidiano espartano, não? No TV, no internet, no phone. Por mais que eu fique sem fazer nada, tenho tanto tempo livre que acabo lendo muito. De tudo.
Não sou muito seletivo quando se trata de leitura. Pelo menos quanto ao tipo da prosa. Se estiver bem escrito e interessante, acho que leio até bula de remédio.
Esses dias resolvi retirar um livro de casos do Conan Doyle. Sempre gostei do Sherlock e, morando a apenas uma estação de distância de Baker Street, o detetive sempre acaba aparecendo para me lembrar dessa paixão. Fora o museuzinho no 221b e trocentas bugigangas em tudo quanto é barraquinha turística, o próprio tube trata de celebrar uns de seus mais famosos personagens, com decoração, excertos dos livros, etc.
E não é todo dia que você lê algo que goste e que se passa bem onde você mora, nas mesmas ruas em que você anda. Outro dia li um caso em que Holmes e Watson têm que solucionar um mistério, a pedido do herdeiro do trono bohêmio, em St. Johns Wood, meu bairro! Segundo Doyle, não muito mais que uma periferia calma e frondosa de Londres!
Por sinal, um dia conto um pouco da história do bairro, que fazia parte da grande floresta de Middlesex, propriedade de uma ordem religiosa - os cavaleiros de Malta, ou Hospitalários, ou de São João de Jerusalém, em referência a seu santo padroeiro. Daí o nome.
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Já é moda há algum tempo, mas só outro dia caiu a ficha realmente - do quanto isso é engraçado, para não usar uma palavra mais forte, como "ridículo", i.e.
Romances históricos competem com romances policiais no quesito ficção nas livrarias. Templários parecem ser os preferidos, mas qualquer ordem mais obscura pode virar tema de livro (e convenhamos, quanto mais pode ser dito desses caras?). A contra-partida, já estabelecida (por exemplo, Sherlock Holmes), são os livros policiais e de aventura em série que utilizam um mesmo personagem. Dirk Pitt, Scarpetta, Brennan e por aí vai. A idéia é simples: tornar os protagonistas conhecidos e queridos, familiares.
Agora os livros "históricos" estão pegando um atalho. Simplesmente já usam um personagem conhecido de ante-mão. Poupa-tempo. Você não precisa passar um bom pedaço do livro apresentando o dito cujo.
Um dos que mais proporcionou controvérsia esses tempos foi Michelangelo, transformado em detetive renascentista.
Esses dias estava folheando os lançamentos do tipo blockbuster e achei um deveras curioso: Sigmund Freud, aquele tiozinho tão esculhambado nesta pós-modernidade (e quase vizinho meu, por sinal), em uma viagem para os EUA, deve desvendar um mistério. Um crime foi cometido. A única testemunha, traumatizada. Restam os poderes quase mágicos dessa ciência recém-nascida (então), para resgatar as pistas que levarão os bandidos para trâs das grades.
Bem, eu sugiro um próximo personagem para um romance desse tipo: Malinowski, tiozinho interessante e esquisito. Mas se o grande público não estiver muito interessado ou familiarizado com antropologia, então pode ser, sei lá, Newton ou Shakespeare, que nas horas vagas exercitam poderes de dedução científica ou artística. Ou Marx, que entre capital e manifesto, testemunhou um assassinato num parque londrino e deve usar ferramentas sociológicas para encontrar o criminoso. Para o público lusófono, Camões pode ser uma. Ou quem sabe um mistério envolvendo Colombo, ou então Cabral?
Sacou o padrão?
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Um comentário:
Boa idéia!
Mas em vez de Malinowski, que tal o Boas em uma aventura entre esquimós?
Beijinho,
Dani.
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